04/06/2010

Confissões de uma alface pensante

 

 

Quero viver uma boa vida.

Quero viver uma vida de vitórias, com o boi na sombra.

Quero andar nas nuvens, quero andar nos montes.

Cansei-me dos vales, das tristezas, das lágrimas, da pobreza, essa terrível maldição hereditária.

Só quero saber que meu milagre vai chegar, e que o melhor de Deus ainda está por vir.

Quero ir à igreja me encher de palavras de vitória.

Não quero chateações sobre meu modo de vida. Vou à igreja apenas para me alegrar. Afinal, tem diversão melhor?

Não quero aborrecimentos. Não quero saber dos africanos morrendo de fome, ou dos chineses escravizados – aliás, o celular chinês que comprei no natal para o meu apóstolo era tudibom! Também não quero saber das roubalheiras que alguns pretensamente levantam contra os meus apóstolos do coração. Sei que no meio desses frios presbiterianos e batistas tem umas roubalheiras tão cabeludas quanto as nossas, mas é porque eles são frios e não tem o Espírito Santo. Nós, ao contrário, sofremos perseguição do diabo porque estamos expandindo a visão, a audição e a alucinação para todo o Brasil. Afinal, qual o problema de se levar dólar na Bíblia? Fica até mais consagrado.

Quero subir mais alto.

Quero ir além. Além da imaginação.

Quero experimentar uma vitória com sabor de mel. Mel diet, de preferência.

Quero tudo e muito mais. Quero a unção de Abraão. E a de Salomão, que tinha mil mulheres. Hum, pensando bem, junto com mil mulheres vêm junto mil sogras e mil cunhados, então essa unção eu dispenso…
Quero ser como meu apóstolo: rico, bonito, perfumado, influente e sensual.

Mas é que me insistem em falar sobre um sujeito galileu que viveu há muito tempo atrás e que seria a razão de eu ir à igreja. Mas, eu pensava que a razão fosse o apóstolo e também fugir do diabo, esse ser poderosíssimo que sabe de tudo!
Mas esse falatório sobre sujeito galileu está me incomodando muito. Ele era pobre, andava no meio de gente que não quero nem ver a cor, não era nem sacerdote, quanto mais apóstolo! Era só um carpinteiro, profissão de pobre!
Confesso que só pensar nesse sujeito me dá arrepios!

Mas já resolvi o problema. Vou jogar fora minha Bíblia. Afinal, está empoeirada e ocupa o lugar do manual de conquista, sucesso e vida financeira que o apóstolo escreveu, junto com um gringo, um tal de Madoff.
Temos que ser atuais. Afinal, quem precisa mesmo de um livro antigo escrito em uma língua esquisita? Se ainda fosse em inglês…

FONTE: Confissões de uma alface pensante « Blog do Digão

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