27/05/2010

Teologia do "cocô de mosquito"

 

Certa vez, eu ouvi de meu pai algo bastante interessante: as moscas fazem cocô nas lâmpadas. Sim, isso mesmo! Sabe estas lâmpadas elétricas redondinhas comuns que temos em casa? As moscas adoram aliviar seus ventres lá por alguma razão desconhecida à leiga pessoa que vos escreve. Esta é a razão, ele disse, da luminosidade da lâmpada ir ficando mais amarelada com o passar do tempo.

Eu, sinceramente, não sei se a informação que ouvi de meu pai é verdadeira ou se se trata apenas de alguma sabedoria popular equivocada. Mas o fato é que, com o passar do tempo, a luz de uma lâmpada realmente começa a ficar cada vez mais amarelada e, quando você a retira da boquilha (cujo nome predial correto é “receptaco”), você consegue observar uma série de pontinhos de sujeira no entorno da lâmpada.

O engraçado é que o ciclo de vida de cada mosca comum é relativamente pequeno (cerca de oito dias), e mesmo assim sua influência é grande sobre a aparência externa da luz da lâmpada: mosca após mosca, cocô após cocô, a lâmpada vai se amarelando progressivamente.

A certeza sobre a veracidade deste hábito das moscas não é necessário para a analogia que vou propor neste texto. Aliás, a dúvida é até benéfica neste caso.

Quando lemos o livro de Atos, percebemos que o Evangelho irradiou clara e fortemente por todo o mundo antigo. A despeito de toda perseguição que os discípulos de Cristo sofreram por parte dos judeus e do Império Romano, o Evangelho brilhou!

Sua mensagem continha algo que fazia as pessoas abandonarem todo o conforto que tinham, toda a tradição cultural e religiosa que defendiam, para viver sob o risco de não ver a luz do sol no dia seguinte.

A luz brilhante do Evangelho foi tão forte que cegou o brilhante pensador Saulo de Tarso por alguns dias, e o fez posteriormente considerar tudo o que antes considerava valoroso como refugo (lixo)!

Mas atualmente a luz do Evangelho não brilha mais no mundo como brilhava antigamente. Escândalos e mais escândalos pulam feito pipoca na mídia semanalmente: desde os mais “comuns”, como pedofilia, corrupção e desvio, até casos mais absurdos, como de pastores contrabandeando armas para traficantes brasileiros.

O problema não está com o Evangelho, como muitos pensam. O problema está exatamente em nós e o que fazemos com ele. Nós, assim como as moscas, sujamos o Evangelho todos os dias com pequenos pontinhos, a ponto de, depois de algum tempo, sua luz não causar mais o mesmo efeito brilhante de outrora. A luz do Evangelho – que antes era irradiante, clara, bela e confrontadora – por causa dos seres humanos começa a ficar (aos olhos do mundo) amarelada, desagradável e fosca.

Será que os grandes avivamentos são os períodos em que Deus limpa a lâmpada do Evangelho, retirando as caquinhas que nós frequentemente depositamos lá? Como este texto é uma analogia, pode ser.

Todo momento de avivamento é precedido por uma forte limpeza da Igreja, onde inevitavelmente muitos a deixam.

As igrejas clamam sobre o “avivamento” do Brasil, mas clamam um “avivamento” que se identifica apenas por números. Um avivamento aos moldes capitalistas: resultados, metas, "prosperidade".

A se levar em conta apenas o “avivamento” dos números, as coisas na África devem estar indo de vento em poupa! Há apenas um século atrás menos de 10% da população africana se dizia cristã, hoje este total já alcança 50% da população do continente (D’SOUZA, A Verdade Sobre o Cristianismo, Thomas Nelson, 2008). Que grande avivamento devemos ter lá, não!? Para acompanhar o “avivamento” africano é só abrir os jornais...

O país pode estar do jeito que estiver: fome, desigualdade, corrupção... nada disso precisa mudar. Não importa se a luz da lâmpada esteja fosca com nossas bostinhas. Basta apenas ao mundo estar aos “pés de Cristo”. Nada mais deve nos preocupar além de “salvar” as pessoas de modo integral a "alma" das pessoas, afinal viveremos mesmo é na Glória, não é?!

A analogia da lâmpada é limitada, sim, a criei em poucos minutos. Mas o importante é que reconheçamos que somos nós (eu e você) aqueles que têm sujado a Lâmpada da Verdade. Neste ponto, não há como atribuir culpa a Fulano ou Sicrano: todos nós somos responsáveis por tornar o Evangelho cada vez mais amarelo e sem relevância para a sociedade.

Que Deus nos ajude!

Eliel Vieira

FONTE:   ASSEM-BEREIA DE DEUS: Teologia do "cocô de mosquito"