16/08/2009

Salários baixos congelados e a Grande Comissão

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     Por que será que missionários ganham tão pouco, em geral muito menos do que pastores das igrejas locais? A regra é que os "salários", ou ofertas, melhor dizendo, dadas a missionários pelas igrejas na maioria das vezes não correspondem nem a 30% do salário pagos pelas mesmas igrejas a seus pastores. Além disso, os salários dos missionários geralmente são congelados, ou seja, nunca aumentam. Não são indexados à inflação, nem à receita da igreja.
     Não sei como raciocinam os defensores desses salários congelados. Tudo sobe: o salário do pastor, os gastos em geral e os dízimos que a igreja recebe, é claro. Mas talvez eles esperem que o missionário consiga de uma forma milagrosa se proteger dos aumentos...
     "Os missionários recebem de muitas fontes diferentes e os pastores, só de uma", diriam alguns. É verdade. Alguns investidores com coração missionário defendem a pulverização de seu investimento em missões. Sustentam 100 missionários com 100 reais cada um em vez de dez missionários com 1.000 reais cada.
     Investidores também deveriam ter chamado específico. Abraçar projetos com o coração, ajudar nas estratégias, pensar com o missionário e ajudá-lo a investir certo. A pulverização enfraquece o relacionamento investidor-missionário. E é de relacionamentos que o reino de Deus subsiste.
     Outra implicação desastrosa disso é que o missionário tem de sair buscando muitas fontes para tentar completar um orçamento razoável, que lhe permita não só viver mas também realizar o projeto para o qual foi chamado. Isso significa muita humilhação, muita "porta na cara".
     A suposta vantagem de se ter muitas fontes não tem nenhum motivo espiritual, vem de tristes fatos. Muitos investidores e igrejas, quando passam por algum problema financeiro, cortam o salário do missionário, que então passa a figurar como gasto supérfluo. Às vezes nem avisam ao pobre coitado lá no campo. Outras vezes as juntas denominacionais se reúnem e discutem: "Por que é que ajudamos essa fulana lá na Índia? Vamos dar prioridade ao investimento em congregações locais?"
     E no mês seguinte a fulana, lá na Índia, constata que o dinheiro não chegou. Então liga para a igreja e descobre que seu nome já não está na lista dos assalariados.
     A constatação de que as coisas são assim mesmo torna os missionários precavidos: "Tenho de levantar em promessas pelo menos o dobro do que preciso para que eu venha ter pelo menos uns 70%. Também os deixa inseguros em relação ao futuro e os obriga a pulverizar seus relacionamentos, suas orações e suas emoções em uma carta xerocada 155 vezes em vez de dez ou quinze cartas originais para pessoas ou grupos de apoio realmente comprometidos.
     Esse comportamento imaturo da igreja tem muitas más conseqüências:
     * O missionário acaba tendo de renunciar a muitos projetos que desenvolve e começa a apenas sobreviver;
     * Com o encolhimento do salário de sobrevivência, a vida se torna tensa para ele, pois, além das lutas espirituais do campo, a falta de dinheiro passa a ser um peso terrível;
     * Como o tempo gasto com o levantamento de finanças para realizar cada nova iniciativa é muito, ele acaba diminuindo seus sonhos e encolhendo seus projetos;
     * O relacionamento missionário-igreja perde muito. Na visão da igreja, torna-se um relacionamento sanguessuga, porque o missionário está sempre pedindo. Na visão do missionário, uma relação de abuso, porque a igreja cobra muito e não dá quase nada.
     Gasta-se dinheiro com tudo o que se pode imaginar e a tudo se chama de "reino". Cadeiras novas para o templo é o "reino", ar-condicionado para a igreja é "reino". Mas, se a situação torna-se complicada, missões passa rapidamente da categoria "reino" para a categoria de "gastos supérfluos". Pessoas também não são "reino". O missionário com suas necessidades pessoais, não é "reino". Sua roupa ainda não está surrada o suficiente, seu carro não precisa de conserto, ele não precisa de plano de saúde. Estamos sustentando a "obra", o "reino", ou seja, o templo, as coisas, mas não a pessoa do missionário porque ele não é reino.
     Não é de se admirar que no mundo inteiro a tarefa da Grande Comissão ainda esteja por realizar! Do dinheiro da igreja, 90% é investido na própria igreja; 7% em iniciativas evangelísticas onde o evangelho já foi pregado; e apenas 3% em iniciativas missionárias para aqueles povos que nunca ouviram o evangelho. Isso é, no mínimo, insensatez. Pecamos contra Deus deixando de passar para a frente o dinheiro que Ele nos deu para este fim, deixando de aplicá-lo onde deveríamos aplicar, administrando como queremos, e não como Ele quer.
     O pecado sistemático da divisão do dinheiro dentro da igreja explica por que não temos aplicado em missões os recursos para completar a Grande Comissão, por que tantos povos morrem sem Cristo e por que muitos de nós vão chegar aos céus de mãos vazias.

Extraído da Revista ULTIMATO – Março/Abril, 2002 (Matéria escrita por Bráulia Ribeiro – Nascida e criada em ambiente ateu em Belo Horizonte, MG, converteu-se em 1980 e tornou-se missionária em Porto Velho, RO, onde leciona lingüística e missiologia na Escola de Treinamento Transcultural da JOCUM)

FONTE: Ore pela India - Especial - Salários baixos congelados e a Grande Comissão

AS TRÊS CAPINAS – história real

 
Adriano é um irmão humilde e trabalhador de uma igreja batista do interior do Estado de São Paulo. Casado com Divanete, ambos levam a vida típica da gente simples do chamado Brasil profundo, lutando com as dificuldades e sempre buscando uma renda extra para fazer frente aos gastos da família. Adriano tem um trabalho digno e aproveita os dias de folga para fazer alguns bicos e ganhar um dinheirinho honestamente. Um desses bicos é capinar terrenos baldios, algo muito necessário nas cidades do interior. Num dia muito quente, Adriano foi capinar um terreno e, conversando com o pastor da sua igreja, este lhe aconselhou que usasse um chapéu, pois o sol estava muito forte naquele dia, mas Adriano não lhe deu ouvidos. Foi capinar com a cabeça desprotegida e quando estava na metade do serviço, percebeu - tarde demais - que o pastor tinha razão. O sol estava de "rachar mamona", como se diz na roça, e ele já estava se sentindo mal, se expondo aos riscos de uma insolação. Não teve dúvidas: parou o serviço e orou, pedindo a Deus que lhe ajudasse a suportar o calor. Pouco depois, capinando uma moita, viu que atrás dela, no meio do mato, estava um boné novinho em folha, o que o deixou muito feliz. Parou o serviço novamente e deu glórias a Deus por ter respondido a sua oração.
Algum tempo depois, surgiu outro terreno para capinar, cujo proprietário lhe havia pedido urgência, pois precisava começar uma obra no dia seguinte. Já declinando a tarde, a enxada que Adriano usava soltou a cunha, e a gambiarra que ele fez não ajudava muito, já que ele mal conseguia capinar com aquela peça bamba. Recriminou-se por não ter pego uma enxada melhor. Não teve dúvida, parou tudo e orou pedindo ajuda a Deus. Pouco depois, deu uma enxadada numa quiçaça e ali, para sua grata surpresa, tinha uma cunha semi-enterrada, que cabia perfeitamente na sua enxada. Diante do achado, levantou as mãos ao céu e glorificou a Deus efusivamente, o que deve ter assustado a vizinha que via pela janela a cena insólita de um homem cansado, no fim da tarde, agradecendo a Deus por uma cunha. Pelo canto dos olhos, Adriano só teve tempo de ver a cortina se fechando rapidamente.
Passados alguns dias, outra pessoa pediu a Adriano um serviço de urgência, que ele não podia recusar nem fazer num dia só sem a ajuda de outra pessoa. Combinou com o seu irmão, mas este avisou-lhe a tempo que não poderia ir. Chamou um rapaz que às vezes lhe ajudava, mas no dia e hora combinados, ele simplesmente não deu as caras. Lá estava o terrenão enorme pedindo enxada, e só Adriano a lhe encarar. Decidiu-se a fazer o que podia, mas já terminava o dia e ainda faltava muito chão para capinar. Exausto e já próximo do desespero, não teve dúvida: parou tudo e clamou a Deus por socorro. Mal teve tempo de dizer o "amém", quando percebeu uma sombra estranha denunciando um vulto enorme que se aproximava. Era um homem negro, grande, mal encarado, como aquele personagem condenado à morte no filme "À Espera de Um Milagre", o que lhe deixou com um baita medo naquele ermo do sem fim. O homem se aproximou e disse:
- Ei, rapaz, você não quer que eu te ajude? Tem muito terreno ainda e eu posso te ajudar por um trocadinho qualquer...
Adriano combinou o preço com o socorro recém-enviado dos céus - que, segundo ele, era um verdadeiro trator - e terminou o seu dia feliz, levando dinheiro para casa e dando glórias a Deus.
Esta é uma história verídica...
Ouvindo esta história, eu fiquei pensando cá com os meus botões: esta é a fé que Deus honra. Não uma pseudo-fé auto-imputada, arrogante, soberba, que trata Deus como um menino de recados ou um escravo obrigado a "honrar" quem alega segui-lO, de preferência cobrindo-o de bens, mas uma fé simples, inocente, dedicada, que se dispõe e põe a mão no arado e na enxada com vontade de ser feliz, e não tem vergonha da sua condição, nem de pedir auxílio a Deus quando as coisas não saem exatamente como se pensava, e em tudo dando glória a Ele. Simples assim...
Fonte original: Bereianos

via Blog do Eli Sanches