27/01/2009

COMO DISCIPULAR EX-ADEPTOS DE SEITAS?

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Desilusão, angústia, perda da confiança em si próprio, medo de voltar ao estilo de vida anterior ao do envolvimento com a seita, tensão, incertezas, crises de identidade, falta de rumo, etc. Estas são as companhias constantes de quem abandona uma seita herética. Muitos se descrevem como "arrasados, mutilados"; outros, muito tempo após terem deixado o grupo, ainda permanecem nesse estado. Alguns partem para novas experiências religiosas em busca da "única igreja verdadeira", vão de igreja em igreja,  e colecionam decepções seguidas de  mais decepções. Ainda existem aqueles que tentam recuperar o tempo perdido e passam a dispensar maior atenção ás relações familiares, ao emprego, aos estudos, enquanto deixam Deus de fora de suas vidas. A Dra. Margaret Thatcher Singer, como resultado de uma pesquisa intensa feita com 3 000 mil ex-sectaristas observou entre eles: "casos significantes de depressão, solidão, ansiedade, baixa auto-estima, superdependência, confusão mental, inabilidade para se concentrar, psicoses"(1).
Isso tudo é conseqüência de se ter estado associado a uma seita destrutiva, que abusa emocional e espiritualmente do indivíduo. Steve Hassan, autor de "Combatendo o Controle Mental das Seitas"(2) , faz uma lista de quatro marcas básicas do controle mental exercido pelas seitas:

O CONTROLE EMOCIONAL

A chave deste controle está no temor e na culpa, também chamado de "inculcação" de fobias . O membro da seita desenvolve a paranóia de que Satanás esta à espreita para caçar-lhe se em qualquer momento questionar a organização religiosa ou, por alguma razão, a abandone, ...Ele e sua família morreriam de forma horrível se  se afastarem dela.

O CONTROLE DE CONDUTA

É reforçado aos membros toda  a classe de regras peculiares, normas sobre vestimentas e outras coisas não especificadas na Palavra de Deus. Novos modelos de comportamento são apresentados, como as visitas de porta em porta, a assistência a várias reuniões semanais, novas atitudes para com os dissidentes e, na seqüência, o ensinam que ele é perseguido por suas crenças.

O CONTROLE DE PENSAMENTO

Emprega-se uma linguagem carregada de termos peculiares do grupo, tais como: novo sistema, teocrático, organização de Deus, a verdade, apóstatas. Tudo é branco ou negro; a entidade é boa e todas as demais são do Diabo.
Existem respostas para todas as suas perguntas, pois assim o membro não necessita pensar por sua própria conta.

O CONTROLE DE INFORMAÇÃO

Aos membros é proibido qualquer acesso á informação crítica sobre o movimento. O membro sempre está ocupado lendo suas próprias literaturas e assistindo às reuniões. Dentro da estrutura piramidal do movimento existem diversos níveis de conhecimento. Também são escondidas as  informações dos que estão fora, de maneira que eles tenham publicamente uma imagem benigna. Muitos, por desconhecerem este aspecto das seitas acham que os ex-sectaristas sofrem inteiramente de problemas espirituais e nada mais. Pessoas que fizeram parte de uma seita têm problemas e necessidades especiais. Umas das dificuldades é que encontram má compreensão e invariavelmente estigma  na comunidade evangélica. Os apologistas Ronald M. Enroth e J. Gordon Melton, lançaram um grande desafio em um de seus excelentes livros: "Nós desafiamos os cristãos para estenderem companheirismo e amizade para esta nova minoria: os ex-sectaristas"(3). A grande maioria daqueles que saem de uma seita sofrem enormes privações. Isso implica no fato  de que temos o dever moral de ajudá-los, não somente levando-os a Jesus Cristo, mas dando-lhes assistência no que for necessário para que reestruturem suas vidas. Nos últimos anos houve um crescente avanço da apologética em nosso País.Vários livros foram lançados expondo os erros religiosos e defendendo magistralmente a verdade, porém a igreja cristã permanece apática na sua compreensão dos efeitos danosos que o envolvimento com grupos pseudos-cristãos traz ao indivíduo e à sociedade como um todo. Sem contar  com aqueles que chegam feridos em nossas igrejas e permanecem com várias seqüelas por causa de seu anterior envolvimento sectário. Eles carecem de um envolvimento intenso e relacional com cristãos maduros que os orientem não somente a abandonarem os falsos ensinos, reaprender as verdades bíblicas, e essencialmente --- o amor incondicional do Salvador.
Em junho de 1980 cristãos de vários países se reuniram em Pattaya, Tailândia, sob o patrocínio da Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial com o intuito de tratarem de questões pertinentes a obra de evangelização mundial. Um dos temas pulsantes desse congresso foi a "Mini Consulta para a Evangelização de Místicos e Sectaristas"(4). Na ocasião foram dadas preciosas instruções sobre o aconselhamento de pessoas que fizeram parte de uma seita. Seguem abaixo algumas sugestões (com adaptações) apresentadas naquele encontro que são vitais  para aqueles que desejam ajudar um ex-sectarista:
"Acompanhamento: Freqüentemente, os que abandonam uma seita religiosa são muito desconfiados e assustados. Eles precisam  muito de segurança e  compreensão. Ele precisa ser abordado com gentileza, amor e respeito. O grupo ao qual ele fazia parte anteriormente,  assim como seus líderes, não deveriam ser escarnecidos ou atacados. Isso provocaria uma atitude defensiva. É essencial descobrir por que ele (ou ela) se uniram ao grupo. Pode haver muitas razões. Estimule-os a falarem sobre isso. O calor e a aceitação pessoal, por um lado, e o espírito de oração no intuito de triunfar no conflito espiritual, por outro lado ,são os fatores –chaves de sucesso nesta empreitada. São mais importante que a lógica e a argumentação(5).
Entretanto , é necessário ter um bom conhecimento dos ensinamentos do grupo, e ser capaz de questioná-los polidamente, porém ,com firmeza, com base na Palavra de Deus. Pode ser importante insistir várias vezes sobre alguns pontos simples, quando o  ex-sectarista se mostrar confuso. Mas, cuidado para não manipular ou fazer ameaças! Enquanto oramos e alimentamos a esperança de que ele possa estar desenvolvendo a cada dia seu relacionamento com Jesus Cristo, precisamos tomar cuidado para não tirarmos vantagem de seu estado de confusão mental. Nossa primeira responsabilidade é encorajá-los e ajudá-los a entender tudo que passou e a libertarem-se dos traumas oriundos de suas anteriores experiências religiosas. Do contrário, estaremos sendo culpados de violar sua personalidade, exatamente como fez o grupo aliciante. A tarefa de assumir a "paternidade espiritual" (o cuidado) pode ser extremamente exigente. Requer tempo, paciência, recursos emocionais e energia espiritual. É preciso lutar em oração! Incentive-os na leitura da Bíblia (Hebreus 4:12). Ponha-os em contato com outros que tenham a  mesma história religiosa e que experimentaram a Graça irresistível de Deus em suas vidas."


Pode-se levar meses  --- ou até anos ---  para a recuperação total de um ex-sectarista. Porém, é extremamente gratificante ver cada dia o progresso deles crescer em  fé,   em amabilidade, misericórdia e fidelidade de Deus em suas vidas. (Êxodo 34:6), entendendo assim que a Graça de Deus é suficiente para a cura de feridas e traumas passados.

NOTAS
1 - "Coming Out the Cults", Psychology Today, Aug.1984, p.27.
2 - "Combatting Cult Mind Control, (Park Street Press, 1988).
3 - "Why Cults Succed Where the Church Fails - Elgin. III: Brethren Press,1985, pg. 98, 99
4 - O relatório completo sobre esta "mini consulta" foi editado no Brasil em 1984, com o título de: "O Desafio das Novas Religiões" (Ed. ABU e Visão Mundial)
5 - Harold L. Busséll em seu excelente "Unholy Devotion" ( 1983, Zondervan Corporation) diz que a maioria das pessoas são atraídas pelas seitas por fatores psicossociológicos não tanto pela doutrina.

Fonte: MinistérioCACP - Como discipular ex-adeptos de seitas

A APOLOGÉTICA E OS CORAÇÕES CORRETOS

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“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vossos corações, estando sempre preparados (...) com mansidão e temor” (1 Pedro 3:15-16)
Quando ministramos na área de apologética, nós o fazemos como discípulos de Jesus, e, portanto, da maneira como Ele o faria. Isso significa, primeiramente, que nós o fazemos para ajudar pessoas, especialmente àqueles que querem ser ajudados. Apologética é um ministério de ajuda.
No contexto de 1 Pedro 3:8-17 os discípulos estavam sendo perseguidos por sua dedicação em promover a bondade. De acordo com o que Jesus os tinha ensinado, tal perseguição deveria ser fonte de regozijo. Essa atitude fazia com que os observavam a questionassem como os discípulos podiam estar esperançosos e alegres em tais circunstâncias. Num mundo irado, desesperançado e triste, essa questão era inevitável.

A exortação de Pedro

Por isso, Pedro exortou os discípulos a estarem “sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor, com boa consciência” (vv. 15-16), ou seja, consciência que se tem por se ter feito o que é correto.
Nossa apologética, assim, é feita como um ato de amor fraternal, sendo “prudentes como as serpentes e símplices como as pombas” (Mateus 10:16). A sabedoria da serpente está em ser oportuna, baseada em observação vigilante. A pomba, por sua vez, é incapaz de falsidade ou de enganar alguém. Assim devemos ser.
Amar àqueles com os quais lidamos será necessário para que os compreendamos corretamente e para que evitemos manipulá-los, ao mesmo tempo que desejamos e oramos intensamente para que reconheçam que Jesus Cristo é o Senhor do cosmos.
O amor também nos purificará de todo mero desejo de vitória, como também de toda presunção intelectual ou desdém para com as opiniões e habilidades dos outros. O evangelista para Cristo é caracterizado pela humildade (Colossenses 3:12; Atos 20:19; 1 Pedro 5:5), principalmente intelectual – um conceito vital do Novo Testamento que a palavra humildade por si só não expressa totalmente.
Deste modo, a chamada ao ministério de apologética não é para forçar pessoas relutantes à submissão intelectual, mas uma chamada na qual servimos aos necessitados, e, freqüentemente, àqueles que são escravos de seu próprio orgulho e presunção intelectual, muitas vezes reforçada pelo ambiente social.
Em segundo lugar, nós fazemos o trabalho de apologética como servos incansáveis da verdade. Jesus disse que Ele veio “ao mundo a fim de dar testemunho da verdade” (João 18:37), e Ele é chamado “a testemunha fiel e verdadeira” (Apocalipse 3:14).
É por isso que temos “temor” quando ministramos. A verdade revela a realidade, e a realidade pode ser descrita como aquilo com o qual nós humanos nos deparamos quando estamos errados. Quando ocorre tal colisão, sempre perdemos.
Enganos com relação à vida, às coisas de Deus e à alma humana são assunto seriíssimos, mortais. É por isso que o trabalho de apologética é tão importante. Falamos “a verdade em amor” (Efésios 4:15). Falamos com toda a clareza e racionalidade que podemos demonstrar, ao mesmo tempo contando com o Espírito da verdade (João 16:13) para realizar aquilo que está muito além de nossas habilidades limitadas.

O ponto comum de referência

A verdade é o ponto de referência que compartilhamos com todos os seres humanos. Ninguém pode viver sem a verdade. Ainda que possamos discordar em pontos específicos, a fidelidade à verdade – seja ela qual for – permite que nós nos relacionemos com qualquer pessoa como honestos companheiros de investigação. Nossa atitude, portanto, não é de divisão, mas de agregação. Estamos aqui para aprender, e não somente ensinar.
Assim, sempre que for possível – ainda que por vezes, devido aos outros, não seja – nós “respondemos” numa atmosfera de investigação mútua, motivada pelo amor generoso. Ainda que possamos ser firmes em nossas convicções, não nos tornamos arrogantes, desdenhosos, hostis ou defensivos.
Por sabermos que o próprio Jesus não agiria assim, temos que reconhecer que não podemos ajudar pessoas de uma maneira arrogante. Ele não tinha necessidade disso, e nós também não. Em apologética, como em tudo, ele é nosso modelo e Mestre. Nossa confiança reside totalmente nele. Esse é o lugar especial que damos a Ele em nossos corações – a maneira com a qual “santificamos a Cristo como Senhor em nossos corações” – no ministério crucial de apologética.
Fonte:
Dallas Willard, Ph.D., é professor de filosofia na Universidade da Califórnia do Sul (University of Southern California) e autor de vários textos filosóficos, além de livros sobre apologética e sobre discipulado cristão.
MinistérioCACP - Apologética e corações corretos