17/07/2010

Devoção Puritana a Grandeza de Deus - K. Sarles

 

O Compromisso puritano com a Palavra de Deus originou-se da devoção à pessoa de Deus como seu autor. No século passado, foi A. W. Tozer quem melhor expressou a necessidade de uma alta conceituação de Deus:

"A questão mais séria para a Igreja é sempre o próprio Deus, e o fato mais portentoso acerca de qualquer homem não é o que ele, em um momento determinado, é capaz de dizer ou fazer, mas o que ele, em seu íntimo, concebe que Deus seja. Temos a tendência, por uma lei secreta da alma, de seguirmos nossa imagem mental de Deus. Isto é verdade não apenas no cristão, mas no grupo de cristãos que compõem a Igreja. Sempre, a coisa mais reveladora acerca da Igreja é a idéia que faz de Deus, assim como sua mensagem mais importante é o que ela diz acerca dEle ou deixa de dizer, pois seu silêncio é, via de regra, mais eloqüênte do que seu discurso. Ela não consegue fugir da auto-revelação de seu testemunho relativo a Deus".

De acordo com Tozer, um conceito correto a respeito de Deus é tão básico para o viver diário quanto o é para a teologia, "corresponde a adorar o que a fundação é do Templo: onde quer que ela seja inadequada ou esteja fora de esquadro, todo estrutura, mais cedo ao mais tarde, ruirá" - Em termos práticos, todos os erros doutrinários e morais podem ser, em última análise, uma baixa concepção de Deus. Falando a respeito de seus próprios dias, Tozer declarou: "Penso que o conceito cristão de Deus em vigência nesta metade do século 20 é tão decadente que está completamente abaixo da dignidade do Deus Altíssimo, constituindo-se, na realidade, para os crentes professos, algo que beira a calamidade moral" (imagine hoje - início do século 21). Esse comentário hoje é mais precioso do que nunca.

Em contraste, os puritanos eram conhecidos por serem pessoas intoxicadas com Deus. Até mesmo a própria teologia foi definida por um teólogo peritano como a doutrina do Deus vivo. Ele elaboraou com requinte o que queria dizer:

"Toda arte possui suas regras para as quais correspondem a a obra da pessoa que a pratica. Já que o viver é a obra mais nobre de todas, não pode haver estudo mais adequado do que a arte do viver.

já que o tipo de vida mais elevado para um ser humano é o que mais se aproxima do Deus vivo e provedor de vida, a natureza da vida teológica é viver para Deus.

O ser humano vive para Deus quando vive de acorda com a vontede de Deus, para a glória de Deus, e com o operar de Deus nele" ( Ames).

Isso expressa uma cosmovisão teocêntrica - relacionando tudo na vida de alguém, incluindo todos os problemas pessoais, à natureza, ao caráter e ao propósito de Deus. Da mesma forma, a psicologia, como conhecimento do homem, estava arraigada a teologia, que se constituía no conhecimento de Deus. Para os Puritanos, a teologia não era uma ciência esotérica e inigmática a ser estudada por uma elite acadêmica; ao contrário, foi um assunto eminentemente relevante para todos os crentes.

"Agora, já que esta vida tão desejada é verdadeira e propriamente nossa prática mais importante, fica evidente que a teologia não é um disciplina especulativa, mas prática - não somente no respeito comum, que todas as disciplinas possuem... a boa prática como seu fim, mas de uma maneira peculiar e especial, quando comparada a todas as demais... A teologia, portanto, é para nós a última e mais nobre de toas as artes exatas que se pode ensinar. Ela é um guia, um plano-mestre para nosso propósito mais alto, enviada de forma especial por Deus, que trata das coisas divinas, voltada para Deus, e que conduz o homem a Deus" (Ames)

Esse foco dos puritanos centrado em Deus brotava de uma devoção profunda e adequada ao Criador. Thomas Watson, teólogo inglês do século XVII, é que melhor capta a ênfase puritana acerca do amor por Deus em sua explicação da natureza, grau e fruto do amor. Por natureza, o amor a Deus deve ser completo, sincero, fervoroso, ativo, exclusivo e permanente. De acordo com Watson; "O verdadeiro amor ferve, mas não derrama. O amor a Deus, assim como é sincero e sem hipocrisia, é constante e sem apostasia". O grau de amor a Deus deve ser imensurável, já que ele é a quintessência de tudo o que é bom. Já que Deus é central à nossa percepção, Ele deve ser detentor daquilo que é central em nossas disposições e inclinações - Watson.

O que Watson concluiu a partir disso é o que diferencia a visão de Deus do puritanismo inglês da atitude evangélica contemporânea em relação a Ele. "Você talvez ame demais a criatura. Você pode amar demais o vinho e a prata; mas não há como você amar Deus em excesso. Se isso fosse possível, esse excesso seria uma virtude; mas é por causa do nosso pecado que somos oincapazes de amar a Deus o suficiente" (Watson) - Já que Deus é infinito, Ele sempre transcende nosso amor por Ele e excede nosso conhecimento dEle. Portanto, jamais devemos cessar de buscar maior compreensão de Seus próprios propósitos e maior devoção à Sua pessoa. Um anseio consumidor por Cristo deixa pouco espaço para distrações como a busca da auto-satisfação. Por conseguinte, os puritanos que tanto amavam a Deus não viviam ocupados com suas próprias necessidades quanto nós que vivemos na "Geração do Eu". Eles captavam a verdade de que um conhecimento preciso do eu vem somente por meio de um conhecimento prévio de Deus. Desse modo, seu ponto teocêntrico favorável conferiu-lhes uma perspectiva diferente acerca da natureza do homem, particularmente no que diz respeito ao funcinamento das faculdades humanas.

K. L. Sarles.

fonte:   Devoção Puritana a Grandeza de Deus - K. Sarles