30/04/2010

O Governo Divino - Louis Berkhof

 


1. A NATUREZA DO GOVERNO DIVINO. Pode-se definir o governo divino como a contínua atividade de Deus pela qual ele rege todas as coisas ideologicamente afim de garantir a realização do propósito divino. Este governo não é uma simples parte da providência divina, mas, como no caso da preservação e da concorrência, é toda ela, agora, entretanto, considera sob o ponto de vista do fim para o qual Deus guia todas as coisas da criação, a saber, a glória do seu nome.

a. É o governo de Deus como o Rei do universo. Nos dias presentes muitos consideram a idéia de Deus como Rei uma noção antiquada do Antigo Testamento, e a querem substituir pela idéia neotestamentária de Deus como Pai. A idéia da soberania divina deve dar lugar à do amor divino. Julga-se que esta se harmoniza com a idéia progressiva de Deus na Escritura. Mas é um erro pensar que a revelação divina, conforme se eleva a níveis mais altos, tenciona fazer com que nos desapeguemos aos poucos da idéia de Deus como Rei e a substituamos pela idéia de Deus como Pai. Já vai contra isso a proeminência da idéia do reino de Deus nos ensinos de Jesus. E se se disser que isto envolve apenas a idéia de uma especial e limitada realeza de Deus, pode-se replicar que a idéia da paternidade de Deus nos evangelhos está sujeita às mesmas restrições e limitações. Jesus não ensina uma paternidade universal de Deus. Além disso, o Novo Testamento também ensina a realeza universal de Deus em passagens como Mt 11.25; At 17.24; lTm 1.17; 6.15; Ap 1.6; 19.6. Ele é igualmente Rei e Pai, e é a fonte de toda autoridade no céu e na terra, o Rei dos reis e Senhor dos senhores.

b. É um governo adaptado à natureza das criaturas que ele governa. No mundo físico ele estabeleceu as leis da natureza, e é por meio dessas leis que ele exerce o governo do universo físico. No mundo mental ele exerce o seu governo de forma mediata, por meio das propriedades e leis da mente, e imediatamente, pela direta operação do Espírito Santo. No governo e controle dos agentes morais ele faz uso de toda classe de influência moral, como as circunstâncias, os motivos, a instrução, a persuasão e o exemplo, mas também age diretamen¬te, pela operação pessoal do Espírito Santo no intelecto, na vontade e no coração.

2. A EXTENSÃO DESTE GOVERNO. A Escritura declara explicitamente que este governo divino é universal, SI 22.28,29; 103.17-19; Dn 4.34,35; lTm 6.15. É realmente a execução do seu propósito eterno, abrangendo todas as suas obras, desde o princípio, tudo que foi, é e será para sempre. Mas, embora geral, desce também a particularidades. As coisas de maior significação, Mt 10.29-31, aquilo que é aparentemente acidental, Pv 16.33, as boas ações dos homens, Fp 2.13, como também as suas más ações, At 14.16 - tudo está sob o governo e direção de Deus. Deus é o Rei de Israel, Is 33.22, mas ele também domina entre as nações, SI 47.9, nada pode escapar ao seu governo.

FONTE:  O CALVINISMO: O Governo Divino - Louis Berkhof

NOSSO AMOR A DEUS

 

Aqueles que precisam receber ordens para amar a Deus geralmente acreditam que a obediência envolve a exclusão de todos os outros amores, chegando ao extremo de odiarem o mundo, a carne e até a si. Por isso, encontramos entre os cristãos um número exagerado de pessoas que odeiam a vida, ansiosas por receberem ordens de amar a Deus de maneira frígida e estóica porque, em primeiro lugar, elas odeiam o mundo, a carne e a si mesmas.
Sempre houve, todavia, pessoas que nunca receberam ordens para amar a Deus, porque estavam perdidamente apaixonadas por ele. A base de sua ideologia é que todo amor, não obstante seu objeto esteja errado, é em essência amor de Deus; e esse amor de Deus deve, dada a natureza caída do homem, começar com o amor-próprio. O que há de errado com o amor próprio, portanto, não é o sentimento de amor, mas o objeto para qual o amor se volta.
Muitas vezes, como um corolário dessa visão, julga-se que todo o amor, até o mais sensual, é uma tentativa de descobrir o belo e o bom. O amor fracassa e com isso revela o objeto mais elevado para o qual o amor deveria voltar-se. Embora nem todos tenham a honestidade de Agostinho que lhes permita pedir “Faz-me casto, mas não já”, contudo, o dissoluto em recuperação tem mais probabilidade de aprender a amar a Deus do que o homem que pouco se preocupa com qualquer espécie de amor. Considerando a multidão de grandes homens que expressam esse estado de espírito alternativo, pensamos em Platão, Plotino, Agostinho, Bernardo de Claraval, Dante, Dostoievski e muitos outros.

Hiperatividade Cerebral!: Janeiro 2009

29/04/2010

A Verdadeira Chama Divina

 
Sobre pregação do Pr. Caio Fábio.
Levítico 10:1-3

O que é válido diante de Deus de nosso culto e nossas ofertas?
Nós esquecemos o que realmente nos faz aceitáveis diante d´Ele. Hoje há uma crença disseminada na igreja que qualquer coisa que apresentemos como produto de nossos esforços “sinceros” e de “coração limpo” à Deus com um recheio de “Jesus”, Ele é obrigado à aceitar por causa de Sua bondade e misericórdia.
A Palavra mostra claramente que não é assim que as coisas funcionam no âmbito espiritual. Tendemos a repetir em nosso relacionamento com Deus os mesmos parâmetros que utilizamos em nossas relações pessoais e com as coisas deste mundo.
Lendo com cuidado o trecho bíblico em evidência, vemos que a história começa antes, no capítulo 9 onde Deus através de Moisés orienta como proceder para que Sua Glória de manifestasse em meio à Israel. Ritos de arrependimento, perdão a ação de graças pela remissão dos pecados pessoais e coletivos.
Na história relatada na bíblia do relacionamento entre Deus e o homem, fica sempre patente a inadequação do segundo em relação ao primeiro em função do pecado. Igualmente o ardente desejo de Deus em aproximar-se de sua criação apesar de sua rebeldia. Entretanto a Santidade do Senhor é fogo consumidor: não há pecador que possa se aproximar d’Ele sem que o juízo de sua Santidade o consuma irremediavelmente.
Na antiga aliança os ritos eram necessários, dado o contexto histórico-relacional dentre o divino e a humanidade. Mas sempre foram lastreados na Graça Divina: a voluntariedade de Deus em escolher um pelo qual Suas orientações pudessem ser passadas para o povo; a concessão de, sobre tão frágeis ritos, Deus manifestar-se em meio ao povo; Sua promessa de prover o sacrifício perfeito no devido tempo; Suas advertências carregadas de amor à Israel em tempos de infidelidade à aliança.
Deus somente aceita de nossa parte, como oferta agradável à Si, aquilo que Ele mesmo nos entrega graciosamente!
Ofertar à Deus nossos esforços teológico-pessoais como oferta agradável à Ele é incorrer no mesmo erro de Nadabe e Abiú. Eles ofertaram FOGO ESTRANHO ao Senhor. Se estes tivessem se atido somente ao que o Senhor através de seu Pai Arão ordenara, a Glória de Deus ali manifesta seria Bem. Mas quando caíram na tentação de fazer algo por si mesmos, ofertando algo além daquilo que o Senhor ordenara, houve o entorpecimento da percepção de ambos e o bem transformou-se em juízo consumidor para eles.
O sacerdócio de Nadabe e Abiú está presente nas igrejas cristãs hoje em dia. Fomos instruídos desde o início de nossa jornada espiritual a apresentar FOGO ESTRANHO diante do Senhor, consignados nas nossas obras de sacrifício pessoal, em nome de “Jesus”. Fomos incentivados a acreditar que nossas bênçãos são fruto daquilo que pensamos ser para Deus a partir de nossas ofertas pessoais, quando a Palavra mostra que somos abençoados por aquilo que Deus representa para nós em nossas consciências.
Esse modelo de vida espiritual desconsidera a Graça, a Misericórdia e o Amor do Pai, substituindo-os pelas nossas presunções e percepções que invariavelmente são afetadas pelo nosso pecado essencial. Quando vamos entender, absorver, internalizar, nos conscientizar que só entramos na presença do Pai só porque Ele fez TODO trabalho!
Foi só porque o sangue de Jesus foi derramado na cruz, e a nossa fé em nos apropriar desse sacrifício perfeito com o Cordeiro ofertado em sacrifício pelo Pai para perdão de nossos pecados, que nos habilita a estar em Cristo assentados em lugares celestiais!
Esse é o FOGO que Deus aceita de nossas vidas como oferta de louvor à Ele!
O fogo do sacrifício do Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. Daquele que foi sacrificado fora do templo e teve sua carne e ossos queimados fora do arraial, conforme Hebreus 13, determinando que quem acredita que as obras pessoais prevalecem, não tem parte na nova aliança. Que permite que Deus olhe para a humanidade e veja o espesso sangue de Seu filho cobrindo nossos pecados e nos tornando justificados pela fé nele.
A partir daí o Fogo de Deus não é mais para nossa extinção, mas para validação de nossa fé.
Entretanto hoje somos incitados a extrapolar a simplicidade da mensagem do Evangelho e da Graça divina para fazer prevalecer nossas obras sobre a Verdade. Somos levados pela síndrome da inovação a buscar fora da revelação divina, outras manifestações de espiritualidade. É a hora que entra em ação os mecanismos humanos da intuição, das profetadas e revelamentos, das teologias estapafúrdias.
É a hora em que o FOGO HUMANO/ESTRANHO se confunde com o FOGO DIVINO nas manifestações carismáticas de poder espiritual. Vivemos uma época onde o pentecostes é perseguido como sinal de autenticidade da caminhada espiritual de pessoas e grupos.
Sinais e manifestações de poder sobrenatural só têm validade se antes forem passados pelo Sangue do Cordeiro em nosso relacionamento pessoal com Ele.
O FOGO DE DEUS só chega em nossas vidas como validação, quando passamos pelos “ritos”da Graça: consciência de pecado, arrependimento, reconhecimento da soberania divina, aceitação do perdão, submissão aos designios divinos e alegria pela relação com Deus.
Essa é a mensagem do Evangelho. Essa é a mensagem da Cruz. Tudo isso foi substituído por palestras motivacionais, programação neurolingüística, poder de querer, a força da fé, empreendedorismo, prosperidade, os novos ídolos do cristão. Jesus e sua obra se reduzem a um validador místico do naipe de uma fada-madrinha, gênio da lâmpada ou ainda a um Xamã.
Poder do Espírito Santo, fogo divino por excelência, nesse contexto só para “perseguir e pisar no inimigo”, “ter estratégias ‘sobrenaturais’ para ser próspero” ou para obter a “vitória total”. Não se fala mais no Cordeiro de Deus, oferta pela culpa, do apaziguamento da alma pela Graça de Deus, da vida abundante em Cristo, da festa pela reconciliação, da fé no sangue vertido na cruz por Jesus para perdão dos pecados.
Isso hoje é conto infantil. A moda entre os “crentes” é sair como caçadores em busca de métodos de como acender o FOGO HUMANO/ESTRANHO. Um dia em uma igreja, na semana seguinte em outra para “aprender” como acender o pavio de algo que nem sabe de que origem é, e assim por diante. Não há sossego de alma. Não há tempo de fechar a porta do quarto e entregar-se sinceramente diante do Pai, de onde vem o FOGO DIVINO.
O PENTECOSTES SÓ VEM DEPOIS DO CALVÁRIO!
Só há um fogo (oferta, culto) que o Senhor aceita de nós: aquele que Ele mesmo nos deu por meio de Cristo Jesus. Que é FOGO DIVINO, validador de nossa caminhada em fé e em pacificação de mente e coração em Deus; testemunho vivo em nós de que a Sua Palavra é a Verdade!
PORQUE:
- sangue inocente foi derramado para perdão de nossos pecados;
- estamos cientes de nossa absoluta e humanamente irremediável inadequação diante de Deus;
- somos alvo da total Graça divina em nos tornar justificados perante Sua presença;
Que aprendamos a discernir o fogo que ofertamos ao Senhor em nossas vidas.
Paz.

FONTE:  Blog do Eli Sanches: A Verdadeira Chama Divina

EVANGELHO x RELIGIÃO: COBERTURA ESPIRITUAL "DO GUARDA-CHUVAS"! (MITO OU VERDADE)

 

Já ouviram falar da historinha de que a cobertura espiritual é semelhante à um guarda-chuvas? Na verdade é mais uma analogia para ilustrar a "doutrina da cobertura espiritual" que inventaram na igreja.
Veja abaixo o que um conhecido Bispo de uma igreja neo-pentecostal colocou a respeito:
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Quando você estuda a Bíblia percebe, entre outras coisas, a importância da cobertura espiritual sobre nossas vidas. Cobertura esta manifestada através da Igreja e de suas autoridades delegadas.
A cobertura espiritual é o condutor do que a Igreja pode nos oferecer. Como a Igreja é o Corpo do nosso Senhor Jesus, tudo o que o Senhor Jesus pode fazer em nós e através de nós acontece quando estamos sujeitos à cobertura espiritual.
Um famoso escritor cristão chinês comparava a autoridade espiritual como um guarda chuva. O guarda chuva nos protege de sermos molhados bem como a cobertura espiritual impede-nos de sermos contaminados pelo mundo.
Foi Deus que instituiu a cobertura espiritual em nossas vidas, e segundo o Apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos, ela foi constituída para o nosso bem. Ela é importante para nossa vida, pois demarca limites em nossas vidas.
Uma árvore para crescer bem, bonita e na direção correta deve ser podada sempre. Um cristão para crescer segundo a vontade de Deus, na direção correta, necessita de uma pessoa para “podá-lo” quando necessário.
Estabelecer limites em nossas vidas é muito importante. Um pai cria bem seus filhos através de limites estabelecidos que moldem o caráter da criança. Quando cresce, será uma pessoa com caráter bem formado.
O nosso Deus é um pai bondoso e atencioso. Como bom Pai que é Ele estabelece limites para crescermos saudáveis e através da autoridade espiritual por Ele constituído é que somos edificados para este crescimento.
Reconheça a cobertura espiritual de Deus para a sua vida. A cobertura da Igreja, pois com ela você poderá declarar que “nenhuma arma forjada contra você prosperará”, pois este é seu direito como membro coberto da Igreja de Jesus.
Autor: Bispo Fábio Sousa
Fonte: www.fontedavida.com.br

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A primeira coisa que devemos analisar: É Bíblico o ensino da cobertura espiritual?
Frank Viola, em seu livro "Quem é tua cobertura?" coloca uma análise profunda sobre este tema, ele coloca de maneira exegeticamente correta uma refutação a respeito, veja abaixo:
É surpreendente que a palavra “cobertura” apareça apenas uma vez em todo o NT. É usada referindo-se à cabeça coberta da mulher (1 Cor. 11:15). Ao passo que o Antigo Testamento (AT) utiliza pouco este termo, sempre o emprega referindo-se a uma peça do vestuário natural. Nunca é utilizado de maneira espiritual ligando-o a autoridade e submissão.
Portanto, a primeira coisa que podemos dizer acerca da “cobertura” é que há escassa evidencia Bíblica para construir-se uma doutrina. Não obstante, incontáveis cristãos repetem como papagaios à pergunta “quem-é-tua-cobertura?” e insistem nela como se fosse a prova do ácido que mede a autenticidade de uma igreja ou ministério.
Se a Bíblia silencia com respeito à idéia da “cobertura” o que é que se pretende dizer com a pergunta, “Quem é tua cobertura”? A maioria (se insistíssemos) formularia esta mesma pergunta em outras palavras: “A quem você presta contas?”.
Mas isso suscita outro ponto difícil. A Bíblia nunca remete a prestação de contas a seres humanos, mas exclusivamente a Deus! (Mat. 12:36; 18:23; Luc. 16:2; Rom. 3:19; 14:12; 1 Cor. 4:5; Heb. 4:13; 13:17; 1 Ped. 4:5).
Por conseguinte, a sadia resposta Bíblica à pergunta “a quem prestas contas?” É bem simples: “presto contas à mesma pessoa que você, a Deus”. Assim, pois, é estranho que tal resposta provoque tantos mal entendidos e falsas acusações.
Deste modo, embora o tom e o timbre do “prestar contas” difira apenas da “cobertura”, a cantilena é essencialmente a mesma, e sem dúvida não harmoniza com o inconfundível canto da Escritura.
Trazendo à Luz a Verdadeira Pergunta que se Esconde Atrás da Cobertura Ampliemos um pouco mais a pergunta. Que é que se pretende realmente dizer na pergunta acerca da “cobertura”? Permito-me destacar que a verdadeira pergunta é, “Quem te controla?”.
O (maléfico) ensino comum acerca da “cobertura” realmente se reduz a questões acerca de quem controla quem. De fato, a moderna igreja institucional está construída sobre este controle.
Consequentemente, a gente raras vezes reconhece que é isto que está na base da questão, pois se supõe que este ensino esteja bem ancorado nas Escrituras. São muitos os cristãos que crêem que a “cobertura” é apenas um mecanismo protetor.
Assim, pois, se examinarmos o ensino da “cobertura”, descobriremos que está baseado em um estilo de liderança do tipo cadeia de comando hierárquico. Neste estilo de liderança, os que estão em posições eclesiásticas mais altas exercem um domínio tenaz sobre os que estão debaixo deles. É absurdo que por meio deste controle de direção hierárquica de cima para baixo se afirme que os crentes estejam protegidos do erro.
O conceito é mais ou menos o seguinte: todos devem responder a alguém que está em uma posição eclesiástica mais elevada. Na grande variedade das igrejas evangélicas de pós guerra, isto se traduz em: os “leigos” devem prestar contas ao pastor. Que por sua vez deve prestar contas a uma pessoa que tem mais autoridade.
O pastor, tipicamente, presta contas à sede denominacional, a outra igreja (muitas vezes chamada de “igreja mãe”), ou a um obreiro cristão influente a quem considera ter um posto mais elevado na pirâmide eclesiástica.
De modo que o “leigo” está “coberto” pelo pastor, e este, por sua vez, está “coberto” pela denominação, a igreja mãe, ou o obreiro cristão. Na medida que cada um presta contas a uma autoridade eclesiástica mais elevada, cada um está protegido (“coberto”) por essa autoridade. Esta é a idéia.
Este padrão de “cobertura-responsabilidade em prestar contas” se estende a todas as relações espirituais da igreja. E cada relação é modelada artificialmente para que encaixe neste padrão. É vedada qualquer relação fora disto – especialmente dos “leigos” com respeito aos “líderes”.
Mas esta maneira de pensar gera as seguintes perguntas: Quem cobre a igreja mãe? Quem cobre a sede denominacional? Quem cobre o obreiro cristão?
Alguns oferecem a fácil resposta de que Deus é quem cobre estas autoridades “mais elevadas”.
Mas esta resposta enlatada demanda outra questão: O que impede que Deus seja diretamente a “cobertura” dos “leigos”, ou mesmo do pastor?
Sem dúvida, o problema real com o modelo “Deus-denominação-clero-leigos” vai bem além da lógica incoerente e danosa a que esta conduz. O problema maior é que este modelo viola o espírito do Novo Testamento, porque por trás da retórica piedosa de “prover da responsabilidade de prestar contas” e de “ter uma cobertura”, surge ameaçador um sistema de governo que carece de sustento bíblico e que é impulsionado por um espírito de controle.
O ensino do "guarda-chuvas" referindo-se à cobertura espiritual se encaixa exatamente neste sentido que Frank Viola explicou acima, seria uma espécie de "proteção espiritual" de líderes para com seus "controlados" membros da igreja. Quem estiver debaixo da cobertura, estará protegido de ataques do maligno, de doenças, de crises financeiras, etc., como um guarda-chuvas protege da chuva.
O Bispo erra em afirmar que o crente tem que estar debaixo de uma cobertura para se proteger, pois com isso ele nega a responsabilidade individual de cada um perante seus atos (Rm 14:12), e o pior, condiciona um poder de proteção espiritual para eles mesmos que só Jesus pode nos dar. O Bispo afirma que "o agir de Jesus" no crente está condicionado ao mesmo estar debaixo da cobertura deles. Um absurdo! Onde está isso na Bíblia?
Se alguém pecar, não vai ser uma "cobertura" que vai livrar esta pessoa das consequências de seu pecado. E também não vai ser uma "cobertura eclesiástica" que vai livrar o Cristão da "contaminação do mundo". A santificação do Cristão agora depende de cobertura espiritual?
Este ensino escraviza e acomoda o Cristão à uma falsa proteção de líderes que, na verdade estão interessados em somente controlar e manipular os membros de suas mega-congregações. É Deus quem nos guarda e protege e não um líder eclesiástico com sua falsa doutrina de "cobertura de controle".

O referido Bispo erra
também na afirmação de que nas igrejas existem "autoridades delegadas" que seriam os líderes eclesiásticos. O mesmo cita Romanos 13 para averbar que o Cristão deve se submeter as "autoridades delegadas por Deus".
Claro que temos obrigação de nos submeter as autoridades conforme esta passagem nos mostra, porém estas autoridades citadas em Romanos de maneira alguma são os líderes eclesiásticos! Na verdade o contexto da passagem não dá margem para tal afirmação.
Romanos 13, pelo contexto, é direcionado especificamente as “autoridades governamentais”. Não há evidência nem margem exegética nenhuma para afirmar que “também” é direcionada a “autoridade eclesiástica”. Quem afirmar o contrário estará torcendo o texto sem respeitar o contexto, desrespeitando assim as regras de exegese e hermenêutica!

Para se ter uma
idéia desta tamanha distorção, Jesus foi bem categórico quando falou sobre este mesmo assunto:
Então, Jesus, chamando-os, disse: Sabeis que os governadores dos povos os dominam e que os maiorais exercem autoridade sobre eles. Não é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-se grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Mt 20:25-28 (Grifo meu).
Nesta passagem a Bíblia nos narra quando a mulher de Zebedeu, mãe de Tiago e João veio até Jesus com seus filhos para pedir-lhe que colocasse em seu reino os mesmos em posição de honra e autoridade ao lado direito e esquerdo de Jesus.(vs 21). Porém Jesus foi categórico com eles, como podemos constatar nos versos seguintes.
Será que Paulo em Romanos estaria se contradizendo com JESUS sobre o tema? Com certeza não, quem se contradiz são aqueles que afirmam que Rm 13 é direcionado também para a autoridade eclesiástica.
Não existe base bíblica neo-testamentária para que um crente tenha autoridade espiritual sobre outro crente. Isso é invenção de líderes dominadores que querem manipular e controlar o rebanho da Igreja de Cristo.
A única autoridade espiritual que existe na igreja perante os crentes é JESUS. A Bíblia diz em Mt 28:18 “Toda autoridade me foi dada no céu e sobre a terra”. (grifo meu)
Portanto, que fique este alerta contra esses líderes dominadores que, na verdade visam somente o controle absoluto de seus membros para interesses próprios. Você que é membro desta denominação tome cuidado. Analise tudo o que é ensinado em sua Bíblia, sem medo, seja nobre igualmente como os Bereianos de Atos 17:11 foram. Saiba que, fazer isso não é pecado de rebeldia, conforme muitos dizem por aí, pelo contrário, é bíblico e correto (1 Ts 5:21, 2 Tm 4:2-5).
Ruy Marinho - Blog Bereianos.
Soli Deo Gloria!
Postado por Theo Pimenta

fonte:  VANGELHO x RELIGIÃO: COBERTURA ESPIRITUAL "DO GUARDA-CHUVAS"! (MITO OU VERDADE)

28/04/2010

Minha história com o cristianismo e a história do cristianismo | Um drible nas certezas

Era uma vez uma família de valdenses, que migraram da Itália para o Brasil. Ao chegar, a expressão religiosa mais próxima que encontraram em São Paulo foi a igreja metodista.

Uma das moças da família casou-se com um alfaiate também italiano, que suspeita-se seja de origem judaico-polonesa, emigrado para a região mais tolerante do império austro-húngaro. Desse matrimônio sui-generis nasceu minha avó materna. Aqui, a foto da italianada.

A jovem que se tornaria minha avó conheceu na igreja metodista o jovem que se tornaria meu avô. Ele tinha vindo de caminhão do Ceará para São Paulo, ainda muito pequeno. Era seminarista. Expulso do seminário metodista por algum daqueles atos de intolerância que só os evangélicos são capazes de perpetrar, mudou para o seminário presbiteriano, no qual se formou e posteriormente veio a ser ordenado pastor.

Foi pregador itinerante pelos interiores de Paraná e Santa Catarina, andando em lombo de cavalo para pregar sua confissão de fé, em lugares onde muitas vezes o mencionar ser evangélico implicava em risco de vida.

O casal terminou a vida em Belo Horizonte, onde criaram os 8 filhos, e onde meu avô acabou conciliando a vida de pastor com o curso de direito e uma carreira no antigo Banco da Lavoura, e depois na CEMIG.

Minha mãe era uma jovem presbiteriana dedicada, professora de escola dominical e regente de coral da igreja.

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Cai o pano.

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Na década de 1890 chegou no Paraná uma família de tiroleses austríacos num navio. Estavam nele dois irmãos, sobrenome Egg, um deles o sapateiro Roman. Seu filho mais novo, o primeiro a nascer no Brasil, foi meu bisavô.

Meu bisavô converteu-se ao protestantismo depois de adulto, imagino que já era casado, pelo que apurei nas histórias que meus avós contavam. Algum missionário presbiteriano circulando pela cidade, propôs à família o estudo da Bíblia. Foram consultar o padre, para saber como deveriam proceder. Este, ao saber da investida da confissão concorrente, teve um acesso de raiva, jogando a Bíblia ao chão.

A reação chocou o casal, que acabou aceitando estudar a Bíblia com o pastor, mudando-se para a Igreja Presbiteriana Independente. A mudança foi tão traumática para a família, que muitos parentes nunca mais lhes dirigiram palavra, inclusive a mui católica mãe de minha bisavó.

Criaram os filhos como presbiterianos piedosos. Vários foram presbíteros da igreja. Um deles foi cantor de hinos, razoavelmente famoso, consta que com mais de 30 discos gravados. (Isso pelos idos da década de 1950.)

Um tio-avô, médico, foi fundador e diretor do Hospital Evangélico de Curitiba.

Nesta família nasceu meu pai, que não foi, pelo que me consta, exatamente um “jovem presbiteriano piedoso”. Mas que deve ter tido suas crises de consciência na juventude, quando parece que resolveu se engajar mais efetivamente na fé, segundo os moldes de uma instituição para-eclesiástica fundamentalista que então começava a estender suas garras no Brasil: o grupo Palavra da Vida.

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Cai o pano.

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Meu pai e minha mãe se conheceram num congresso de jovens da igreja presbiteriana.

Casaram-se, minha mãe veio morar em Curitiba.

Meu pai decidiu tornar-se aluno interno do antigo Instituto Bíblico Palavra da Vida, em Atibaia-SP.

Saiu de lá formado pastor, mas com dificuldades para assumir alguma igreja, em parte devido ao preconceito das denominações tradicionais com os grupos para-eclesiásticos.

Enquanto meu pai morava em Atibaia, a família em Curitiba fazia parte de um grupo discidente que rompeu com a Igreja Presbiteriana Independente. A dissidência foi em lealdade a um pastor vilipendiado naquele tipo de disputa política que é comum nos bastidores dos púlpitos evangélicos.

Passei a primeira infância em Atibaia, dentro do seminário, onde inclusive comecei minha vida escolar.

Fui educado com todo o rigor do fundamentalismo, coisa que nem duas vidas inteiras de terapia serão capazes de amenizar.

Cersci numa igreja presbiteriana em Curitiba, depois passei a adolescência em sucessivos grupos neo-pentecostais para o qual meus pais migraram. Um deles foi a Comunidade Sara a Nossa Terra, onde até hoje está um de meus irmãos.

Abandonei o convívio eclesiástico, salvo da loucura iminente por um grupo de ótimos amigos que formei nos gloriosos tempos de curso técnico no CEFET-PR.

Quase descambando para o alcoolismo e a vida noturna, já estudante de música, conheci a que hoje é minha esposa. Voltei para o convívio eclesiástico, desta vez numa igreja que nunca tinha conhecido. Os chamados “irmãos”, ou “igreja cristã”, ou “casa de oração” - coisas típicas de grupos que julgam-se a única igreja verdadeira. A convivência numa igreja local menos restritiva que as que eu tinha crescido, junto com a leitura da revista Ultimato, me abriram outras perspectivas de fé cristã.

Depois de casados, escolhemos ambos congregar na Igreja Batista, onde até hoje somos membros. Foi onde achamos a melhor possibilidade de exercer uma fé um pouco mais equilibrada, em relação aos grupos eclesiásticos nos quais tínhamos ambos passado a infância e juventude. Devo estar à beira de ser excluído, pois não sou lá muito assíduo. Pior que isso, não confesso mais o que eles chamam de “sã doutrina”, estou eivado de heresias.

Porque cursei o mestrado em História e, apesar de ter escrito uma dissertação sobre música e política no Brasil das décadas de 1940 e 50, acabei sendo professor de História do Cristianismo na Faculdade Teológica Batista do Paraná.

Nas pesquisas para preparar a disciplina, e no contato com os colegas da Instituição, minha fé acabou se renovando totalmente. O estudo crítico, obrigatório no ensino superior reconhecido pelo MEC, o uso de documentação e bibliografia confiável (ao invés da literatura apologética que constitui o único tipo de leitura incentivada aos evangélicos) acabou levando a uma ruptura conceitual com a ortodoxia e a tradição eclesiásticas que se praticam entre os grupos evangélicos no Brasil.

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Depois dessa tragetória, por achar que a divulgação de um estudo mais sério da História do Cristianismo pode ajudar muita gente em suas buscas por uma caminho de fé que não seja totalmente anti-intelectual, resolvi iniciar um blog especializado.

FONTE: Minha história com o cristianismo e a história do cristianismo | Um drible nas certezas

27/04/2010

Controvérsia Sobre A Graça - Clovis Golçalves

 

A controvérsia tem início com Pedro Pelágio, nascido na Irlanda em 354, que afirmava que somos capazes de obedecer. Sua posição foi uma reação a uma oração de Agostinho, que dizia "concedes o que ordenaste". Para ele, se Deus dá o que exige de nós, qual o mérito da obediência? Para Pelágio, a natureza humana é inalteravelmente boa e todos os homens são criados como Adão antes da queda, portanto nós somos capazes de evitar o mal e pode haver homens sem pecado. Como não herdamos a natureza pecaminosa, a graça pode até ajudar a fazer o bem, porém não é necessária para alcançar a bondade. Enfim, a graça não acrescenta nada à natureza humana, pelo contrário, é obtida por mérito.

Aurélio Agostinho, também nascido em 354 no Norte da África, opôs-se ferozmente às idéias de Pelágio, afirmando que somos incapazes de obedecer. Enquanto o monge irlandês negava as conseqüências da queda, Agostinho as enfatizava. Para ele, o homem fez mau uso de seu livre-arbítrio e destruiu a si mesmo e a sua descendência. Pela queda, o homem perdeu a liberdade, teve sua mente obscurecida, perdeu a graça que o assistia para o bem, adquiriu uma tendência para o pecado, tornou-se fisicamente mortal e passou a ter culpa hereditária. Dessa forma, o único jeito do homem ser recuperado desse estado de completa ruína é pela graça de Deus. Para Agostinho, essa graça era livre, visto que não é merecida nem conquistada, indispensável pois é a condição sine qua non da salvação, preveniente pois deve vir antes do pecador se recuperar, irresistível porque cumpre o propósito de Deus em dá-la e infalível porque a liberação da graça é sem falha.

Com a condenação dos ensinos de Pelágio no concílio Geral de Cartago, em 418, a controvérsia chegaria ao fim, não fosse os semi-pelagianos, liderados por João Cassiano, terem continuado a oposição a Agostinho, agora afirmando que somos capazes de cooperar. Cassiano insistia que embora a graça fosse necessária à salvação é o homem, e não Deus, que deve desejar o bem. Assim, a graça é dada a fim de que aquele que começou a desejar seja assistido e não para dar o poder de desejar. Para ele, o início das boas ações, bons pensamentos e fé, entendidos como preparação para a graça, é do homem. Portanto, a graça é necessária para a salvação final, mas não para dar a partida.

No alvorecer da Reforma, Martinho Lutero, nascido em 1483 na Alemanha, revive o agostianismo, afirmando que somos cativos do pecado. Seu livro "De servo arbitrio" é uma resposta a Erasmo de Roterdã, pensador católico romano que definiu o livre-arbítrio como "um poder da vontade humana pelo qual um homem pode se dedicar às coisas que o conduzem à salvação eterna, ou afastar-se das mesmas". Lutero nota que a definição de Erasmo não requer a graça para o homem se voltar para o bem ou para Deus. Em oposição a essa definição, afirma que o livre-arbítrio sem a graça de Deus não é livre de forma nenhuma, mas é prisioneiro permanente e escravo do mal, uma vez que não pode tornar-se em bem. Para Lutero, o livre-arbítrio do homem serve apenas para levá-lo à prática do mal e para a salvação sua dependência da graça é absoluta.

Talvez o nome mais relacionado à controvérsia sobre predestinação e livre-arbítrio seja o de João Calvino, nascido em 1509 na França. Sua ênfase sobre o tema pode ser resumida na expressão somos escravos voluntários. Para ele, quando a vontade humana está acorrentada ao pecado, ela não pode fazer sequer um movimento em direção à bondade, quanto menos persegui-la com firmeza. Calvino sempre procurou preservar a glória divina, por isso, no que concerne ao assunto, afirmou que o homem não pode apropriar-se de nada, por mais insignificante que seja, sem roubar de Deus a honra. Quanto ao homem, afirma que tendo sido corrompido pela queda peca não por propulsão violenta ou força externa, mas pelo movimento de sua própria paixão; e ainda, é tal a depravação de sua natureza que ele não pode mover-se e agir a não ser em direção ao mal. Calvino enfatiza a total dependência do homem da graça dizendo que é obra do Senhor renovar o coração, transformando-o de pedra em carne, dar a tanto a boa vontade como o resultado dela e colocar o temor ao Seu nome em nosso coração para que não retrocedamos.

Tiago Armínio, nascido em 1560 na Holanda, ensinava que somos livres para crer. Embora a controvérsia sobre arminianismo e calvinismo tenham colocado Armínio e Calvino em lados opostos, a verdade é que eles tem muito mais pontos em comum que divergentes. O ponto de afastamento é que Armínio considera que a graça pode ser resistida. Para ele, a graça é uma condição necessária para a salvação, mas não uma condição suficiente. Ou seja, sem a graça o homem é incapaz de aceitar a salvação, mas com a graça ele ainda é capaz de rejeitá-la.

Um ano após a morte de Armínio, seus seguidores, chamados Remonstrantes, apresentaram um protesto composto de cinco pontos, nos quais afirmavam que Deus elege ou reprova com base na fé ou incredulidade previstas, Cristo morreu por todos e cada um dos homens, embora só os crentes sejam salvos, o homem é tão depravado que a graça é necessária para a fé ou para a boa obra, mas essa graça é resistível e se o regenerado vai certamente perseverar requer maior investigação. Esses pontos foram respondidos no Sínodo de Dort, originando os chamados "Cinco Pontos do Calvinismo".

Em 1821, o advogado americano Charles Gladison Finney, nascido em 1792, converte-se ao cristianismo. Ele afirmava que não somos depravados por natureza. Para ele, se a natureza é pecaminosa, de tal forma que a ação é necessariamente pecaminosa, então o pecado em ação deve ser uma calamidade, e não pode ser crime, uma vez que a vontade do homem nada tem a ver com ele. Quanto a regeneração, ele a torna dependente da escolha humana, dizendo que nem Deus, nem qualquer outro ser, pode regenerá-lo se sua vontade não mudar de direção. Se ele não mudar a sua escolha, é impossível que ela possa ser mudada. Afinal, para Finney, a regeneração é mera mudança de escolha e de intenção. Ele negava que a regeneração envolvesse mudança na constituição da natureza humana. Em suma, o homem opera a sua própria regeneração.

Os cristãos modernos alinham-se a uma ou mais dessas ênfases. A igreja romana nunca deixou de afagar seu semi-pelagianismo latente. O arminianismo moderno é essencialmente remonstrante, de uma forma que até Armínio reprovaria. Os calvinistas atuais mantém as posições de Agostinho, Lutero e Calvino, conforme expressas nos Cânones de Dort. Infelizmente, Elvis pode ter morrido, mas Pelágio e Finney continuam vivos entre evangélicos.

PS.: Devo muito a R. C. Sproul na preparação desse resumo histórico.Clóvis Gonçalves é blogueiro do Cinco Solas

fonte: textos: A Controvérsia Sobre A Graça - Clovis Golçalves

26/04/2010

A IGREJA QUE EU CONSTRUIRIA

 

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Na ocasião que este texto foi escrito Todd Hunter era diretor nacional das Igrejas Vineyard dos EUA.  Este artigo foi publicado na revista da Associação de Igrejas Vineyard,  “Cutting Edge, Vol. 3 No. 1 Early Summer 1999 e Vol. 3 No. 2 Fall 1999″.

Passaram mais de dez anos desde então, porém os ideais e expectativas para uma igreja relevante no século XXI permanecem inalteradas.

Boa leitura

A Vineyard do Século XXI

Todd Hunter

Em 21 de julho, 1999, na reunião de encerramento da Conferência Nacional de Pastores Vineyard, Todd Hunter fechou esta conferência com o tema “Para Onde Vamos, Daqui Para Frente?”, na medida em que a Vineyard entra em um novo milênio. Como a reação dos pastores, que participaram desta conferência, a esta mensagem, foi bem significativa, pensamos em editar grande parte da mesma, e torna-la disponível, para que o leitor possa, também, julgar por si mesmo, ao lê-la e receber o mesmo impacto dos participantes desta conferência.

Vinte anos atrás, sentado no jardim, na casa de John Wimber, sonhávamos sobre igrejas para uma geração “Baby Boom” (aqueles nascidos entre 1946 e 1964). Nós os chamávamos, então, de “Igrejas para a geração Rock ”. John me introduziu, ao que ele aprendeu como Consultor do Seminário Fuller, sobre “quebrar as barreiras de vidros embaçados” e como alcançar toda a minha geração para Cristo. Isto aconteceu quando tinha apenas 23 anos, e juntamente com Debbie, minha esposa, estávamos de mudança para Wheeling, West Virginia, onde iriamos fazer justamente aquilo que aprendemos com John, bem como plantar nossa primeira igreja por lá.

E a mesma energia intelectual e espiritual que sentia naquela época, para plantar igrejas, eu sinto agora, na medida em que tentamos contar a Historia de Cristo para uma nova geração, hoje. Grande parte desta energia é enraizada na visão que tive meses atrás, onde não vi nada, além de um enorme mar de pares de botas pretas “Doc Martens” passando por mim. Compreendam, que para mim, “Doc Martens” representam a geração “X” – (em média nascidos a partir de 1979 e entre 22 e 16 anos, e garanto que vocês jamais vão me ver usando um par de botas como estes). Na visão, eu não pude enxergar para onde eles estavam indo, apenas que estavam se movendo para algum lugar, na eternidade. Então, ouvi Deus falar para mim, do mesmo jeito que ele falou vinte anos atrás, dizendo: “Agora é seu trabalho, ajudar a Vineyard a aprender como fazer igrejas para um mundo pós-moderno”.

E gostaria de dizer a vocês – baseado no que sei – o que faria se Deus me deixasse começar uma igreja hoje. Algo que cativa meu coração, é saber que, da nossa observação como ministros de Cristo, a maior mudança social nos últimos trezentos anos, está a caminho e acontecendo agora – a mudança para a pós-modernidade. É excitante estar vivo neste momento, porque, do nosso ponto de vista, nós temos a responsabilidade e o privilégio de liderança no que é claramente um momento crucial na história da humanidade.

Sobre a Identidade-Própria da Vineyard:

Gostaria de chamar sua atenção, para o que considero ser um ponto chave sobre a identidade da Vineyard. Nos últimos vinte anos, temos ajudado no avanço de importantes correções no que diz respeito a atuação do Espírito Santo, na igreja evangélica. A legitimidade dos dons espirituais e a importância da adoração, raramente são questionados hoje. É bem difícil achar alguém, que esteja defendendo o cessacionismo. De certo modo, poderiamos dizer que estes temas já estão bem absorvidos e aceitos, e fazem parte do nosso dia-a-dia. Mas o nosso já antigo conceito dos últimos 15 anos “o melhor do evangelicalismo tradicional e o melhor do petencostalismo” já se tornou algo velho e sem sentido. Estes conceitos e estas distinções cada vez mais significam cada vez menos para a igreja, de maneira geral, porque Deus tem nos usado, como a outros, para desmontar as barreiras existentes entre as alas carismáticas e conservadoras, na igreja evangélica. Hoje, a pessoa comum, raramente percebe as diferenças existentes entre estes termos.

Mas, aqui está a pergunta: Para que fim Deus nos ajudou a mudar este paradigma? Com que propósito? O que apresento é que agora é o tempo para mudar nossa própria identidade. Jack Hayford falou algo de muita importância para nós. Falando sobre “odres novos”, ele disse, “O Novo não vem em pedaços”. É verdade. Com o que estamos nos confrontando em nossa sociedade e em nossas igrejas, requer mudanças integrais e não parciais. Portanto, posso dizer que, como lideres neste movimento, é tempo de ouvirmos a voz de Deus novamente. Esta é uma nova época.

Um de nossos problemas com nossa identidade atual, é que temos definido nossa identidade vis-a-vis com a igreja. Portanto, enquanto ser o “melhor dos dois mundos” foi uma percepção crucial da parte de John Wimber – o que tem acontecido em quase todos os movimentos na historia da igreja – é que no decorrer desses vintes anos, esta “valiosa correção” de Deus tem perdido valor nas mentes de muitos, como sendo apenas algo relacionado a uma estratégia de marketing. “O melhor dos dois mundos” tem sido a maneira eclesiástica de nos posicionarmos, ao nos contrastarmos com a “Calvary Chapel”, por assim se dizer, ou com “Toronto”, ou qualquer outro extremo da igreja do qual estejamos querendo nos distinguir. Existe muito pouco poder neste enfoque, o de deixar este conceito, relegado a um compartimento na nossa mente, apenas como uma diferenciação eclesiástica. E isto é fundamentalmente divisor. Nossa identidade precisa ser baseado em algo que é milhões de vezes mais profundo. Minha sugestão é que possamos definir nossa identidade, em cima de uma frase, que um dos membros do nosso conselho, mencionou em uma de nossas recentes reuniões. A frase vem de Karl Barth: “Sendo uma igreja para o beneficio do mundo”. E a maneira que encontro para definir “uma igreja para o benefício do mundo”, estaria contida na frase “Comunidades de Deus com Caráter Missionário”. Isto, de uma maneira geral, é para onde estamos caminhando.

Sobre ser uma Igreja “Godward” – Igreja Voltada Para Deus:

Quando penso em igrejas “Godward” – Igrejas Voltadas Para Deus – penso no Reino de Deus – Deus expressando seu domínio e reino, através da igreja pelo poder do Espírito Santo. Miroslav Volf escreveu um livro chamado “After Our Likeness: The Church as the Image of the Trinity” no qual ele menciona seu crescimento num vilarejo na Iugoslávia onde seu pai era um pastor Petencostal. Neste livro, ele menciona duas lições, que ele aprendeu, sobre a vida na igreja lá. Primeiro, “Não existe nenhuma igreja, sem o Reino de Deus. “Quando as janelas voltadas para o Reino de Deus são fechadas, as trevas vem sobre as igrejas e o ar torna-se difícil de respirar. Quando as janelas voltadas ao reino de Deus são abertas, o sopro-de-vida e a luz de Deus, dão às igrejas esperança renovada”. Ao que eu digo “Venha, Santo Espírito. Venha, Reino de Deus, em nossas igrejas e em nossos ministérios”. A segunda lição que Volf disse que aprendeu, foi isto: “Não tem reino de Deus, sem a igreja”. É somente através da igreja- na medida em que ela existe em obediência a Deus – é que ele realiza seu trabalho neste mundo.

Sobre ficar firmes nos sinais do Reino:

Há um ano atrás fui até a USC, para ter um almoço com Dallas Willard. Ao terminar, Dallas se voltou a mim, e na sua maneira gentil e quieta, disse: “Todd, minha preocupação com vocês, é que na história das idéias, os seguidores raramente entendem os lideres pioneiros”. Eu olhei para ele, talvez como os discípulos olharam para Jesus, e disseram: “Duras são estas palavras de se ouvir”. Eu sabia que o Dallas estava falando algo bem profundo, mas não estava “pegando a coisa”. Então falei: “O que???” E o Dallas respondeu, “Todd, você precisa ter certeza de que as igrejas Vineyard manterão os sinais do Espírito Santo e do reino de Deus visíveis, ou então as igrejas Vineyard jamais serão capazes de manter a fé para discipulado, evangelização, ou para qualquer outra coisa”.

E ele continuou dizendo outras coisas, que no meu caminho de volta, eu repassava em minha mente, e que foi o seguinte: “Todd, eu vou a igrejas todo o tempo onde a fome das pessoas por uma vida piedosa é extremamente alta, mas elas vivem em constante frustração, porque elas não possuem uma fé proporcional de que Deus realmente pode mudar o que e quem elas são – porque essas pessoas, jamais viram os sinais de Deus fazendo coisas. Se você quiser que seus pastores tenham fé para evangelização, e tenham fé para terem as vidas mudadas, você tem que manter os sinais do Espírito Santo bem visíveis”.

Isto é algo que nós pessoas “Seeker Sensitive” – líderes de igrejas sensíveis a quem busca à Deus, precisamos levar muito a serio. Tenho sido comprometido com evangelização minha vida toda e durante todo o meu ministério. A última igreja que pastoreei era bem “Seeker Sensitive” na sua orientação. E se pudesse começar tudo de novo, com certeza, continuaria a ser intencionalmente sensível para aqueles que não são seguidores de Jesus. Mas eu gostaria de faze-lo de uma maneira que assegurasse o sobrenatural . Isto é algo que jamais podemos perder de vista e de valor.

Sobre Repensar Evangelização:

Eu gostaria de “fazer/ser igreja” de tal maneira que não coloque nossa fé como algo bobo ou de baixo nivel, e que repetidamente possa contar nossa historia Cristã, que é bem distinta. Precisamos entender que quando dizemos conversão falamos sobre ajudar pessoas a passarem pelo processo de mudança de paradigmas – que conversão significa ensinar às pessoas, sem nenhuma vergonha disto, um novo vocabulário, contar a elas novas histórias, e permitir que elas experimentem as práticas distintivas de uma comunidade em particular. Precisamos lembrar que igreja é um grupo peculiar de pessoas que se auto-definem através de uma série de presuposições totalmente diferentes daquelas do mundo. Precisamos reconhecer que não estamos ajudando de maneira nenhuma, aqueles que estão buscando a Deus, quando tentamos explicar o Caminho de Cristo, numa linguagem que é primariamente terapeutica e gerencial.

Precisamos ajuda-los a aprender uma nova linguagem e uma nova maneira de enxergar o mundo.

Suponhamos que eu convide um amigo que não sabe nada de beisebol, para ir a um jogo importantíssimo da primeira divisão. Ao entrarmos no estádio, e ao assentar, ninguém espera que eu vá até lá embaixo, no campo, e peça para aqueles que estão jogando, que mudem as regras do jogo, para que meu amigo possa entender melhor e ter mais acesso ao jogo. Suponhamos que este meu amigo, seja da Inglaterra, e entenda somente sobre o jogo de “Cricket”. Você espera que eu vá lá e peça para os juizes mudarem as regras, para que o beisebol pareça mais com “Cricket”?. Não. De maneira nenhuma. Meu amigo veio, esperando experimentar e ver um jogo de beisebol – e é isso que ele espera que seja jogado. E como tal, ele se sentirá na obrigação de aprender sobre o jogo. E vamos esperar que os jogadores possam apresentar um bom jogo, interessante e competitivo, de tal maneira que aqueles que não conhecem nada sobre beisebol, possam se interessar e aprender um pouco mais sobre este jogo.

Uma das razões pelas quais estamos cada vez mais sem voz em nossa cultura, é que abaixamos o Cristianismo a um nível extremamente ridículo. Bom, talvez seja tempo de ensinar às pessoas, um novo vocabulário, a ouvir nova história, e a experimentar algumas práticas diferentes. E talvez seja tempo dos Cristãos viverem uma vida tão emocionante, tão desafiadora e tão interessante que as pessoas naturalmente queiram entender o que nos leva a viver do jeito que vivemos.

Aqui vai um pensamento, à medida em que seguimos em busca de uma igreja voltada para Deus: É o homem que está buscando a Deus, ou Deus que está buscando o homem? Talvez oque o homem esteja fazendo, é se escondendo de Deus, enquanto faz de conta que está buscando à Deus, mas o que ele de fato está fazendo, é buscando um deus “previsível e seguro”. E na medida em que abaixamos o nível do Cristianismo, nós acabamos por participar deste esquema, e nos tornamos revendedores de bens e serviços religiosos de tal maneira que possamos suprir as pretensas necessidades das pessoas. Pense sobre isto.

Sobre ser peregrinos numa terra estranha:

Uma igreja voltada para Deus nunca deve sentir intimidada ao ser empurrada para as margens da sociedade. Temos que chegar à conclusão, que é para aí que o Cristianismo está caminhando na sociedade Americana. E francamente, isto é bem animador para mim. Você pode não saber disto, mas – como entendo a historia da Igreja e do Novo Testamento – a igreja cresceu, teve seus melhores momentos, e grande beleza e poder, quando esteve nas margens da sociedade, e não quando comia das finas iguarias da mesa social do poder.

Isto significa que talvez, estejamos entrando numa época na qual a igreja possa estar vivendo e experimentando o seu melhor! Ao invés de estar indo atrás de grandes esquemas para obter poder, uma estratégia melhor pode ser: assuma seu lugar nas margens, seja cheia do poder do Espírito Santo, e faça aquilo que John Wesley disse – “acenda o fogo em você, vá até a sociedade, e deixe que eles vejam você se queimar“.

Agora seria um bom momento para cada um de nós estudar sobre como Israel se comportou durante o exílio. Isto daria um ótimo tema para um estudo bíblico, este ano, o ano 2000, e ensinar através do livro de Daniel – não escatologicamente, mas em como se comportar e agir, num ambiente rodeado e permeado de descrença e hostilidade. E aí, faça alguma leitura sobre Diáspora. Descubra o que a igreja fez, quando foi rejeitada e colocada para fora de Jerusalém, bem como o que foi dito para ela – que ela não tinha nenhuma parte com a sociedade de então. O que você vai descobrir, é que toda a vez em que a igreja deixou de receber qualquer tratamento preferencial ou posição privilegiada, Deus foi mais soberano. Penso que somos bem mal acostumados com as pressuposições sobre a Cristandade. Bem, esses dias acabaram. É melhor nos acostumarmos com este fato. É tempo para tornarmos o que Stanley Hauerwas e Will Williamson chamam de “Peregrinos Em Terra Estranha” – uma colônia aventureira no meio de uma sociedade de descrença. Sempre fui um aventureiro. Agora, estou querendo liderar um movimento de aventureiros, num mundo pós-moderno de descrentes.

Sobre ser uma igreja com Caráter Missionário – “Missional Church”:
O que quero dizer aqui, é que não somos apenas um “povo”. Somos um povo para o benefício do mundo. Adoro a frase que George Hunsberger e outros usam, que nós somos um povo enviado. Infelizmente, nós temos a tendência , como evangélicos, de compreender que somos “salvos de” e muito menos compreensão do que somos “salvos para”.

Nos desígnios de Deus, a igreja existe para as missões de Deus no mundo. Deus em si mesmo tem caráter missionário. A Trindade é bem compreendida nas suas atividades de chamar e enviar. A Igreja entende seu propósito e caráter missionário quando observa e imita o amor de Deus pelo mundo.

Logo, a igreja que eu construiria, levaria muito a sério “equipar os santos” como um ministério significativo. Como entendo, John Wesley é um grande exemplo de como liderar um povo de Deus e de caráter missionário. Ele conseguiu perfeitamente misturar comunidade e missão. Ele teve métodos explícitos para classes e sociedades onde as pessoas aprenderam a ser discípulos. Os Metodistas pioneiros também são famosos por sua pregação, pelo envio e circuitos de pregação. Eles são um belo exemplo do que significa ser “pedras vivas” ( Ipe 1:4-5), como Pedro chama os Cristãos.

Entretanto, às vezes, vejo em pastores que, psicologicamente, nós realmente, não queremos liderar “pedras vivas” , porque elas podem trazer problemas. Você está tentando construir uma parede, e as “pedras” são difíceis de controlar. Você assenta uma pedra, mas porque ela é bem viva e tem sua própria mente, ela começa a mover para cima e para baixo, na parede ideal que você está tentando construir.

O problema, meus amigos, são que pedras mortas, é a outra alternativa que temos. Essas você pode controlar. Mas essas não tem a vida do Espírito nelas. Wesley descobriu uma maneira de liberar estas pedras vivas, ao torna-las incrementalmente Cristãos maduros, de tal maneira que eles pudessem ser uma comunidade enviada, vivendo vitoriosamente e poderosamente na arena pública. A maioria desses pessoas, vieram a ser, os “pregadores dos circuitos”, porque Wesley bem sabia que eles tinham a sensibilidade e intuição necessária para alcançar o povo.

Portanto, a igreja que eu construiria, teria como alvo, ser uma comunidade “enviada”, um corpo de pessoas, enviados com uma missão. E isto significa que devemos ir bem fundo no mundo. Tragicamente, tenho descoberto que alguns de nossos pastores inverteram a ordem das coisas. Eles são do mundo, mas nunca estão no mundo. Precisamos ter a certeza de que não seremos intimidados pela marginalização e nem capturados pelas distrações que o mundo oferece.

Ao invés disso, Deus tem nos chamado para ser uma demonstração – um tira-gosto – do Reino de Deus, no meio do mundo real. Isto significa, que temos, não somente, uma mensagem para anunciar, mas temos que incorporar esta mensagem na nossa vida diária. Por isso, não podemos conceber a nós mesmos como sendo uma igreja “com” um programa de missões; nós temos que nos ver e entender como sendo, de fato, uma congregação missionária. Emil Brunner disse que “Missão é para igreja o que o queimar é para o fogo”.

Temos que reconhecer que, talvez agora, estamos numa situação de contextualização cultural muito mais difícil do que uma congregação tentando alcançar outros pelo mundo afora. A distinção entre Cristão-pagão é tão poderosa aqui, como qualquer coisa que a igreja se depara na Índia ou Ásia. É tempo de aprendermos a ser missionários. Missão jamais pode ser apenas o que a igreja “faz”. Missão é o que somos. A comunidade de Deus é fundamentalmente um encontro missionário com cada cidade, suburbio, bairro e vilarejos , neste universo.

Sobre verdadeira comunidade:

A igreja que construiria seria uma comunidade de Cristãos que leva o Evangelho tão a sério, a tal ponto de ordenar sua vida em função dele.

Infelizmente as estatísticas que tenho observado, (de George Barna, etc.) demonstram que existem poucas diferenças entre o mundo e os Cristãos, em se tratando de alugar filmes pornográficos, dar aos pobres, e divorcio, por exemplo. Se você tiver a oportunidade de ver estas estatísticas, verá que são bem deprimentes.

A nossa esperança é de sermos uma comunidade alternativa – uma que o mundo possa enxergar em nós, que realmente acreditamos tanto em Jesus, que atribuímos a ele, tamanha inteligência, tamanho merecimento e honra, que de fato, ordenamos nossas vidas, de modo a irmos nos tornando iguais a ele. Realmente, ser um povo peculiar, uma comunidade que intencionalmente vive debaixo do Reino de Deus, seria um argumento cativante para a História de Deus no mundo.

A igreja-comunidade que construiria não teria uma orientação denominacional. Não penso que expressões diferenciadas do Cristianismo sejam uma coisa ruim, mas os 400 anos de denominacionalismo que tem sido a força maior na criação e direção de uma mentalidade de consumidores Cristãos, que fazem você perder os cabelos ao tentar pastorea-los. A capacidade de escolha, tem sido explorada por centenas de anos. Em 1800 havia apenas 36 denominações nos Estados Unidos. Hoje, elas são mais de 400. O problema que tenho com a orientação denominacional, é que ela é uma reação para dentro com o foco derivado de uma reação negativa à outros. Como disse Leslie Newbigen, “denominacionalismo acaba sendo um tipo de secularismo – uma forma de religião privatizada“.

É tempo de redescobrir nossa unidade fundamental com o resto do Corpo de Cristo. Eu não acordo toda manhã, pensando, “Bem, eu não sou Toronto, não sou Kansas City, não sou Hank Hanegraaff ou John MacArthur ou Bill Hybels ou Rick Warren”. Esta não é minha orientação. Minha orientação, é: “Esses são meus irmãos, e estão fazendo o que eles entendem que é o melhor jeito de servir a Deus. Nós vemos os erros deles, eles vêem os nossos. Mas eles são nossos irmãos”. E o que digo a eles é que minha orientação é para Deus e para servir vocês, e nós reconhecemos nossa unidade fundamental bem antes de reconhecer nossas pequenas diferenças.

Sobre ser contra-cultura:

Gordon Fee disse: “A comunidade Cristã é chamada a manifestar uma ordem social alternativa da semelhança de Cristo, capacitada e autorizada pelo Espírito Santo para se manifestar”. A comunidade Cristã deveria ser, por definição, contra-cultura sem ser escapista. Vidas de sacrifício, humildade, simplicidade, auto-disciplina, e preferência aos outros ao invés de nós, nem sempre serão bem-vistas ou aceitas, ou tidas como coisa normal, pela sociedade popular. Mas a igreja de Jesus precisa desafiar as normas do mundo ao seu redor, não com cartazes do tipo “Deus odeia gays!” mas com vidas cheias de tanto amor e bondade que excedam qualquer entendimento, e que não façam nenhum sentido para o mundo à sua volta, isto, por sua vez, fará as pessoas perguntarem “O que é que faz vocês viverem desta maneira?”.

Porque o Cristianismo se espalhou tão rapidamente nos anos iniciais da igreja? Cada vez mais, vemos que os Cristãos não estavam preocupados em ter uma argumentação intelectual acima dos pagãos, mas uma vida bem melhor do que eles, e conseguiram isto. O relacionamento deles para com o mundo era pró-ativo ao invés de reacionário. Eles simplesmente fizeram de Jesus, seu Senhor, e rotineiramente, davam à aqueles que roubavam deles, amavam aqueles que os perseguiam, abençoavam aqueles que os amaldiçoavam, vivam humildemente, e deram suas vidas por outros. E foram observando estas comunidades de pessoas, que os de fora viram e compreenderam as Boas-Novas.

Portanto, as comunidades que queremos construir em nossas igrejas não devem ser baseadas no medo, ou viver com medo das trevas e do mundo imoral em que vivemos. Nem também nossas igrejas devem ser apenas ou meramente um “porto seguro”. Não, a igreja está bem no meio das ondas bravias da vida. É lá que Deus está também, você sabe. E é lá que devemos segui-lo.

Adicionalmente, a igreja que construiria, seria multicultural e multi-etnica. Isto é algo que os líderes da Associação de Igrejas Vineyard (AVC), estão pensando e orando demais. E é algo pelo que tenho orado e me preocupado desde que tenho pastoreado aqui, na Igreja de Anaheim, desde o final dos anos 80. Eu tenho sonhado constantemente em plantar igrejas Hispânicas. Bob Fulton, que é o Diretor do Consorcio Internacional de Igrejas Vineyard, tem feito e realizado coisas, nesta área, bem mais além do que eu seria capaz de fazer. Mas se vamos plantar igrejas hoje, eu faria intencionalmente, igrejas multi-etnicas, multiculturais e multi-geracionais.

Adicionalmente, a igreja que construiria, seria uma apaixonada comunidade de adoração. Adorar a Jesus é algo natural e não deve ser algo escondido. O mundo presta respeito a seus líderes, e acredito que eles não nos levarão a sério, se não levantarmos e elevarmos a Jesus. Precisamos lembrar que nossa diferenciação acontece e é poderosa, quando vivemos vitoriosamente.

Uma outra palavra sobre adoração. É claro e obvio que devemos manter nossa adoração íntima. Mas ela precisa ser inteligível. E sugeriria que nossa adoração fosse mais plena e centralizada em Deus de tal maneira que nossa adoração não seja apenas simples ou relacional, mas acima de tudo, transcendente. Onde é que uma consciência de mistério penetra nossas formas de adoração? O que dizer sobre o temor e a contemplação? Precisamos pensar e admitir o fato de que o meio – mesmo nas músicas e outras formas de adoração – não tem um valor neutro ou é inconseqüente.

Para onde vamos daqui?

Como, então, devemos começar? Na medida em que pensava sobre isto, nas semanas passadas, eu me lembrei de quando estava em um pequeno quarto de um hotel em Indianapolis, Indiana e supervisionava os pastores da região, anos atrás. Naquelas épocas, eu sempre ouvia fitas, lia livros ou frequentemente, dava um pulo até o Seminário Fuller, para participar de conferencias, e então, voltava para o Centro-Oeste, ajuntava um bando de pastores neste hotel pequeno, e dizia-lhes: “Agora vamos aprender juntos”.

Estou pronto para fazer isto de novo, por toda a América. Em qualquer lugar que você puder ajuntar pastores Vineyard, famintos para aprender como se tornarem comunidades com caráter missionário voltados para Deus para o benefício do mundo, estarei lá.

Nós podemos fazer isto juntos. Vocês, velhos e bem sucedidos – você já fez isto uma vez, você pode faze-lo de novo. Ajude a conduzir-nos na direção de nos tornarmos igrejas com caráter missionário voltada para Deus.

Vocês, velhos, e menos bem sucedidos – como vocês são sortudos – Agora estamos no limiar desde precipício desta grande oportunidade de mudança, e vocês tem uma nova chance. Pegue-a pra valer.

Vocês que são da minha idade ou mais velhos – me ajudem tornando-se pais e mentores, técnicos e co-aprendizes dos líderes mais novos. Estando imersos na era da informação, eles precisam de interpretes e avaliadores – pessoas que possam mostrar-lhes que as coisas não são livres de valores ou neutras. Eles precisam de pessoas que os ajudem a formar a informação que eles recebem, para filtra-la. Precisam de sabedoria.

E para cada pessoa jovem, digo isto, “Lidere”. Eu libero vocês em nome de Jesus- assim como Chuck Smith e John Wimber me liberaram quando tinha apenas 19 anos e era apenas um garoto. E digo mais a vocês, “Ensinem-nos o que vocês intuitivamente já sabem. “Meu compromisso com vocês, como irmão, é de estar lá, quando você cair ou tropeçar, para te ajudar a levantar e prosseguir”.

todd hunter

FONTE: | vineyard café || blog

25/04/2010

Até que ponto Deus quer que eu cuide do meu corpo físico?

 John Piper

Homem Vitruviano - Da Vinci

P.: Ter uma vida nova em Cristo significa que eu deveria esperar ter, e me esforçar para ter, uma saúde física melhor? Até que ponto Deus quer que eu cuide do meu corpo físico?

Boa pergunta. Ele quer sim que você cuide do seu corpo físico. Alguns textos me vêm à mente.

Um deles é o que diz que nossos corpos são o templo do Espírito santo (1 Coríntios 6). E o contexto ali é o de não entregar seu corpo a uma prostituta. Mas a implicação é que nossos corpos são santos e reverentes.

Isso me impediu de fumar quando era adolescente! Realmente impediu! A instrução de minha mãe: "Filho, seu corpo é o templo do Espírito santo, e obter um câncer de pulmão por causa desse tipo de prazer não é tratar o Espírito Santo corretamente." Isso funcionou para mim! Ainda funciona.

"Isso me impediu de fumar quando era adolescente! Realmente impediu!"

Mas há outro texto que se aproxima ainda mais. Um pouco antes, naquele mesmo capítulo, ele não está lidando com prostitutas; ele está lidando com comida. O slogan em Corinto era (eu imagino que era um slogan em Corinto): "O estômago para a comida e comida para o estômago, e ambos serão destruídos no inferno". Isso está indicado pelo seu estilo docético de viver: "Coma tudo que você quiser. Não importa o que você come." E Paulo disse: "Afirmação verdadeira, mas eu não serei escravizado pelo que quer que seja!" E o contexto ali é comida.

A razão porque as pessoas não têm saúde é porque elas estão escravizadas. Elas estão escravizadas à preguiça e à comida. Assim elas comem demais e se exercitam muito pouco. E elas têm ataques do coração e contraem diabetes. E Deus considera que este é um problema espiritual.

Portanto, nós deveríamos nos esforçar espiritualmente. O que será que Paulo quis dizer quando disse: "eu não me deixarei dominar por nenhuma delas?" Ele quis dizer: "Cristo é meu mestre!"

E um terceiro texto que vem à mente é: "...o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e ..." O quê? "domínio próprio" - egkrateia (Gálatas 5:22-23).

"Portanto, devemos lutar contra qualquer coisa que prejudique nossa saúde. Se comer demais nos faz mal, lutemos contra isso por meio do Espírito."

E mais uma vez, predominantemente, o domínio próprio sexual está em vista; mas é a mesma coisa. A expressão "domínio próprio" não é, talvez, a melhor tradução, porque é , na verdade, um trabalho do Espírito santo.

Portanto, devemos lutar contra qualquer coisa que prejudique nossa saúde. Se comer demais nos faz mal, lutemos contra isso por meio do Espírito. Se a preguiça e a falta de exercício nos fazem mal, lutemos contra isso no poder do Espírito Santo. Ou seja, crendo nas promessas de Deus, orando ao Espírito Santo para que Ele venha, enchendo-se de força e coragem e negando a si mesmo.

Cristianismo é abnegação... por uma alegria mais elevada. E eu não desejo que o meu hedonismo cristão signifique que tudo é fácil. Não é. Praticamente nada que valha a pena fazer será fácil, até chegarmos ao céu. Então tudo será fácil.

Ele se preocupa com nossos corpos. Foi Ele que os deu para nós. Ele gostaria que eles fossem saudáveis e que durassem muito tempo, até que decida levá-los.

Fonte: Extraído do site Desiring God

Tradução: Juliano Heyse

Fale conosco: mail@bomcaminho.com.

Até que ponto Deus quer que eu cuide do meu corpo físico?

As “namoradinhas de Jesus”

 

Os sujeitos do reino de Deus há anos trocaram suas bíblias por CDs e DVDs evangélicos. Assim, tornaram-se preguiçosos e burros que não sabem o que Deus espera deles.

Eles foram enganados pelos cânticos que falam que Deus os ama do jeito que eles são e por isso não têm necessidade de uma mudança real. “Se Ele me ama assim, por que mudar?”. Eles foram enganados por um mover que fez de Deus um ser igual a gente, a um homem, do qual nós podemos nos aproximar quando e como queremos.

Não existe mais temor de Deus nas igrejas porque ninguém mais acredita em julgamento ou no inferno. E, se acreditam, duvidam da possibilidade de ser um dos seus residentes mais tarde. Pior ainda, as pessoas têm trocado as doutrinas da Bíblia por letras de cânticos, Cântico dos Cânticos, para ser mais exato.

Cântico dos Cânticos, um livro poético que Salomão escreveu para uma das suas setecentas esposas, tem se tornado um livro doutrinário, uma declaração da nossa fé e paixão. E, dentro dessa bagunça, nós temos perdido o respeito que é devido a Deus e trocamos essa reverência por desejos estranhos.

Nós temos trocado as imagens de pessoas prostradas, com medo de morrer porque Ele apareceu, por pessoas querendo dançar com Ele, beijar Sua boca e se deitar com Ele (misericórdia mesmo!). Isso tudo se tornou muito nojento!

Vou ser bem sincero: talvez você vá me achar menos espiritual ou não sei o quê, mas eu não tenho nenhum desejo de dançar com Jesus, beijá-Lo na boca ou se deitar com Ele. Perdoe-me, mas eu acho isso muito estranho, um fogo estranho sendo oferecido diante do altar. Deus me fez homem. Meu relacionamento e como eu reajo a Ele estão baseados nesse fato.

Sim, a Bíblia nos chama de Noiva de Cristo, mas isso está se referindo à Igreja em si, e não a cada um de nós, e de forma literal. Nós não somos todas noivas ou namoradinhas de Jesus. É uma expressão figurativa. Deus não está pedindo que eu assuma o papel de uma moça, independente do que vemos na igreja hoje em dia. Eu O amo e quero vê-Lo, mas se Ele aparecesse, eu não fingiria ser uma bailarina, nem quero! Acho que a cena seria algo mais parecido como eu beijando o chão pedindo perdão e misericórdia dEle...

De onde tiramos essas ideias banais de quem Deus é, e de como Ele deve ser tratado? Ele é o Rei do universo, e, ainda sendo Seus filhos, nós sempre temos que nos lembrar disso e tratá-Lo de acordo com o que Ele é!

Boa sorte se você está achando que, cheio de pecado, ia ficar todo bobo e babando se Ele aparecesse. Como é que nós, vivendo do jeito que estamos, até achamos que Ele vai vir para curtir conosco? Ou será que nos esquecemos de que nossos pecados nos separam de Deus, e nossas maldades fazem com que Ele se esconda de nós (Is 59.1)?

Como diria o salmista, quem deve subir ao monte do Senhor, permanecer no Seu Santo lugar e, consequentemente, obter dEle a bênção e a justiça, é “aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente” (Sl 24.4).

(Retirado do livro Neo-baalismo: quando adoração não é..., do pr. Jeff Fromholz)

fonte:   ASSEM-BEREIA DE DEUS: Namoradinhas de Jesus

Pântanos da vida

 

Era uma vez um riacho de águas cristalinas, muito bonito, que serpenteava entre as montanhas. Em certo ponto de seu percurso, notou que à sua frente havia um pântano imundo, por onde deveria passar. Olhou, então, para Deus e protestou:
- “Senhor, que castigo! Eu sou um riacho tão límpido, tão formoso, e você me obriga a atravessar um pântano sujo como esse! Como faço agora?”
Deus respondeu:
- “Isso depende da sua maneira de encarar o pântano. Se ficar com medo, você vai diminuir o ritmo de seu curso, dará voltas e, inevitavelmente, acabara misturando suas águas, o que o tornará igual ao pântano. Mas, se você o enfrentar com velocidade, com força, com decisão, suas águas se espalharão sobre ele, a umidade as transformara em gotas que formarão nuvens, e o vento levara essas nuvens em direção ao oceano. Ai você se transformará em mar”.
Assim é a vida. Quando as pessoas ficam assustadas, paralisadas, pesadas, tornam-se tensas e perdem a forca. É preciso entrar pra valer nos projetos da vida, até que os rios se transformem em mar. Se uma pessoa passar a vida toda evitando sofrimento, também acabará evitando o prazer que a vida oferece.
Há milhares de tesouros guardados em lugares onde precisamos ir para descobri-los. Há tesouros guardados numa praia deserta, numa noite estrelada, numa viagem inesperada… O importante é ir ao encontro deles, ainda que isso exija uma boa dose de coragem e desprendimento.
Não procure o sofrimento. Mas, se ele fizer parte da conquista, enfrente-o e supere-o .

(Autor Desconhecido)

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Reflexões sobre Disciplina na Igreja

 

Por Sam Storms

Eu sei que isso pode ser um pouco demorado para muitos, mas gostaria de pedir que, hoje, vocês meditem comigo sobre a disciplina na igreja. Isso mesmo, disciplina na igreja. O fato de que sua resposta, imediata e instintiva, provavelmente é um pouco (ou consideravelmente) negativa reflete quão longe estamos do espírito do Novo Testamento. Como veremos, um compromisso com a disciplina na igreja local indica não apenas seu amor pela santidade, como também por aqueles que agonizam no pecado, mas, acima de tudo, pelo Senhor Jesus, que “se entregou por ela [i.e., a Igreja], para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.25-27). Com isto em mente, vamos ler o conselho de Paulo:

“Porque, se alguém me contristou, não me contristou a mim senão em parte, para vos não sobrecarregar a vós todos. Basta-lhe ao tal esta repreensão feita por muitos. De maneira que pelo contrário deveis antes perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza. Por isso vos rogo que confirmeis para com ele o vosso amor. E para isso vos escrevi também, para por esta prova saber se sois obedientes em tudo. E a quem perdoardes alguma coisa, também eu; porque, o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo; para que não sejamos vencidos por Satanás; Porque não ignoramos os seus ardis.” (2 Co 2.5-11)

Existe um considerável debate entre os comentaristas sobre a identidade desse indivíduo. Os comentários mais antigos (especialmente Philip Hughes) insistem que este é o homem incestuoso de 1 Coríntios 5. Comentaristas mais recentes argumentam que esta é a pessoa que se opôs a Paulo e trabalhou para destruir sua autoridade apostólica. Esse homem “pode estar conectado com as aberrações sexuais em Corinto, que envolviam certo número de pessoas, e que aparentemente tornou necessária uma recente visita não programada de Paulo” (12.21-13.2). É bem possível que ele também apoiou a prática de frequentar templos na cidade (6.14-7.1), a despeito dos avisos de Paulo na Primeira Carta (1 Co 10.14-22)… Talvez esse homem resistiu às admoestações de Paulo aos Coríntios durante sua segunda visita, e era ele mesmo a razão principal daquela visita ser tão dolorosa para Paulo” (Barnett, 124).

Em qualquer dos casos, a igreja impôs disciplina sobre ele, muito provavelmente ao proibir sua presença na Ceia do Senhor, e afastando-o da comunhão cotidiana. A boa notícia é que isso funcionou! “Para ele, essa repreensão feita por muitos”, diz Paulo, “é o bastante”. Evidentemente, ele tinha se arrependido, e agora, Paulo pede uma reafirmação de amor por ele e sua restauração dentro da vida da igreja.

Paulo teme que a severidade imoderada destrua este homem. Portanto, ele encoraja os coríntios a “perdoar-lhe e consolá-lo, para que o tal não seja de modo algum devorado de demasiada tristeza”. A tendência da natureza humana é manter o ofensor à distância, perdoar sem esquecer, dizer “eu recebo você de volta”, mas tratar a pessoa como um leproso. Philip Hughes nos lembra de que “a disciplina que é tão inflexível, a ponto de não abrir espaço para arrependimento e reconciliação, deixou de ser verdadeiramente cristã; afinal, não é menor escândalo tirar do pecador penitente toda esperança de reentrar no conforto e na segurança da comunhão da comunidade redimida que permitir que a impiedade flagrante continue impune no Corpo de Cristo” (66-67).

Talvez, a melhor forma de lidar com esse tópico, ainda que brevemente, é perguntar e responder a uma série de cinco questões.

Primeiro, por que a disciplina na igreja é tão negligenciada, ou mesmo ignorada por completo, em nossos dias? Entre as muitas razões que podem ser citadas, aqui vão algumas. Talvez, a principal causa é uma ignorância geral do ensino bíblico sobre o assunto (muitos acreditam que é pouco mencionado na Escritura e, portanto, sem importância; outros ignoram o propósito da disciplina e a veem somente como destruição de pessoas).

Outro fator é uma insensibilidade cauterizada a respeito do pecado; uma falha em entender seriamente a ofensa do pecado, e uma tendência para uma misericórdia ímpia em nosso tratamento do impenitente. Sem dúvida, o espírito do individualismo também tem um papel aqui. Temos perdido o senso de comunidade e de responsabilidade mútua de uns com os outros. Quão frequentemente diz-se, como maneira de justificar nossa passividade em relação ao pecado, “bem, não realmente da minha conta, é?”. A disciplina custa muito porque os assuntos de meu irmão ou irmã tornam-se agora meus.

Uma má aplicação das palavras de nosso Senhor em Mateus 7.1 (“Não julguem, para não serem julgados”) certamente traz receio aos corações de muitos, quando se trata de lidar com o pecado na igreja local. O medo da rejeição também está envolvido (isto é, o medo de ouvir da parte ofendida: “Cuide dos seus próprios negócios. Você não tem autoridade para me dizer o que eu posso ou não posso fazer”).

Suspeito fortemente que o medo de represálias legais, na forma de processos, tenha paralisado muitos. Várias pessoas (mesmos líderes na igreja) simplesmente detestam confrontação. Falar diretamente sobre pecado pessoal com um ofensor é difícil; nos deixa desconfortáveis e inquietos; portanto, por que criar problemas? Muitos pensam que, se simplesmente ignorarmos o problema, em algum momento ele irá embora. “O tempo cura tudo”, assim eles alegam.

Já soube de casos em que a disciplina cessou devido ao medo de afastar a pessoa, especialmente se o transgressor é um grande contribuidor financeiro da igreja! Relacionado a isso, há o medo de desunir, ou mesmo dividir, a igreja sobre questões como se, de que maneira, e em que extensão a disciplina deveria ser aplicada (invariavelmente, muitos acham que a disciplina foi muito severa, enquanto outros estão convencidos de que foi muito leniente).

Muitos lutam contra um falso conceito de disciplina, devido a abusos conhecidos. Em suas mentes, a disciplina está associada a caça às heresias, intolerância, opressão, dureza, falta de compaixão, autojustificação, legalismo, etc. Relacionado a isso está o medo de ser rotulado como uma seita, se insistirmos em um código de conduta muito estrito para nossos membros.

Outros evitam seguir os passos da disciplina porque significa mudança. Em outras palavras, a tradição é muito forte para ser superada: “Nunca fizemos isso antes e sempre correu tudo bem. Por que arriscar bagunçar as coisas agora?”.

Segundo, por que a disciplina é necessária? Para ser breve, existem muitas razões: (1) para manter (na medida do possível) a pureza da igreja (1 Co 3.17; Ef 5.25-27); (2) porque a Escritura exige (Mt 18.15-20; 1 Co 5; etc.); (3) a fim de manter um testemunho apropriado para o mundo; tanto a igreja corporativamente, quanto os presbíteros individualmente, devem ter boa reputação com “os de fora” (1 Tm 3.7); (4) para facilitar o crescimento e preservar a unidade do corpo (Ef 4.1-16); (5) para expor os incrédulos (1 Jo 2.19); (6) para restaurar o(a) irmão/irmã à obediência e comunhão (1 Co 5.5; 2 Co 2.6,7,10; Gl 6.1; 2 Ts 3.14-15); (7) para desencorajar outros (1 Tm 5.20); (8) para evitar a disciplina de todo o corpo (Ap 2.14-25); (9) porque o pecado raramente (talvez nunca) é uma questão individual: quase sempre tem ramificações corporativas (2 Co 2.5); todo o corpo (ou, pelo menos, uma grande parte dele) é afetado pelas más ações de um membro; e (10), evidentemente, Paulo acreditava que o desejo de aceitar a tarefa da disciplina era uma marca de maturidade na vida corporativa da igreja (2 Co 2.9).

Terceiro, em que casos ou em quais pecados ela deve ser exercida? O mal moral impenitente, como no caso do incestuoso em 1 Coríntios 5, certamente se qualifica. Partidarismo e erros doutrinários graves também são mencionados no NT (Rm 16.17,18; Tt 3.9,10). Paulo fala de transgressões mais gerais, não específicas, em Gálatas 6.1, como causas de intervenção disciplinar (veja também 2 Ts 3.6-15).

Quarto, como a disciplina deve ser feita? Quais são os passos que devem ser seguidos? Mateus 18.15-17 recomenda os seguintes passos:

  1. Primeiro, repreensão em particular (Mt 18.15) – Faça gentilmente, em amor, cheio de compaixão, procurando encorajar; o propósito da repreensão em particular é resolver os problemas sem alimentar fofoca desnecessária.
  2. Segundo, se a repreensão em particular não obteve sucesso, repreensão de muitos (Mt 18.16; veja também Dt 17.6, 19.15; Nm 35.30) – Quem são esses “outros”? Líderes da igreja? Pessoas que conhecem a pessoa? Pessoas que sabem do pecado?
  3. Terceiro, se a repreensão de muitos não obteve sucesso, repreensão pública (Mt 18.17).
  4. Quarto, se a repreensão pública não obteve sucesso, “excomunhão” (Mt 18.17; 1 Co 5.11; Tt 3.10; possivelmente, 2 Ts 3.14).
  5. Quinto, se o arrependimento aconteceu, restauração à comunhão e reafirmação do amor (2 Co 2.6-8; 2 Ts 3.14,15; Gl 6.1).
  6. Sexto, Mateus 18.18-20 afirma que, qualquer decisão sobre o assunto, se a pessoa é “ligada” ou “desligada”, reflete a vontade de Deus nos céus. Quando a igreja está unidade em sua aplicação da disciplina, ela pode descansar confiantemente na promessa de Deus de que ele providenciará sabedoria e direção para tomar a decisão correta. Portanto, o veredito do céu, por assim dizer, é consonante com o da igreja, diante de como a questão foi decidida.

Quinto, por quem a disciplina deve ser administrada? Certamente, os presbíteros da igreja devem tomar a iniciativa e prover a supervisão do processo (cf. At 20.28ss; 1 Ts 5.14; Hb 13.17). Mas a congregação como um todo deve também estar envolvida (2 Co 2.6; esse último texto levanta a questão de se havia uma minoria em Corinto que discordou das ações realizadas).

Em suma, a motivação para disciplina é o amor (pelo crente errante), e o objetivo da disciplina é restauração. Se o próprio Cristo está apaixonadamente tão comprometido com a igreja que sacrificou sua vida em favor dela, a fim de apresentá-la “a si mesmo gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante” (Ef 5.27), dificilmente poderíamos fazer vista grossa para o pecado repetido e impenitente em nosso meio. Que Deus nos dê a graça e a sabedoria tão essenciais para essa tarefa crucial e delicada.

Fonte: iPródigo

via:   MINISTÉRIO BERÉIA: Reflexões sobre Disciplina na Igreja

24/04/2010

Os Perigos da Adivinhação

 Autor: Pastor Bob DeWaay

"Quando entrares na terra que o SENHOR teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR teu Deus os lança fora de diante de ti." [Deuteronômio 18:9-12].

Recentemente, fui convidado a pregar em um seminário. Antes da reunião, almocei com alguns professores, um dos quais tinha trabalhado por muitos anos como missionário em Taiwan. O ex-missionário contou a seguinte história que ilustra a realidade do mundo espiritual:

Um menino de doze anos, em Taiwan, estava tendo algumas experiências estranhas. Ele tinha a impressão que alguém sempre o estava seguindo, mas quando ele se virava e olhava para trás, não via ninguém. Algumas vezes na manhã após uma noite de sono ruim, ele se sentia machucado e disse aos seus pais que alguém tinha batido nele à noite, enquanto ele dormia. Os pais do menino o levaram aos médicos, mas estes não conseguiram encontrar nada de errado. Finalmente, os pais o levaram a um vidente cego — que tinha a reputação de conseguir sentir o mundo espiritual.

O vidente disse ao menino e aos seus pais que havia um irmão gêmeo e que a outra criança tinha morrido ao nascer. Isso, é claro, era do conhecimento dos pais, mas poucas pessoas sabiam sobre o fato, pois a família o mantinha em segredo. O vidente também disse que os problemas do menino eram causados pelo espírito do irmão gêmeo falecido, que estava com raiva por ter sido negligenciado. Os pais não o estavam venerando com fidelidade e provendo para ele no mundo espiritual. Portanto, o espírito dele os estava punindo e assediando o filho deles (o irmão gêmeo sobrevivente). A solução era erguer um altar para o espírito do falecido, venerá-lo com alimentos e com incenso, e queimar notas de dinheiro em seu favor. Quando a família fez isso, conforme as instruções, as estranhas experiências do menino cessaram. [1].

Alguém pode perguntar: "Como isso pode ter funcionado?" A resposta é que Satanás tem boas razões para fazer isso funcionar. Os espíritos que estavam atormentando a criança estavam fazendo aquilo que os espíritos malignos gostam de fazer. O vidente estava conectado com o conhecimento espiritual real. Os espíritos contaram ao vidente a respeito do irmão gêmeo. Os espíritos deram ao vidente a "prescrição" e os outros espíritos pararam de atormentar porque com isso, fizeram com que toda a família imergisse nas crenças animistas da adoração aos espíritos. Imagine quão sólidas serão as crenças deles e quão difícil será para eles se converterem a Jesus Cristo. A adivinhação e o espiritismo funcionam — isto é o que torna o perigo tão grande. As enganações que não funcionam têm vida curta.

A Natureza e História da Adivinhação

O erudito em Antigo Testamento Eugene H. Merrill dá uma definição geral da adivinhação: "A frase 'praticantes de adivinhação' refere-se geralmente a todo o conjunto de meios de se obter conhecimento dos deuses, independente de qualquer técnica em particular." [2].

Aqui está outra definição: "A prática de tomar decisões ou predizer o futuro por meio da leitura dos sinais e dos presságios." [3].

Todas as sociedades pagãs, antigas e modernas, praticam a adivinhação. As pessoas nessas sociedades sabiam que viviam em um mundo de "deuses" e de seres espirituais e que precisavam de meios de obter informações sobre os espíritos que supostamente criavam o bom e o mau destino. Várias técnicas foram desenvolvidas para obter esse conhecimento. Não há limite lógico para a variedade de técnicas que podem funcionar. Essas técnicas persistem porque funcionam com alguma precisão e os espíritos estão mais do que dispostos a fornecer suas informações enganosas.

Existem categorias de adivinhação que foram muito comuns no mundo antigo. A prática da astrologia surgiu porque os planetas eram anomalias no sentido que seguiam um curso diferente do movimento das estrelas. As pessoas costumavam examinar o fígado ou as entranhas dos animais para obter informações dos deuses. Isso é mencionado na Bíblia. "Porque o rei de Babilônia parará na encruzilhada, no cimo dos dois caminhos, para fazer adivinhações; aguçará as suas flechas, consultará as imagens, atentará para o fígado." [Ezequiel 21:21] O que eles estavam procurando era encontrar anormalidades que pudessem ser lidas como presságios. As setas podiam ser derrubadas ou lançadas no chão e a direção ou padrão em que elas caíam podiam ser lidos como indicação de onde atacar. [5].

Nem todas as formas de adivinhação tinham que ver com a leitura de anomalias. Algumas formas eram modos de fazer contato direto com os espíritos. A necromancia é uma delas. "A necromancia, a consulta dos espíritos dos mortos (Levítico 19:31; Isaías 8:19 e 19:3) é um modo de obter conhecimento prévio de uma fonte sobrenatural que era ilícita entre os judeus... mas lícita entre os outros povos." [6] O que a adivinhação está sempre buscando é informações secretas, sejam do passado, do presente, ou do futuro.

A adivinhação está freqüentemente vinculada com a feitiçaria, os encantamentos, e outras práticas. Por exemplo: "E deixaram todos os mandamentos do SENHOR seu Deus, e fizeram imagens de fundição, dois bezerros; e fizeram um ídolo do bosque, e adoraram perante todo o exército do céu, e serviram a Baal. Também fizeram passar pelo fogo a seus filhos e suas filhas, e deram-se a adivinhações, e criam em agouros; e venderam-se para fazer o que era mau aos olhos do SENHOR, para o provocarem à ira. Portanto o SENHOR muito se indignou contra Israel, e os tirou de diante da sua face; nada mais ficou, senão somente a tribo de Judá." [2 Reis 17:16-18].

A frase "fizeram passar pelo fogo a seus filhos e suas filhas" é também mencionada em Deuteronômio 18:10 junto com a adivinhação. É bem possível que no contexto isso se refira a uma forma específica de adivinhação, e não ao sacrifício de crianças. Possivelmente, era uma forma de adivinhação que envolvia a interrogação pelo fogo. A natureza exata da prática não é clara. Mas o que é claro é que era uma prática pagã associada com a adivinhação e que era proibida por Deus. Em muitas passagens, diversos termos intimamente relacionados são citados para mostrar que toda essa atividade é proibida. Por exemplo, falando a respeito do rei Manassés: "E até fez passar a seu filho pelo fogo, adivinhava pelas nuvens, era agoureiro e ordenou adivinhos e feiticeiros; e prosseguiu em fazer o que era mau aos olhos do SENHOR, para o provocar à ira." [2 Reis 21:6].

Existem algumas práticas que podem ser vistas como adivinhação em um sentido pagão, ou algo que Deus usa. Um exemplo disso é a interpretação de sonhos e outra é o lançamento de sortes. Há um termo técnico para a interpretação de sonhos que é descrito como segue: "Oniromancia, a interpretação de sonhos, é tolerada no Antigo Testamento (Gênesis 40:5-8; Daniel 1:17). As narrativas atribuem a interpretação completamente a Iavé, excluindo aqueles que eram treinados nas disciplinas da interpretação de sonhos (que era de enorme interesse no Egito e na Mesopotâmia)." [8] Na Bíblia, Deus forneceu a interpretação de sonhos quando quis a indivíduos específicos, como José e Daniel. A interpretação pagã dos sonhos era uma arte praticada como outras formas de adivinhação. Um sonhador de sonhos precisava ser julgado como um profeta, como veremos quando discutirmos Deuteronômio 13:1-5. Posteriormente, discutiremos o uso correto e incorreto dos sonhos.

A prática de lançar as sortes (fazer sorteios) para determinar a decisão do Senhor era permitida em certas circunstâncias. O Urim e Tumim no peitoral de Arão evidentemente serviam a esse propósito (veja Êxodo 28:30 e Números 27:21). A passagem a seguir mostra que Deus nem sempre respondia: "E perguntou Saul ao SENHOR, porém o SENHOR não lhe respondeu, nem por sonhos, nem por Urim, nem por profetas." [1 Samuel 28:6] Quando isso aconteceu, Saul afastou-se daquilo que Deus tinha ordenado: "Então disse Saul aos seus criados: Buscai-me uma mulher que tenha o espírito de feiticeira, para que vá a ela, e consulte por ela. E os seus criados lhe disseram: Eis que em En-Dor há uma mulher que tem o espírito de adivinhar." [1 Samuel 28:7].

Qualquer um dos meios que Deus tinha prescrito, seja sonhos, profetas, ou o lançamento de sortes, poderia ser mal-empregado. Os meios que Deus forneceu no Antigo Testamento somente poderiam ser usados pelas pessoas que Ele realmente tinha chamado e do modo como Ele tinha prescrito. Posteriormente discutiremos os testes que o Senhor dá para determinar se essas pessoas são legítimas. Também é importante observar que todos os outros métodos da buscar informações espirituais são ilegítimos em todos os casos.

Por Que Deus Proíbe a Adivinhação?

A Bíblia proíbe a adivinhação porque ela envolve o desejo ardente de obter conhecimento secreto que Deus preferiu não revelar. "As coisas encobertas pertencem ao SENHOR nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei." [Deuteronômio 29:29] Esse desejo de obter conhecimento proibido tem suas raízes no primeiro pecado do homem. "Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal." [Gênesis 3:4-5] Satanás tentou Eva com um desejo de conhecer aquilo que Deus preferiu não revelar e assim transgrediu a fronteira entre o Criador e a criatura. Eva e depois Adão sucumbiram a essa tentação (Gênesis 3:6) A adivinhação é uma tentativa de obter conhecimento proibido.

Existem somente duas fontes legítimas de conhecimento que estão disponíveis para nós: 1) As coisas reveladas por Deus; 2) Aquilo que pode ser aprendido por meio da revelação geral. Aquilo que está revelado por Deus está contido na Bíblia. A revelação geral está limitada àquilo que pode ser aprendido por meio dos sentidos físicos e as implicações racionais daquilo que é visto na criação.

O que é proibido é a informação secreta, não disponível pelos meios comuns de aprendizado e não revelada por Deus. A adivinhação envolve várias técnicas para obter essas informações espirituais. Por exemplo, no caso da criança que foi levada ao vidente, tivesse havido um interrogatório e os resultados de cuidadosa investigação descoberto que a criança teve um irmão gêmeo que morreu, essa seria uma fonte legítima de informação. Que influência, se é que existente, esse fato exercia sobre a criança somente poderia ser discernido na medida em que a evidência e as implicações racionais pudessem fornecer. Entretanto, a informação do vidente, embora verdadeira pelo menos no que se refere ao fato da morte do irmão gêmeo, é ainda proibida porque veio por meio da adivinhação.

A ilustração do vidente mostra por que a adivinhação é proibida. Ela funciona por causa da operação de espíritos malignos. Os espíritos malignos estão dispostos a fornecer algumas informações factuais desde que isso sirva aos seus propósitos de contar uma mentira maior. As pessoas são sugadas para dentro do ocultismo por causa da exatidão da informação secreta que elas obtêm.

Já entrevistei pessoas que participaram de sessões espíritas. Em alguns casos, informações específicas eram dadas a respeito de um parente falecido que o necromante nunca tinha conhecido. Essas informações convenciam os clientes que eles realmente estavam contactando seus familiares já falecidos. Entretanto, os demônios têm essas informações e podem fornecê-las para fazer as pessoas acreditarem em uma mentira maior. Em alguns casos, a mentira é que o parente falecido está em um "lugar melhor", apesar do fato de que nunca creu no evangelho. Isso perpetra a mentira que todas as pessoas vão para um lugar melhor e, portanto, não é necessário se arrepender dos pecados e crer no evangelho. Isso serve ao propósito dos espíritos enganadores que fazem a sessão espírita funcionar.

O que é importante ter em mente com relação à adivinhação é que há uma razão muito boa por que as pessoas em diversas culturas em toda a história humana a praticaram. Ela funciona! É isso que a torna tão sedutora. Afirmar ingenuamente que ela não é real e não funciona nunca fará as pessoas renunciarem à adivinhação. O que precisa ser conhecido é que esses métodos são proibidos porque dão acesso ao mundo dos espíritos. Esses espíritos não são seres do bem, embora queiram nos fazer pensar que sim. Eles são espíritos enganadores e praticam suas enganações há milhares de anos. O principal objetivo deles é evitar que as pessoas entrem em um relacionamento com Deus por intermédio de Jesus Cristo. Se eles não conseguirem impedir as pessoas de virem a Cristo, o objetivo secundário é enganá-las a adotar falsas doutrinas, desse modo distorcendo a compreensão delas da verdade revelada de Deus.

A Adivinhação é Rebelião

Considere o que o profeta Isaías teve a dizer: "Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles." O mundo obscuro do conhecimento espiritual secreto é caracterizado por "chilreios e murmúrios" não muito claros. Buscar essas informações secretas é o equivalente a deixar de consultar a Deus, que nos revelou Sua verdade de forma objetiva em Sua Palavra (a Bíblia). Aqueles que não estão satisfeitos com aquilo que Deus escolheu revelar vão para outras fontes espirituais. Isso, como veremos, é uma rebelião contra Deus.

Aquilo que os adivinhos fazem é proibido porque eles não falam em nome de Deus. Deuteronômio 18 contém uma lista das práticas proibidas:

"Quando entrares na terra que o SENHOR teu Deus te der, não aprenderás a fazer conforme as abominações daquelas nações. Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao SENHOR; e por estas abominações o SENHOR teu Deus os lança fora de diante de ti." [Deuteronômio 18:9-12].

O que Moisés diz mostra que essas práticas eram uma alternativa a ouvir os porta-vozes escolhidos de Deus. "Porque estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti o SENHOR teu Deus não permitiu tal coisa. O SENHOR teu Deus te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis." [Deuteronômio 18:14-15] Moisés foi um legislador. O profeta que Deus levantou é Jesus Cristo [veja Hebreus 1:1-2; João 5:37-57; Atos 3:22-23].

Moisés foi aquele por meio de quem Deus outorgou a lei. Os profetas não faziam acréscimos à lei de Deus, mas a usavam para exortar e também profetizaram sobre o futuro. Eles especificamente profetizaram acerca do Messias, o profeta de quem Moisés falou. De acordo com Hebreus 1:1-2, Jesus Cristo falou a nós nestes últimos tempos a plena e final revelação. Ir além daquilo que foi dado no Antigo Testamento e dito por Jesus Cristo e por Seus apóstolos no Novo Testamento é rebelião; é praticar adivinhação de modo a obter revelações espirituais sobre coisas que Deus não revelou.

Em 1 Samuel 15, Saul recusou-se a ouvir a Deus. Ele tomou os despojos que Deus disse para não tomar. Isto é o que o profeta Samuel disse ao rei Saul: "Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei." [1 Samuel 15:23].

Aqueles que rejeitam a palavra de Deus são "adivinhos" no sentido que eles se recusam a reconhecer aquilo que foi revelado. Essa recusa é literalmente adivinhação, pois eles vão a outro lugar para obterem sua informação espiritual. Ou a pessoa ouve aquilo que foi objetivamente revelado ou busca informações do reino da adivinhação e do conhecimento secreto. Esse é o reino dos espíritos. O resultado da ação de Saul foi que ele logo passou a ser atormentado por um espírito maligno. "E o Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e atormentava-o um espírito mau da parte do SENHOR" [1 Samuel 16:14].

Pode ser chocante saber que o espírito mau veio da parte do Senhor, mas isso é coerente com outras Escrituras que falam sobre o resultado de rejeitar a verdade. Aqueles que propositadamente vão para longe daquilo que Deus escolheu revelar colocam-se sob o julgamento da reprovação. Isso significa que Deus permite que eles sejam enganados.

"A esse cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás, com todo o poder, e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniqüidade." [2 Tessalonicenses 2:9-12; ênfase adicionada].

Como Saul, os indivíduos enganados pelos sinais e maravilhas do Anticristo serão desviados por suas próprias cobiças. Os adivinhos e médiuns espíritas satisfazem a esses desejos e cobiças dos pecadores. Deus não envia a enganação diretamente, pois Deus não pode mentir, mas indiretamente, dando a Satanás a permissão de enviar espíritos enganadores para iludir as vítimas.

No texto grego original, a passagem em 2 Tessalonicenses diz: "para que eles possam acreditar na mentira". O artigo definido é importante, pois aponta para a mentira que Satanás contou no Jardim do Éden: "Sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal." A mentira aponta para o conhecimento oculto. Na forma mais simples, a mentira aponta para conhecimento secreto que Deus não revelou e a verdade aponta para o evangelho de Jesus Cristo. Aqueles que praticam a adivinhação estão se afastando do evangelho para aprender aquilo que Deus preferiu não revelar. Eles terminam iludidos pela mentira!

A Adivinhação e os Falsos Profetas

Balaão era um ocultista. Em Josué 13:22 ele é chamado de "adivinho". Ele ia aos lugares altos para interpretar os augúrios. Ele cria nos augúrios. Sua fama em lidar com maldições espirituais era tal que o rei moabita Balaque estava disposto a pagar para que Balaão amaldiçoasse Israel. Sempre que mencionado na Bíblia, Balaão é condenado (a história de Balaão está em Números 22-24; ele é condenado em 2 Pedro 2:15; Judas 1:11 e Apocalipse 2:14).

Uma coisa que chama a atenção em Balaão é que embora ele fosse um falso profeta, fez uma profecia verdadeira significativa. Ele profetizou sobre a vinda do Messias! Ele disse: "Vê-lo-ei, mas não agora, contemplá-lo-ei, mas não de perto; uma estrela procederá de Jacó e um cetro subirá de Israel, que ferirá os termos dos moabitas, e destruirá todos os filhos de Sete." [Números 24:17] Embora Balaão normalmente praticasse a adivinhação, o Espírito de Deus veio sobre ele. "Vendo Balaão que bem parecia aos olhos do SENHOR que abençoasse a Israel, não se foi esta vez como antes ao encontro dos encantamentos; mas voltou o seu rosto para o deserto. E, levantando Balaão os seus olhos, e vendo a Israel, que estava acampado segundo as suas tribos, veio sobre ele o Espírito de Deus." [Números 24:1-2] Balaão abençoou Israel embora tivesse sido contratado para amaldiçoá-lo.

Existem três testes para os profetas em Deuteronômio: 1) Se eles usam métodos proibidos então esses profetas são falsos. (Deuteronômio 18:10-12). Se fazem uma predição que não se cumpre, então esses profetas são falsos (Deuteronômio 18:22), e 3) Se fizerem uma predição verdadeira que leve o povo para longe da fidelidade a Deus, então esses profetas também são falsos. (Deuteronômio 13:1-5).

Dado o fato que Deus falou com e por meio de Balaão, como pode ele ter sido um falso profeta? Balaão falhou em dois dos testes dados em Deuteronômio. Ele era um falso profeta de acordo com Deuteronômio 18 porque usava métodos proibidos. Os israelitas estavam instruídos especificamente a não ouvirem a ninguém que praticava a adivinhação. Balaão também falhou no teste dos profetas dado em Deuteronômio 13.

"Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti, e te der um sinal ou prodígio, e suceder o tal sinal ou prodígio, de que te houver falado, dizendo: Vamos após outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los; não ouvirás as palavras daquele profeta ou sonhador de sonhos; porquanto o SENHOR vosso Deus vos prova, para saber se amais o SENHOR vosso Deus com todo o vosso coração, e com toda a vossa alma." [Deuteronômio 13:1-3].

Um profeta pode fazer uma predição exata ou realizar um sinal que indicaria que ele tem o poder de Deus, mas mesmo assim levar o povo para longe da fidelidade à Palavra de Deus.

Embora Balaão não tenha amaldiçoado Israel por meio da adivinhação, ele ensinou o rei Balaque a levar Israel para o mau caminho, fazendo assim com que caísse sob maldição. Aprendemos isso no Novo Testamento. "Mas algumas poucas coisas tenho contra ti, porque tens lá os que seguem a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a lançar tropeços diante dos filhos de Israel, para que comessem dos sacrifícios da idolatria, e se prostituíssem." [Apocalipse 2:13] Mesmo sem ter amaldiçoado Israel, Balaão ensinou Balaque a fazer os israelitas caírem sob a maldição de Deus. Assim, ele levou Israel para longe da fidelidade à aliança com Deus, e falhou no teste de Deuteronômio 13.

Os falsos profetas estão vinculados com a adivinhação na seguinte passagem: "E disse-me o SENHOR: Os profetas profetizam falsamente no meu nome; nunca os enviei, nem lhes dei ordem, nem lhes falei; visão falsa, e adivinhação, e vaidade, e o engano do seu coração é o que eles vos profetizam." [Jeremias 14:14] Esses profetas estavam dizendo ao povo aquilo que o povo queria ouvir, que o julgamento predito por Jeremias não se tornaria realidade. [Jeremias 14:15] Em pouco tempo ficaria provado que eles estavam errados. O ponto é este: O povo de Deus precisa saber distinguir entre os profetas e os adivinhos. O critério para fazer isso é objetivo, não subjetivo. Os falsos profetas eram adivinhos cuja fonte era subjetiva: "o engano de seu coração".

O Verdadeiro Papel do Profeta

O verdadeiro profeta no Antigo Testamento exercia vários papéis importantes. Um deles era o de exortar o povo à fidelidade à Lei de Moisés, que continha os estatutos da aliança. Um tipo de material profético no Antigo Testamento chama-se "processo da aliança". [9] O profeta listava os termos da aliança, depois trazia em testemunho a transgressão do povo e pronunciava o veredito. Os profetas não eram legisladores, mas exortavam o povo. Outro papel era o predizer o futuro. Os tópicos da predição deles incluía o futuro de Israel e seu relacionamento com as outras nações, profecias contra as nações, e os detalhes da vinda do Messias, o "profeta" de quem Moisés tinha falado. Os profetas também entregavam profecias específicas para os reis e davam orientações específicas em momentos cruciais na história de Israel.

Como vimos, se um profeta não pregasse a fidelidade à aliança, ele era falso, se não anunciasse com exatidão o futuro, então era falso, e se usasse técnicas proibidas, também era falso. Os verdadeiros profetas não eram praticantes de adivinhação. Eles foram chamados por Deus e inspirados pelo Espírito Santo. A fonte deles não eram técnicas especiais para sondar "o divino" e obter informações secretas, mas Deus, que soberanamente falava por meio deles. Não havia uma técnica profética secreta que poderia ser ensinada aos outros. Como era a inspiração de Deus que lhes dava suas palavras, as palavras deles eram verdadeiras.

Os Meios Ordenados por Deus

Resta uma questão sobre as práticas que Deus permitiu e que eram consideradas adivinhação, quando usadas pelos pagãos. O conceito fundamental é se Deus ordena ou não uma prática. Por exemplo, quando os israelitas entraram na Terra Prometida e a conquistaram, a terra deveria ser dividida entre as tribos por sorte. Eis o que Deus disse: "Segundo sair a sorte, se repartirá a herança deles entre as tribos de muitos e as de poucos." [Números 26:56] Josué 19:51 mostra que eles fizeram isso e dividiram a terra. Como Deus ordenou que eles lançassem a sorte para determinar a divisão da terra, quando eles fizeram isso, o resultado foi a vontade de Deus. Ele falou por meio do sorteio porque ordenou o uso nesta situação.

Houve outras situações em que o sorteio foi usado para tomar decisão. Algumas dessas incluíam casos criminais, indicação para um cargo, a divisão da propriedade, e a seleção do bode no Dia da Expiação (Josué 7:14 e seguintes; 1 Samuel 10:20; Atos 1:26; Levítico 16:10). O último uso do lançamento de sortes na Bíblia foi no livro de Atos, na escolha de Matias. Uma vez que o Espírito Santo foi dado, não há mais o uso do lançamento de sortes. O livro de Atos mostra que o Espírito Santo guiava os apóstolos à medida que eles tomavam as decisões. O fato que Deus ordenou o uso do lançamento de sortes no Antigo Testamento em certas circunstâncias não justifica seu uso para a adivinhação por qualquer pessoa e por qualquer razão. O uso ordenado foi cuidadosamente prescrito.

A interpretação de sonhos é outra prática que era comum entre os pagãos e algumas vezes permitida para o povo de Deus. Deus particularmente usou José e Daniel para interpretar os sonhos de reis pagãos que revelaram-se significativos para o futuro de Israel de seu relacionamento com as nações. Entretanto, como nas outras formas de profecia, nem todas eram válidas. Como vimos em Deuteronômio 13:1-5, um "sonhador de sonhos" poderia dar um sinal que se tornava verdadeiro, mas mesmo assim levar o povo para o mau caminho e promover a idolatria. O mesmo critério de julgamento para alguém que afirma ter tido um sonho dado por Deus, ou a interpretação de um sonho, aplica-se à profecia e aos profetas. Isso significa que eles precisam pregar e praticar a fidelidade à aliança e suas predições precisam ser totalmente exatas.

É também importante observar que a interpretação de sonhos não era uma técnica a ser aprendida. Nem todos os sonhadores eram de Deus e nem todos os sonhos eram necessariamente significativos. A soberania de Deus escolheu usar certos indivíduos para compreender os sonhos. Esses indivíduos não reivindicavam algum poder inato para saber o significado dos sonhos, que poderia ser usado quando quisessem. Conhecer o significado de certos sonhos era um dom que Deus concedeu particularmente a Daniel (Daniel 1:17). Aqueles que usavam as técnicas de adivinhação para interpretar os sonhos fracassaram quando foram convocados para interpretar o sonho do rei. "Então entraram os magos, os astrólogos, os caldeus e os adivinhadores, e eu contei o sonho diante deles; mas não me fizeram saber a sua interpretação." [Daniel 4:7] Mas Deus deu a interpretação a Daniel. [Daniel 4:8 em diante].

Houve um grande problema com o uso falso dos sonhos durante o ministério de Jeremias. Por exemplo: "Tenho ouvido o que dizem aqueles profetas, profetizando mentiras em meu nome, dizendo: Sonhei, sonhei." [Jeremias 23:25] Os falsos profetas tentavam ganhar legitimidade por meio de seus sonhos, embora estivessem se afastando da vontade revelada de Deus:

"Até quando sucederá isso no coração dos profetas que profetizam mentiras, e que só profetizam do engano do seu coração? Os quais cuidam fazer com que o meu povo se esqueça do meu nome pelos seus sonhos que cada um conta ao seu próximo, assim como seus pais se esqueceram do meu nome por causa de Baal. O profeta que tem um sonho conte o sonho; e aquele que tem a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o SENHOR." [Jeremias 23:26-28; ênfase adicionada].

Isso mostra que mesmo com aquelas práticas que Deus permite ou ordena, sempre precisa haver discernimento. O critério definido em Deuteronômio precisa ser seguido.

Em resumo, se uma prática é uma forma proibida de adivinhação, ela é sempre pecaminosa e nunca é um método "neutro". Se uma prática é permitida ou ordenada sob certas circunstâncias, ela ainda precisa ser examinada. Até mesmo os meios prescritos por Deus podem sofrer abusos.

Os Meios Prescritos por Deus no Novo Testamento

Como vimos, Moisés profetizou a respeito da vinda daquele que falaria com autoridade da parte de Deus. O Novo Testamento afirma que esse é ninguém outro senão o próprio Jesus Cristo, como mencionado anteriormente. O próprio Criador, o Filho eterno, veio e falou de Deus em uma revelação plena e final. [Hebreus 1:1-2]. Os apóstolos escreveram os ensinos de Cristo no Novo Testamento. Aqueles que se afastam da fé são tão falsos quanto aqueles que afirmavam falar em nome de Deus nos tempos do Antigo Testamento, mas se afastavam da Lei dada a Moisés.

Existem usos legítimos da adivinhação para o crente no Novo Testamento? Isso somente seria possível se Deus especificamente ordenasse certos métodos. Eu não vejo qualquer evidência de Deus fornecer aos cristãos no Novo Testamento métodos de adivinhação por meio dos quais Ele falará. O uso do sorteio em Atos 1 envolveu uma prática do Antigo Testamento. Não é dito se o uso do sorteio neste caso foi ordenado por Deus, o texto apenas diz que eles agiram assim. Além disso, após o Pentecostes, essa prática nunca mais foi repetida.

Existem sonhos e profecias mencionadas no Novo Testamento. Quando Pedro pregou no Dia de Pentecostes, ele citou o profeta Joel:

"Nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos; e também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e as minhas servas naqueles dias, e profetizarão." [Atos 2:17-18].

O ponto fundamental aqui é "sobre toda a carne". Em vez de apenas certos indivíduos como os profetas que receberam o Espírito Santo, Deus irá agora, de um modo muito maior, habitar em todos os que crêem. O ato de "profetizar" não estará mais restrito a algumas poucas pessoas. Todos os tipos de pessoas receberão o Espírito Santo (jovens, velhos, homens, mulheres, escravos, livres, etc.) e todos poderão profetizar. (1 Coríntios 14:24,31).

Que existem sonhos e profecias não é diferente, mas o propósito agora está restrito. Como já recebemos a plenitude da autorizada e divina revelação até que Cristo retorne, o propósito dos sonhos e profecias está restrito à orientação para "edificação, exortação e consolação" (1 Coríntios 14:3) sem ser acréscimo às Escrituras. Os sonhos e profecias estão sujeitos ao julgamento exatamente como no Antigo Testamento. Não existe a arte legítima da interpretação de sonhos no Novo Testamento. Nem no Antigo nem no Novo Testamento há um processo a ser aprendido para fazer de alguém um intérprete de sonhos.

Existem modos prescritos no Novo Testamento pelos quais o cristão cresce na graça e no conhecimento do Senhor: a Palavra (o estudo bíblico), as ordenanças e a oração. Além disso, a comunhão é um modo de toda a comunidade cristã compartilhar da graça que Deus nos tem dado. Se pela fé fazemos uso dos modos prescritos por Deus, temos a certeza que Cristo trará os benefícios da redenção ao Seu povo. [11] Como no Velho Testamento, afastar-se dos meios prescritos por Deus é colocar-se fora do alcance das bênçãos e da proteção de Deus. Da mesma forma como no Velho Testamento, até aquilo que Deus prescreveu pode sofrer abuso. Por exemplo, a Palavra pode ser mal-interpretada, o batismo pode ser visto como um modo de justificação separado da fé, a comunhão pode ser transformada em uma obra meritória, e a oração pode ser transformada em um processo místico para buscar novas revelações. Não somente precisamos dos meios prescritos por Deus, mas precisamos fazer uso deles nos termos em que Deus estabeleceu.

A adivinhação sempre envolve uma ambição por obter conhecimento secreto. Os meios que Deus ordenou parecem mundanos e lentos para muitas pessoas. Elas querem uma experiência ou uma revelação especial que instantaneamente responda às suas questões, ou solucione seus problemas imediatos. Como Saul, que não estava obtendo uma resposta pelos meios prescritos por Deus e então consultou uma feiticeira, muitos hoje vão atrás das práticas proibidas. Eles dizem: "Tentei estudar a Palavra de Deus, orar e ter comunhão na igreja, mas isto não funcionou." Assim, vão atrás de alguém que supostamente pode obter informações secretas de Deus para eles.

A adivinhação é atraente para as pessoas por duas razões básicas: temor e cobiça. Elas temem que não superarão suas feridas e então buscam informações secretas sobre seu passado. Elas temem um mau resultado e então procuram os presságios. Elas esperam encontrar um quebrador de maldições ungido para evitar um destino ruim. Elas ambicionam o sucesso e a riqueza nesta vida e então buscam informações secretas sobre o futuro. Elas imaginam que com a informação sobrenatural correta poderão ser bem sucedidas em tudo o que fizerem. Elas temem que os demônios estejam impedindo que elas sejam felizes e então procuram informações secretas sobre os nomes e as funções dos demônios, esperando com isso escapar de seu estado de infelicidade. Como na história do vidente no início deste artigo, elas querem informações que as ajudem a solucionar seus problemas.

O que realmente precisamos é fazer uso continuamente dos meios da graça que Deus prescreveu para nós. Fazendo isso fielmente pela fé, teremos todas as bênçãos e benefícios que são prometidos nesta vida. Coloquemos de lado a ambição pelo conhecimento secreto e proibido e aceitemos que existe o sofrimento. A vasta arena do conhecimento espiritual que é desconhecida para nós precisa ser deixada dessa forma. Mas o que é conhecido é a vontade revelada de Deus e a alegria de vir até Ele em Seus próprios termos por meio do Messias Jesus. Há uma passagem com uma exortação e uma promessa: "Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno." [Hebreus 4:16] Deus honrará Suas promessas quando viermos a Ele em Seus próprios termos por meio do Messias Jesus.

As Falsas Reivindicações dos Adivinhos Cristãos

A adivinhação é qualquer técnica para a obtenção de informações secretas ou ocultas que não está prescrita nas Escrituras. A prática da adivinhação é pecaminosa e proibida. As pessoas que não querem estar restritas de usar as técnicas de adivinhação oferecem dois argumentos: "Os métodos são neutros" e "Deus pode usar qualquer coisa.".

A partir das Escrituras, mostramos que a primeira afirmação não tem fundamento bíblico. Os métodos não são neutros. Permita-me compartilhar um exemplo. A maioria das pessoas concorda que o Tabuleiro de Ouija é uma forma de adivinhação proibida para os cristãos. Mas e se alguém criasse um Tabuleiro de Ouija que fosse exatamente como um tabuleiro real, com a diferença que estivesse coberto com versos bíblicos. Duas pessoas poderiam colocar suas mãos no dispositivo apontador e permitir que forças quaisquer fizessem o tabuleiro "funcionar", apontando para o verso apropriado. Isso, então seria interpretado como orientação de Deus. Isso pode parecer absurdo, mas é uma coisa logicamente válida se na verdade "os métodos são neutros". Na verdade, aqueles que usam a prática de fechar os olhos, abrir a Bíblia em uma página aleatória e apontar seu dedo para um verso qualquer de modo a obter direção estão usando uma técnica similar. Essas pessoas estão praticando adivinhação. Alguns métodos para obter conhecimento espiritual são prescritos por Deus, todos os outros são proibidos.

A afirmação que Deus pode usar qualquer coisa é enganosa. Embora tecnicamente seja verdade, ela é enganosa porque há uma distinção a ser feita entre o que Deus tem o poder de usar e o que Ele prescreve. Há também o fato que Deus pode usar alguma coisa que é contra sua vontade moral de modo a trazer o julgamento. Deus realmente usou a feiticeira de En-Dor, mas isso foi muito ruim para o rei Saul. Deus pode usar o mal para propósitos bons, mas é algo muito ruim para os praticantes do mal serem usados dessa forma. Outro exemplo encontra-se na seguinte passagem: "Porque Deus tem posto em seus corações, que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus." [Apocalipse 17:17]. Deus usará a rebelião da raça humana durante a Tribulação para fazer a profecia ser cumprida, mas será algo muito ruim para aqueles que forem assim usados.

O que é verdadeiramente importante é que determinemos pelas Escrituras qual é a vontade de Deus e nos submetamos a ela. Conjecturar sobre o que Deus poderia usar é enganoso se terminarmos nos colocando sob julgamento por participar de algo que Deus poderia possivelmente estar usando. Deus usou o Faraó, mas isso foi algo ruim para ele e para todo o seu exército.

Conclusão

A adivinhação não é proibida porque não funciona, mas porque realmente funciona. Ela funciona de modo a colocar as pessoas em contato com as forças espirituais e com conhecimentos secretos. Os seres espirituais assim contactados têm informações factuais à sua disposição que não poderiam ser obtidas pelos meios que Deus nos deu para conhecer as coisas espirituais ou secretas. Essas informações podem tornar uma pessoa muito rica, ou podem destruí-la. Os espíritos malignos que fornecem essas informações pretendem impedir as pessoas de virem a Deus por meio do Messias. Eles também procuram enganar os cristãos a pensar que aquilo que recebem por meio de Cristo é insuficiente. Eles são muito bons naquilo que fazem.

Quinze anos atrás organizei um encontro de pastores, esperando apelar aos pastores para que pregassem e ensinassem a Bíblia corretamente. Um pastor que veio ao encontro tinha recentemente ido conhecer os profetas de Kansas City. Eu lhe perguntei o que acontecera ali. A resposta foi que um profeta tinha conseguido identificar corretamente seu ministério, embora não tivesse nenhuma fonte natural para essa informação. Perguntei como ele tinha feito isso. A resposta foi que o profeta fez o homem erguer sua mão com os dedos abertos. O profeta viu as cores que emanavam da mão, que revelavam quais dos cinco ministérios ele possuía. Eu disse para ele: "Isto é leitura da aura, uma prática ocultista". Ele respondeu: "Deus pode usar qualquer coisa e, além do mais, o profeta acertou.".

O mais grave disso é que as informações secretas não fizeram nada mais do que convencer o pastor que a leitura cristã da aura era algo válido e que ele tinha encontrado um verdadeiro profeta. O pastor sabia que era um pastor antes de ter ido ao profeta, ele não precisava de conhecimento secreto para mostrar o que era conhecido por meios ordinários. Esse é o mesmo tipo de procedimento que muitos praticantes de adivinhação usam para convencer suas vítimas que eles têm poderes legítimos. Existem dezenas de versões "cristãs" de adivinhação que estão sendo praticadas na igreja atualmente. A próxima edição exporá várias delas.

O que precisamos fazer é deixar de lado a ambição por conhecimentos secretos e nos colocar debaixo dos meios de graça prescritos por Deus. Ele usará Seus meios prescritos para nos dar toda a cura e a ajuda que precisamos obter nesta vida. Submetendo-nos ao evangelho por meio da fé temos a certeza da ressurreição futura para a vida eterna.

Notas Finais

1. Dr. Joel Nordtvedt, Presidente das Escolas dos Irmãos Luteranos.

2. Eugene H. Merrill, Deuteronomy in The New American Commentary; (Broadman & Holman: Nashville, 1994) pág. 271.

3. Holman Illustrated Bible Dictionary (Holman: Nashville, 2003) s.v. "Divination", 433.

4. Eerdmans Dictionary of the Bible (Eerdmans: Grand Rapids, 2000) s.v. "Divination", 349.

5. Op. cit. Holman.

6. Scribners Dictionary of the Bible (Scribners: New York, 1903) Vol. 1. s.v. "Divination", 612.

7. Duane L. Christensen, Deuteronônio 1-21:9 no Word Biblical Commentary; (Nelson: Nashville, 2001); 408.

8. Op. cit. Eerdmans, 350. exemplo, Oséias 4:1 anuncia um "caso" contra Israel. Veja Gary V.

9. Smith, The Prophets as Preachers, (Broadman & Holman: Nashville, 1994) 40 para uma discussão do processo da aliança.

10. Op. Cit. Scribners, s.v. "lots", pág. 153.

11. Charles Hodge, Systematic Theology Vol. III; (Eerdmans: Grand Rapids, Edição 1995) pág. 499. Veja 466-708 para uma discussão completa dos meios da graça.

Sobre o Autor

Bob DeWaay é pastor da Twin City Fellowship, uma igreja evangélica não-denominacional em Minneapolis, MN. "Somos um corpo de crentes que tenta viver a fé cristã de acordo com Atos 2:42, dedicando-se à oração, comunhão, estudo das Escrituras e celebração da Ceia do Senhor. Nossa missão é equipar os santos para o trabalho do ministério e para alcançar os perdidos com o evangelho de Jesus Cristo. Fazemos isso por meio da pregação expositiva, estudos bíblicos, publicações, nosso sítio na Internet e evangelismo na vizinhança.".



Autor: Pastor Bob DeWaay, http://cicministry.org/commentary/issue82.htm
Data da publicação: 27/7/2006
Revisão: V. D. M. — Campo Grande / MS e http://www.TextoExato.com
A Espada do Espírito: http://www.espada.eti.br/adivinhos.asp

fonte: Os Perigos da Adivinhação