04/06/2009

PORQUE O PROFETA NÃO É PROFETA ENTRE OS SEUS, E NA SUA CASA?

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Quando eu era bem jovem na pregação da Palavra, não entendia essa coisa do profeta não ser profeta na sua terra...

Eu queria muito ser a exceção!...

Em Manaus a povo me ouvia como se eu não fosse de lá... Sim, como se meu passado na cidade tivesse sido “riscado” para sempre... E, assim, aparentemente, eu era Profeta em minha terra na década de 70.

Papai, mamãe e minhas manas, também me ouviam como se eu fosse um estranho chegando com uma mensagem sem desgastes...

Foi quando mudei para Niterói que comecei a ter a experiência de ver o mundo inteiro me ouvindo, mas o “meu povo” fazendo corpo mole...; ou, às vezes, enciumados, fazendo tudo para me dizer que eu viajava muito, mas que era tudo “uma benção”..., embora falassem isso com ciúme e certa raivinha... Pensavam que me puniam dizendo: “Quando você não está aqui não muda nada!...”

Depois você vai vendo que quanto mais próximos — mulher, filhos, parentes, amigos, irmãos, e gente de todo o dia —, mais dão por certo, mesmo quando amam e respeitam você, que você é dali; e, portanto, está à disposição quando eles precisarem; ou, então, vão, pela familiaridade, ouvindo o que você diz..., sem muita reação, até que um estranho diga a mesma coisa, às vezes até bem menos, mas, pela distancia, parece que é algo novo, e, assim, você recebe a notícia de como a mesma coisa [e olhe lá!...] gerou um impacto imenso...; pois, embora fosse óbvio, a estranheza do mensageiro fazia tudo novo para o ouvinte...

Ninguém escada disso...

Jesus não escapou, por que o discípulo escaparia?

É a tal Síndrome de Nazaré, acerca da qual já preguei muito na vida e também já escrevi aqui no site. Link adicional: http://www.caiofabio.com/2009/conteudo.asp?codigo=02513

No início dá a maior tristeza para o mensageiro, como foi com Jesus, que sofreu ao visitar Nazaré, onde havia sido criado...

Além disso, Sua mãe e Seus irmãos também não o trataram como o povo que o ouvia o tratava...

Foi por isto que Ele disse que a família Dele era feita de quem O ouvia com a avidez dos que ouvem a Palavra de Deus, e não a palavra do filho, do irmão ou do parente...

Quem prega a Palavra, por mais coerente que seja com ela, saiba: sua coerência não cria romance no dia a dia entre os mais chegados e o Evangelho... Eles podem amar você, achar que Deus o usa, mas, se um estranho chegar, creia: a mesma coisa dita por ele será como um oráculo para quem já não ouve você, de tanto que pensam que de você já sabem tudo.

Assim, como diria meu pai, digo a você: “Meu filho, é assim mesmo!...”

Nele, que nos ensinou que nem sempre os “nossos” são os que mais nos percebem e nos aproveitam,

Caio Fábio, 4 de junho de 2009

Fonte: Caio Fábio

CONTINGÊNCIAS

 

Contingência e o vôo 447

O mundo está em choque. De novo a contingência mostra sua cara na tragédia do vôo da Air France. Vale lembrar: contingência significa que os acontecimentos não são sempre necessários. Quando ocorre alguma coisa sem uma razão que a explique ou justifique. Contingência gera imprevisto; fatos que escapam à engrenagem da causa e do efeito. Um avião cai porque o mundo é contingente, não porque tenha sido vítima do destino ou de um plano de Deus.

Diz-se no senso comum que as pessoas só morrem quando chega a hora. Caso isso fosse verdadeiro, o destino reuniu em uma aeronave as pessoas que deveriam morrer naquele dia. Isso daria à fatalidade um poder apavorante. Impossível pensar que gente de mais de trinta países entrou no vôo 447 sem saber que obedecia a uma força cega, que determinava aquele como o último dia de suas vidas.

Igualmente, acreditar que Deus permite a queda do avião porque tem algum propósito, soa esquisito. Cada pessoa, com histórias, projetos, sonhos, foi arrancada da existência para que se cumprisse qual objetivo? Um objetivo macro? Isto é, para que a humanidade aprendesse ou se arrependesse? Isso faria com que as biografias fossem descartáveis, desprezíveis. O Divino Oleiro, sem precisar se explicar, afogaria tanta gente para conduzir a macro história para o fim glorioso? Sim? Mesmo que exista esse deus, eu não o quero.

Também, algumas pessoas aceitam que Deus tem um plano para cada morte individual. Verdade, ele é Deus, tem todo o poder e é capaz de reunir, em um só lugar, quem deveria morrer. Mas também é bom. Então todos os passageiros foram eleitos para cumprir qual bem? Satisfaz pensar que o bem de ceifar tantas vidas, mesmo sem nenhum sentido do lado de cá, está garantido na eternidade? (Deus sabe o que faz?!?!) Como explicar tal conceito para pais, filhos e parentes desolados? Todos acorrentados à trágica realidade que lhes roubou de seus queridos.

A idéia de que Deus tem um plano para cada morte se esvazia diante dos números. Um avião caiu, mas o que dizer dos incontáveis acidentes de todos os dias? O que dizer das balas perdidas que aleijam transeuntes? E dos erros médicos ou dos acidentes de trânsito? Recentemente uma senhora de nossa comunidade caiu da laje da casa em construção. Ela fotografava a obra para que a filha ajudasse com as despesas do acabamento. Quebrou a coluna e ficou paraplégica. A última explicação que se poderia dar é que Deus tinha um plano em deixá-la paralítica.

Jesus nunca cogitou o mundo sem contingência. Pelo contrário, não atrelou a queda de uma torre aos desígnios divinos; não disse que a cegueira do homem era consequência causal das ações interiores, dele ou de seus pais; advertiu que os seus discípulos enfrentariam tempestade, aflição e morte.

Contingência é o espaço da liberdade, portanto, da condição humana. Sem contingência nos desumanizaríamos. A consciência do risco de adoecer e da imprevisibilidade da morte súbita é o preço que pagamos por nossa humanidade.

O desastre do avião mostra a inutilidade de pensar que o exercício correto da religião e a capacidade tecnológica mais excelente sejam suficientes para anular a contingência. Nossa vida é imprecisa e efêmera. Portanto, vivamos intensamente. Cada instante pode ser o último – Carpe Diem!

Soli Deo Gloria
Ricardo Gondim

FONTE: PavaBlog