20/12/2008

O VERGONHOSO EVANGELHO SOCIAL

 160703363 T. A. McMahon

        Por várias razões, os cristãos, de vários tipos, têm feito modificações no "evangelho de Cristo", como se este precisasse de ajustes. Nas alterações importantes, a maioria vai dizer que são apenas ínfimas pinceladas, aqui e ali. Essas mudanças sempre começam com alguém declarando que não existe mudança alguma envolvida, mas, simplesmente, um novo arranjo na ênfase. Contudo, não importa quão racional seja isto, o resultado final é que eles se  "envergonham do evangelho de Cristo".

Envergonhar-se do evangelho engloba uma porção de aplicações, desde ficar embaraçado com o mesmo, até supor que alguém possa  melhorá-lo um pouco, a fim de o tornar mais aceitável. Um exemplo do primeiro caso é a afirmação recente feita por um dos autores de uma Igreja Emergente de que o ensino que diz que Cristo pagou a total penalidade pelos pecados da humanidade, através de Sua morte vicária na cruz, é irrelevante e vista como "uma forma de abuso para com o filho cósmico".

Exemplos mais sutis incluem o de tentar fazer o evangelho parecer menos exclusivista, com o "abrandamento" das conseqüências, das quais ele salva a humanidade, tais como a ira de Deus e o Lago de Fogo.

Prevalecente entre muitos líderes religiosos, que professam ser cristãos evangélicos (ou seja, cristãos crentes na Bíblia), é a promoção de um evangelho aceitável, o qual seja admirado pelas pessoas do mundo inteiro. Hoje em dia, a forma mais popular é conhecida como "Evangelho Social".

Embora o Evangelho Social seja comum entre os muitos novos movimentos evangélicos, ele não é novidade para a Cristandade. Teve o seu princípio moderno nos anos 1800, quando se desenvolveu de modo a atingir as várias condições da sociedade, causadoras de sofrimento  ao populacho. A crença era de que o Cristianismo poderia atrair seguidores, quando demonstrasse o seu amor pela humanidade.  Isto poderia ser mais bem realizado, quando se aliviassem os sofrimentos da humanidade causados pela pobreza, enfermidades, condições opressoras de trabalho, injustiças sociais, abusos dos direitos civis, etc.

Os que incrementaram esse movimento também acreditavam que o alívio das condições miseráveis poderia melhorar a natureza moral dos que eram carentes de tudo.

          Outra força motivadora por trás do Evangelho Social foi a Escatologia, com as visões dos envolvidos nas doutrinas dos tempos finais. Quase todos eles eram amilenistas e pós-milenistas. Os primeiros acreditavam estar vivendo num simbólico período de 1.000 anos, no qual Cristo estava governando, a partir do céu, Satanás estava preso e eles eram os obreiros nomeados por Deus para realizar na Terra um reino digno de Cristo. Os pós-milenistas também acreditavam já estar no milênio e o seu objetivo era restaurar a Terra a um estado semelhante ao do Jardim do Éden, para Cristo voltar do céu e poder implantar aqui o Seu reino terreno.

O Evangelho Social, em todas as suas diversas aplicações, ajudou a produzir algumas realizações (leis contra o trabalho infantil e leis a favor do sufrágio feminino), as quais contribuíram para o bem-estar social. Ele se tornou o principal evangelho dos teólogos da libertação e das principais denominações, durante o século 20. Embora sua popularidade tenha crescido e diminuído, alternadamente, em seu curso, ele foi muitas vezes organizado pela combinação da religião com a  política liberal, como, por exemplo, no caso de Martin Luther King Jr. e os direitos civis. A médio prazo, através do século passado, o Evangelho Social influenciou movimentos como a Teologia Liberal do Catolicismo Romano e a ala esquerda dos cristãos evangélicos. Contudo, é no século atual que o Evangelho Social tem conseguido sua maior promoção. Dois homens, ambos professando  ser evangélicos, têm liderado esse caminho.

George W. Bush começou a presidência, instituindo o órgão White House Office of Faith-Based & Company Initiatives. Seu objetivo foi prover fundos do governo às igrejas, sinagogas, mesquitas e outros ministérios religiosos, os quais estivessem provendo serviço social às suas comunidades. Bush acreditava que os programas desenvolvidos  pelo "povo de fé" poderia ser pelo menos tão efetivo como os das organizações seculares, na ajuda aos necessitados e, talvez mais que isso, por causa do seu compromisso moral de "amar e ajudar o próximo".  Quando se prepara para deixar o cargo, ele declarou que considera  o seu programa "Faith-Based" como uma das mais relevantes realizações do seu tempo como presidente.  O atual candidato à presidência, Barack Obama,  declarou que, se ganhar a eleição, vai dar prosseguimento ao programa "Faith-Based".

Rick Warren o mega autor de vendas de "Uma Igreja Com Propósito" e "Uma Vida Com Propósito", elevou o Evangelho Social a um patamar jamais antes alcançado, não apenas a nível mundial, mas a se tornar o pensamento e planejamento dos líderes mundiais. Warren credita ao gênio em gerenciamento de negócios - Peter Drucker - o conceito básico do que ele está executando. Drucker acreditava que os problemas sociais da pobreza, doença, fome e ignorância estavam além da capacidade dos governos e das corporações multinacionais para os resolverem. Para Drucker, a solução mais viável seria encontrada no setor sem fins lucrativos da sociedade, especialmente as igrejas, com as suas hostes de voluntários dedicados ao alívio dos males sociais dos carentes de suas comunidades.

Tendo Warren reconhecido o falecido Drucker como o seu mentor, durante 20 anos, certamente aprendeu suas lições. Seus dois livros "Com Propósito", traduzidos em 57 idiomas, dos quais foram vendidas,  conjuntamente, 30 milhões de cópias, revelam o plano do jogo que Drucker havia visualizado. Warren fez com que as igrejas locais programassem a visão dos seus livros, através dos programas comunitários enormemente popularizados como "40 Dias com Propósito". Até o presente, 500 mil igrejas, em 162 nações tornaram-se parte dessa rede global. Elas formam a base do Plano global P.E.A.C.E.

Mas, o que é o Plano P.E.A.C.E? A apresentação deste plano de Warren à igreja é vista no site www.thepeaceplan.com. No vídeo, ele identifica os gigantes que assolam a humanidade, como sendo: vazio espiritual, liderança autocentrada, pobreza, doença e ignorância, os quais ele pretende erradicar pelo "P": plantio de igrejas; "E": equipamento de líderes; "A": assistência aos pobres; "C": cuidado aos enfermos; "E": educação da próxima geração.

Warren usa a ilustração de um tripé, a fim de descrever a melhor maneira de liquidar esses gigantes. Duas dessas pernas são o governo e os negócios, os  quais têm sido, até hoje, ineficazes e, exatamente como um tripé de dois pés, não pode se manter de pé. A terceira perna, muito necessária, é a igreja: "Existem milhares de vilas no mundo, sem escolas, sem clínicas, sem comércio e sem governo... Mas sempre têm uma igreja. O que aconteceria se mobilizássemos as igrejas para que liderassem esses cinco gigantes globais?" Warren racionaliza que existem 2,3 bilhões de cristãos no mundo inteiro, os quais poderiam formar, praticamente, o que Bush chamou de "exército da compaixão" do "povo de fé", que o mundo até hoje não experimentou.

Em adição a essa "visão cristã", Warren tem expandido a visão inclusivista do Plano P.E.A.C.E., o qual tem atraído o apoio e o louvor dos líderes políticos e religiosos e das celebridades do mundo inteiro. No 2008 World Economic Forum, Warren declarou: "O futuro do mundo não é o secularismo, mas o pluralismo religioso". Referindo-se aos males que atacam o mundo, ele declarou: "Não podemos resolver esses problemas sem envolver as pessoas de fé e suas instituições religiosas. Ele [o Plano P.E.A.C.E.] não vai prosperar de outro modo. Neste planeta existem cerca de 2,3 bilhões de cristãos. Se colocarmos o povo de fé na equação, teremos governado 5/6 do mundo. E se apenas deixarmos que o povo secular o realize, isso não vai acontecer". (http://youtube.com/watch?v=rGyW4ghOCP).

A fim de acomodar o assunto às pessoas de todas as crenças, Warren substituiu o "P" do seu P.E.A.C.E. (plantar igrejas evangélicas) para o "P" de "promover reconciliação". O "E" de "equipamento de líderes" (de igrejas) para "equipamento de líderes éticos". Em algum lugar, ele reconheceu o seu avanço prático ao pluralismo: "Qualquer homem de paz em qualquer vila... ou quem sabe a mulher de paz... que tenha um espírito superior? ... Não precisam ser cristãos. Podem até ser muçulmanos, mas que estejam abertos e tenham influência, para se trabalhar com eles, a fim de se atacarem os cinco gigantes (aos quais ele adicionou o aquecimento global)".

Ele cita um líder secular como conselheiro da Faith Foundation, que é o Primeiro Ministro, recentemente convertido ao Catolicismo Romano, Tony Blair.  Mas... como fica a cruz nesse ajuntamento ecumênico? Ora, não fica. A crítica realização desse objetivo ecumênico é a eliminação das religiões exclusivistas, uma preocupação articulada por um dos painelistas no Economic Forum: "Existem alguns líderes religiosos de diferentes crenças religiosas, os quais buscarão afirmar sua própria fé, sua autenticidade e legitimidade... negam às outras pessoas, suas crenças, sua legitimidade e autenticidade. Não creio que possamos agir assim sem... neutralizar o tipo de ódio que todos nós estaremos experimentando resolver aqui. Acho que a nós cabe amarrar os pés do clero, ao fogo, qualquer que seja a sua fé. Contudo, insistindo em confirmar o que seja belo em nossas tradições, enquanto, ao mesmo tempo, recusando-nos a denegrir outras tradições de fé, sugerindo que elas sejam ilegítimas ou consignadas a algum tipo de fim maligno."

A Bíblia ensina que "todas as religiões do mundo são ilegítimas e consignadas a algum tipo de fim maligno", até o seu exato final. Somente a crença no evangelho bíblico pode salvar a humanidade. Lemos, em Atos 4:12 e João 3:16: "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos"... "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

A história do Evangelho Social é, em quase cada caso, uma séria tentativa dos cristãos para fazerem o que eles supõem que honrará a Deus e beneficiará a humanidade. Em cada caso, porém, a realização prática  de "beneficiar a humanidade" tem comprometido a fé bíblica e desonrado a Deus. Por que isso? Porque Deus não deu à igreja a comissão de resolver os problemas do mundo. Os que tentam fazê-lo, resvalam na falsa premissa, conforme Provérbios 14:12: "Há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte". Além do mais, os problemas do mundo são apenas um sintoma da raiz chamada PECADO.

Qual porcentagem do "povo de fé", que engloba todas as religiões, formando 5/6 da população mundial, entende e aceita o Evangelho como a única possível cura para o mal chamado PECADO? Ou quantos dos 2,3 bilhões de "cristãos", no mundo inteiro, crêem de fato no Evangelho bíblico? Os números decrescem exponencialmente. "Sim, mas... eles formam uma força de maciça contribuição voluntária, além dos nossos recursos, para liquidar os gigantes do mundo sofredor!" Mas, que aproveita se esses 2,3 bilhões de "pessoas de fé" puderem aliviar os sofrimentos do mundo e, contudo, perderem exatamente suas almas?

O Evangelho Social é uma doença mortal  para o "povo de fé". Ele reforça a crença de que a salvação pode ser obtida pela prática de boas obras, colocando à parte as diferenças, em prol do bem comum, tratando os outros como gostaríamos de ser tratados, agindo moral, ética e sacrificialmente... E isso fazendo, ao ponto de atrair os humanos para Deus. Não! Esses são esforços auto-enganosos, que rejeitam a salvação de Deus, negando o Seu perfeito modelo e rejeitando Sua perfeita justiça. A salvação acontece segundo Efésios 2:8-9: "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie". Jesus se entregou à morte pela esperança de salvar a humanidade, reconciliando-a com Deus. Em João 14:6, lemos Jesus declarando: "Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim". Não existe outro caminho, porque a perfeita justiça de Deus exigia que a penalidade do pecado fosse paga, pois "Todos pecaram" (Romanos 3:23). Somente o Homem-Deus perfeito e sem mácula poderia pagar totalmente essa penalidade infinita, morrendo sobre a cruz. Somente a fé Nele pode reconciliar o homem com Deus.

O vergonhoso Evangelho Social de hoje não apenas promove "outro evangelho", como ajuda a preparar o reino contrário aos ensinos da Escritura. Pois "...a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Filipenses 3:20). Ele voltará do céu (João 14:3) para arrebatar os que Nele crêem (Sua Noiva) às nuvens e levá-los para o céu (1 Tessalonicenses 4:17). O reino que ficar na Terra será o do Anticristo.

De acordo com o seus princípios amilenistas/pós-milenistas, os esforços do Evangelho Social estão ligados à Terra, em sua tentativa de restaurar aqui o reino de Deus. Eugene Peterson infiltrou essa heresia em sua Bíblia "The Message": "Deus não teve todo esse trabalho de enviar o Seu Filho simplesmente para apontar o seu dedo acusador, dizendo como o mundo era mau. Ele veio ajudar a colocar o mundo novamente em ordem". (Uma perversão de João 3:17).

Rod Bell, em seu livro "Velvet Elvis", reflete a escatologia da reconstrução da Terra, a qual é adotada por quase todos os líderes da Igreja Emergente:

"Salvação é todo o universo sendo trazido à harmonia com o seu Criador. Isso implica imensamente em como as pessoas apresentam a mensagem de Jesus. Sim, Jesus pode voltar  para os nossos corações. Mas podemos nos reunir em um movimento que será tão abrangente e tão grande como o próprio universo. Rochas e árvores; pássaros e pântanos e ecossistemas. O desejo de Deus é restaurar tudo isso... O objetivo não é escapar deste mundo, mas transformá-lo no tipo do lugar para onde Deus possa vir. E Deus está nos recriando no modelo de pessoas que possam fazer esse tipo de obra".

Para o líder da Igreja Emergente, Brian McLaren, este é o futuro meio de vida para os cristãos. Numa entrevista ao ChristianPost.com, em 28/07/2008,  ele disse: "Acho que o nosso futuro também vai exigir que nos unamos humilde e caridosamente, com as pessoas de outras crenças... muçulmanos, hinduístas, budistas, judeus, secularistas e outros... na busca pela paz, no diaconato ambiental e na justiça para todos os povos, coisas que falam profundamente ao coração de Deus". Não! O que realmente fala ao coração de Deus  é que se arrependam e creiam no Evangelho.

Qualquer pessoa que deposita esperança nesse Evangelho Social, o qual emprega "pessoas de fé", "preparando este mundo para ser um lugar para onde Deus possa vir", deve dar atenção às palavras de Jesus, segundo Lucas 18:8-b: "Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?" As pessoas de todas as crenças, sim, mas certamente não as pessoas "da fé", pela qual Judas 3 nos exorta a batalhar diligentemente. Que o Senhor nos ajude a todos, a fim de que jamais nos envergonhemos do Seu Evangelho!

FONTE: TBC Setembro, 2008 - "The Shameful Social Gospel" , by T. A. McMahon

Traduzido por: Mary Schultze

www.cpr.org.br/Mary.htm

"Porque, se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois me é imposta essa obrigação; e ai de mim, se não anunciar o evangelho!"  1 Cor 9:16


"Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo". 2 Cor 4:6

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Quando ser medíocre vira um vício

 

Antes mesmo de ler este livro, tinha discutido com o grupo de jovens sobre a relevância da arte no meio cristã, então a prévia do livro veio muito a acrescentar no assunto que estamos desenvolvendo nesse mês.

Achar que nossos talentos se resumem a cantar na igreja músicas que todos estão cantando, ou fazer parte de um ministério é desmerecer o caráter criativo de Deus em nossas vidas, Schaeffer deixa isso bem claro na introdução do livro dizendo: “Portanto, criatividade não se trata de um detalhe sem importância para a vida cristã. Ao contrário, é algo essencial. O problema é que grande parte da igreja tem esquecido o quanto essa parte de nossa vida é importante. Ao agir dessa maneira, tem se tornado pobre e limitada na apreciação de si
mesma, de seus semelhantes e do próprio Deus”

A questão da arte deve ser apreciada pelos cristãos e não demonizada como temos visto por aí, mas deve se lembrar que isso já foi bem pior, meu pai conta histórias absurdas de pessoas regrando coisas que para nós são comum hoje como escutar música, assistir TV ou ir ao cinema em nome de uma santidade de fachada, o autor chama isso de pontos cegos da igreja. Os tempos mudam, mas a questão ainda é muito pertinente, por isso encorajo as pessoas que lêem esse blog a usar seu talento de uma forma relevante em nossa sociedade, demonstrando o aspecto criativo de nossa existência.

Alguns trechos do primeiro capítulo Criatividade e Beleza :

“As artes, as iniciativas culturais, a apreciação da beleza da criação de Deus e da criatividade humnna, esses dons criativos têm sido relegados em nossos dias a um canto qualquer de nossa consciência cristã. São completamente desprezados por muitos e ainda rotulados de não-cristãos e nada espirituais. Essa deficiência tem sido a causa de muitos sentimentos de culpa desnecessários e de muitos frutos amargos, nos fazendo perder contato com o mundo que Deus criou, com a cultura na qual vivemos, e nos tornando inúteis nesse ambiente cultural.”

“Se a partir deste mundo ao nosso redor podemos aprender algo acerca do caráter de Deus, certamente é que ele é criativo e multifacetado. O interesse divino em beleza e em detalhes é inquestionável quando se olha para o mundo que criou à nossa volta, e as próprias pessoas em particular, como resultado de sua habilidade.”

“Por que faço questão de enfatizar esse aspecto criativo e diversificado do nosso Deus? Simplesmente porque como cristãos tudo aquilo que somos e fazemos se baseia em nosso Pai Celestial. Nosso valor supremo deriva do significado com o qual ele nos revestiu como portadores de sua imagem.”

“Eu repito: a arte, a expressão humana criativa e a apreciação do belo não precisam de nenhuma justificativa. A justificativa suprema é que elas chegam a nós como gracioso e benéfico da parte de Deus.”

COMPAIXÃO E FELICIDADE HUMANA

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Na nossa vida sempre encontramos ou cruzamos com pessoas que estão sofrendo por algum motivo. Nestes momentos todos nós somos, de um modo ou outro, tocados pelo sofrimento alheio. Isto se chama compaixão.

Para entendermos isto melhor, quero narrar uma conversa que eu tive com uma pessoa alguns anos atrás. Estávamos saindo de um banco quando vimos na rua pessoas pobres pedindo esmola. Ela me disse: "eu não gosto de vir aqui para  o centro por causa destas cenas que me deprimem. O centro está carregado de energias negativas e toda vez que eu venho aqui saio carregado desta negatividade, e mesmo quando volto para minha casa eu sinto um certo peso, um certo mal estar".

Eu não quero discutir aqui se a expressão "energias negativas" é a melhor para expressar o ambiente como aquele, mas o que eu posso dizer com certeza é que esta pessoa foi tocada pelo sofrimento daquelas pessoas pobres, algumas com crianças pequenas. O fato de ela sentir esta "energia negativa" até mesmo quando estava no conforto e segurança da sua casa (que devia ser muito boa) mostra que ela costumava ser tocada com certa profundidade e não sabia bem como lidar com isto. Mesmo as pessoas mais insensíveis são tocadas pelos sofrimentos de outras pessoas. Uma comprovação disso é que elas reagem de alguma forma a este tipo de contato, mesmo que seja apenas para virar a cabeça. Este virar a cabeça para não ver o rosto de uma pessoa que sofre mostra que foi tocada. Ninguém é completamente insensível ao sofrimento de outras pessoas.

Hoje diversos experimentos científicos estão mostrando que esta é uma característica da espécie humana. Nós somos de uma espécie que é capaz de se colocar no lugar do outro para compreender a intenção da outra pessoa e compreender o que quer dizer ou comunicar; assim como também somos capazes de nos colocar no lugar da pessoa que está nos sorrindo para entendermos - algumas vezes de forma meio equivocada - o sentido daquele sorriso para nós. Isto funciona também diante de uma pessoa que sofre. Eu me coloco no lugar desta pessoa para poder compreender o sentimento de dor que se expressa no rosto dela ou em algum outro gesto. Ao me colocar no lugar do outro, para compreendê-lo, eu sinto o sofrimento com a pessoa que sofre.

A diferença entre as pessoas se dá na reação a esta experiência de compaixão. A dor e o sofrimento da outra pessoa me lembra os meus medos, inseguranças e sofrimentos que eu não quero me lembrar. Com isso, eu posso me fechar para a dor do outro para reprimir a minha dor e esquecer dos meus medos e inseguranças; ou então me permitir sentir a compaixão e assim tomar contato com as minhas dores, os meus sofrimentos e medos. É preciso muita força espiritual e também coragem para enfrentar as minhas dores mais fundas. Permanecer na compaixão não revela fraqueza ou de "pieguice" de uma pessoa, pelo contrário, é sinal da sua força emocional e espiritual.

Reprimir o sentimento inevitável da compaixão é reprimir uma parte do "eu" que está nas profundezas do meu ser. Em outras palavras, quem nega o sentimento de compaixão não pode se conhecer e, por isso, nem consegue encontrar uma "solução" para os seus problemas que foram escondidos, empurrados e trancados no mais fundo de si. Quem não é capaz de permanecer no sentimento de compaixão, não consegue viver uma vida feliz porque tenta negar a sua própria "natureza humana".

A felicidade depende da compaixão, e que para desenvolver o sentimento de compaixão precisamos cultivar qualidades como "amor, paciência, tolerância, capacidade de perdoar, humildade e outras" e também "o hábito de uma disciplina interior".

Quando sentimos a compaixão, desejamos que os sofrimentos das outras pessoas cessem, não só porque as amamos ou acreditamos que elas têm direito a uma vida mais digna e humana, mas também para que os nossos sofrimentos resultantes da compaixão sejam aliviados. Neste processo sentimo-nos compelidos a fazer algo para mudar a situação, assim como também incluímos no nosso horizonte de futuro desejado a superação das situações que causam estes sofrimentos. Abertura ao sofrimento alheio que nos permite tomar contato com os nossos sofrimentos e medos, a esperança de um futuro onde estes problemas foram solucionados e ações concretas que nos dão convicção firme de que estamos, dentro das possibilidades, fazendo a coisa certa para caminharmos em direção a este futuro desejado são elementos fundamentais de uma vida feliz.

Compaixão e amor encarnado em ações concretas - que buscam superar situações de opressão, dominação, marginalização, exploração ou exclusão que geram sofrimentos de tanta gente - são elementos fundamentais tanto para uma vida pessoal quanto para uma sociedade mais humana. Não se pode ser feliz sendo insensível a tanto sofrimento e dor.

É claro que não devemos cair na tentação e pressão de sermos perfeitamente compassivos e capazes de ações perfeitas e plenas para "salvar" o mundo. Só na medida em que aceitamos a nossa dificuldade é que poderemos viver e fazer o que podemos de fato.

Compaixão, responsabilidade e solidariedade são valores fundamentais para salvarmos o mundo e as nossas vidas do cinismo, da indiferença e da desumanização.

Mesmo que a nossa vida e o mundo não se transformem na intensidade e na velocidade dos nossos desejos, sabemos que nossas ações transformam ou modificam para melhor, não somente a vida de outras pessoas, mas também a nós mesmos.

A caridade salva da morte. O que é a caridade? Os vivos devem se preocupar com a tristeza ou doença do próximo. Quem não se preocupa não é realmente sensível; quem não é sensível não está realmente vivo.

A caridade nos livra de morrer em vida.

A VELHA E A NOVA CRUZ

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A. W. Tozer

Sem fazer-se anunciar e quase despercebida uma nova cruz introduziu-se nos círculos evangélicos dos tempos modernos. Ela se parece com a velha cruz, mas é diferente; as semelhanças são superficiais; as diferenças, fundamentais.
Uma nova filosofia brotou desta nova cruz com respeito à vida cristã, e desta nova filosofia surgiu uma nova técnica evangélica – um novo tipo de reunião e uma nova espécie de pregação. Este novo evangelismo emprega a mesma linguagem que o velho, mas o seu conteúdo não é o mesmo e sua ênfase difere da anterior.
A velha cruz não fazia aliança com o mundo. Para a carne orgulhosa de Adão ela significava o fim da jornada, executando a sentença imposta pela lei do Sinai. A nova cruz não se opõe à raça humana; pelo contrário, é sua amiga íntima e, se compreendermos bem, considera-a uma fonte de divertimento e gozo inocente. Ela deixa Adão viver sem qualquer interferência. Sua motivação na vida não se modifica; ela continua vivendo para seu próprio prazer, só que agora se deleita em entoar coros e a assistir filmes religiosos em lugar de cantar canções obcenas e tomar bebidas fortes. A ênfase continua sendo o prazer, embora a diversão se situe agora num plano moral mais elevado, caso não o seja intelectualmente.
A nova cruz encoraja uma abordagem evangelística nova e por completo diferente. O evangelista não exige a renúncia da velha vida antes que a nova possa ser recebida. Ele não prega contrastes mas semelhanças. Busca a chave para o interesse do público, mostranto que o cristianismo não faz exigências desagradáveis; mas, pelo contário, oferece a mesma coisa que o mundo, somente num plano superior. O que quer que o mundo pecador esteja idolizando no momento é mostrado como sendo exatamente aquilo que o evangelho oferece, sendo que o produto religioso é melhor.
A nova cruz não mata o pecador, mas dá-lhe nova direção. Ela o faz engrenar em um modo de vida mais limpo e agradável, resguardando o seu respeito próprio. Para o arrogante ela diz: "Venha e mostre-se arrogante a favor de Cristo"; e declara ao egoísta: "Venha e vanglorie-se no Senhor". Para o que busca emoções, chama: "Venha e goze da emoção da fraternidade cristã". A mensagem de Cristo é manipulada na direção da moda corrente a fim de torná-la aceitável ao público.
A filosofia por trás disso pode ser sincera, mas na sua sinceridade não impede qe seja falsa. É falsa por ser cega, interpretando erradamente todo o significado da cruz.
A velha cruz é um símbolo da morte. Ela representa o fim repentino e violento de um ser humano. O homem, na época romana, que tomou a sua cruz e seguiu pela estrada já se despedira de seus amigos. Ele não mais voltaria. estava indo para seu fim. A cruz não fazia acordos, não modificava nem poupava nada; ela acabava completamente com o homem, de uma vez por todas. Não tentava manter bons termos com sua vítima. Golpeava-a cruel e duramente e quando terminava seu trabalho o homem já não existia.
A raça de Adão está sob sentença de morte. Não existe comutação de pena nem fuga. Deus não pode aprovar qualquer dos frutos do pecado, por mais inocentes ou belos que pareçam aos olhos humanos. Deus resgata o indivíduo, liquidando-o e depois ressucitando-o em novidade de vida.
O evangelismo que traça paralelos amigáveis entre os caminhos de Deus e os do homem é falso em relação à bíblia e cruel para a alma de seus ouvintes. A fé manifestada por Cristo não tem paralelo humano, ela divide o mundo. Ao nos aproximarmos de Cristo não elevamos nossa vida a um plano mais alto; mas a deixamos na cruz. A semente de trigo deve cair no solo e morrer.
Nós, os que pregamos o evangelho, não devemos julgar-nos agentes ou relações públicas enviados para estabelecer boa vontade entre Cristo e o mundo. Não devemos imaginar que fomos comissionados para tornar Cristo aceitável aos homens de negócio, à imprensa, ao mundo dos esportes ou à educação moderna. Não somos diplomatas mas profetas, e nossa mensagem não é um acordo mas um ultimato.
Deus oferece vida, embora não se trate de um aperfeiçoamento da velha vida. A vida por Ele oferecida é um resultado da morte. Ela permanece sempre do outro lado da cruz. Quem quiser possuí-la deve passar pelo castigo. É preciso que repudie a si mesmo e concorde com a justa sentença de Deus contra ele.
O que isto significa para o indivíduo, o homem condenado quer encontrar vida em Cristo Jesus? Como esta teologia pode ser traduzida em termos de vida? É muito simples, ele deve arrepender-se e crer. Deve esquecer-se de seus pecados e depois esquecer-se de si mesmo. Ele não deve encobrir nada, defender nada, nem perdoar nada. Não deve procurar fazer acordos com Deus, mas inclinar a cabeça diante do golpe do desagrado severo de Deus e reconhecer que merece a morte.
Feito isto, ele deve contemplar com sincera confiança o salvador ressurreto e receber dEle vida, novo nascimento, purificação e poder. A cruz que terminou a vida terrena de Jesus põe agora um fim no pecador; e o poder que levantou Cristo dentre os mortos agora o levanta para uma nova vida com Cristo.
Para quem quer que deseje fazer objeções a este conceito ou considerá-lo apenas como um aspecto estreito e particular da verdade, quero afirmar que Deus colocou o seu selo de aprovação sobre esta mensagem desde os dias de Paulo até hoje. Quer declarado ou não nessas exatas palavras, este foi o conteúdo de toda pregação que trouxe vida e poder ao mundo através dos séculos. Os místicos, os reformadores, os revivalistas, colocaram aí a sua ênfase, e sinais, prodígios e poderosas operações do Espírito Santo deram testemunho da operação divina.
Ousaremos nós, os herdeiros de tal legado de poder, manipular a verdade? Ousaremos nós com nossos lápis grossos apagar as linhas do desenho ou alterar o padrão que nos foi mostrado no Monte? Que Deus não permita! Vamos pregar a velha cruz e conhecermos o velho poder.
Fonte: O Melhor de A. W. Tozer, Editora Mundo Cristão, pg 151 a 153.

DEUS FALA...


Deus fala quando duas pessoas voltam suas faces uma para a outra em amor, acolhimento, generosidade e cuidado.
Rabino Jonathan Sacks