29/05/2010

O Movimento Puritano

 

Se tivéssemos sido contemporâneos dos Puritanos, o que nos haveria impressionado como suas características marcantes?

O movimento dos Puritanos deve-se entender primeiramente como um MOVIMENTO RELIGIOSO. A interpretação secular do Puritanismo é o produto de uma época irreligiosa e negligência o fato que, mesmo nas suas manifestações política, social e econômica, o Puritanismo expressava uma perspectiva religiosa.

Um Historiador moderno escreve: Quando terminamos nossos esforços para modernizar e secularizar o Puritanismo, este parece um fenômeno obstinadamente religioso”. Tanto nas suas manifestações privadas como públicas, o movimento Puritano foi povoado de pessoas OBCECADAS POR DEUS. A persistente pergunta de John Bunyan, “Como podemos ser salvos?”, era em última análise a questão importante para todo Puritano.

Um general do exército escreveu para Cromwell: “Meu Senhor, permita que o esperar em Deus seja feito mais do que comer, dormir e trocar idéias juntos”.


O Puritanismo também caracterizava-se por um forte consciência moral. Para os Puritanos, a questão do certo ou errado era mais importante do que qualquer outra.. Eles viam a vida como um contínuo conflito entre o bem e o mal. O mundo foi reivindicado por Deus e requerido por Satanás. Não havia campo neutro. Richard Sibbes expressou esta mentalidade de forma típico:

“Há dois grandes lados no mundo, ao qual todos pertencem: há o lado de Deus e aqueles que são seus, e há um outro lado que é de Satanás, e aqueles que são seus; dois reinados, dois lados, duas disposições contrárias, que perseguem uma à outra”.


Os crentes poderiam, com a ajuda de Deus, alcançar a vitória através de meios como vigilância, andar correto e mortificação.

O Puritanismo foi UM MOVIMENTO DE REFORMA. Sua identidade foi determinada por suas tentativas de mudar algo que já existia. No coração do Puritanismo estava a convicção de que as coisas precisavam mudar e que as “atividades normais” não eram uma opção. É difícil exagerar na avaliação do impacto que tal perspectiva produz na vida de uma pessoa. Também explica, incidentalmente, por que os Puritanos no seu tempo adotaram uma posição ofensiva e por que, quando se lê a polêmica literatura de época, os oponente dos Puritanos parecem estar sempre na defensiva.

De todos os termos chaves usados pelos Puritanos, os principais eram REFORMA, REFORMAÇÃO, ou o adjetivo REFORMADO. Estes termos não foram cunhados por historiadores posteriores, mas eram as palavras dos lábios de todos durante a própria era Puritana. Foi uma época em que se incitou os governantes a “reformarem seus países”, o clero e efetuar “a reforma da religião”, e os pais “a reformarem (suas) famílias”. A nível mais pessoal, o impulso Puritano era de “reformar a vida da pecaminosidade e da conduta ímpia”.


O movimento Puritano foi um MOVIMENTO VISIONÁRIO ativado por nada menos do que a visão de uma sociedade reformada. Alguém habilmente resumiu o programa Puritano assim: “A convocação pra uma reforma foi um chamado à ação, primeiro para transformar o indivíduo num instrumento capaz de servir à vontade divina, e depois papa empregar esse instrumento para transformar toda a sociedade”.


O Puritanismo também foi um MOVIMENTO DE PROTESTO, como era o movimento protestante em geral. Repetidas vezes nas páginas que se seguem, as perspectivas puritanas se encaixarão mais claramente se nos conscientizarmos de que os Puritanos protestavam contra atitudes do catolicismo romano e, menos freqüentemente, do anglicanismo. Em assuntos tais como trabalho, sexo, dinheiro, e culto, um bom ponto de partida para começar a entender os Puritanos é verificar aquilo a que eram contrários. Como diz Christopher Hill: “Havia um elemento de protesto social em quase cada atitude Puritana”.


Uma coisa que faz o Puritanismo parecer moderno é a extensão até onde ele era UM MOVIMENTO INTERNACIONAL. Primeiro, muitos líderes originais do movimento gastaram meses e até anos no continente, especialmente durante os tempos de perseguição. Eles absorveram os princípios e a prática de culto das “melhores igrejas reformadas”, frase que usavam para denotar o protestantismos europeu. Além do mais, depois que a migração pra a América tornou-se uma característica do Puritanismo, houve uma contínua integração entre os líderes do movimento dos dois lados do Atlântico. “Por trás dos Puritanos”, escreve M.M. Knappen, “estava a força de um crescente protestantismo internacional”.


O Puritanismo inglês (embora não o Puritanismo americano ) era UM MOVIMENTO DE MINORIA. Embora os Puritanos ingleses tivessem ganho imenso poder dentro da sua sociedade (especialmente no Parlamento ), eles nunca foram uma maioria numérica. O Puritanismo, portanto, revelou algumas das mesmas características que descrevem outras minorias: um forte senso de fidelidade interna e princípios comuns, um sentimento de vulnerabilidade, uma tendência na direção do pensamento bipolar em que o mundo se divide em dois campos: nós e eles. A.G. Dickens considera corretamente o Puritanismo “como uma força mais apropriada para permear do que para dominar o espírito inglês”, enquanto Paul Seaver acha que os Puritanos “prosperaram através do fracasso”.


Na Inglaterra o movimento existiu sem estruturas institucionais estáveis e foi poupado da tendência de seus adeptos de depositarem sua fidelidade nas instituições e não nos ideais.

Os Puritanos não eram apenas uma minoria, MAS UMA MINORIA PERSEGUIDA. Na Inglaterra forma sujeitos à hostilização e perseguição em virtualmente cada estágio da sua história (excetuando-se, é claro, é claro, meados do século XVII, quando se tornaram o partido reinante no governa e na igreja ). Os líderes Puritanos estiveram para dentro e fora da prisão como um espécie de Modus vivendi. Leigos foram arrastados até o tribunal por realizarem encontros religiosos em suas casas. Os Jovens Puritanos que não assinavam o Ato de Uniformidade não se graduavam nas universidades de Oxford e Cambridge. Os ministros que se recusavam a vestir trajes anglicanos ou a apoiar cerimônias anglicana ou ler cultos do Livro de Orações eram removidos de suas posições. A consciência da alienação concedeu aos Puritanos seu melhor arquétipo, o peregrino atravessando um mundo alienado para chegar ao seu verdadeiro país.

Apesar do significativo papel desempenhado pelos pregadores e professores Puritanos, o sucesso do movimento dependeu definitivamente de ser UM MOVIMENTO LEIGO. Como disse um estudioso: “O movimento Puritano foi notável pela sua vigorosa participação leiga””. É verdade que o clero e os professores forneceram a teoria intelectual pra o movimento. Foram eles que equiparam a maioria dos leigos com a força para desafiar as estruturas existentes.

Houve, é claro, abundância de paradoxos na situação; no próprio ato de solapar a hierarquia e o privilégio clerical tradicionais, os pregadores Puritanos atraíram enorme séqüito de partidários leigos e acabavam eles mesmos gozando de um aposição de poder. Seu poder, no entanto, ampliou-se apenas até onde alcançou sua habilidade de influenciar o pensamento da pessoa leiga comum.

O Puritanismo foi UM MOVIMENTO NO QUAL A BÍBLIA ERA CENTRAL EM RELAÇÃO A TUDO. Num certo sentido a primeira questão do movimento Puritano ( como da Reforma em geral ) – foi a questão da autoridade. Os Puritanos resolveram a questão da autoridade ao colocar a Bíblia como autoridade final de crença e prática.

John Owen, sempre considerado como o maior teólogo Puritano, disse que “os protestantes supõem que a Bíblia tenha sido dada por Deus para ser... uma perfeita e completa regra de ...fé”. “Quem, então eram estes Puritanos originais?” – pergunta Derek Wilson, “basicamente foi sua atitude em relação à autoridade da Bíblia que os destacou de outros protestantes ingleses”.


O movimento Puritano foi UM MOVIMENTO ERUDITO. Seu objetivo era a reforma da vida religiosa, nacional e pessoa, e seus adeptos rapidamente sentiram que um dos meios mais eficazes de influenciar sua sociedade era através das escolas. Tanto na Inglaterra como na América; o movimento Puritano este intimamente ligado às universidades.

John Knowles escreveu ao Governador Leverett de Massachusetts que “se morrer a universidade, as igrejas... não viverão muito tempo depois disso”. Uma autoridade moderna fala da “preeminência e continuidade da liderança universitária do movimento Puritano”. Mão surpreende, portanto, que o Puritanismo tenho sido UM MOVIMENTO ALTAMENTE LITERÁRIO que possuía uma “vital voracidade pela articulação”

L. Ryken

fonte:   Mayflower: O Movimento Puritano