29/03/2010

“A arte de amar” – uma lenda sioux

 

Conta uma velha lenda dos índios Sioux, que uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do cacique, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas, até a tenda do velho pagé da tribo...
— Nós nos amamos... e vamos nos casar - disse o jovem. E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã... alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos... que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer?
E o velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:
— Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada... Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte... e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo - continuou o pagé - deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva!
Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada... no dia estabelecido, à frente da tenda do pagé, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.
O velho pediu, que com cuidado as tirassem dos sacos... e viu que eram verdadeiramente formosos exemplares...
— E agora o que faremos? - perguntou o jovem - as matamos e depois bebemos a honra de seu sangue?
— Ou as cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne? - propôs a jovem.
— Não! - disse o pagé - apanhem as aves, e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro... quando as tiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres...
O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros... a águia e o falcão, tentaram voar mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do vôo, as aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar.
E o velho disse: — Jamais esqueçam o que estão vendo... este é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão... se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro... Se quiserem que o amor entre vocês perdure...
Voem juntos... mas jamais amarrados.
O Senhor que nos convida à liberdade de amar te abençoe rica, poderosa e sobrenaturalmente!
(autor desconhecido

fonte:  velha Magra

Há uma Guerra! - D. M. Lloyd-Jones

 

É um perigo pensar que não existe mais guerra nenhuma. Ora, está é uma das maiores causas de confusão. Falam-nos interminavelmente acerca da atmosfera mudada; procuram fazer-nos lembrar como o velho liberalismo, a nova teologia e tudo aquilo a que me estive referindo, foram eliminados uma vez por todas pela Primeira Guerra Mundial; e nos estão fazendo lembrar que vivemos numa era em que a teologia bíblica foi restaurada. Como resultado disso tudo, dizem-nos que, portanto, somos todos um, e que todos devemos andar juntos.

Outro argumento é que a nossa situação é inteiramente nova porque também houve grande mudança na esfera da ciência. Durante mais de cem anos tem havido grande conflito entre a ciência e a religião; mas nos dizem que até isso mudou. Dizem-nos que a teoria mecanicista pós-newtoniana foi rejeitada, destruída por Êinstein em particular, e por outros. Ademais, como as teorias mecanicistas pós-newtonianas foram rejeitadas e em seu lugar temos uma visão dinâmica da realidade como resultado da nova física atômica e do que se chama microfísica, a ciência e a religião se aproximaram muito uma da outra e, portanto, a fé se acha agora numa posição mais vantajosa do que durante muitos séculos. Dizem-nos que o velho antagonismo se foi, e que esta nova e vital visão da realidade mudou a situação toda. Aí está, pois, uma segunda razão sugerida para dizer-se que presentemente não precisamos falar tanto em guerra.

Há, depois, uma terceira razão - e ouvimos falar dela cada vez mais - e é que até a igreja católica romana está mudando. Ali estava algo que nunca mudaria, pensava o povo. Admitia-se que o conflito e a luta entre o protestantismo e o catolicismo romano era algo permanente; quaisquer mudanças que viessem a ocorrer dentro do protestantismo, sempre permaneceria uma diferença fundamental entre a perspectiva católico-romana e a protestante. Dizem-nos, porém, que até isso está mudando agora, que Roma está mudando. Acaso isso não ficou inteiramente óbvio nos aparecimentos do finado papa João nas telas da televisão? Que homem de aparência fina, amável e benevolente; e tudo o que ele dizia era repassado de um tão amoroso espírito cristão! Além disso, dizem, a igreja romana agora está aconselhando e concitando o seu povo a ler a Bíblia. Devemos desistir daquelas antigas idéias de conflito; estamos todos nos tornando um, e aquelas diferenças antigas não existem mais; assim, não devemos falar mais em guerra. Isso, penso que vocês concordarão, é uma crescente massa coletiva de opinião de que já não há mais uma guerra para levar-se avante.

Isso já por si seria matéria mais que suficiente para uma preleção; mas estou tentando oferecer um quadro compreensivo de toda a situação, e terei que contentar-me tão-somente com algumas leves observações a respeito.

A resposta a isso tudo, parece-me, é esta: primeiro temos que examinar essa nova "teologia bíblica" e verificar se ela é verda­deiramente bíblica, ou se é apenas filosofia usando e torcendo cer­tas expressões bíblicas para se ajustarem aos seus caprichos e ao seu pensamento. Temos que encarar toda esta questão quanto àqui­lo que realmente é ensinado por homens célebres, como Karl Barth e Bultmann na Europa, e Tillich na América, para não mencionar os nossos conhecidos amigos da Margem Sul daqui de Londres. Será que a situação mudou realmente? Mal tenho necessidade de dizer que, no que me diz respeito, de qualquer forma, a batalha é dura e feroz como sempre foi, e que mais que nunca somos chamados para combater o velho e bom combate da fé.

A idéia de que o catolicismo romano está mudando é, talvez, a coisa mais sutil e perigosa de todas. Não quero entrar nisso. Por certo todos concordamos em que no seu comportamento externo ele está mudando. Ele fez isso muitas vezes antes. Às vezes lhe convém ser militantemente perseguidor; outras vezes lhe convém ser agradável e insinuante. Se ele puder conquistar-nos para o seu redil sendo bondoso e amável, estará pronto a agir assim. Entretanto, a questão fundamental é: haveria alguma prova de que houve alguma mudança na doutrina fundamental da igreja de Roma?

Tenho pensado que um único livro que foi publicado este ano (1964) deve ser, por si mesmo, suficiente para responder essa pergunta. É um livro intitulado The Problem of Catholicism (O Problema do Catolicismo), escrito por um italiano chamado Subilia, professor no colégio Waldense de Roma. Pois bem, o que é incomumente interessante para mim acerca desse livro é que não foi publicado por uma firma editora evangélica, e sim pela Imprensa do Movimento Estudantil Cristão. Nunca li nada que mostre com maior clareza a diferença entre o catolicismo romano e o protestantismo, ou que estabeleça mais claramente, além de toda dúvida, que não houve mudança em nenhuma doutrina fundamental e que não pode haver tal mudança, do que precisamente esse livro, entreme­ado como vem de citações do finado papa João, do papa atual, de Hans Küng, e de outros proeminentes escritores católicos romanos. E interessante observar que esse livro teve muito pouca publicida­de. Nem sequer foi resenhado por muitos dos semanários religiosos. Aí está um livro, não publicado por evangélicos, que mostra que o velho conflito entre o romanismo e o protestantismo é tão agudo como sempre foi, se não mais. Eis aí, pois, um dos perigos, achar que não existe mais guerra, que já não há combate para se combater.

fonte:   Martyn Lloyd-Jones: Há uma Guerra! - D. M. Lloyd-Jones