06/02/2009

INSATISFAÇÃO

 CrianasdaJOCUM

Recentemente li o seguinte artigo pelo Rev. Gerson Correia de Lacerda, publicado em O Estandarte, revista oficial da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Foi no Editorial do número 118 da revista. Fiquei muito impressionado porque o artigo identifica com precisão um dos mais importantes requisitos do trabalho missionário, facilmente neglenciado. Veja a seguir:

No dia 12 de agosto, comemoramos o 148º aniversário da chegada do Rev. Ashbel Green Simonton ao Brasil. Ele foi o primeiro missionário presbiteriano enviado pela Igreja dos Estados Unidos ao nosso país.

Era bastante jovem. Tinha nascido no dia 20/1/1833. Estava, pois, com apenas 26 anos. Não sabia falar português. Desembarcou no Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar pela semeadura do evangelho em nossa terra.

O Brasil era considerada uma região de risco e de muitas dificuldades para a proclamação do evangelho. A febre amarela ceifava vidas em grande quantidade. Além disso, a Constituição Brasileira daquela época era muito clara. Estabelecia que o Brasil era um país católico apostólico romano. Oficialmente, não era permitida a pregação a qualquer igreja reformada.

Nada disso, porém, impediu o Rev. Simonton de vir e de exercer seu ministério em terras brasileiras. Na verdade, ele não se limitou a isso. Estimulou seu cunhado, que também era pastor, a fazer o mesmo. Foi assim que o Rev. Alexander Latimer Blackford deixou os Estados Unidos para vir iniciar o trabalho presbiteriano em São Paulo, dando origem à comunidade que é a mãe de nossa denominação.

Simonton realizou um trabalho notável, pela graça de Deus, em poucos anos de atuação em terras brasileiras. Organizou a primeira igreja presbiteriana brasileira, no Rio de Janeiro, em 12/1/1862. Foi o responsável pelo primeiro periódico protestante, Imprensa Evangélica, em 5/11/1864, do qual o nosso querido O Estandarte é o legítimo sucessor. Com outros missionários, organizou também o primeiro presbitério, denominado do Rio de Janeiro, com as igrejas do Rio, São Paulo e Brotas, em 16/12/1865.

Sua vida não foi isenta de sofrimentos. Casado com Helen Murdoch, Simonton viu-a falecer nove dias após o nascimento de sua filha, com apenas 30 anos, em decorrência de complicações do parto.

Finalmente, ele mesmo foi chamado à presença do Senhor, antes de completar 35 anos. Tendo viajado a São Paulo, para visitar a filha que estava sendo criada por sua irmã Elizabeth, esposa do Rev. Blackford, seu estado de saúde, que já não era bom, agravou-se. Faleceu no dia 9/12/1867, sendo sepultado no Cemitério dos Protestantes, em São Paulo, SP.

Simonton escreveu um Diário. A última anotação data de 31/12/1866, cerca de um ano antes de seu falecimento. Ela termina com as seguintes palavras: Quem me dera um batismo de fogo que consumisse minhas escórias; quem me dera um coração totalmente de Cristo.

Isso significa que, apesar da grande e importante obra que desenvolveu, ele não se sentia satisfeito consigo mesmo. Apesar de ter deixado sua terra e seus familiares, para viver como missionário em constante risco numa terra estranha, ele não se considerava uma pessoa notável. Apesar de ter consagrado a sua vida à obra da proclamação do evangelho, ele ainda pensava que era pouco e que precisava se dedicar mais ao Senhor Jesus.

A vida de Simonton foi, pois, marcada por uma profunda insatisfação consigo mesmo e com seu trabalho. Era essa insatisfação que fazia com que desejasse fazer mais e melhor, consagrando seu coração totalmente a Cristo.

Será que não é essa insatisfação que está nos faltando? Não parece que estamos acomodados e satisfeitos, após 148 anos da chegada de Simonton ao Brasil?

POR TIM CARRIKER

FONTE: Fé e Missão » Insatisfação

RELATIVISMO, CERTEZA E AGNOSTICISMO EM TEOLOGIA

 

Por: Augustus Nicodemus

 

 

 

 

Tenho sempre me deparado com pastores e teólogos que acreditam que teologia boa é só aquela que está sendo feita agora. Recentemente encontrei mais um desses. Chamou-me de fundamentalista porque acredito que existe teologia certa e teologia errada, e porque incluo na primeira categoria os antigos credos cristãos e as confissões reformadas. Ensinou-me, com aquela pachorra típica de quem é iluminado e se depara com um pobre fundamentalista obscurantista e tapado, que “a teologia é apenas um construto humano, limitado, provisório, subjetivo, que tem que ser feito por cada geração, pois não atende mais as necessidades da próxima”.
Era óbvio que mais uma vez eu estava diante daquela cena hilária em que o relativista declara com toda autoridade e convicção que “não existe verdade absoluta, tudo é relativo”.
Vamos supor, ainda que por um momento, que esses teólogos -- nem sei em que categoria enquadrá-los, pois nem liberais eles são (os liberais de verdade acreditavam em certo e errado) -- estejam certos. Que cada geração entende Deus, a Bíblia e as grandes verdades do cristianismo de uma maneira totalmente diferente de outra geração e de pessoas de outra cultura, a ponto de não podermos adotar suas reflexões teológicas como verdadeiras e válidas para nossa geração. Se levada às últimas consequências, essa perspectiva sobre a teologia criaria uma série de problemas, inclusive para os que a defendem.
1) Vamos começar pelo fato que cada nova geração teria de definir, de novo, o que é o cristianismo. Explico. O cristianismo, enquanto religião, foi definido e os seus limites estabelecidos durante os primeiros séculos depois de Cristo, quando os primeiros cristãos foram confrontados com explicações diferentes, contraditórias e alternativas da mensagem de Jesus e dos apóstolos, como o montanismo, as ideias de Marcião, os gnósticos, os docetistas e os ebionitas, para mencionar alguns.
Os grandes credos ecumênicos da cristandade estabelecidos nas gerações posteriores nos deram de forma sintetizada a doutrina de Cristo, da Trindade, entre outras, adotadas pelo cristianismo histórico até hoje. A seguir o que esse pastor estava me dizendo, teríamos de jogar tudo isso fora e recomeçar, refazer, redefinir o cristianismo a partir da nossa própria situação.
2) A segunda dificuldade é que essa perspectiva acaba pegando mal para seus próprios defensores. Pergunto: o que eles têm descoberto e oferecido mais recentemente que seja novo acerca do ser e das obras de Deus, da pessoa de Cristo e de sua morte e ressurreição? Quando não caem nas antigas heresias, simplesmente repetem o que já foi dito por outros em tempos passados. A “nova perspectiva sobre Paulo” não deixa de ser uma antiga perspectiva sobre o judaísmo. A nova “busca do Jesus histórico” não tem conseguido oferecer nenhuma reconstrução do Jesus da história que esteja em harmonia com o quadro dele que temos nos evangelhos. A teologia relacional não consegue ir adiante do Deus sociniano, que também desconhecia o futuro.
3) A terceira dificuldade é que essa perspectiva realmente acaba com a distinção entre teologia certa e teologia errada e anistia todas as heresias já surgidas na história da Igreja. Vamos tomar, por exemplo, a área de soteriologia, que trata da questão da salvação do homem. A doutrina de que o homem é justificado pela fé somente, sem as obras ou méritos humanos, foi estabelecida cedo na igreja cristã e reafirmada na Reforma Protestante. Depois de tantos séculos, nossos teólogos progressistas (ainda não gosto desse rótulo, vou acabar achando outro) têm algo de novo para nos dizer sobre esse ponto? Os que tentaram, caíram nas antigas heresias soteriológicas já discutidas e refutadas “ad nauseam” pelos pais da igreja e pelos reformadores.

Fonte: Editora Ultimato - formação e informação