23/10/2009

CREDO DA MULHER

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(Rachel C.Wahlberg)
CREIO em Deus, que criou a mulher e o homem a sua imagem, que criou o mundo e recomendou aos dois sexos o cuidado da terra.

CREIO em Jesus, filho de Deus, eleito de Deus, nascido de uma mulher, Maria, que escutava as mulheres e as apreciava; que morava em suas casas e falava com elas sobre o Reino; que tinha mulheres discípulas, que o seguiam e o ajudavam com seus bens.
CREIO em Jesus, que falou de teologia com uma mulher, junto a um poço, e lhe revelou, pela primeira vez, que ele era o Messias, que a motivou a ir e contar as grandes novas na cidade.
CREIO em Jesus, sobre quem uma mulher derramou perfume, em casa de Simão; que repreendeu aos homens convidados que a criticavam.
CREIO em Jesus, que disse que essa mulher seria lembrada pelo que havia feito: servir a Jesus.
CREIO em Jesus, que curou a uma mulher, no sábado, e lhe restabeleceu a saúde porque era um ser humano.
CREIO em Jesus, que comparou Deus com uma mulher que procurava uma moeda perdida, como uma mulher que varria, procurando a sua moeda.
CREIO em Jesus, que considerava a gravidez e o nascimento com veneração, não como um castigo, mas como um acontecimento desgarrador, uma metáfora de transformação, um novo nascer da angústia para a alegria.
CREIO em Jesus, que se comparou a galinha que abriga os seus pintinhos debaixo das suas asas.
CREIO em Jesus, que apareceu primeiro à Maria Madalena, e a enviou a transmitir a assombrosa mensagem "Ide e contai...".
CREIO na universalidade do Salvador, em quem não há judeu nem grego, escravo nem homem livre, homem nem mulher, porque todos somos um na salvação.
CREIO no Espírito Santo, que se move sobre as águas da criação e sobre a terra.
CREIO no Espírito Santo, o espirito feminino de Deus, que nos criou, e nos fez nascer, e qual uma galinha nos cobre com suas asas.

FONTE:   Blog da Pastora Zenilda

A IGREJA DOS DEDOS GORDOS

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Por Josué Adam Lazier
O escritor Rubem Alves, entre tantas histórias que criou para motivar nossa reflexão, inseriu uma bem inusitada: O País dos Dedos Gordos [*]. A história é mais ou menos assim: Trata-se de um Reino onde tudo era alegria. Todos no reino viviam felizes. Ao nascer a princesa, o rei e a rainha tomaram todas as providências para que nada afetasse a vida da criança.
Assim, convidaram para madrinhas e padrinhos todas as fadas e os magos. Eles, como presente de batizado, protegeram a menina por inteiro. A bruxa malvada, sabendo do ocorrido, enviou seus mensageiros, os corvos, para descobrirem alguma brecha no corpo da menina. Tanto procuraram que descobriram que um dos dedos da mão esquerda ficou sem proteção. A bruxa não teve dúvidas: mandou uma praga para o dedo da criança, de tal forma que o dedo engordava enquanto a menina crescia.
A princesa, com esta diferença, não tinha amigos e nem namorados. O rei e a rainha preocupados com isto consultaram todos os conselheiros para saber o que fazer. Um deles disse ao rei: se o dedo da princesa não pode ser igual ao dos outros, faça o dedo dos outros serem iguais ao dedo da princesa. O rei decretou que nos bailes anuais no castelo só entrariam aqueles que tivessem o dedo mais grosso. Assim, começaram a surgir academias de halterofilismo para fazer o dedo engordar, cursos de treinamento, as escolas inseriram no currículo como tornar o dedo mais gordo e assim por diante.
A alegria descontraída deste país acabou, pois agora havia uma nova filosofia de educação. Os anos se passaram e a princesa continuava triste e não encontrava um rapaz para se casar. O rei quis saber por que a princesa disse que preferia o reino como era antes, onde todos eram alegres e felizes, pois agora todos só se preocupavam em ter o dedo mais gordo. Então o rei decretou que todos voltassem à condição anterior.
Esta história nos faz pensar em muitas coisas. Pensar em nós mesmos, em nossas famílias, em nossos grupos de convivência e em nossas igrejas. Ela nos faz pensar que a tentação para termos uma "Igreja-dos-Dedos-Gordos", onde todos devem ser iguais, está presente em nossos dias. Pensando nisto, numa perspectiva reflexiva e meditativa, e tão somente isto, poderíamos elencar algumas possíveis evidências de uma Igreja que caminharia nesta direção. Senão vejamos:
(1) Uma espiritualidade fundamentada no louvor e na intercessão intimista, individualista e escapista, em detrimento de uma espiritualidade equilibrada e vivenciada com a vitalidade e a força do Espírito Santo para a renovação da mente e transformação da vida;
(2) Um crescimento como fim em si mesmo e sem o devido acompanhamento e instrução doutrinária e capacitadora para a vivência dos valores do Evangelho e para o exercício dos diversos ministérios;
(3) Uma ética que virou estética, perfumaria e apetrechos da vaidade humana, sem a preocupação com os valores do Evangelho que orientam os diversos relacionamentos;
(4) Um ministério de corte profissionalizante que gira em torno da pessoa e não das pessoas que são sujeitos e não objetos da ação pastoral;
(5) Um carisma que virou crisma, que criou cisma e que se transformou em fábrica de estereótipos;
(6) Uma deformação do “pelos frutos os conhecereis” para julgamentos precipitados, juízos pré-concebidos e padronização dos frutos e das experiências;
(7) Uma exacerbação do agora, do presente, do já, do possuir, do fazer, do conquistar, em detrimento do kairós de Deus, do tempo oportuno, do já, mas ainda não, do ser que deve caracterizar a vivência missionária e eclesial da Igreja;
(8) Uma perda do sentido da integralidade do ser povo de Deus e não conformação com as exigências da justiça do Seu Reino em função de projetos mesquinhos, populistas e massificantes;
(9) Uma diluição e diminuição da espiritualidade do amor e da ternura por atitudes de intimidação, de massificação e de constrangimentos;
(10) Uma minimização de conceitos e princípios bíblicos e teológicos, tais como obediência, fidelidade, santidade, integridade e pureza, por definições pejorativas e estigmatizadoras;
(11) Uma atitude de desconsideração da herança de fé e das vivências já consolidadas em prol de um "doutrinamento" relativizado e sem fundamentação na doutrina dos apóstolos;
(12) Uma utilização dos diversos níveis de autoridade e de liderança como brinquedo e joguete, onde as pessoas são objetos e não sujeitos;
(13) Uma perda da convivência afetiva, inclusiva, empática e pastoral em prol de uma comunhão forjada, institucional e de forma policialesca;
(14) Uma busca de santificação sem o arrependimento, sem confissão, sem os frutos do arrependimento, sem as evidências da nova vida em Cristo Jesus e sem ruptura com as práticas do “velho homem”;
(15) A valorização e legitimação de movimentos homogêneos que preconizam uma unidade eclesial, nos limites da denominação, sem afetividade e sem respeito para com o pensamento divergente, não refletem, definitivamente, a pertença ao Reino de Deus;
(16) A minimização da presença da Igreja na sociedade através da promoção da auto-ajuda no lugar da reflexão bíblica, teológica e pastoral, do culto destituído de atos de arrependimento, confissão e dedicação a Deus e transformado em shows cultos, ou da falta de ética, do individualismo, da discriminação e da exclusão;
(17) A busca por uma vida em discipulado sem a transformação do caráter humano, sem a disposição para a renúncia e para o “morrer em Cristo”, sem tolerância e solidariedade e sem a intenção de andar como Cristo andou;
(18) Uma educação bancária e, portanto, castradora da capacidade de reflexão, em desobediência ao Plano para a Vida e Missão que preconiza uma educação libertadora, transformadora e capacitadora;
(19) Uma Igreja que anda pelo caminho dos justos, mas que de vez em quando chega às raias da impiedade e da injustiça;
(20) A Missão dissolvida em atos de missionar.
Seriam estes itens, ou outros, ou ainda a tese deste texto evidências de uma Igreja do tipo Reino dos Dedos Gordos? Parece que as pessoas estão numa arquibancada esperando o jogo começar ou aguardando o que vai acontecer durante o jogo. Alguns começaram a partida antes do apito. Outros querem ter o apito em suas mãos, para ditar ar normas e as regras. Mas os que “esperam no Senhor” também esperam que os árbitros não sejam adeptos deste País dos Dedos Gordos e que a partida comece com alegria e esperança do serviço, pois, afinal, somos chamados para sermos servos/as de Deus e da Igreja e fazermos a Sua Vontade e não as que os “dedos gordos” nos intimidam a fazer.

Afinal vivemos na perspectiva do Reino de Deus que está presente e que nos projeta para a vida eterna. Um Reino de paz, de justiça, de fraternidade, de solidariedade, de afetividade, de benevolência, de humanidade, de beleza, de grandeza de coração, de amor e de caridade, mas um Reino que não termina aqui, pois ele se estende para o futuro, futuro na perspectiva de um Deus que ama e que se revela como Pai, Pastor, Educador, Perdoador, Justo Juiz, Poderoso e Sustentador da vida.
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[*] Alves, Rubem. O País dos Dedos Gordos. São Paulo. Edições Loyola. 1986.

Josué Adam Lazier é Bispo Metodista (Fonte: Blog de Luís Wesley)

VIA  Hermes C. Fernandes