08/11/2009

Encontrando Jesus no Bar

 Ou Como Eu Aprendi a Parar de me Preocupar e a Amar Evangelismo
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Heather Kirk-Davidoff
(Tradução: K-fé)

Capítulo 2
An Emergent Manifesto of Hope - Pagitt & Jones (ed)
Baker Books
ISBN 978-0-8010-6807-2

Heather Kirk-Davidoff é Pastora da Comunidade Kittamaqundi (uma igreja independente na tradição da Igreja do Salvador) em Colúmbia, Maryland, EUA. Ela é casada com Dan Kirk-Davidoff, um cientista climatólogo, e juntos são pais de gêmeos de 10 anos e uma filha de 7 anos. Com sua parceira escritora, Nancy WoodkLyczak, Heather é autora de dois livros: Talking Faith [Fé que Fala] (Chalice Press, 2004) e Dare to Dive In: Strategies and Resources for Involving Your Whole Church in Worship [Ouse Mergulhar: Estratégias e Recursos Para Envolver Toda a sua Igreja no Culto] (Abingdon, 2006). Contatos através do site www.kirkwoodassociates.org.

1 Tessalonicenses 2.8 “Nós os amávamos tanto, que gostaríamos de ter dado a vocês não somente a boa notícia que vem de Deus, mas até mesmo a nossa própria vida. Como nós os amávamos!”

Eu comecei a entender o que era “evangelismo relacional” pela primeira vez numa noite quando uma mulher num bar me disse que ela tinha visto Jesus vestido como mendigo disfarçado com roupas de duende.

Eu tinha ido ao bar com uma amiga depois de assistir a uma aula sobre ministérios para a geração nascida nos anos 70. O palestrante terminou com um desafio simples: crie o hábito de conversar com pessoas na sua comunidade que não vão a igreja nenhuma. Não parecia muito um desafio quando ouvimos, especialmente porque nós duas nascemos nos anos 70. Mas ao estar lá no bar, com nossas cervejas ficando quentes nas nossas mãos, nós nos sentimos cada vez mais incômodas. Depois de muita hesitação, eu finalmente me virei para uma mulher de pé perto de mim e disse:

- “Posso deixar meu casaco no chão do seu lado? Estou cansada de carregá-lo.”

E para meu alívio, começou uma conversa.

Falamos sobre seu trabalho, seu namorado, as músicas que gostávamos, e eventualmente sobre o musical Rent, o qual amávamos. Falamos do seu personagem principal, Angel, um sem-teto gay, baterista que passava a maior parte do show vestido como um Papai Noel drag queen. Na metade do show o Angel morre de AIDS, rodeado de um grupo eclético de amigos. “O que é impressionante para mim”, disse a mulher, “é quanto poder tem o amor do Angel nas vidas dos outros personagens na peça. E o seu amor não pára de influenciá-los mesmo depois que ele morre. É como se... É como se ele se aperfeiçoasse na sua morte.”

Me dei conta de repente que nós não estávamos só batendo um papo.

- “Sabe, algumas pessoas dizem que o Angel é um personagem de Cristo.”, disse eu prontamente.

- “O que é que você acha?”

- “Eu não sei” – disse ela. “Só acho que eu me sinto muito mais perto do Angel que de Jesus.”

Eu fiquei espantada. Eu pensei que eu tinha ido ao bar naquela noite para encontrar pessoas que talvez precisassem de alguma coisa que eu pudesse oferecer – um ouvido compreensivo, um convite para vir ao culto na minha igreja, ou mesmo um testemunho sobre quem Jesus era e o que seu amor queria dizer para suas vidas. Eu não esperava ser eu a pessoa que fosse receber um convite para conhecer Jesus melhor e seguí-lo mais corajosamente. Para minha surpresa, e para meu deleite, foi isso o que aconteceu.

Eu fiquei viciada. Ir ao bar uma ou duas vezes por semana e conversar com pessoas que eu não conhecia virou uma prática minha regular. Fiquei perplexa com a facilidade de falar sobre assuntos “espirituais”. As pessoas me falaram sobre suas esperanças e medos, seus relacionamentos e seus conflitos de identidade. Era difícil explicar para a minha congregação (ou para a minha família) o que eu estava fazendo, então eu comecei a convidar as pessoas para vir comigo. Eu parei de ficar pensando como atrair jovens para a minha igreja e comecei a focalizar em como fazer minha congregação sair do seu templo e como inserí-la em relacionamentos com o mundo fora das suas portas.

Resumindo, me tornei algo que nunca sonhei ser: uma evangelista. Eu não era motivada por um desejo de salvar as pessoas das garras do inferno, e não era motivada por um desejo de fazer crescer a minha igreja. Eu era motivada pelo desejo de me relacionar com pessoas que eram diferentes de mim de várias maneiras. Eu queria esses relacionamentos porque eles me ajudavam a entender melhor o que Jesus estava fazendo no mundo e como eu poderia segui-lo, mesmo com ele me conduzindo para fora da igreja e para dentro do bar.

Seres Humanos ou Marketeiros?

Como seria o evangelismo se fizéssemos como Brian McLaren propõe no seu livro “More Ready than You Realize” e “contássemos conversas em vez de conversões”? Evangelismo relacional não é só uma mudança de tática. É uma mudança na razão de evangelizar, mudando o foco de recrutar para o cultivo de relacionamentos que são um fim em si mesmos, indispensáveis para a nossa caminhada espiritual.

Na minha experiência de conversa sobre a igreja emergente, o problema de evangelismo ficou freqüentemente relegado à periferia. Quando comecei a ir a convenções da Emergent, eu sabia muito bem que eu era de um grupo pequeno de cristãos liberais em um mar de cristãos evangélicos. Fiquei muito animada (um pouco além dos limites) por poder finalmente conversar com cristãos que realmente queriam estender a mão à comunidade e não só esperar as pessoas aparecerem nas suas igrejas como nós geralmente fazemos. Cada vez que eu encontrei um pastor de uma igreja emergente, eu perguntei sobre a maneira que evangelizavam. Fiquei surpresa em descobrir quão pouco eles tinham a dizer sobre o assunto. Alguns pastores que eu conheci e que admirava me garantiram que eles não faziam nenhum evangelismo intencional. Eles botavam todos os seus esforços na construção das suas comunidades – desenvolvendo relacionamentos com as pessoas nas suas igrejas e com seus vizinhos – e eles achavam que as suas igrejas cresciam sem precisar tentar nada.

Tive que rir. Finalmente eu estava falando com pessoas com as quais eu me identificava como evangélicos, e eles soavam ainda mais cautelosos com evangelismo que meus amigos liberais. Logo me dei conta de que, como eu, muitos dos líderes que conheci através do Emergent vieram de contextos onde práticas evangelísticas que lhes foram ensinadas não funcionavam mais porque eram fundamentadas em suposições que não se encaixavam mais nos seus contextos atuais.

Como uma pastora tradicional eu trouxe comigo algumas suposições que herdei da tradição na qual fui formada. O trabalho de evangelismo que eu tinha sido ensinada a fazer focalizava em atrair visitantes para a minha igreja com convites, programas e propagandas, e depois fazer um acompanhamento com visitas, incentivando-os a tornarem-se membros, serem dizimistas, e participarem de alguma comissão. Por trás desse trabalho havia uma suposição de que membresia numa igreja era o que as pessoas na minha comunidade realmente queriam e precisavam. Meu dever era recrutá-los para a igreja a qual estivesse liderando.

Meus colegas evangélicos também foram treinados para recrutar, mas de forma diferente. Evangelismo, da forma que foram ensinados, está baseado na suposição de que as pessoas estão (ou podem facilmente serem levadas a crer que estão) profundamente ansiosas com seus destinos após a morte. O Cristianismo oferece uma solução para esta ansiedade porque no momento em que a pessoa toma uma decisão de aceitar o sacrifício expiatório de Jesus na cruz, seu destino eterno muda da condenação para a alegria. Como descreve Dallas Willard no “The Divine Conspiracy”, quando os crentes pensam só em recrutar, o cultivo contínuo de relacionamentos e hábitos nesta vida torna-se quase que irrelevante.

Mesmo que tenhamos um histórico cristão liberal ou cristão conservador, evangelismo tem mais freqüentemente focalizado em recrutar. Ao conversar sobre evangelismo com outros líderes de igrejas emergentes, fiquei impressionada com como nossos caminhos diferentes nos trouxeram à mesma conclusão: recrutar mata relacionamentos. Mesmo que sua teologia seja excelente, mesmo que a sua igreja seja maravilhosa, mesmo que sua comunidade seja o melhor grupo de pessoas na Terra toda, assim que você se dirige a alguém com a intenção de recrutá-lo para a sua teologia ou igreja ou comunidade, você se torna um marketeiro e a outra pessoa vira o alvo do seu marketing. Enquanto a geração dos anos 70 teve uma gama de experiências com religião ou igreja ou comunidade, nós compartilhamos a experiência de sermos alvos de marketing desde o tempo em que assistíamos a desenhos na televisão com produtos atrelados. A gente consegue farejar um esquema de vendas a quilômetros de distância, e nós nunca confundimos isso com uma oportunidade de relacionamento genuíno.

O filme “The Big Kahuna” de 1999 demonstrou esse argumento de forma brilhante. Ao responder a um colega que transformou uma conversa de vendas em uma oportunidade para testemunhar a sua fé cristã, um dos personagens diz: “Não importa se você estiver vendendo Jesus, ou Buda ou direitos civis ou “Como Ganhar Dinheiro no Mercado Imobiliário Sem Capital Inicial”. Porque no momento em que você põe as mãos na conversa para controlá-la, ela deixa de ser uma conversa e vira uma venda. E você deixa de ser um ser humano e vira um marketeiro.”

Ame Deus, Ame o Seu Próximo – Ao Mesmo Tempo

Apesar das nossas grandes diferenças de evangelismo, o que me liga com várias pessoas que conheci através do Emergent que vieram de uma herança conservadora é que no final das contas nós não queremos ser marketeiros, mesmo se estivermos fazendo marketing de um Salvador maravilhoso ou de membresia na comunidade mais legal que se possa imaginar. Nós queremos ser seres humanos. Por isso, estamos dispostos a abrir mão do que for que seja que tenhamos aprendido sobre como fazer uma igreja crescer ou disseminar o evangelho.

Mas nós não desistiremos de relacionamentos. Queremos ser amados, ser conhecidos e compreendidos. Mais que isso, queremos conhecer outras pessoas, crescer no mesmo amor e conhecimento delas. No contexto em que moro e trabalho – urbano e transitório – este desejo por relacionamentos é uma coisa que as pessoas falam o tempo todo. E não é o mesmo que querer passar mais tempo com amigos (embora as pessoas sintam isso também). Existe um verdadeiro desejo de construir relacionamentos com pessoas que não conhecemos ainda, incluindo pessoas que são diferentes de nós. No meu bairro, não só as pessoas podem comer pratos de dezenas de culturas diferentes, como podem pegar ônibus ou jogar futebol ou ir a um concerto com outras pessoas que vêm de dezenas de países diferentes.

A grande maioria dos meus amigos tem curiosidade sobre as vidas, os pensamentos, e sonhos de outros. Eles estimam as oportunidades que têm de conhecer novas pessoas, especialmente quando essas pessoas são diferentes deles, e quando sentem que essas oportunidades são muito poucas e esparsas.

Se levássemos essas experiências a sério, logo nos daríamos conta de que desenvolver e manter relacionamentos é talvez a principal disciplina espiritual de muitos adultos de 20 ou 30 anos (e várias vezes mais velhos). Mesmo que nós também oremos e leiamos a Bíblia regularmente, mesmo que cantemos com monges ou façamos ioga ou vamos a um retiro, nossos relacionamentos com outros nos dão a maior percepção sobre quem Deus é e aonde Deus está nos guiando. Note o assunto pelo qual você tem orado, ou veja as formas criativas que inventamos de construir uns com os outros na Internet ou por telefone ou em grupinhos no fundo do bar comunidades que oram. Note como lemos a Bíblia, e veja como nossos estudos ganham vida quando nós os ligamos com problemas e preocupações das nossas próprias comunidades. Mesmo no monastério, na aula de ioga, ou no retiro, estamos procurando nos ligar não só com Deus mas também com outros que estão numa caminhada espiritual, com quem nós talvez construamos um relacionamento.

No cerne de toda essa fome e sede de relacionamentos está uma compreensão que de alguma forma tanto cristãos liberais quanto conservadores que recrutam parecem ter esquecido. Quando pressionado a identificar o maior mandamento, Jesus listou dois: ame o Senhor seu Deus, e ame o seu próximo como a si mesmo. Nós temos a tendência de separar esses mandamentos. Tornamos distintos e várias vezes até seqüencial. Resolva seu relacionamento com Deus, e aí então seus relacionamentos com as pessoas se organizarão. Mas Jesus pôs esses mandamentos juntos e disse que eram semelhantes. Ele entendeu algo que nossas igrejas têm freqüentemente esquecido: nós crescemos no nosso relacionamento com Deus e uns com os outros simultaneamente. E é várias vezes aprendendo a amar uns aos outros que nós nos achamos abertos para Deus de maneiras novas e mais profundas.

Relacionamentos Que Alimentam a Alma

E se as nossas igrejas levassem a sério a prática de construir relacionamentos? E se nós não somente cultivássemos comunhão cristã através do louvor e grupos de células mas também considerássemos alta prioridade construir relacionamentos com pessoas que não fazem parte da nossa igreja, mesmo pessoas que são diferentes de nós? Bem diferente de se tornarem irrelevantes, as igrejas se tornariam centros de treinamento essenciais em tipo completamente novo de Cristãos que quereria crescer no conhecimento dessa caminhada espiritual.

Como as igrejas podem contribuir para essa prática? Em primeiro lugar, elas podem se tornar lugares onde as pessoas aprendem como um relacionamento que alimenta a alma realmente é. Nem todos os relacionamentos são positivos, e na nossa fome de nos tornarmos conhecidos nós às vezes esquecemos o que é estabelecer limites saudáveis uns com os outros. Em grandes grupos ou pequenos grupos, através do ensino explícito e de modelos implícitos, as igrejas podem fornecer oportunidades para as pessoas aprenderem sobre relacionamentos edificados sobre igualdade e respeito mútuo, onde ambas as partes estejam dispostas a escutar bem como falar, receber bem como dar.

Quando uma rede de relacionamentos respeitosos existir, igrejas podem se tornar lugares onde as pessoas aprendem a compartilhar sua fé com sinceridade e integridade de uma forma que não manipula o relacionamento como se fosse uma chance de recrutar. Esse jeito de compartilhar a fé é fácil para algumas pessoas, mas muitos de nós não sabem por onde começar. Tivemos tantas experiências negativas com evangelismo e evangelistas que pensamos duas vezes antes de começarmos a falar com qualquer um sobre ser crente. Preferimos ficar em silêncio a arriscar danificar nossos relacionamentos porque nossos amigos ou conhecidos podem nos confundir com aqueles que recrutam, a quem tanto desgostamos. Gostaríamos de ver isso sendo feito, e bem feito, antes que corramos nós mesmos o risco.

Várias igrejas emergentes estão fazendo esse tipo de modelo, no meio do próprio culto. Elas querem se certificar que a linguagem usada no culto soa como linguagem que podemos usar nas conversas do dia-a-dia. Elas ligam a história bíblica com as histórias das quais falamos durante a semana – as histórias dos nossos jornais, nossos filmes preferidos e programas de televisão, e nossas vidas. Na congregação que eu ministro, nós freqüentemente cultuamos sentados ao redor de pequenas mesas com seis ou sete outras pessoas. Em várias horas no culto, cada grupo de mesas pode conversar junto sobre a Bíblia, orar junto, ou mesmo servir a ceia uns aos outros. Eu adoro essa prática porque é tão parecida com outros momentos nos quais nos vemos durante a semana: ao redor da mesa de jantar com as nossas famílias, almoçando fora com colegas de trabalho, ou mesmo sentados ao lado de um estranho num balcão de almoço, ou num banco de praça, ou num avião.

Se praticarmos a construção de relacionamentos na igreja e pudermos compartilhar nossa fé respeitosamente e sem constrangimento, é bem provável que consigamos compartilhar nossa fé fora da igreja também. Mas nós não vamos compartilhar só o que outros nos dizem que devemos crer. Nós iremos compartilhar nossos próprios compromissos, mesmo quando eles não se encaixam na “visão da cúpula”. Nós compartilharemos nossas dúvidas bem como as coisas que achamos engraçadas e peculiares. E compartilharemos nossa curiosidade sobre crenças e compromissos, práticas e experiências dos outros, mesmo os que são diferentes de nós. Ao fazermos isso, não só traremos Jesus ao mundo, mas é bem provável que o encontraremos vindo a nós dos becos, do deserto, onde não devemos nunca nos surpreender em achá-lo.

Capítulo 2
An Emergent Manifesto of Hope - Pagitt & Jones (ed)
Baker Books
ISBN 978-0-8010-6807-2

Fonte: ustavo K-fé Frederico: Encontrando Jesus no Bar

Igreja, mundo e missão

 

Thiago Azevedo
Eu entendo os que não tem fé em nada, justamente porque eles não conseguem perceber qual lado aponta para o lugar certo, pois todos procuram apontar pra algum lugar, entretanto não acertam em lugar nenhum. O que quero dizer com isso? Dentro de meu mais novo ateísmo, não o de Cristo, mas o da institucionalização do Cristo vejo que todos querem demonstrar que possuem o melhor Cristo, pintam-no de todos os jeitos e formas, porém, qual deles é o melhor?
No evangelho de João Ele mesmo diz que é o caminho, a verdade e a vida, somente Ele e nada mais, e o que significa Cristo ser esse caminho? Existe um velho ditado que todos os caminhos levam a Deus, mas pelo que percebo todos os caminhos não levam a lugar nenhum, porque se formos estudar atentamente o que cada um afirma, pelo menos em termos de cristianismo, que dentre as religiões do mundo é a única que luta e guerreia para conseguir adeptos e dentro das facções cristãs, lutam para ver quem tem mais adeptos e para tal, não medem esforços para consegui-los.
Com isso, vemos uma salada mista de mensagens, mas que em nenhum aspecto tem semelhança, porque cada uma enfatiza diferentemente um aspecto do Cristo, seja para fugir correndo do inferno, seja para conseguir ficar rico sem esforço, tudo mais do mesmo, mas o que me intriga com tudo isso é: Qual a verdadeira centralidade do cristianismo? Não digo do Cristo, pois nos evangelhos isso fica mais claro que a luz do sol, apesar dos cristãos fingirem não ver, mas está lá do início ao fim.
Essa pergunta me ecoa a cabeça toda vez que penso e leio os textos sagrados. Será que essa fé que defendemos ter, que é baseada num órgão administrativo e estruturado como a igreja é realmente aquilo que Cristo esperava de nós? Qual o verdadeiro caminho que o Cristo queria nos apontar?
Se formos ver os discursos que temos em nossas igrejas, vemos de tudo: “Não pequem... Deixem o pecado... Vivam uma vida de acordo com o que Deus quer...” e por aí se alonga o discurso, mas quando vemos na prática o que isso representa, não é pautado no que lemos, pois vemos uma luta incessante contra um pecado moral individualista, e não moral coletivo.
Entretanto quando percorro os evangelhos, vejo Jesus nos encaminhando para uma vida em corpo, em conjunto, ou seja, comunidade, mas não uma comunidade isolada, porém plena, completa com todos os homens, se assim não fosse, ele não teria dito para termos paz com todos, inclusive nossos inimigos, talvez e principalmente eles.
As bem-aventuranças não nos mostram como deveríamos ser para evangelizarmos o mundo, mas para sermos melhores uns com os outros, para eliminarmos de nossos vocabulários a palavra “inimigo”. Na mente de Cristo isso não deveria haver, porque essa palavra ocasionou tudo de ruim que poderia existir no mundo, as guerras, conflitos, politicagens e egoísmo.
Hoje, para mim, isso significa ser um pobre em espírito, desprovido de toda a arrogância e de me achar melhor que todos, para ser considerado opróbrio de todos, servo de todos, ora, o servo não tem inimigos, apenas está para servir, seja quem for. Mas ainda fica a pergunta: Qual o verdadeiro caminho que o Cristo queria nos apontar?
Já temos mais de 2000 anos e ainda não conseguimos chegar a esse consenso, o cristianismo se divide em escala exponencial, mas não consegue definir para si qual a sua verdadeira missão na terra. Podem discordar dizendo que nossa missão é ir por todo mundo e pregar essa mensagem, mas de que forma? Nossa missão é simplesmente fazer adeptos de uma religião que tem Cristo como centro? Ou conscientizar as pessoas da vida do Cristo e que essa vida nos aponta para um caminho da paz com todos? O que passa na nossa cabeça quando falamos de Cristo para as pessoas?
Tudo não passa de repetição, vejo um movimento que não tem espontaneidade, tudo é fruto de processo repetitivo para assimilarmos que tudo deve ser assim e quando alguém resolve sair do chapéu do mágico (parafraseando o Mundo de Sofia), ou somos empurrados para fora do chapéu, ou puxados para dentro e silenciados. Não quero pensar que Deus nos deu a insólita missão de transformar o mundo todo em cristão, pois se assim for, estamos perto de concluir nossa missão, se é que já não a concluímos. Porém, se nossa missão for muito mais que isso? Já chegaram a pensar nessa possibilidade?
Se nossa missão for resgatar a imagem de Deus na humanidade através do exemplo de Cristo? Imagem essa que nos direciona para o mais belo e significativo mandamento, que nos amemos uns aos outros assim como Cristo nos amou. Nesse sentido a missão se amplia de tal forma que transcende a simples e superficial missão de conquistar território através da nomenclatura cristã.
Resgatar essa imagem de Deus em nós é um caminho árduo e estreito, que está relacionada em negar a si mesmo todos os dias, ou seja, se negar em função do próximo, seja ele quem for. Esso é o caminho trilhado pelo Bom Samaritano, que negou a sua razão de não ajudar um inimigo, para buscar o seu bem estar e o do próximo, com isso se destituiu de seu preconceito para trilhar o caminho da paz.
Creio que não entendemos a missão direito, porque os cristãos já foram responsáveis pelas maiores atrocidades já realizadas em nome de Deus, o Bush que é metodista, foi responsável pela chacina no Afeganistão, podem dizer que é seu direito de resposta, entretanto, o direito de resposta que um cristão autêntico deve dar é o amor, a compreensão e a paz, não via guerra, mas por meio da cooperação.
Se Jesus nos deixou a paz, não como o mundo a dá, por que ainda vivemos em guerra? Por que viver de acordo com Hebreus 4, nos empenhando para entrar no descanso de Deus não é possível?
Se estiver dizendo asneiras, respondam essas perguntas. Se nossa missão for simplesmente fazer o nome de Jesus conhecido, beleza, vamos continuar nossa simplória vida cristã e esperar pelo céu, porém se nossa missão for fazer o Reino de Deus possível na terra através do exemplo deixado pelo Cristo, estamos indo na direção errada, pois esse é o caminho estreito, difícil de se trilhar e que nós não queremos, pois envolve sacrifício, disciplina e discipulado. Nesse caminho da paz, não há espaço para discensões e pré-conceitos, nele o menor é incluído, justamente porque não há mais castas sociais.
O mendigo é tão importante quanto o empresário e este está disposto a fazer com que este mendigo também usufrua de uma vida melhor, dando-lhe oportunidade de também refazer sua vida, não estou dizendo assistencialismo social, que dá comida e continua deixando ele definhando à própria sorte, mas ensinando-lhe a resgatar aquilo que lhe roubaram, sua dignidade. Esse é o reino de Deus, a restituição da dignidade humana, equidade para todos. Isso que quer dizer amar a todos assim como Cristo nos amou, quando este Cristo se envergou em direção a humanidade marginalizada e destruída por sua própria mão para lhe dar a oportunidade de se sentirem assistidas pelo próprio Deus, não há doutrina, não há ortodoxia, apenas amor de Deus para todos.
Estamos em busca de conhecer a Deus, nos empenhamos a isso, mas nunca conseguimos chegar a esse conhecimento e creio que nunca chegaremos, não dessa forma, porém o verdadeiro conhecimento de Deus está quando paro de tentar entende-lo para começar a vivê-lo com intensidade em minha alma e deixo que seu amor seja meu estilo de vida, e o que quer dizer isso? Não há outra resposta, o amor de Deus só pode ser pleno, quando amo meu próximo, quando meu culto a Deus está em servir meu próximo, quando ajudo meu irmão menor a se levantar e caminhar lado a lado comigo e digo irmão não no sentido de pertença a uma mesma comunidade, irmão no sentido lato da coisa, irmão humano.
Como diz no evangelho, se vocês ajudam e amam somente aqueles que fazem parte do mesmo grupo e que lhe amam, que graça tereis, o mundo não faz isso? Porém, quando vocês servem aqueles que não tem conhecimento desta graça, são desconhecidos de vocês, passam despercebidos aos seus olhos e corações, vocês serão agraciados com a maior das bênçãos que Deus pode dar, a paz.
Isso me remete a oração atribuída a São Francisco de Assis, que diz que é mais amar que ser amado, mais consolar que ser consolado, mais servir que ser servido. Neste mundo de senhores, neste cristianismo de príncipes, filhos do dono do mundo, deixamos a maior marca que Cristo deixou para nós, a de servos humildes, cordeiros e ovelhas. Servimos a nomes, igrejas, seguimos nomes, líderes de empunhadura, que tem know how no mercado, não aqueles que realmente precisam de nós, dos menores, do pobre, da prostituta, do mendigo, do deficiente, do velho, do negro, da mulher, ou seja, de toda a raça de discriminados e marginalizados de nossa sociedade, justamente porque é um caminho estreito demais para ser seguido.
Ser sal e luz hoje significa apenas trazer pessoas para nossos grupos sociais e isto está mais para trazer pessoas que simpatizam conosco, amigos, parentes e ainda dizemos que é difícil, justamente porque nos armamos com o texto que diz que o profeta não tem crédito em sua própria casa. Não estou dizendo para não proclamar essa mensagem para os nossos, mas creio que essa mensagem de amor teria mais impacto e seria mais significativa, se o caminho que deveríamos percorrer fosse o do amor incondicional a todos os homens e mulheres de nosso mundo.
Ora a árvore faz sombra e dá fruto para todos, independente de quem seja, até mesmo para o lenhador que irá lhe tirar a vida, imagina nós cristãos que somos humanos e mais do que as árvores. Se elas servem a todos, muito mais nós deveríamos servir a toda a humanidade e não a um gueto de refugiados do mundo.
Jesus nos mandou ao mundo, nos direcionou a ele e pediu ao Pai que nos livrasse do mal, então, o que estamos fazendo escondidos dele?
O medo que temos de tudo, fez de nós covardes para assumirmos essa missão, é melhor reinterpretá-la e deixar que os missionários vivam esse princípio e nós sermos isentos, vamos apenas arrecadar dinheiro e sustentá-los, é mais fácil. Fazemos campanhas de missões e dizemos que somos uma instituição missionária, mas só o seremos quando todos, incondicionalmente, assumirem o espírito missionário de ser boas novas do Cristo e contagiar a todos com esse amor e levá-lo a quem quer que seja, principalmente para aqueles que estão mais distantes de nossos corações.
Só assim teremos um cristianismo à imagem de Deus, à imagem de Cristo.
Que Deus nos abençoe.

FONTE: escanso da Alma: Igreja, mundo e missão

Estudos grátis da Igreja Batista de Água Branca

 

Guias de Estudo para Pequenos Grupos

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Discipulado Básico
01 - Comunidade da Cruz
02 - Comunidade da Vida
03 - Comunidade do Amor
04 - Comunidade do Carisma
05 - Comunidade do Reino
06 - Comunidade da Visão
Stressbusters
Introdução - Stressbusters
01 - Stressbusters
02 - Stressbusters
03 - Stressbusters
04 - Stressbusters
05 - Stressbusters
06 - Stressbusters
07 - Stressbusters
Stress e Espiritualidade
01 - Stress e Espiritualidade
02 - Stress e Espiritualidade
03 - Stress e Espiritualidade
04 - Stress e Espiritualidade
Jesus no Evangelho de João
Introdução - Jesus no Evangelho de João
01 - Jesus no Evangelho de João
02 - Jesus no Evangelho de João
03 - Jesus no Evangelho de João
04 - Jesus no Evangelho de João
05 - Jesus no Evangelho de João
06 - Jesus no Evangelho de João
07 - Jesus no Evangelho de João
Carta de Paulo aos Efésios
Introdução - Carta de Paulo aos Efésios
01 - Carta de Paulo aos Efésios
02 - Carta de Paulo aos Efésios
03 - Carta de Paulo aos Efésios
04 - Carta de Paulo aos Efésios
05 - Carta de Paulo aos Efésios
06 - Carta de Paulo aos Efésios
A Epístola aos Romanos
01 - A Epístola aos Romanos
02 - A Epístola aos Romanos
03 - A Epístola aos Romanos
04 - A Epístola aos Romanos
05 - A Epístola aos Romanos
06 - A Epístola aos Romanos
07 - A Epístola aos Romanos
08 - A Epístola aos Romanos
09 - A Epístola aos Romanos
10 - A Epístola aos Romanos
11 - A Epístola aos Romanos
12 - A Epístola aos Romanos
13 - A Epístola aos Romanos
Perdão e Comunidade
01 - Perdão e Comunidade
02 - Perdão e Comunidade
03 - Perdão e Comunidade
04 - Perdão e Comunidade
As Parábolas de Jesus
01 - A Parábola da Rede
02 - As Parábolas do Tesouro e da Pérola
03 - A Parábola dos Filhos Perdidos - Parte 3
04 - A Parábola dos Filhos Perdidos - Parte 4
05 - A Parábola dos Filhos Perdidos - Parte 5
Perdão
01 - Perdão - O perdão presume afastamento
02 - Perdão - Perdão é transferência de culpa
03 - Perdão - Perdão envolve sacrifício
04 - Perdão - O que significa pedir perdão
05 - Perdão - O perdão que purifica a consciência
A Oração do Pai Nosso
01 - A Oração do Pai Nosso - Abba Pai
02 - A Oração do Pai Nosso - Nosso Pai
03 - A Oração do Pai Nosso - Abba Nosso que estás nos céus
04 - A Oração do Pai Nosso - Santificado seja Teu nome
05 - A Oração do Pai Nosso - Venha o Teu reino
06 - A Oração do Pai Nosso - Seja feita a Tua vontade
07 - A Oração do Pai Nosso - O Pão Nosso
08 - A Oração do Pai Nosso - Perdoa as nossas dívidas
09 - A Oração do Pai Nosso - Livra-nos do maligno
10 - A Oração do Pai Nosso - Teu é o reino, o poder e a glória
A Graça de Deus
A Graça de Deus
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FONTE:         Igreja Batista de Água Branca