08/11/2009

Igreja, mundo e missão

 

Thiago Azevedo
Eu entendo os que não tem fé em nada, justamente porque eles não conseguem perceber qual lado aponta para o lugar certo, pois todos procuram apontar pra algum lugar, entretanto não acertam em lugar nenhum. O que quero dizer com isso? Dentro de meu mais novo ateísmo, não o de Cristo, mas o da institucionalização do Cristo vejo que todos querem demonstrar que possuem o melhor Cristo, pintam-no de todos os jeitos e formas, porém, qual deles é o melhor?
No evangelho de João Ele mesmo diz que é o caminho, a verdade e a vida, somente Ele e nada mais, e o que significa Cristo ser esse caminho? Existe um velho ditado que todos os caminhos levam a Deus, mas pelo que percebo todos os caminhos não levam a lugar nenhum, porque se formos estudar atentamente o que cada um afirma, pelo menos em termos de cristianismo, que dentre as religiões do mundo é a única que luta e guerreia para conseguir adeptos e dentro das facções cristãs, lutam para ver quem tem mais adeptos e para tal, não medem esforços para consegui-los.
Com isso, vemos uma salada mista de mensagens, mas que em nenhum aspecto tem semelhança, porque cada uma enfatiza diferentemente um aspecto do Cristo, seja para fugir correndo do inferno, seja para conseguir ficar rico sem esforço, tudo mais do mesmo, mas o que me intriga com tudo isso é: Qual a verdadeira centralidade do cristianismo? Não digo do Cristo, pois nos evangelhos isso fica mais claro que a luz do sol, apesar dos cristãos fingirem não ver, mas está lá do início ao fim.
Essa pergunta me ecoa a cabeça toda vez que penso e leio os textos sagrados. Será que essa fé que defendemos ter, que é baseada num órgão administrativo e estruturado como a igreja é realmente aquilo que Cristo esperava de nós? Qual o verdadeiro caminho que o Cristo queria nos apontar?
Se formos ver os discursos que temos em nossas igrejas, vemos de tudo: “Não pequem... Deixem o pecado... Vivam uma vida de acordo com o que Deus quer...” e por aí se alonga o discurso, mas quando vemos na prática o que isso representa, não é pautado no que lemos, pois vemos uma luta incessante contra um pecado moral individualista, e não moral coletivo.
Entretanto quando percorro os evangelhos, vejo Jesus nos encaminhando para uma vida em corpo, em conjunto, ou seja, comunidade, mas não uma comunidade isolada, porém plena, completa com todos os homens, se assim não fosse, ele não teria dito para termos paz com todos, inclusive nossos inimigos, talvez e principalmente eles.
As bem-aventuranças não nos mostram como deveríamos ser para evangelizarmos o mundo, mas para sermos melhores uns com os outros, para eliminarmos de nossos vocabulários a palavra “inimigo”. Na mente de Cristo isso não deveria haver, porque essa palavra ocasionou tudo de ruim que poderia existir no mundo, as guerras, conflitos, politicagens e egoísmo.
Hoje, para mim, isso significa ser um pobre em espírito, desprovido de toda a arrogância e de me achar melhor que todos, para ser considerado opróbrio de todos, servo de todos, ora, o servo não tem inimigos, apenas está para servir, seja quem for. Mas ainda fica a pergunta: Qual o verdadeiro caminho que o Cristo queria nos apontar?
Já temos mais de 2000 anos e ainda não conseguimos chegar a esse consenso, o cristianismo se divide em escala exponencial, mas não consegue definir para si qual a sua verdadeira missão na terra. Podem discordar dizendo que nossa missão é ir por todo mundo e pregar essa mensagem, mas de que forma? Nossa missão é simplesmente fazer adeptos de uma religião que tem Cristo como centro? Ou conscientizar as pessoas da vida do Cristo e que essa vida nos aponta para um caminho da paz com todos? O que passa na nossa cabeça quando falamos de Cristo para as pessoas?
Tudo não passa de repetição, vejo um movimento que não tem espontaneidade, tudo é fruto de processo repetitivo para assimilarmos que tudo deve ser assim e quando alguém resolve sair do chapéu do mágico (parafraseando o Mundo de Sofia), ou somos empurrados para fora do chapéu, ou puxados para dentro e silenciados. Não quero pensar que Deus nos deu a insólita missão de transformar o mundo todo em cristão, pois se assim for, estamos perto de concluir nossa missão, se é que já não a concluímos. Porém, se nossa missão for muito mais que isso? Já chegaram a pensar nessa possibilidade?
Se nossa missão for resgatar a imagem de Deus na humanidade através do exemplo de Cristo? Imagem essa que nos direciona para o mais belo e significativo mandamento, que nos amemos uns aos outros assim como Cristo nos amou. Nesse sentido a missão se amplia de tal forma que transcende a simples e superficial missão de conquistar território através da nomenclatura cristã.
Resgatar essa imagem de Deus em nós é um caminho árduo e estreito, que está relacionada em negar a si mesmo todos os dias, ou seja, se negar em função do próximo, seja ele quem for. Esso é o caminho trilhado pelo Bom Samaritano, que negou a sua razão de não ajudar um inimigo, para buscar o seu bem estar e o do próximo, com isso se destituiu de seu preconceito para trilhar o caminho da paz.
Creio que não entendemos a missão direito, porque os cristãos já foram responsáveis pelas maiores atrocidades já realizadas em nome de Deus, o Bush que é metodista, foi responsável pela chacina no Afeganistão, podem dizer que é seu direito de resposta, entretanto, o direito de resposta que um cristão autêntico deve dar é o amor, a compreensão e a paz, não via guerra, mas por meio da cooperação.
Se Jesus nos deixou a paz, não como o mundo a dá, por que ainda vivemos em guerra? Por que viver de acordo com Hebreus 4, nos empenhando para entrar no descanso de Deus não é possível?
Se estiver dizendo asneiras, respondam essas perguntas. Se nossa missão for simplesmente fazer o nome de Jesus conhecido, beleza, vamos continuar nossa simplória vida cristã e esperar pelo céu, porém se nossa missão for fazer o Reino de Deus possível na terra através do exemplo deixado pelo Cristo, estamos indo na direção errada, pois esse é o caminho estreito, difícil de se trilhar e que nós não queremos, pois envolve sacrifício, disciplina e discipulado. Nesse caminho da paz, não há espaço para discensões e pré-conceitos, nele o menor é incluído, justamente porque não há mais castas sociais.
O mendigo é tão importante quanto o empresário e este está disposto a fazer com que este mendigo também usufrua de uma vida melhor, dando-lhe oportunidade de também refazer sua vida, não estou dizendo assistencialismo social, que dá comida e continua deixando ele definhando à própria sorte, mas ensinando-lhe a resgatar aquilo que lhe roubaram, sua dignidade. Esse é o reino de Deus, a restituição da dignidade humana, equidade para todos. Isso que quer dizer amar a todos assim como Cristo nos amou, quando este Cristo se envergou em direção a humanidade marginalizada e destruída por sua própria mão para lhe dar a oportunidade de se sentirem assistidas pelo próprio Deus, não há doutrina, não há ortodoxia, apenas amor de Deus para todos.
Estamos em busca de conhecer a Deus, nos empenhamos a isso, mas nunca conseguimos chegar a esse conhecimento e creio que nunca chegaremos, não dessa forma, porém o verdadeiro conhecimento de Deus está quando paro de tentar entende-lo para começar a vivê-lo com intensidade em minha alma e deixo que seu amor seja meu estilo de vida, e o que quer dizer isso? Não há outra resposta, o amor de Deus só pode ser pleno, quando amo meu próximo, quando meu culto a Deus está em servir meu próximo, quando ajudo meu irmão menor a se levantar e caminhar lado a lado comigo e digo irmão não no sentido de pertença a uma mesma comunidade, irmão no sentido lato da coisa, irmão humano.
Como diz no evangelho, se vocês ajudam e amam somente aqueles que fazem parte do mesmo grupo e que lhe amam, que graça tereis, o mundo não faz isso? Porém, quando vocês servem aqueles que não tem conhecimento desta graça, são desconhecidos de vocês, passam despercebidos aos seus olhos e corações, vocês serão agraciados com a maior das bênçãos que Deus pode dar, a paz.
Isso me remete a oração atribuída a São Francisco de Assis, que diz que é mais amar que ser amado, mais consolar que ser consolado, mais servir que ser servido. Neste mundo de senhores, neste cristianismo de príncipes, filhos do dono do mundo, deixamos a maior marca que Cristo deixou para nós, a de servos humildes, cordeiros e ovelhas. Servimos a nomes, igrejas, seguimos nomes, líderes de empunhadura, que tem know how no mercado, não aqueles que realmente precisam de nós, dos menores, do pobre, da prostituta, do mendigo, do deficiente, do velho, do negro, da mulher, ou seja, de toda a raça de discriminados e marginalizados de nossa sociedade, justamente porque é um caminho estreito demais para ser seguido.
Ser sal e luz hoje significa apenas trazer pessoas para nossos grupos sociais e isto está mais para trazer pessoas que simpatizam conosco, amigos, parentes e ainda dizemos que é difícil, justamente porque nos armamos com o texto que diz que o profeta não tem crédito em sua própria casa. Não estou dizendo para não proclamar essa mensagem para os nossos, mas creio que essa mensagem de amor teria mais impacto e seria mais significativa, se o caminho que deveríamos percorrer fosse o do amor incondicional a todos os homens e mulheres de nosso mundo.
Ora a árvore faz sombra e dá fruto para todos, independente de quem seja, até mesmo para o lenhador que irá lhe tirar a vida, imagina nós cristãos que somos humanos e mais do que as árvores. Se elas servem a todos, muito mais nós deveríamos servir a toda a humanidade e não a um gueto de refugiados do mundo.
Jesus nos mandou ao mundo, nos direcionou a ele e pediu ao Pai que nos livrasse do mal, então, o que estamos fazendo escondidos dele?
O medo que temos de tudo, fez de nós covardes para assumirmos essa missão, é melhor reinterpretá-la e deixar que os missionários vivam esse princípio e nós sermos isentos, vamos apenas arrecadar dinheiro e sustentá-los, é mais fácil. Fazemos campanhas de missões e dizemos que somos uma instituição missionária, mas só o seremos quando todos, incondicionalmente, assumirem o espírito missionário de ser boas novas do Cristo e contagiar a todos com esse amor e levá-lo a quem quer que seja, principalmente para aqueles que estão mais distantes de nossos corações.
Só assim teremos um cristianismo à imagem de Deus, à imagem de Cristo.
Que Deus nos abençoe.

FONTE: escanso da Alma: Igreja, mundo e missão

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