09/05/2011

Redimindo o Código Da Vinci (Parte III)

Redimindo o Código Da Vinci (Parte III)
de Michael Gleghorn

Jesus Casou? (Parte 1)
Indubitavelmente, a evidência textual mais forte de que Jesus se casou vem do Evangelho de Filipe. Então, não é nenhuma surpresa que Leigh Teabing tenha apelado para este texto. A secção deste evangelho citada no seu livro diz o seguinte:

“E a companheira do Salvador é Maria Madalena. Cristo amava-a mais do que a todos os discípulos e costumava beijá-la com freqüencia na boca. O restante dos discípulos ofendia-se com isso e expressava sua desaprovação. Diziam a ele: ‘Por que tu a amas mais do que a nós todos?’” (233).

Agora, observe que a primeira linha refere-se a Maria como a companheira do Salvador. No romance, Teabing fixa o seu argumento de que Jesus e Maria se casaram afirmando “Como qualquer estudioso do aramaico poderá lhe explicar, a palavra companheira, naquela época, literalmente significava esposa” (233). Isto soa bem convincente. Afinal de contas, Jesus realmente se casou?

Quando estivermos conversando com um amigo não-cristão, lembre-lhe que devemos proceder com cuidado agora. O Evangelho de Filipe foi originalmente escrito em Grego.[27] Portanto, o que o termo “companheira” significou em Aramaico é completamente irrelevante. Mesmo na tradução cóptica descoberta em Nag Hammadi, uma palavra importada (koinonos) é o termo por trás traduzido como “companheiro”. Darrel Bock observa que este “não é termo típico... para ‘esposa’” em Grego.[28] De fato, koinonos é mui freqüentemente usado no Novo Testamento para se referir a um “parceiro”. Lucas usa o termo para descrever Tiago e João como os sócios no negócio de Pedro (Lucas 5:10). Então, contrário à alegação de Teabing, a afirmação de que Maria foi a companheira de Jesus de modo algum prova que ela foi a Sua esposa.

Mas e quanto a afirmação seguinte: “Cristo amava-a ... e costumava beijá-la com freqüencia na boca.”?

Primeiro, esta porção do manuscrito está danificada. De fato não sabemos onde Jesus beijou Maria. Tem um buraco no manuscrito naquele lugar. Alguns acreditam que “ela foi beijada na bochecha ou na testa, uma vez que ambos os termos se encaixam na lacuna”.[29] Segundo, mesmo que o texto diga que Cristo beijou Maria na sua boca, isto não significaria necessariamente que alguma conotação sexual estava para acontecer. Muitos peritos concordam que os textos gnósticos contêm muito simbolismo. Para ler tais textos literalmente, portanto, é lê-los mal. Finalmente, independente da intenção do autor, este evangelho não foi escrito até a segunda metade do terceiro século, mais de duzentos anos após a época de Jesus. [30] Então, a referência de Jesus beijando Maria não é, quase com toda certeza, historicamente confiável.

Devemos mostrar aos nossos amigos não-cristãos que o Evangelho de Filipe oferece evidência insuficiente de que Jesus se casou. Mas, o que fazer então se eles se envolverem no posicionamento de que seria estranho Jesus ter ficado solteiro?

Jesus Casou? (Parte 2)

Os dois personagens com maior grau de instrução no Código Da Vinci alegam que um Jesus que não casou é algo bem improvável. Leigh Teabing diz: “Jesus como homem casado, faz muito mais sentido do que nossa versão bíblica de Jesus solteiro” (232). Robert Langdon, professor de Religião da Simbologia de Harvard, concorda:

“Jesus era judeu, e o decoro social daquela época praticamente proibia que um judeu fosse solteiro. De acordo com os costumes judaicos, o celibato era proibido... Se Jesus não fosse casado, pelo menos um dos evangelhos da Bíblia teria mencionado isso e dado alguma explicação para o fato de ele ter ficado solteiro” (232).

É verdade? O que fazer se os nossos amigos não-cristãos quiserem uma resposta a tal alegação?

Em seu excelente livro, Desvendando o Código Da Vinci, Darrell Bock persuasivamente argumenta que um Jesus que nunca casou não é de todo improvável.[31] Claro, é certamente verdade que a maioria dos judeus dos dias de Jesus de fato se casavam. É também verdade que o casamento com freqüência foi visto como uma obrigação humana fundamental, especialmente à luz do mandamento de Deus de “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra” (Gen 1:28). Contudo, por volta do primeiro século, exceções a esta regra geral foram reconhecidas, e até mesmo louvadas.

O escritor judeu do primeiro século, Filo de Alexandria, descreveu os essênios como aqueles que “repudiaram o casamento... pois nenhum dos essênios jamais se casavam”. [32] Interessantemente, os essênios não apenas escaparam a condenação por conta dos seus celibatos, mas foram freqüentemente admirados. Filo também escreveu: “Este é agora o sistema de vida invejável destes essênios, a tal ponto que não somente indivíduos em particular, mas até mesmo poderosos reis, admirando os homens, veneram a seita deles, e aumentam... as honras, com as quais lhes confere”.[33] Tais situações claramente revelam que nem todos os judeus dos dias de Jesus consideravam o casamento como obrigação. E, aqueles que procuraram evitar o casamento por razões religiosas, foram freqüentemente admirados, em vez de condenados.

Talvez possa ser útil lembrar a seus amigos que a Bíblia em nenhum lugar condena ficar solteiro. Na verdade, ela louva aqueles que escolhem permanecer solteiros para se devotarem ao trabalho do Senhor (e.g. 1 Cor 7:25-38). Mostre a seu amigo Mateus 19:12, onde Jesus explica que algumas pessoas “renunciaram o casamento, por causa do reino dos céus” (NVI). Observe Sua conclusão: “Aqueles que podem aceitar isto, devem aceitá-lo”. É virtualmente certo que Jesus aceitou o ser solteiro. Ele renunciou ao casamento para se devotar totalmente ao trabalho do seu pai celestial. E mais, uma vez que havia precedentes no primeiro século para que o judeu permanecesse solteiro por motivos religiosos, o solteirismo de Jesus não teria sido condenado. Informe ao seu amigo que, ao contrário das alegações do Código Da Vinci, teria sido completamente aceitável para Jesus não ter se casado.

Os Seguidores Mais Antigos de Jesus Proclamaram Sua Divindade?

Temos considerado a alegação do Código Da Vinci de que Jesus foi casado e achamos tal alegação falha. Roberts observou “que a maioria dos proponentes da tese do casamento de Jesus têm uma agenda. Eles estão tentando extrair de Jesus suas originalidade, e especialmente sua divindade”.[34] Isto é certamente verdadeiro no Código Da Vinci. Não apenas ele põe em cheque a divindade de Jesus, alegando que Ele foi casado, mas este livro também sustenta que Seus primeiros seguidores nunca acreditaram que Ele era divino! De acordo com Teabing, a doutrina da divindade de Cristo originalmente resultou de um voto no Concílio de Nicéia. Ele assevera mais: “até aquele momento da história, Jesus era visto pelos seus discípulos como um mero profeta mortal... um grande e poderoso homem, mas que não passava de um homem” (221). Os primeiros seguidores de Jesus realmente acreditaram que Ele era apenas um homem? Se nossos amigos não-cristãos tiverem dúvidas sobre este ponto, vejamos que esta dúvida é uma grande oportunidade de lhes contar quem Jesus realmente é!

O Concílio de Nicéia se reuniu no ano de 325 d.C. Àquela altura, os seguidores de Jesus já tinham proclamado Sua divindade por quase três séculos. Nossas fontes escritas mais antigas sobre a vida de Jesus se acham no Novo Testamento. Estes documentos do primeiro século afirmam a divindade de Jesus. Por exemplo, em sua carta aos Colossenses, o apóstolo Paulo declara: “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (2:9 ARC; veja também Rom 9:5; Fil 2:5-11; Tito 2:13). E João escreveu: “No princípio era o Verbo... e o Verbo era Deus... o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (1:1, 14).

Há também afirmações da divindade de Jesus nos escritos dos pais da igreja pré-Nicéia. No início do segundo século, Ignácio de Antioquia escreveu sobre “nosso Deus, Jesus Cristo”.[35] Afirmações semelhantes podem ser achadas ao longo destes escritos. Há até mesmo testemunho de não-cristãos do segundo século de que cristãos acreditavam na divindade de Cristo. Plínio, o Jovem, escreveu ao imperador Trajano, em torno de 112 d.C., que a igreja primitiva “tinha o hábito de se encontrar em um dia fixo... quando eles cantavam... um hino a Cristo, como a um deus”.[36]

Se nós humildemente compartilharmos estas informações com os nossos amigos não-cristãos, nós poderemos ajudá-los a ver que cristãos acreditavam na divindade de Cristo muito antes do Concílio de Nicéia. Poderemos até ser capazes de explicar porquê cristãos estavam tão convencidos da Sua divindade, que eles estavam dispostos a morrer a ter que negá-la. Se for assim, nós podemos convidar nossos amigos a crerem em Jesus por eles próprios. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3:16)

Se você quiser que sua igreja esteja equipada para tirar vantagens de tais oportunidades, dê uma olhada em nossa nova série: Revelando o Código Da Vinci, disponível em www.probe.org

Tradução: Bio Nascimento



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[27] Ehrman, Lost Scriptures, 19.

[28] Bock, Desvendando O Código Da Vinci, 22.

[29] Idem., 21.

[30] Idem., 20.

[31] Nesta secção, eu tenho fortemente dependido no cápitulo 3 de Bock, Desvendando O Código Da Vinci, pp. 40-49 (cópia de pré-publicação).

[32] Philo, Hypothetica, 11.14-17, citado em Bock, Desvendando O Código Da Vinci, 43.

[33] Idem., 44.

[34] Mark D. Roberts, "Was Jesus Married? A Careful Look at the Real Evidence," em www.markdroberts.com/htmfiles/resources/jesusmarried.htm, January, 2004.

[35] Ignácio de Antioquia, "Ephesians," 18:2, citado em Jack N. Sparks, ed., The Apostolic Fathers, trans. Robert M. Grant (New York: Thomas Nelson Publishers, 1978), 83.

[36] Pliny, Letters, transl. by William Melmoth, rev. by W.M.L. Hutchinson (Cambridge: Harvard Univ. Press, 1935), vol. II, X:96, cited in Habermas, The Historical Jesus, 199.


© Copyright 2006 Probe Ministries

[Todos os direitos reservados. Traduzido do inglês por Bio Nascimento. Reproduzido com a devida autorização. A versão em inglês deste artigo pode ser encontrado no site www.Probe.org.]
Fonte:www.hermeneutica.com.br

Redimindo o Código Da Vinci (Parte II)

Redimindo o Código Da Vinci (Parte II)
de Michael Gleghorn

Os Documentos de Nag Hammadi
Desde a sua descoberta em 1945, tem havido um grande interesse nos textos de Nag Hammadi. O que são esses textos? Quando eles foram escritos, e por quem, e para qual propósito? De acordo com Teabing, o historiador no Código Da Vinci, os textos de Nag Hammadi representam “os registros cristãos mais antigos” (233). Estes “evangelhos inalterados”, alega ele, contam a real estória de Jesus e do cristianismo primitivo (235). Os evangelhos do Novo Testamento são supostamente uma versão posterior, corrompida destes eventos.

A única dificuldade com a teoria de Teabing é que ela está errada. Os documentos de Nag Hammadi não são “os registros cristãos mais antigos”. Cada livro no Novo Testamento é mais antigo. Os documentos do Novo Testamento foram todos escritos no primeiro século da era cristã. Ao contrário, as datas para os textos de Nag Hammadi variam entre o segundo e o terceiro século d.C. Como Darrell Bock observa no livro Desvendando o Código Da Vinci, “a base deste material está algumas gerações depois das fundações da fé cristã, um ponto vital a se lembrar quando se estiver avaliando o seu conteúdo”.[12]

Que sabemos sobre o conteúdo desses livros? É de geral acordo que os textos de Nag Hammadi são documentos gnósticos. O dogma chave do gnosticismo é que a salvação vem através de conhecimentos secretos. Como resultado, os evangelhos gnósticos, em um óbvio contraste com os evangelhos do Novo Testamento, põem quase que nenhum valor na morte e ressurreição de Jesus. De fato, a cristologia gnóstica tinha uma tendência em separar o Jesus humano do Cristo divino, vendo-os como dois seres distintos. Não foi o cristo divino que sofreu e morreu; foi meramente o Jesus humano; ou talvez até mesmo Simão, o cireneu.[13] Não importa muito para os gnósticos, porque do ponto de vista deles, a morte de Jesus foi algo irrelevante para se obter a salvação. O que de verdade importava não era a morte do homem Jesus, mas o conhecimento secreto trazido pelo Cristo divino. De acordo com os gnósticos, a salvação vem através de um entendimento correto deste conhecimento secreto.[14]

Estas doutrinas são claramente incompatíveis com o ensinamento sobre Cristo e a salvação no Novo Testamento (e.g. Rom 3:21-26; 5:1-11; 1 Cor 15:3-11; Tito 2:11-14). Ironicamente, estes ensinamentos também são incompatíveis com o ponto de vista de Teabing de que os textos de Nag Hammadi “falam do ministério de Cristo em todos os termos humanos” (223). Os textos de Nag Hammadi de fato apresentam Cristo como um ser divino, embora bem diferente da perspectiva do Novo Testamento.[15]

Assim, os textos de Nag Hammadi são posteriores aos escritos do Novo Testamento e caracterizados por uma cosmovisão que é inteiramente estranha a sua teologia. Devemos explicar aos nossos amigos não-cristãos que os pais da igreja exercitaram grande sabedoria ao rejeitar estes livros como não sendo parte do Novo Testamento.

Mas, e se eles nos perguntarem como foi decidido quais livros incluírem no Novo Testamento?

A Formação do Cânon do Novo Testamento
Nos primeiros séculos do cristianismo, muitos livros foram escritos sobre o ensinamento de Jesus e Seus apóstolos. A maioria destes livros nunca conseguiram fazer parte do Novo Testamento. Entre eles há títulos como O Evangelho de Filipe, Atos de João e Apocalipse de Pedro. Como a igreja primitiva decidiu quais livros incluir no Novo Testamento e quais rejeitar? Quando estas decisões foram tomadas e por quem? De acordo com Teabing “A Bíblia, conforme a conhecemos hoje, foi uma colagem composta pelo imperador romano Constantino, o grande” (220). Isto é verdade?

A igreja primitiva tinha critérios definidos que tinham que ser cumpridos para que um livro fosse incluído no Novo Testamento. Como Bart Ehrman observa, um livro tinha que ser antigo, escrito próximo à época de Jesus. Este livro tinha que ser escrito por um apóstolo ou um companheiro de um apóstolo. Este livro tinha ser consistente com o entendimento ortodoxo da fé. E, ele tinha que ser amplamente reconhecido e aceito pela igreja.[16] Aqueles livros que não cumpriram estes critérios não foram incluídos no Novo Testamento.

Quando estas decisões foram tomadas? E quem as tomou? Não houve um concílio ecumênico na igreja primitiva que oficialmente ordenou que os 27 livros que agora constam no Novo Testamento eram os livros certos.[17] Ao contrário, o cânon gradualmente tomou forma à medida que a igreja reconheceu e abraçou aqueles livros que foram inspirados por Deus. A coleção mais antiga de livros “a circular entre as igrejas na primeira metade do segundo século” foram os quatro evangelhos e as cartas de Paulo.[18] Não foi até quando o herege Marcião publicou a sua versão do Novo Testamento em 144 d.C. que os líderes da igreja procuraram definir o cânon mais especificamente.[19]

No final do segundo século houve um crescente consenso de que o cânon deveria incluir os quatro evangelhos, Atos, e as treze epístolas paulinas, “as epístolas de outros ‘homens apostólicos’ e o Apocalipse de João”.[20] O cânon Muratório, o qual data do fim do segundo século, reconheceu todo os livros do Novo Testamento, exceto Hebreus, Tiago, 1 e 2 Pedro e 3 João. Semelhantemente, embora não identicamente, livros foram reconhecidos por Irineu na metade do segundo século e Orígenes no começo do terceiro século. Então, enquanto a listagem mais antiga de todos os livros no nosso Novo Testamento veio de Atanásio em 367 d.C., houve um amplo acordo na maioria destes livros, inclusive os quarto evangelhos, por volta do fim do segundo século. Compartilhando estas informações “com mansidão e temor” (1 Pedro 3:16), nós podemos ajudar nossos amigos a verem que o cânon do Novo Testamento não resultou de uma decisão feita por Constantino.

Quem Foi Maria Madalena? (Parte 1)
Maria Madalena, claro, é a personagem principal no Código Da Vinci. Vamos dar uma olhada nesta figura, começando por abordar o infeliz mal-entendimento de que ela era uma prostituta. De onde veio este entendimento? E por que tantas pessoas acreditam?

De acordo com Leigh Teabing, o entendimento popular de Maria Madalena como uma prostituta “é o legado de uma campanha feita pela Igreja primitiva para sujar a imagem de Madalena”. Do ponto de vista de Teabing, “A Igreja precisou difamar Maria para encobrir o perigoso segredo dela: seu papel como Santo Graal” (231). Lembre-se, nesta ficção o Santo Gral não é o copo usado por Jesus na última ceia. Pelo contrário, é Maria Madalena, que supostamente tanto foi a esposa de Jesus, quanto aquela que levou Seu sangue real em seu ventre.

Como devemos responder a este entendimento? A igreja primitiva realmente procurou caluniar Maria como uma prostituta, a fim de encobrir sua relação íntima com Jesus? A primeira ocorrência de Maria Madalena sendo mal identificada como uma prostituta ocorreu em um sermão pelo Papa Gregório, o grande, em 591 d.C.[21] Muito provavelmente, este sermão não foi uma tentativa deliberada para caluniar o caráter de Maria. Ao contrário, Gregório provavelmente interpretou mal algumas passagens dos evangelhos, resultando em sua identificação incorreta de Maria como uma prostituta.

Por exemplo, talvez ele possa ter identificado a mulher pecaminosa sem nome de Lucas 7, a que ungiu os pés de Jesus, como sendo Maria de Betânia em João 12, a que também ungiu os pés de Jesus pouco antes de Sua morte. Esta confusão seria fácil de ocorrer. Embora houvesse diferenças, há também muitas semelhanças entre estes dois incidentes separados. Se Gregório pensou que a mulher pecaminosa de Lucas 7 era a Maria de João 12, ele poderia ter, então, erroneamente conectado esta mulher com Maria Madalena. Interessantemente, Lucas menciona Maria Madalena pela primeira vez no começo de capítulo 8, logo após a estória da unção de Jesus em Lucas 7. Uma vez que a mulher sem nome de Lucas 7 era provavelmente culpada de algum tipo de pecado sexual, se Gregório pensou que esta mulher era Maria Madalena, então não seria um pulo muito grande para inferir que ela era uma prostituta.

Se você estiver debatendo a obra de Dan Brown com alguém que é hostil para com a igreja, não tema admitir que a igreja algumas vezes cometeu erros. Podemos concordar que Gregório errou quando ele identificou erroneamente Maria como uma prostituta. Mas, devemos também observar que é bem improvável que este erro foi parte de uma campanha suja por parte da igreja primitiva. Devemos lembrar a nossos amigos que cristãos cometem erros; e até mesmo pecam, assim como qualquer outra pessoa (Rom 3:23). A diferença é que nós temos reconhecido nossa necessidade de um salvador para os pecados. E, neste aspecto, nós de fato seguimos os passos de Maria Madalena (João 20:1-18)!

Quem Foi Maria Madalena? (Parte 2)
O que nossas fontes escritas mais antigas revelam sobre a real Maria Madalena? De acordo com Teabing, Maria foi a esposa de Jesus, a mãe de Seu filho, e aquela sob a qual Ele tinha a intenção de estabelecer a igreja após Sua morte (231-237). Em apoio a estas teorias, Teabing apelou para dois evangelhos gnósticos: O Evangelho de Filipe e O Evangelho de Maria [Madalena]. Vamos primeiro dar uma olhada no Evangelho de Maria.

A seção deste evangelho citada na ficção apresenta um apóstolo Pedro incrédulo que simplesmente não pode acreditar que o Cristo ressurrecto secretamente revelou informações a Maria que Ele não tinha revelado aos discípulos homens. Levi repreende a Pedro: “Se o Salvador a tornou digna, quem es tú para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece muito bem. Foi por isso que a amou mais do que ama a nós” (234).

Que podemos dizer desta passagem? Primeiro, devemos tecer a observação de que em nenhum lugar deste evangelho nós somos informados de que Maria foi a esposa de Jesus ou a mãe de Seu filho. Segundo, muitos eruditos acham que estes texto deve ser lido simbolicamente, com Pedro representado o cristianismo primitivo ortodoxo, e Maria representando uma forma de gnosticismo. Este evangelho provavelmente estaria alegando que “Maria”, isto é, os gnósticos, receberam uma revelação divina, mesmo que “Pedro”, isto é, a ortodoxia, não pode acreditar nisto.[22] Finalmente, mesmo que este texto seja interpretado literalmente, temos pouca razão para acreditar que ele seja historicamente confiável. Muito provavelmente ele foi composto em alguma época no final do segundo século, aproximadamente cem anos após os evangelhos canônicos.[23] Então, ao contrário do que a obra de ficção quer concluir, com certeza estas palavras não foram escritas por Maria Madalena, ou quaisquer outros dos seguidores de Jesus.[24]

Se quisermos informações confiáveis sobre Maria, devemos voltar às nossas fontes mais antigas: os evangelhos do Novo Testamento. Estas fontes nos dizem que Maria foi uma seguidora de Jesus da cidade da Madalena. Após Jesus ter expulsado sete demônios dela, ela, junto com outras mulheres, ajudaram a sustentar o Seu ministério (Lucas 8:1-3). Ela testemunhou a morte, sepultamento e ressurreição de Jesus, e foi a primeira a ver o Cristo ressurrecto (Mateus 27:55-61; João 20:11-18). Jesus até confiou a ela a divulgação de Sua ressurreição aos Seus discípulos masculinos (João 20:17-18). Neste sentido, Maria foi uma “apóstola” aos seus apóstolos. Isto é tudo que os evangelhos nos dizem sobre Maria.[25] Podemos concordar com nossos amigos não-cristãos que ela foi uma mulher muito importante. Mas devemos também lembrá-los de não há nada que sugira que ela foi a esposa de Jesus, ou que Ele teve a intenção de que ela liderasse a igreja.[26]

Além destas coisas, alguém que tenha lido o Código Da Vinci pode ainda ter dúvida sobre o Evangelho de Filipe? Este texto não dá indicações de que Maria e Jesus foram casados?

[Em Parte III vamos examinar se Jesus casou ou não e se seus seguidores proclamaram sua divindade.]



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[12] Darrell Bock, “Breaking the Da Vinci Code” (Desvendando O Código Da Vinci) (n.p.: Thomas Nelson Publishers, 2004), 52 (cópia de pré-publicação).
[13] Ibid., 62-63. Veja também The Coptic Apocalypse of Peter and The Second Treatise of the Great Seth in Bart Ehrman, Lost Scriptures: Books That Did Not Make It Into The New Testament, (New York: Oxford University Press, 2003), 78-86.
[14] Por exemplo, The Coptic Gospel of Thomas (saying 1), em Ehrman, Lost Scriptures, 20.

[15] Bock, Breaking the Da Vinci Code, 63.

[16] Bart D. Ehrman, Lost Christianities: Christian Scriptures and the Battles Over Authentication (Chantilly, Virginia: The Teaching Company: Course Guidebook, part 2, 2002), 37.

[17] Ehrman, Lost Scriptures, 341.

[18] F.F. Bruce, "Canon," in Dictionary of Jesus and the Gospels, Joel B. Green, Scot McKnight and I. Howard Marshall, eds. (Downers Grove, Illinois: InterVarsity Press, 1992), 95.

[19] Ibid., 95-96.

[20] Ibid., 96.

[21] Darrell Bock, Breaking O Código Da Vinci (n.p. Thomas Nelson Publishers, 2004), 25-26 (cópia do manuscrito pré-publicado). Eu dependi grandemente da análise do Dr. Bock, nesta secção.
[22] Ibid., 116-17.

[23] Bart Ehrman, Lost Scriptures, 35.

[24] Brown, O Código Da Vinci. Na página 247, lemos: “Sofia não tinha conhecimento de que um evangelho existia nas palavras de Madalena”.
[25] Um “apóstolo” pode simplesmente referir-se a “alguém enviado”, como um núncio ou mensageiro. Maria era uma “apóstola” neste sentido, uma vez que ela foi enviada por Jesus para contra aos discípulos de Sua ressurreição.
[26] Para obter mais informação, veja Bock, Breaking the Da Vinci Code, 16-18.
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[Todos os direitos reservados. Traduzido do inglês por Bio Nascimento. Reproduzido com a devida autorização. A versão em inglês deste artigo pode ser encontrado no site www.Probe.org.]
Fonte:www.hermeneutica.com.br

Redimindo o Código Da Vinci (Parte I)

Redimindo o Código Da Vinci (Parte I)
de Michael Gleghorn

Introdução ao Código Da Vinci

O livro de Dan Brown, O Código Da Vinci,[1] gerou um enorme interesse da parte do público leitor. Aproximadamente 40 milhões de cópias já foram vendidas mundo afora.[2] E, Ron Howard e a Sony Pictures estarão trazendo a estória para os cinemas a partir do dia 19 de maio.[3] A fim de responder a alguns dos desafios que este livro apresentou ao cristianismo bíblico, o site Probe tem entrado em parceria com o EvanTell, um ministério de treinamento evangelístico, para produzir uma série em DVD chamada Redimindo o Código Da Vinci. A série tem o objetivo de fortificar a fé dos crentes e equipá-los para compartilhar sua fé com aqueles que verão o filme ou já leram o livro.[4] Eu espero que este artigo também venha a encorajar você a usar este evento a fim de testemunhar a verdade aos amigos ou familiares que já leram o livro ou viram o filme.

Por que tanto alvoroço por conta desta obra de ficção? A estória começa com o assassinato do curador do Louvre. Mas este curador não está apenas interessado em arte; ele também é o Grão-Mestre de uma sociedade secreta chamada de O Priorado de Sião. O Priorado guarda um segredo que, se revelado, poria em descrédito o cristianismo bíblico. Antes de morrer, o curador tenta passar o segredo para sua neta Sofia, uma criptógrafa, e o professor de Harvard Robert Langdon, deixando uma série de pistas que ele espera irão guiar os dois à verdade.

Então, qual é o segredo? A localização e identidade do Santo Graal. Mas na ficção de Brown, o Graal não é o tal cálice usado por Cristo na última ceia. Ao contrário, é Maria Madalena, a esposa de Jesus, que carrega o sangue da linhagem real de Cristo por ter dado à luz Seu filho! O Priorado de Sião guarda o segredo da localização da tumba de Maria e serve para proteger a linhagem de Jesus que existe até os dias de hoje!

Alguém leva a sério esta idéia? Sim, há pessoas que levam a sério. Isto se deve parcialmente à forma como a estória foi escrita. A primeira palavra que alguém encontra no Código Da Vinci é a palavra “FATOS” em letras em negrito e em maiúsculo. Pouco depois, Brown escreve: “Todas as descrições de obras de arte, arquitetura, documentos e rituais secretos nesta ficção são exatas”.[5] E o leitor comum, sem conhecimento especializado destas áreas, presumirá que a afirmação é verdadeira. Mas não é, e muitos já documentaram algumas das inexatidões de Brown nestas áreas.[6]

Brown também tem um certo jeito de tornar as teorias de sua ficção sobre Jesus e a igreja primitiva aparentemente plausíveis. As teorias são abraçadas pelos personagens mais bem educados da ficção: um historiador britânico, Leigh Teabing, e um professor de Harvard, Robert Langdon. Quando estas teorias são postas na boca destes personagens, alguém sai com a impressão de que são de fato verdadeiras. Mas são verdadeiras?

Neste artigo, eu irei argumentar que a maior parte do que a ficção conta sobre Jesus, a Bíblia, e a história da igreja primitiva é simplesmente falso. Tentarei dizer algo também sobre como este material pode ser usado no evangelismo.

Constantino Enfeitou Nossos Quatro Evangelhos?

Será que os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, os quais foram mais tarde oficialmente reconhecidos como parte do cânon do Novo Testamento, foram intencionalmente embelezados no quarto século sob as ordens do imperador Constantino? Isto é o que sugere Leigh Teabing, o historiador fictício no Código Da Vinci. Em certo ponto ele afirma: “Constantino mandou fazer uma Bíblia novinha em folha, que omitia os evangelhos que falavam do aspecto humano de Cristo e enfatizava aqueles que o tratavam como divino.” (pp. 222-223). Isto é verdade?

Em uma carta ao historiador da igreja Eusébio, Constantino de fato ordena a preparação de “cinco cópias das sagradas escrituras”.[7] Mas em nenhum lugar na carta ele ordena que qualquer dos evangelhos seja embelezado a fim de fazer Jesus parecer mais divino. E mesmo que ele tivesse feito tal coisa, teria sido virtualmente impossível conseguir que cristãos fiéis aceitassem tais relatos.

Antes do reinado de Constantino, a igreja sofreu uma grande perseguição sob o imperador Diocleciano. É difícil acreditar que a mesma igreja que havia agüentado esta perseguição lançaria fora seus estimados evangelhos e abraçariam relatos embelezados da vida de Jesus! É também virtualmente certo que se Constantino tivesse tentado tal coisa, nós teríamos muitas evidências desta tentativa nos escritos dos pais apostólicos. Mas não temos nenhuma. Nenhum deles sequer menciona uma tentativa da parte de Constantino de alterar qualquer dos evangelhos. E finalmente, alegar que os líderes da igreja no quarto século, muitos dos quais haviam sofrido perseguição por sua fé em Cristo, concordariam em juntar-se a Constantino numa conspiração deste tipo é completamente irrealista.

Um último ponto. Temos cópias dos quatro evangelhos que são significantemente mais antigas do que Constantino e o Concílio de Nicéia. Embora nenhuma das cópias seja completa, nós temos cópias quase que inteiramente completas de Lucas e João em um códice datado de entre 175 e 225 d.C., isto é, pelo menos cem anos antes de Nicéia, (ou seja, a época de Constantino). Um outro manuscrito, datando de aproximadamente 200 d.C. ou mais antigo ainda, contém quase todo o evangelho de João.[8] Mas por que isto é importante?

Primeiro, nós podemos comparar estes manuscritos pré-Nicéia com aqueles que sucederam Nicéia para ver se ocorreu qualquer alteração. Não houve nada. Segundo, as versões pré-Nicéia do evangelho de João incluem algumas das declarações mais fortes registradas sobre a divindade de Jesus (por exemplo: 1:1-3; 8:58; 10:30-33). Isto é, as mais explícitas declarações da divindade de Jesus em qualquer dos evangelhos já eram encontradas em manuscritos que pré-datavam Constantino há mais de cem anos!

Se você tem amigos não-cristãos que acreditam que esses livros foram alterados, você pode gentilmente apontá-los a estas evidências. Depois, encoraje-os a lerem os evangelhos por conta própria para descobrir quem Jesus realmente é.

Mas o que fazer se eles pensam que essas fontes não são confiáveis?

Podemos Confiar nos Evangelhos?

Embora não haja nenhuma base histórica para a alegação de que Constantino alterou os evangelhos do Novo Testamento, a fim de fazer Jesus aparentar mais divino, ainda devemos perguntar se os evangelhos são fontes confiáveis de informação sobre Jesus. De acordo com Teabing, o historiador fictício da ficção, “quase tudo o que nossos pais nos ensinaram sobre Jesus Cristo é mentira” (p. 223). Isto é verdade? A resposta depende principalmente na confiabilidade das nossas mais antigas biografias de Jesus—os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João.

Cada um desses evangelhos foi escrito no primeiro século d.C. Mesmo que sejam tecnicamente anônimos, temos evidências bastante fortes dos escritores do segundo século, tais como Papias (c. 125 d.C.) e Irineu (c. 180 d.C.), para atribuir a cada evangelho o seu autor tradicional. Se seus testemunhos são verdadeiros (e temos pouca razão para duvidar), então Marcos, o companheiro de Pedro, registrou o âmago da pregação de Pedro. E Lucas, o companheiro de Paulo, cuidadosamente pesquisou a biografia que leva seu nome. Finalmente, Mateus e João, dois dos doze apóstolos de Jesus, escreveram os livros atribuídos a eles. Se isto é correto, então os eventos registrados nestes evangelhos “estão baseados ou em testemunhas oculares diretas ou indiretas”.[9]

Mas os escritores dos evangelhos tinham a intenção de registrar com confiabilidade a vida e o ministério de Jesus? Estavam eles pelo menos interessados em história, ou será que suas agendas teológicas encobriram qualquer desejo que eles tinham em nos contar o que realmente aconteceu? Craig Blomberg, um erudito do Novo Testamento, observa que o prólogo do evangelho de Lucas “lê muitíssimo como o prefácio de outras obras comumente confiáveis de história e biografia da antiguidade”. Ele observa ainda que já que Mateus e Marcos se assemelham a Lucas em termos de gênero, “parece razoável que a intenção histórica de Lucas espelharia de perto a dos outros [evangelistas].”[10] Finalmente, João nos conta que ele escreveu seu evangelho para que as pessoas pudessem acreditar que Jesus é o Cristo, o filho de Deus, e que por meio desta crença, pudessem ter vida em Seu nome (20:31). Enquanto esta afirmação, admitamos, revela uma agenda teológica, Blomberg mostra que “se você vai ser convencido o suficiente para acreditar, a teologia tem que fluir de um história exata”.[11]

É interessante que as disciplinas da história e arqueologia são uma grande ajuda em corroborar a confiabilidade geral dos escritores dos evangelhos. Onde estes autores mencionam pessoas, lugares e eventos que podem ser conferidos com outras fontes antigas, eles se mostram consistentemente bem confiáveis. Nós precisamos informar nossos amigos não-cristãos que temos boas bases para confiar nos evangelhos do Novo Testamento e acreditar no que eles nos dizem sobre Jesus.

Mas, se eles perguntarem sobre aqueles evangelhos que não entraram no Novo Testamento? Especificamente falando, o que dizer se eles perguntarem sobre os documentos de Nag Hammadi?

[Em Parte II vamos examinar os documentos de Nag Hammadi, a formação do Cânon do Novo Testamento, e a pessoa de Maria Madalena.]



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[1] Dan Brown, O Código Da Vinci (New York: Doubleday, 2003). As referências nesta tradução são à versão em português, publicada pela Editora Sextante, Rio de Janeiro, Copyright, 2003, tradução de Celina Cavalcante Falck-Cook.
[2] Veja o site official de Dan Brown em www.danbrown.com/meet_dan/ (February 1, 2006).
[3] Veja the Sony Pictures website em www.sonypictures.com/movies/thedavincicode/ (February 1, 2006).
[4] Mais informações estão disponíveis sobre a série em www.probe.org.
[5] Brown, O Código Da Vinci, 9.
[6] Por exemplo, veja Sandra Miesel, "Dismantling The Da Vinci Code," em www.crisismagazine.com/september2003/feature1.htm and James Patrick Holding, "Not InDavincible: A Review and Critique of The Da Vinci Code," at www.answers.org/issues/davincicode.html.
[7] Philip Schaff and Henry Wace, eds., Nicene and Post-Nicene Fathers (Reprint. Grand Rapids, Eerdmans, 1952), 1:549, citado em Norman Geisler and William Nix, A General Introduction to the Bible: Revised and Expanded (Chicago: Moody Press, 1986), 282.
[8] Para obter mais informação, veja Norman Geisler e William Nix, "Introdução Bíblica", Editora Vida, 1997, pp. 140-145
[9] Lee Strobel, The Case for Christ (Grand Rapids, Michigan: Zondervan, 1998), 25. Veja em português, “Em Defesa de Cristo”, de Lee Strobel, Editora Vida. (As páginas citadas são da versão em inglês.)
[10] Ibid., 39-40.
[11] Ibid., 40.
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[Todos os direitos reservados. Traduzido do inglês por Bio Nascimento. Reproduzido com a devida autorização. A versão em inglês deste artigo pode ser encontrado no site www.Probe.org.]
Fonte:www.hermeneutica.com.br