16/06/2010

O PERIGO DA INSATISFAÇÃO NA VIDA DIÁRIA DO CRISTÃO

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Cruzando o Mar da Galiléia

"De que se queixa, pois, o homem vivente?
Queixe-se cada um dos seus pecados."
Lamentações 3.39

João Cruzué
Quero refletir um pouco sobre as dificuldades de orientação que nós cristãos, já conhecedores da Palavra, enfrentamos ao ficar insatisfeitos pensando na Igreja perfeita, um porto seguro para congregar com a família em tempos tão profanos. Um dilema bastante comum em nossos dias.
A Igreja do Senhor é perfeita, todavia, constituída de membros imperfeitos que por opção pessoal podem ser lapidados ou não pela palavra. Não sei porquê, mas por duas vezes Ernest Hemingway passou pela minha mente quando dei título ao post, e neste parágrafo em particular, lembrei-me daquele prefácio do pastor anglicano John Donne no Livro "Por Quem os Sinos Dobram":
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.
O individualismo, hoje, tem um viés mais forte do que nunca e o isolamento pode produzir e alimentar em nós uma profunda insatisfação com a própria Igreja. É neste ponto que começamos a ver no próximo defeitos que na verdade julgamos que não estão presentes em nós.
Certa vez Jesus ordenou aos discípulos que cruzassem o "Mar" da Galiléia, enquanto ficou para trás. Ele foi orar. Interessante: Se Jesus era Deus, por que precisava orar? A resposta que achei foi: o prazer da comunhão. De estar em contato com o Pai. Há uma didática (antiga) neste hábito: se o que era Perfeito buscava comunhão, para suas orientações diárias, então, nós cristãos por mais "sabidos" que somos, também necessitamos do mesmo hábito, para manter viva a mesma comunhão.
Os discípulos corriam perigo. O Senhor os viu em plena luta e os socorreu. Entrou no barco, repreendeu o vento e mandou que o mar se calasse. Há muitos cristãos à deriva, açoitados pela força do vento e pela fúria do mar. O vento das novidades, o mar do secularismo e a fúria de um olhar crítico. Ficamos insatisfeitos e esta insatisfação pode ser benéfica ou perigosa, dependendo do caminho que tomarmos.
A crise de identidade evangélica pode nos levar a um aumento da sede de comunhão com o Senhor. Neste sentido, é Deus quem nos coloca no barco e manda que atravessemos o mar. Embora não esteja no barco o tempo todo, ele o observa atentamente. Isso produz experiência, crescimento, e desejo de maior comunhão.
Outro tipo de crise de insatisfação pode nos açoitar - como fez com o filho pródigo. Esta não produz sede de oração, nem desejo de comunhão com Deus. Ela é perigosa, pois nossos olhos focam apenas defeitos naquilo que observam: excesso de ortodoxia, liturgias adormecedoras, pastores ignorantes, antagonistas em lugar de irmãos, Teologia da Prosperidade entrando e saindo dos púlpitos, Política secular ocupando mais tempo de pastores que planos eclesiásticos. Aí o mundo começa a parecer mais justo que a própria Igreja. Aqui mora o perigo.
Não havia nada errado com com a Casa do Filho Pródigo. O coração do moço foi sendo envenenado aos poucos pelo seu (ou de outrem) pensamento crítico exagerado. Sua insatisfação pessoal o levou ao desvario, depois ao desvio, ao desperdício e à derrota. Foram as orações do pai que o trouxeram de volta, pois coube ao jovem o benefício da inexperiência.
A insatisfação de cristãos experientes pode ser mais complexa. E muito mais perigosa. É a insatisfação do filho mais velho da parábola que começou a criticar a justiça do próprio pai. Eu fico pensando, é bem possível que a causa do "envenenamento" da mente do irmão caçula tenha sido as críticas do primogênito. E esta também pode ser a mesma explicação para tantos filhos de crentes tomar o destino do mundo, envenenados pelo criticismo dos mais velhos, que parecem-se mais com o "promotor" de Jó.
Se por um lado é difícil encontrar a Igreja perfeita, aquela que possa satisfazer a visão de cada um, por outro, o conhecimento bíblico de lidar com a situação já faz parte da bagagem. Se Jesus, que era muito mais experiente, sábio, tinha seus problemas de orientação e solidão e os resolvia através de mais comunhão, não há outro caminho senão buscá-la através de orações individuais ou em cultos domésticos.

O Senhor era profundo conhecedor dos corações e da hipocrisia humana. Não desperdiçava seu tempo anotando defeitos, nem murmurando das pessoas, nem jogando-lhes em face seus pecados. Por então um crente deveria adotar este comportamento tão mesquinho e maligna? O diabo sim, quando nos vê, só enxerga coisas ruins. Mas Jesus não é assim: Ele nos vê com olhos compassivos. Ainda que só tivéssemos mil deifeitos e apenas uma virtude, é sobre ela que Ele focaria seus olhos para depois nos animar.
O mar está revolto por causa da fúria do vento? O barco parece furado e parece menor que as ondas do mar? Quem sabe a solução não esteja em abandonar o barco, mas em trazer Jesus para dentro dele?
Ao dedicar mais tempo para estar na presença do Senhor, os defeitos dos homens diminuem e nossas escolhas têm menos chances de afundar. Pior: de fazer afundar a vida espiritual dos mais jovens em nossa própria casa.
cruzue@gmail.com

FONTE: Olhar Cristao

O Cristão Hedonista: Sofrimento - Fé e Santidade - John Piper

 

Por que Deus mandou que Paulo sofresse tanto como protótipo da fronteira missionária? Ele é soberano. Como toda criança sabe, ele poderia atirar Satanás na cova hoje, se quisesse, e todo o terrorismo dele contra a Igreja estaria acabado. Mas Deus desejou que a missão da Igreja avançasse em meio à tempestade e ao sofrimento. Quais são suas razões? Mencionarei seis.

O SOFRIMENTO APROFUNDA A FÉ E A SANTIDADE

Hebreus 12 nos diz que Deus disciplina seus filhos por meio do sofrimento. Seu objetivo é uma fé mais profunda e uma santidade mais profunda. "Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade" (Hb 12.10). Jesus experimentou a mesma coisa. "Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu" (Hb 5.8). Isso não significa que Jesus tivesse amadurecido da desobediência para a obediência; o mesmo escritor diz que ele nunca pecou (Hb 4.15). Suas palavras significam o processo pelo qual ele demonstrou uma obediência cada vez mais profunda no processo do sofrimento. Para nós não há apenas a necessidade de termos nossa obediência testada e sua profundidade comprovada, mas também purificada de todos os remanescentes de auto-suficiência e envolvimentos com o mundo.

Paulo descreve essa experiência em sua própria vida do seguinte modo:

Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, mas no Deus que ressuscita os mortos (2Co 1.8,9).

Paulo não atribuí seu sofrimento à mão de Satanás, mas diz que Deus o ordenou para o aumento de sua fé. Deus quebrou os suportes de vida no coração de Paulo, de modo que ele não tivesse outra escolha senão se apoiar em Deus e ter sua esperança na promessa da ressurreição. Esse é o primeiro propósito do sofrimento missionário: emancipar-nos do mundo e firmar nossa esperança plena e somente em Deus (ver Rm 5.3,4). Desde que a liberdade para amar flua desse tipo radical de esperança (Cl. 1.4,5), o sofrimento é um meio primário de edifícar a compaixão na vida dos servos de Deus.

Milhares de missionários através dos séculos têm descoberto que os sofrimentos da vida têm sido a escola de Cristo, onde as lições da fé são ensinadas, lições que não poderiam ser aprendidas em nenhum outro lugar. Por exemplo, John G. Paton, que nasceu em 1824 na Escócia, foi missionário nas Novas Hébridas (atual Vanuatu), nos Mares do Sul, de 1858 quase até a sua morte em 1907. Ele perdeu sua esposa quatro meses depois de ter desembarcado na Ilha de Tanna, com a idade de 34 anos. Duas semanas depois morreu seu filhinho, ainda bebê. Ele os enterrou sozinho, com suas próprias mãos. "Se não fosse por Jesus e pela comunhão que ele me concedeu ali, eu deveria ter enlouquecido e caído morto junto daquela sepultura solitária!"1 Ele permaneceu na ilha por quatro tormentosos anos de perigos. Finalmente houve um levante urdido contra ele, quando acreditou ser de bom aviso tentar fugir. Buscou ajuda da única pessoa em quem podia confiar na ilha, seu amigo Nowar. Sua fuga foi uma inesquecível descoberta da graça, que deixou uma marca espiritual por toda a sua vida. Para escapar, Nowar lhe disse que ele não podia permanecer na vila, e sim, que devia esconder-se numa árvore que seu filho lhe mostraria, e que lá permanecesse até que a Lua saísse.

Estando totalmente à mercê de amigos tão duvidosos e vacilantes, eu, embora perplexo, senti que era melhor obedecer. Subi na árvore e fui deixado lá sozinho na folhagem. As horas que passei ali estão vivas diante de mim, como se tudo tivesse acontecido ontem. Eu ouvia freqüentes disparos de mosquetes e gritos dos nativos. Contudo, eu me sentei ali entre os galhos, tão seguro como se estivesse nos braços de Jesus. Nunca, em todas as minhas angústias, o meu Senhor esteve mais perto de mim, e falou mais suavemente em minha alma, do que quando a luz do luar cintilou por entre as folhas da castanheira e a brisa da noite tocou minha fronte que tanto tremia, enquanto eu derramava meu coração para Jesus. Sozinho, contudo, não sozinho! Se for para glorificar o meu Deus, eu não me queixarei de passar muitas noites a sós nessa árvore, para sentir de novo a presença espiritual do meu Salvador e usufruir sua consoladora comunhão. Se fosse abandonado à sua própria alma, sozinho, totalmente só, no meio da noite, entre arbustos, no abraço da própria morte, teria você um Amigo que não lhe falharia então?

fonte: O Cristão Hedonista: Sofrimento - Fé e Santidade - John Piper