24/09/2008

O que significa "segundo a ordem de Melquisedeque”?



 

Davi profetizou, mil anos antes do nascimento de Jesus, que o Messias seria “sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedeque” (Salmo 110.4). O autor de Hebreus cita esta profecia várias vezes, e explica o seu significado em relação à superioridade total de Jesus.
A “ordem de Melquisedeque” não se refere a algum tipo de sociedade secreta ou mística como a Rosa Cruz, os Maçons ou os Templários. Não é alguma organização preservada desde a antigüidade, nem uma classe de sacerdotes na igreja do Senhor. A expressão “segundo a ordem de Melquisedeque” significa que o sacerdócio de Jesus é do mesmo tipo, ou parecido com, o sacerdócio de Melquisedeque.
Melquisedeque aparece na história bíblica, e some logo em seguida. Ele era rei de Salém e sacerdote de Deus (Gênesis 14.18). Abençoou Abraão e recebeu o dízimo dele depois da vitória do patriarca contra Quedorlaomer.
As Escrituras não relatam nada sobre antepassados nem descendentes de Melquisedeque (o ponto de Hebreus 7.3). Ele servia como sacerdote antes do nascimento de Isaque, então não era descendente da tribo de Levi (um dos netos de Isaque). Era sacerdote aprovado por Deus, independente de linhagem.
Deus fez algumas coisas no Velho Testamento pensando na vinda de Jesus, e assim ajudando o povo a entender a missão de Cristo. Os comentários em Gênesis e Salmos sobre Melquisedeque mostraram a possibilidade de ter um sacerdote que não era sujeito à Lei dada aos israelitas no Monte Sinai. É exatamente isso que o autor de Hebreus nos mostra, usando Melquisedeque como tipo de Cristo.
Jesus não podia ser sacerdote no sistema dado no Monte Sinai (Hebreus 8.4). O fato de Deus ter declarado Jesus sacerdote eterno serve de prova de mudança de lei: “Pois, quando se muda o sacerdócio, necessaria-mente há também mudança de lei” (Hebreus 7.14). “Agora, com efeito, obteve Jesus ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas” (Hebreus 8.6).
Salmo 110, como o autor de Hebreus bem explica, aponta para o perfeito Rei e eterno Sacerdote, Jesus Cristo. Qualquer ensinamento que procura preservar algum sacerdócio humano segundo a ordem de Melquisedeque (como fazem, por exemplo, os mórmons), age por autoridade humana, e não divina (cf. Gálatas 1.10; 2 João 9), e diminui a importância de Jesus Cristo como o eterno e suficiente Sumo Sacerdote.


Fonte: Ministério CACP

JESUS CAMINHA SOBRE MARES PERIGOSOS



As ondas bravias, o mar encapelado, a noite escura da vida (Mt 14.22-33), se apresentam a cada passo como obstáculos que podem induzir à insegurança, ao desalento e ao medo do fracasso. Pior ainda: podem induzir-nos a acreditar num Deus silencioso, mas satisfeito com a adoração interesseira. A visão que a Bíblia oferece nos convoca a fazer uma revisão da vida de fé. Ou será que preferiremos manter nossa visão religiosa do mundo, preocupados com afirmações sobre a irreversibilidade do mal, ou sobre a luta entre “Deus e o diabo” (como no cinema que retrata o universo da superstição religiosa no Nordeste brasileiro, impedimento às transformações sociais)? 
No evangelho pode-se perguntar sobre o silêncio de Deus a respeito dos esmagamentos do mundo faminto de justiça, triturado nas exclusões e opressões. Deus realmente silencia diante das desigualdades e das injustiças? Os tripulantes do barco em perigo gritam por socorro. Precisam da manifestação de Deus. A tempestade, a noite escura, coisas que místicos e não-místicos experimentam, são perigos e silêncios insuportáveis. Sempre! Jesus, presença de Deus entre os homens, compartilha nossos temores, medos, inseguranças, enquanto instila fé e segurança na ação de Deus. Jesus caminha sobre o mar, desprezando os riscos religiosos, mitológicos, da superstição determinista que cerca o homem e a mulher, o ser criado entregue ao fatalismo e à irreversibilidade do mal. 
Os antigos consideravam o mar como o lugar onde habitavam monstros incontroláveis (no Antigo Testamento, freqüentemente Yahweh é encontrado em luta primordial contra monstros draconianos, habitantes do mar. Yahweh se sobrepõe a yammú -- monstro do mar -- em razão das condições precárias, injustiças desde os tempos primordiais, no mundo criado; a Bíblia vai referir-se à necessidade de uma “uma nova criação”, onde o mar não mais existe). Sob contextos mitológicos, fundamentalistas preferem situar essas figuras para identificar realidades do “mundo celestial”, espiritual, literalmente. Com desenvoltura se fala do “diabo”, de “satã”, de “satanás” e seus supostos disfarces. 
Crenças ancestrais, dualistas, e suas cosmogonias dominam o universo da superstição no ambiente fundamentalista. A cosmogonia bíblica original, porém, dará considerável importância aos símbolos mitológicos que promovem o caos, ou que minimamente neles estão embutidos. A diferença está num aspecto iniludível: todas essas forças, sem exceção, são derrotadas pelo Filho do homem, e não há que se esperar, de Cristo, qualquer vitória a acrescentar-se sobre as forças do caos. Cristo já reina acima de todos os poderes do mal, diz a Bíblia. 
Deus apresenta-se em Jesus Cristo como libertador dos determinismos sociais, políticos, e até dos determinismos biológicos. É um conforto existencial indispensável para homens e mulheres angustiados, inseguros, temerosos. Não podemos exigir mais do que a certeza de um mundo transformado, na manifestação de Deus em Jesus. O ensinamento essencial de Jesus aponta: Deus está no mesmo barco, conosco. Deus está ao lado dos que sofrem violência; dos que são excluídos do mundo privilegiado. Debaixo de um silêncio sutil, somos chamados a buscar forças na fé e na confiança sobre os atos de Deus; somos convidados a lutar contra elementos adversos e a “caminhar sobre as ondas”, como Jesus, debaixo de tempestades, dentro da noite escura do mundo excludente, violento, desigual. 
Contudo devemos abrir os olhos e a mente. Jesus caminha por cima das águas bravias que escondem os monstros horripilantes da injustiça, do desrespeito aos direitos fundamentais do homem e da mulher, da fome, da miséria e da violência. Crenças religiosas e superstições sufocam a fé e a confiança na obra salvadora de Deus. Não é uma história boa para se contar às vítimas da monstruosidade explícita no cotidiano da pobreza e da miséria. Esses monstros, longe de estar escondidos nos mares profundos, permanecem à luz do dia como uma terrível ameaça contra o reinado de Deus. Jesus nos convida a navegar sem temor ou tremor sobre os mares da vida. 
Derval Dasilio é pastor da Igreja Presbiteriana Unida e professor do Centro de Formação Teológica Richard Shaull, em Vitória, ES.

FONTE: Editora Ultimato - formação e informação