Um episódio tremendo narrado nos Evangelhos, em detalhes no capítulo cinco de Lucas, dá conta de uma pescaria absolutamente atípica realizada pelos irmãos Pedro e André, companheiros de, ninguém menos, do que Jesus de Nazaré, em pessoa. Jesus usara o barco deles como púlpito para falar à multidão que se concentrara na praia. Quando terminou sua pregação, ordenou a Pedro que navegasse para alto mar e lançasse as redes para pescar. Pedro ficou perplexo, mas tratou de não contrariar o mestre. O que se viu foi um assombro. Nunca na história daquele país alguém pescou tantos peixes quanto esses caras. Foi preciso juntar todos os barcos nas imediações e nem assim deram conta de carregar todo o produto daquela pesca doida. Pedro surtou e chegou a pedir a Jesus para se ausentar dele, pois se considerava um tremendo picareta não merecedor de tal dádiva e o mesmo se deu com os outros presentes.
Mas o Gran Finale dessa história foi inesperado e surpreendente, além de chinfrin, para horror de certos pastores da moda que andam lançando livros e vídeos onde ensinam os incautos a “pensar grande”. Veja, Jesus disse-lhes:
“Não temas; de agora em diante serás pescador de homens“.
Os meninos estavam tão completamente em transe que largaram suas redes, cujo significado é: deixaram seu trabalho definitivamente, e partiram atrás daquele maltrapilho guerrilheiro e errante, mas com uma luz insuportável em seu semblante.
Claro que eles poderiam ter ficado em seus empregos, ainda mais depois daquela pesca maluca. Você e eu no lugar deles diríamos a Jesus: Olha Senhor, agora não é momento ideal, precisamos contabilizar essa pesca, depois cuidar das vendas e administrar o produto todo. Certamente, gastaremos umas duas ou três semanas nisso, sem falar na continuidade da pesca. A tomar por hoje, ainda teremos muito peixe para pescar e distribuir. Passe no mês que vem, quem sabe poderemos sentar para conversar sobre seu projeto. Faça melhor, traga-nos um projeto escrito para podermos avaliar mais detalhadamente. O conselho dos pescadores está mesmo para se reunir e, quem sabe, conseguimos encaixar ele na pauta.
Alguns dos meus ex-colegas de seminário, depois de uma pesca inacreditável dessas e sentados no alto da montanha de peixes, escreveriam textos confessionais em seus netbooks para postá-los em seus sites e seus puxas sacos tratariam de replicá-los por toda a blogosfera e twittersfera, mas continuariam pescando peixes mesmo, depois de adquirir mais uma boa dose de camisas La Coste, alguns Armanis novos e, claro, a Harley da hora. Pior é que eu, provavelmente, continuaria a invejá-los.