20/02/2009

RECOMENDAÇÕES AOS JOVENS TEÓLOGOS E PASTORES

 sunrisesong Posted by: Camila

Os trechos a seguir foram lidos, assim como a totalidade da obra em questão, há quase dois anos. Esta pequeníssima seleção foi devidamente copiada em uma pequena folha de papel que esteve perdida ao longo deste tempo. Agora, por ocasião do reencontro, decidi transcrevê-la aqui.

Recomendações aos jovens teólogos e pastores - Helmut Thielicke

A adolescência teológica

- Em primeiro lugar, estamos lidando com o fenômeno tão natural do crescimento. O pensamento teológico pode (e deve) tomar conta de alguém como verdadeira paixão. Mas dedicação apaixonada significa uma maneira de pensar e falar que quase sempre é emprestada dos ambientes em que a pessoa tem se movimentado.

- Você pode ver que o jovem teólogo não está de maneira alguma à altura destas doutrinas em seu próprio desenvolvimento espiritual, mesmo se for capaz de entender bem a lógica do sistema - ou seja, a casca daquilo que era no início um problema espiritual, e o curso legítimo e lógico do desenvolvimento vivo na história da doutrina.

- O mesmo homem que está em condições de repetir uma palestra sobre Lutero, ou até fazê-lo sozinho, provavelmente conhece pouco ou nada destas coisas, e nem pode conhecer. Em seu livro sobre Goethe, Gundolf fala, referindo-se a casos como este, de experiência meramente conceitual. Alguma verdade não foi “assimilada” como experiência de primeira mão, mas foi substituída pela “percepção” daquilo que outra pessoa (Lutero, por exemplo) descobriu por experiência própria. É assim que se vive, por empréstimo.

- É preciso saber ficar calado. No período em que a voz está mudando, não se canta.

Ao reler estes apontamentos, parece que finalmente pude compreender mais profundamente o que Thielicke disse. Não se trata de algum tipo de censura, nem mesmo de uma hierarquização entre os mais e os menos amadurecidos teologicamente - este tipo de leitura revela o vício interpretativo de quem está sempre se comparando com os demais (talvez mais um dos traços da adolescência) -. O que Thielicke disse consiste em uma espécie de caracterização de um determinado período da caminhada teológica por ele chamado “adolescência”.

Em outras palavras, não há nada de errado em se ser adolescente quando se É um adolescente. Não há nada de errado em se “viver por empréstimo”, quando ainda não se tem uma história própria, quando se está começando. Não há nada de errado em se apropriar, em um primeiro momento, apenas teoricamente de um conteúdo vivencial. Precisamos de exemplos, de caminhos e de mapas. Precisamos da adolescência para chegarmos à adultez.

No entanto, o que me faz pensar é como saber quando a adolescência deve ter fim - pois é fato que adultos-adolescentes são criaturas pela metade, movimentando-se num limbo onde não se é integralmente nem uma coisa, nem outra. Como saber quando já é hora de se construir uma história própria, sem desprezar a história já construída, a história dos outros e da qual somos herdeiros? …Talvez eu esteja “colocando a carroça na frente dos bois”.

Partindo do que disse Thielicke, a adolescência é a época de assimilar, ainda que somente intelectualmente, o patrimônio da história. E para que se chegue a um amadurecimento equilibrado e saudável, um tal período faz-se necessário. Entretanto, que espécie de crescimento, de desenvolvimento se dará quando sequer se sabe reconhecer e interpretar este patrimônio, esta história vivida por outros? A que espécie de adultez se chegará se, por outro lado, havendo reconhecido e intepretado este patrimônio, tome-se esta etapa como sendo a derradeira, como o ápice do amadurecimento, esquecendo que o momento seguinte, isto é, a prática efetiva, a vivência autônoma e responsável é o essencial?

Parece-me que, salvo raras excessões, oscilamos entre a orfandade teológica e uma pré-adolescência tardia.

FONTE: metamorfoseantemente