19/03/2009

DESTE “deus” SOU ATEU

Marcos Inhauser
Recebi o seguinte e-mail do meu amigo, pastor Marcos Kopeska: “(No) censo [...] divulgado pelo IBGE [...] me chamou a atenção [...] o aumento [...] do contingente de pessoas que se declaram sem religião. Até os anos 70, este percentual estava abaixo de 1% [...]. Nos anos 90 subiu para 5,1%. Atualmente, chega a 7,3%. A cifra global, inferior a 10%, pode não ser tão expressiva, mas o ritmo de crescimento impressiona. Penso que o crer ou não na existência de Deus já é uma disputa ultrapassada e fora de moda [...]. Albert Einsten [...] declarou: ‘Quanto mais acredito na ciência, mais acredito em Deus. O universo é inexplicável sem Deus’. Abraham Lincoln, uma das dez maiores personalidades de todos os tempos, concluiu: ‘Eu entendo que um homem possa olhar para baixo, para a Terra, e ser um ateu; mas não posso conceber que ele olhe para os céus e diga que Deus não existe’. [...] O que me preocupa são os conceitos deformados que estão se formando a respeito de Deus. Confesso que já encontrei muitos ‘deuses’ diferentes nesta ‘teologia tupiniquim’ que pairou sobre nossa pátria a partir dos anos 80 e pegou em cheio o cristianismo. O Deus soberano, criador e sustentador do universo foi trocado pelo ‘deus do mercado da fé’, disposto a leiloar sua imagem em cada reunião. Trocamos o Deus Altíssimo, onisciente e onipresente, que independe de nós, pelo ‘deus Papai Noel’ (aquele que, para conquistar admiradores e adoradores, sai distribuindo presentes a granel). Trocamos o Deus que nos guia mesmo nos vales escuros da vida pelo ‘deus paternalista e superprotecionista’, que, em nome de um triunfalismo barato e sem propósitos, não nos deixa passar pelas provações. Trocamos o Deus que nos ensina a viver em paciência e longanimidade pelo ‘deus micro-ondas’ [...] imediatista, que é obrigado a fazer o que eu quero aqui e agora. Concluo que crer ou não crer não é mais a questão. A questão é em que Deus temos crido”.
Quando ouço os pregadores que fazem da fé um show, que fazem seu reino universal, e mesmo outros em igrejas chamadas históricas, preciso dizer que, se Deus é o que estas pessoas dizem que é e ensinam, eu não acredito nele. Sou ateu do deus deles. O deus dos pregadores televisivos e anunciadores do sucesso é um deus mecânico, muito ao estilo das “vending machines”: basta colocar a moeda e pegar a benção. É um deus subserviente, mecânico, previsível, movido pela gasolina das ofertas, impiedoso, que não conhece a graça.
De minha parte, prefiro o Deus do evangelho de João, que vai em busca dos necessitados, que dá a quem não pediu, que abençoa quem não merece, que ama os seus até o fim.


Marcos Inhauser é pastor, presidente da Igreja da Irmandade e colunista do jornal Correio Popular.

FONTE: Editora Ultimato - formação e informação

MAS O QUE É A JUSTIÇA DE DEUS?

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Uma definição simples da justiça divina é que ela é o atributo que reflete a integridade moral de Deus. A justiça de Deus não inocenta os culpados, por mais escondidos que eles estejam, nem culpabiliza os inocentes, por mais caluniados que eles sejam. Deus é onisciente e conhece a dimensão exata da nossa culpa, e também sabe quando alguém está transferindo sobre outrem uma falsa culpa. Assim, quando Adão lançou a sua acusação contra Deus e sua esposa, pelo seu pecado, o Senhor puniu todos segundo a iniqüidade de cada um. Não há injustiçados, nem omissões no tribunal divino.

A justiça de Deus tem motivo certo e medida certa. Embora a santidade ofendida seja de grau infinito, exigindo uma punição eterna, ela não será aplicada aos escolhidos de Deus, pois  esta punição foi imputada no amado Filho, sobre a cruz. Mas, por causa do Seu redentor propósito eterno, Ele decidiu condicionar o Seu perdão ao nosso arrependimento (At 3:19). Ele nos pune para manifestar a Sua glória, sem excessos, corrigindo e educando-nos para vivermos a Sua santidade, à imagem de Cristo.

A justiça de Deus não é negociada, não é comprada, nem é subornada. A Sua justiça muitas das vezes, ao nosso parecer, é lenta: porque ela não está a serviço de poder econômico algum, de poder político algum, de religioso algum. Deus é independente de qualquer necessidade e Absoluto em Suas decisões. Nada pode intimidá-LO na aplicação da Sua justiça. Ninguém pode manipular os resultados dos Seus juízos, nem torcer os padrões da Sua retidão.

Deus retribui a cada um segunda a sua medida. A justiça de Deus separa o falso do verdadeiro, o joio do trigo, o fingido do autêntico, o condenado do perdoado, o incrédulo do crente, o perdido do salvo. A justiça de Deus coloca de um lado as boas obras meritórias e do outro, as boas obras produzidas pelo coração purificado e agradecido. Deus é inerrante em Suas sentenças, bem como é exato em Suas recompensas.

A justiça de Deus traz à tona os pecados não confessados nem abandonados, e joga no lixo os pecados arrependidos. A justiça de Deus é terrível para com aqueles que amam mais a impiedade do que a Sua santidade. Ela se manifesta agora de forma esporádica e há de se revelar no futuro próximo de forma conclusiva. É o que chamamos de juízo final! A Escritura declara em tom absoluto e solene: Deus é justo juiz, Deus que sente indignação todos os dias (Sl 7:11).


DEUS, ENTERROS E DORES

Hoje tive um dia agitado. Na parte da manhã, realizei um ofício fúnebre. À tarde, aconselhamentos e visitas. E à noite, culto público na igreja. Chego à frente do computador emocional e fisicamente esgotado.
Ainda estou sob o efeito emocional do ofício fúnebre, pois todo o meu dia girou em torno dele. Sei que a morte é algo inegociável em nossa existência. Sei que todos, independente da raça, credo, sexo ou posição política e sociocultural, serão igualados pelo suspiro final. E sei também que o Senhor consola aqueles que nele confiam, levando para si os que morrem em Cristo.

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Porém, mesmo sabendo de tudo isso, como reagir quando se faz o ofício fúnebre de uma moça de 21 anos, que estava planejando se casar com o tecladista da equipe de música da igreja que pastoreio? O que responder ao jovem namorado da falecida que, mesmo firme em sua fé em Cristo, ficou abalado (com toda razão) com o falecimento? A pergunta que me passou pela mente, e que me foi feita pelo rapaz, foi: “Por quê? Por que Deus, sendo bondoso e misericordioso, leva alguém pleno de saúde, sem nenhum sinal de enfermidade, que buscava intimidade sincera com o Senhor, ceifando sua vida? Qual o propósito de Deus nisso?”.
Nem sempre o trabalho pastoral é fácil. Aliás, quase nunca. É verdade que há momentos suaves e alegres, como a celebração de um casamento, uma festa de aniversário, o batismo de um filho da igreja. Porém, esses momentos leves são alternados por momentos mais árduos: um aconselhamento a um casal destruído pelo pecado, um falecimento, uma enfermidade terminal. Conforme David Hansen explicita, o trabalho do pastor oscila entre dois pontos: o “eros” e o “thanatos”. Trabalhamos no “eros” (ou amor) nos casamentos, nos batismos, nas festas de aniversário, quando o amor humano brota. No entanto, trabalhamos também no “thanatos” (ou morte) nos falecimentos, nas rupturas relacionais, nas rixas, quando brota o lado ruim no ser humano.
Ao trabalhar o “thanatos”, e em especial no falecimento da referida moça, sempre me vem o questionamento: “Por quê?”. Sempre queremos saber a razão, o motivo, o propósito. Muitos, ao não conseguir encarar a dimensão de mistério da fé cristã, tentam, de modo irresponsável, diminuir o tamanho de Deus, fazendo dele apenas um mero companheiro cósmico, que desconhece o futuro e não sabe e nem pode evitar o pior.
Outros jogam a culpa pelas coisas ruins em cima do próprio homem ou de sua incredulidade, transformado Deus em um espectro impassível e indiferente à nossa dor.
Creio que ambos os extremos são terrivelmente perigosos. No primeiro, a conclusão lógica frente a um Deus menos Deus é o desespero e a angústia, resultando no existencialismo; no segundo, frente a um Deus relacionalmente diáfano, o resultado é o cinismo, desembocando no niilismo.
Como responder, portanto, ao “porquê” frente ao “thanatos”? Sinceramente, gostaria de saber. Porém, tenho de me render ao fato de que sou um humano, pecador e limitado, que serve a um Deus santo e ilimitado, e que, portanto, não tenho todas as respostas que queria. Contudo, sinto que há uma boa dica em Jó. Em sua terrível situação, ele questiona a Deus sobre a razão de seu sofrimento. Deus começa a responder no capítulo 38. Porém, sua resposta não soluciona os “por quês”. Em vez disso, Deus dá um relato da sua grandiosidade na criação. Portanto, a resposta que Deus dá a Jó não são apenas esclarecimentos às perguntas. A resposta à dor de Jó é a sua própria presença. Assim, saber que a presença de Deus é sua resposta à nossa dor não é apenas a única resposta disponível, mas a melhor entre todas, caso houvesse outras.
Talvez não nos satisfaça racionalmente, mas a presença de Deus frente à dor acalma a nossa tormenta interior. E nos permite continuar servindo-o, com nossas dores e alegrias. Talvez não entendamos mesmo a razão do “thanatos”. Mas, com a consciência da presença do Senhor, isso se torna de menor importância.


• Escrito por: Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em teologia e mestre em missões urbanas pela FTSA, hoje pastoreia a IPI de Rolim de Moura, RO.

FONTE: Editora Ultimato - formação e informação