08/05/2009

ÉTICA NA EVANGELIZAÇÃO‎

 no meio da seara

 

Nosso assunto está diretamente ligado a natureza da fé cristã. Ética, santidade, respeito e amor ao próximo, fazem parte da essência do Cristianismo. Portanto, qualquer prática evangelística sem ética, nega por si mesma a natureza da mensagem pregada. Um comportamento ético na evangelização tem várias características. Vamos ressaltar somente quatro: 1) conhecimento das convicções religiosas do grupo que evangelizamos. 2) Entender as atitudes dos evangelizados. 3) Não atrelarmos o Evangelho a certeza da cura divina. 4) E nem nos aproveitarmos Financeiramente dos evangelizados. De antemão já presumimos que o evangelista terá conhecimento bíblico.

1. CONHECER AS CONVICÇÕES RELIGIOSAS DO GRUPO ALVO

Pode-se dizer que o Evangelho sempre será anunciado num ambiente hostil, pois nas palavras de Jesus, se fôssemos do mundo, o mundo nos amaria (Jo. 15:19). É verdade também, que o Evangelho encontrará maior resistência entre pessoas, cuja formação os leve a se oporem veemente ao Evangelho. Considere por um momento os testemunhas de Jeová ou os muçulmanos. Ambos grupos se formam em ambientes religiosos, que ensinam que as doutrinas cristãs estão erradas. Negam a divindade de Jesus, portanto, a Trindade. E por conseqüência a veracidades das Escrituras Bíblicas, pois estas sustentam nossas crenças cristãs. Ambos grupos, mantendo suas diferenças, negam a crucificação de Jesus. Os muçulmanos crêem que Jesus foi elevado ao céu, um pouco antes de seu aprisionamento. Portanto, a pessoa crucificada parecia com Jesus, mas não era Ele (Al. 4:157-158). Para os testemunhas de Jeová, Jesus teria morrido em uma estaca, e não na cruz. Não é o caso de entrar nos detalhes destas diferenças. Mas certamente indicam, que tanto para estas doutrinas, como para outras, que se faz necessário estar informado e preparado para dialogar, em evangelização, com pessoas destes grupos. O mesmo é verdade para outros ambientes antagônicos ao Cristianismo. Nosso preparo pré-evangelização deve ser precedido por obter informação sobre o grupo alvo. O contrário implica em descaso com a realidade das pessoas, que dizemos que amamos, querendo levá-las a Jesus.

Esta linha de raciocínio não é anormal no contexto bíblico. Veja que Jesus tanto conhecia as Escrituras, como as convicções religiosas de seus dias. Por isso, podia ensinar opondo-se as mesmas. No sermão da Montanha várias vezes Ele disse: ouviram o que foi dito (citando um mandamento cuja interpretação religiosa opunha-se ao bom entendimento). Porém, vos digo (Mt. 5:21-48). Desta forma, Jesus demonstrara estar informado sobre as convicções religiosas contrárias, por má interpretação, e ensinava o correto. Jesus era eficaz no ministério por várias razões. Mas certamente que ajudou ter sido conhecedor das existentes convicções contrárias, podendo logicamente se opor as mesmas à luz das Escrituras. Podia demonstrar com profundidade a revelação bíblica sobre os assuntos que abordava.

Paulo e Pedro seguiram nos passos de Jesus. Pedro afirmou que devemos estar preparados para responder a todo aquele que nos pedir razão da nossa esperança (1Pe. 3:15). A palavra razão deste verso, no grego, é apologia. Refere-se a: defesa verbal, discurso em defesa, ou, a argumento raciocinado. Portanto, Pedro presumia que devíamos estar intelectualmente Preparados, bem informados, para a evangelização. É necessário ter conhecimento bíblico, como conhecimento da realidade existencial do inquisidor. Incluímos nisso conhecimento quanto a sua realidade religiosa. Sem estes conhecimentos não ocorrerá a apologia: estar preparado para responder...

Paulo por sua vez, tinha como prática dialogar, expondo as Escrituras. Isso exige conhecimento das Escrituras (doutrinas) e da realidade sócio, cultural e religiosa do grupo alvo. Dois verbos indicam isso na prática evangelística de Paulo: dialegomai e dianoigo. Dialegomai tem vários significados, refere-se a: argüir, discutir, debater, ou arrazoar (At. 17:2). Por sua vez dianoigo, refere-se a: expor, abrindo a mente de alguém, fazendo com que compreenda algo, despertando a faculdade de entender (At. 17:3). Ambos verbos aparecem no capítulo que aborda a visita de Paulo a Atenas. Ele tanto dialegomai, como dianoigo. Isso entre os judeus e gentios (At.17). Paulo partia do contexto no qual se encontravam seus ouvintes. Tinha conhecimento para tal. E a partir daí, logicamente expunha o Evangelho, debatendo, argüindo, arrazoando, abrindo as mentes.

Vemos, portanto, que para Jesus, Pedro e Paulo, conhecer as Escrituras e a realidade do grupo que evangelizavam era importante. Isso demonstrava preparo para a tarefa de evangelização. Importar com as pessoas em seus contextos culturais, com suas convicções religiosas, é uma maneira de amá-las e demonstrar que são importantes para nós, mesmo que discordemos. Isso condiz com a boa ética, que abre a porta do respeito mútuo, necessário para evangelização relacional de médio e longo prazo. O descaso quanto a estar informado e preparado, só criará mal entendidos culturais e intelectuais, levando tudo a perder.

2. ENTENDER AS ATITUDES DOS EVANGELIZADOS

Você gostaria de ouvir um grande herético? Certamente que não. Provavelmente tentaria interrompê-lo muitas vezes. Testemunhas de Jeová e muçulmanos pensam que somos muito heréticos, por sustentarmos as doutrinas mencionadas acima. Por isso, nos interrompem tanto quando os abordamos. Além disso, no caso específico de muçulmanos, acreditam que nós cristãos cometemos o único pecado que não tem perdão, shirk. Na prática shirk refere-se a idolatria, sincretismo, quando se afirma que alguém ou algo é deus, além de Alá. No entendimento deles, ao afirmarmos que o homem de Nazaré (que na convicção islâmica é somente um profeta) é Deus, estamos cometendo shirk. Por isso, somos dignos do fogo do inferno. Na linguagem técnica do Alcorão, ao considerarmos Jesus Deus, estamos atribuindo parceiro a Alá. Isso é shirk, pois com esta crença colocamos um profeta no mesmo pé de igualdade de Alá, como uma parceiro de mesmo nível por ser divino. Segundo a convicção islâmica, para cristãos não há perdão, a menos que deixemos nossa crença na divindade de Jesus (Al. 5:72).

Uma vez que muçulmanos e testemunhas de Jeová nos interrompem tanto quando são evangelizados, por nos considerar heréticos, não ajuda nada durante as interrupções ficar irritado, impaciente e pensar que são pragas. Se são criados a imagem e semelhança de Deus não podem ser pragas. Precisamos compreender a razão por trás da atitude de nos interromper, pensam que somos heréticos. Sendo assim, é necessário estar preparados para suportar as interrupções, perseverando na amizade. Disto depende criar o relacionamento duradouro e obter a oportunidade de evangelização com qualidade. Infelizmente, muitas vezes os evangelistas de muçulmanos e testemunhas de Jeová estão despreparados e se irritam tanto. Não devemos deixar de amá-los por serem opositores, e nem mesmo deixar de amá-los, se após a evangelização decidirem permanecer nas trevas. É importante percebemos que é anti-ético considerar pessoas criadas em ambientes bem hostil ao Evangelho pragas. Isso não condiz com o Evangelho.

3. NÃO ATRELARMOS O EVANGELHO A CERTEZA DA CURA DIVINA

Não é anormal vermos hoje em dia campanhas evangelísticas prometendo cura divina, por ser Jesus o mesmo ontem, hoje e sempre. Neste caso, criam-se expectativas, que uma vez não cumpridas, exigem uma justificativa. Normalmente afirmam que a culpa é do enfermo, que não tem fé. Tal atitude é uma anomalia, presumindo um mundo sem dor, mesmo que houve a separação do homem de Deus. Nisso ignoram que a plenitude do Reino de Deus ainda não chegou. Claro que Jesus cura hoje. Mas não quer dizer que o fará em todos os casos. Deus em sua soberania sabe quando é hora de recolher, ou humilhar, julgar ou curar uma pessoa. É anti-ético fazer a promessa de cura para todos, todos os dias, como se pudéssemos determinar Deus em seus juízos e caminhos (Rm. 11:33-36).

4. NÃO DEVEMOS NOS APROVEITAR DOS EVANGELIZADOS

Infelizmente vivemos dias nos quais as pessoas são incentivadas a irem às igrejas, por aquilo que vão obter. Em parte não é errado, pois Jesus ainda atende o clamor dos desesperados. Porém, quando a vulnerabilidade do desesperado, quer seja por enfermidade ou por dificuldade financeira, é explorada, prometendo melhora em função de uma maior contribuição. Então, lamentamos muito isso. Pois em nenhum momento as Escrituras, ou ministério público de Jesus e dos apóstolos, nos permitem atrelar o atuar de Deus à generosidade de uma contribuição financeira. Há uma bênção financeira sobre aqueles que temem a Deus e são fiéis nos dízimos e ofertas. Contudo, esta bênção divina não deve ser ventilada na evangelização, incentivando as pessoas se aproximarem de Jesus por aquilo que podem ganhar. Pois na verdade, se forem sinceramente servos de Jesus não terão vida fácil, padecerão perseguições: Ora, todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos (2 Timóteo 3:12). A prática de atrelar bênçãos as contribuições financeiras, procurando assim atrair pessoas à igreja, ou a Jesus, é bem anti-ética e contrárias as Escrituras. Isso não possui respaldo no exemplo de Jesus e dos apóstolos.

Os pontos acima foram mencionados por serem comuns em nosso meio evangélico. Precisamos ensinar quão importante é considerar as pessoas em seu contexto religioso. Da compreensão disto depende nossa civilizada apologia e paciente evangelização. Isso também nos permite entender as atitudes dos opositores do Evangelho O contrário leva evangelistas despreparados considerar opositores ao Evangelho, pragas, o que é bem antiético. Também é bem anti-ético prometer cura a todos, todo o tempo, e atrair pessoas ao Evangelho em troca de benefícios materiais. Nossa evangelização precisa seguir o modelo de Jesus, Pedro e Paulo, foram exemplares nos quatro pontos acima.

fonte: Ética na Evangelização ‎(SILAS & MÁRCIA TOSTES)‎

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