22/01/2010

Corações mirrados

 castle

Thiago Azevedo
Uma das vezes que Jesus foi a sinagoga, era um sábado e neste dia especial, trouxeram-lhe um homem de mão mirrada, atrofiada e aqueles que se achavam detentores da verdade e de Deus, perguntaram se Jesus podia curar no sábado, se Ele podia quebrar uma lei, para curar uma vida.
Fico imaginando aquele rapaz, envergonhado por causa de sua deficiência, excluído de qualquer atividade manual, de qualquer convívio social, justamente por ser diferente dos "sãos", por se sentir mínimo na vida por se achar limitado diante dela.
Fico imaginando aqueles doutores da lei, tão dura, tão cruel, que é capaz de matar, que é capaz de trucidar qualquer um que fosse contrário, que fosse diferente, que ousasse se sentir mais livre. Assim são as leis, assim são os homens, assim são os adultos e assim são os religiosos.
Fico imaginando aquele dia, onde todos murmuravam, todos cochichavam, olhando com nojo aquele rapaz de mão mirrada, desviando o olhar para aquele homem diminuido. Tudo por causa de um dia, tudo por causa de algumas palavras escritas, tudo por causa de uma intrepetação de alguém que quer dominar.
Fico imaginando Jesus, fitando aqueles que mandavam e desmandavam na religião, mandavam e desmandavam na vida das pessoas, que olhar, ao mesmo tempo duro, ao mesmo tempo sentido, ao mesmo tempo triste, por todos aqueles que estavam ali. Seu desejo era que todos pudessem compreender a vontade do Pai, todos pudessem viver o amor intenso do Pai, se sentissem livres de leis e normas e pudessem descobrir a vida que há em caminhar livre como o vento que sopra onde quer.
Fico imaginando Jesus olhando para aquele jovem, vejo uma lágrima em seu rosto, por saber de toda sua história, todo seu sofrimento, todas suas limitações, todos os olhares desviados. Vejo Jesus se levantando delicadamente e andando em direção aquele rapaz, com a vida tão mirrada, com a alma tão atrofiada por sua deformação.
- Estende tua mão, meu filho. Disse Jesus.
- É lícito fazer o bem, mesmo que seja num dia em que vocês determinaram ser de Deus?
- Por que deixam atrofiar seus corações por causa de leis que não olham para o ser humano?
- Olhem para este homem. Vocês sabem dizer seu nome? Sabem dizer sobre seu sofrimento? Sua dor? Não, a única coisa que fizeram, foi usar-lhe para me julgar, usar sua deformação, sua humilhação para me colocar em xeque.
- Vou provar para vocês que o amor e o perdão, são muito maiores que suas leis, que sua religião.
- Filho olhe pra mim.
O rapaz olhou fixamente nos olhos de Jesus e viu profundamente o amor que sentia por ele. Ao fazer isso chorou e sentiu vergonha.
- Senhor, não posso, sou feio demais, sou deformado demais para ver todo o Seu amor por mim em seus olhos.
- Não se preocupe filho, você é um bem-aventurado, não pelo que é, mas pelo que vou fazer de você.
- O que farás de mim Senhor?
- Alguém perdoado.
Após dizer isso ao rapaz, Jesus voltou-se para a multidão.
- Vejam! E voltou-se novamente para o rapaz.
- Filho, fique em paz, estás perdoado, fique curado, não apenas sua mão, mas curado está teu coração, curado da atrofia que te impuseram. Estás livre para viver, vai em paz, nesse amor que provém do Pai.
Ao dizer isso, algo milagroso aconteceu, a mão atrofiada foi curada e o jovem de semblante triste, passou a sorrir um sorriso de paz, que inunda de um coração curado por Deus. Aquela multidão pensou que este rapaz havia enlouquecido, por causa da cura de sua mão, porém, o que eles não compreendiam, era o que significava se sentir livre e perdoado.
Aquele homem saiu correndo na rua, pulando, cantando e brincando com as crianças e elas se alegravam com o rapaz, pois estas sabiam perfeitamente o que ele estava sentindo e brincavam de roda, cantando antigas cantigas alegres, cantigas que nenhuma adulto conhecia mais, nenhum religioso poderia cantar, pois exprimiam a liberdade que não poderiam sentir.
Enquanto isso acontecia, Jesus saiu da sinagona e se juntou ao jovem rapaz e as crianças e todos começaram a brincar, rodar e a cantar velhas cantigas de roda.
Paz e bem
Observação: Este texto foi baseado no texto de Mt 12.9-14

fonte:    Descanso da Alma: Corações mirrados

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