11/12/2009

Descanso da Alma: Leila Lopes e o absolutismo da vida e da morte

 

Thiago Azevedo

Não chorem, não sofram, eu estou ABSOLUTAMENTE FELIZ!!! Era tudo o que eu queria: ter paz eterna com meu Deus e, se possível, com minha mãe.
Eu não me suicidei, eu parti para junto de Deus. Fiquem cientes que não bebo e não uso drogas, eu decidi que já fiz tudo que podia fazer nessa vida. Tive uma vida linda, conheci o mundo, vivi em cidades maravilhosas, tive uma família digna e conceituada em Esteio, brilhei na minha carreira, ganhei muito dinheiro e ajudei muita gente com ele. Realmente não soube administrá-lo e fui iludibriada por pessoas de má fé várias vezes, mas sempre renasci como uma fênix que sou e sempre fiquei bem de novo. Aliás, eu nunca me importei com o ter. Bom, tem muito mais sobre a minha vida, isso é só para verem como não sou covarde não, fui uma guerreira, mas cansei. É preciso coragem para deixar esta vida. Saibam todos que tiverem conhecimento desse documento que não estou desistindo da vida, estou em busca de Deus. Não é por falta de dinheiro, pois com o que tenho posso morar aqui, em Floripa ou no Sul. Mas acontece que eu não quero mais morar em lugar nenhum. Eu não quero envelhecer e sofrer. Eu vi minha mãe sofrer até a morte e não quero isso para mim. Eu quero paz! Estou cansada, cansada de cabeça! Não agüento mais pensar, pagar contas, resolver problemas... Vocês dirão: Todos vivem!!! Mas eu decidi que posso parar com isso, ser feliz, porque sei que Deus me perdoará e me aceitará como uma filha bondosa e generosa que sempre fui.
Aos meus fãs verdadeiros; aos jornalistas imparciais; ao Walter Negrão e sua esposa Orphilia; a LBV; ao Eduardo Gomes; ao prefeito de Itu, Herculano Neto e toda a sua equipe e ao meu amigo Zé meu muito obrigado. Às emissoras que trabalhei, obrigada. E aos colegas maravilhosos, muita luz! A todos os sites dignos que acompanharam a minha vida, SUCESSO!!! Ego, Esther Rocha, Thiago, Odair Del Pozzo, Felipe Campos, não se sintam esquecidos. Não posso citar nomes de amigas, pois aí seria um livro, mas Sueli você é a irmã que eu não tive. Márcia, seja sempre feliz amiga. Magrid, obrigada por tudo! Andréia, do TV Fama, beijo amiga. Tadeu (di Pietro) cadê você??? Desculpe a quem eu esqueci, a vida foi muito mais maravilhosa do que sofrida para mim. Obrigado Jesus, Nossa Senhora e meu Deus, perdoem-me e recebem-me como a filha honesta e bondosa que sempre procurei ser! Fiquem com Deus, todos! Leila Lopes.
Se existe sentimento maior que o amor, eu desconheço!
Fonte: Abril
Após ler esta carta fiquei me perguntando, o que faz com que percamos a vontade de viver? Não estou questionando sua vida, ou até mesmo a própria morte, se ela vai ou não pro céu, isso é irrelevante, pois nunca saberemos, para os que dizem que ela tem cadeira cativa no inferno, podemos nos surpreender com o amanhã. Mas a questão em foco é que quando leio esta carta, sinto uma pessoa cansada, exausta de tudo nesta vida.
Essa é uma questão que me faz transportar ao Coelet, que ao escrever sobre suas próprias frustrações e desgostos diz que na vida tudo é vaidade, até mesmo a própria vida. No nosso mundo hodierno, passamos por ela e somos desde ao nascer vitimados com um turbilhão que o mundo é, com toda sua rotina, todo seu consumo e principalmente toda sua desgraça. Sinceramente, muitas vezes me senti assim como Leila Lopes, agora o que me pergunto é, por que determinadas pessoas tem atitudes diferentes diante da vida? Não dá pra absolutizar dizendo que estas pessoas não tinham Cristo, pois conheci amigos que amavam Jesus de paixão, mas que infelizmente decidiram dar cabo de suas vidas, por não conseguir lidar com o sentimento de fracasso, de perda.
E ainda digo mais, muitos preferem dar cabo porque compraram uma esperança falsa de que ao "aceitarem" o Jesus de suas respectivas instituições (e isso não está restrito as igrejas da prosperidades, mas todas) acreditaram que Ele resolveria todos os seus problemas, porém, quando estes problemas não foram resolvidos e justamente por não haver companhia, não souberam lidar com suas perdas. Temos por exemplo o caso de Van Gogh, grande pintor, irmão em Cristo, mas que diante de tanta depressão, tantos problemas se matou.
Muitos de nós não sabemos lidar com isso, normatizamos, como eu mesmo já cheguei a fazê-lo com versículos não escritos: "Os suicídas não herdarão o Reino dos céus". E com isso trazemos mais peso de lei e dor principalmente para as famílias que procuram entender perda tão incompreensível. Quantos de nós, nunca pensou em tirar sua própria vida diante de uma situação que não compreendia e que via que nunca teria fim?
Nesse sentido devemos nos perguntar: Qual a dimensão da graça de Deus? Ou melhor, Qual a dimensão do amor de Deus? Existem limites, ou é realmente ilimitado? Isso nunca saberemos através de teoria e nem mesmo na Bíblia ao lê-la, saberemos essa dimensão, só através da experiência poderemos ter uma vaga dimensão desse amor, uma experiência que transcende o fato de pertencer a uma igreja. Quando esse amor não permanecer mais em nós e se extender aos nossos próximos tão oprimidos, quando não vermos mais o diferente, não vermos mais o outro, mas apenas pessoas que devem ser e são amadas, por Deus e por nós.
Não dá para racionalizar as perdas humanas, nem racionalizar a dor que sentimos e muito menos colocá-la num sistema teológico/filosófico só para atender nossas certezas, ou simplesmente para termos o domínio da verdade, pois são em situações como essas que vejo a verdade que possuímos esvair de nossas mãos e a única verdade que se manifesta é o silêncio, por não saber e não ter a resposta pronta para compreender isso.
A única verdade que podemos defender em situações assim é o amor, quando nos aproximamos e nos deixamos amar e ser amados, sem respostas, apenas ação que se manifesta no silêncio da alma, deixando Deus ser Deus, deixando que Ele tome suas decisões sobre as vidas. Devemos sempre lembrar, não termos respostas para tudo e essa é a maior manifestação da grandiosidade de Deus, é a maior manifestação de amor de Deus para conosco.
O que aconteceu com Leila Lopes? Não sei. Não pedirei misericórdia por sua vida, pedirei pela minha por procurar ser juiz em vez de réu nesse julgamento, por não me considerar tão frágil quanto ela, por ter me suicidado várias vezes em meu coração quando me vi perdido, por muitas vezes que matei pessoas, simplesmente mandando-as ao inferno no meu coração. Se ela encontrou paz, eu não sei, mas sei que nós precisamos encontrá-la e vamos caminhar juntos para enfim chegar lá.
Paz e bem

FONTE:      Descanso da Alma: Leila Lopes e o absolutismo da vida e da morte

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