13/10/2009

COMO É DOLOROSO PERDER!

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Já sofri muitas e dolorosas perdas em minha vida. Perdas emocionais, físicas e materiais. Gostaria de partilhar com vocês três delas que, em minha concepção, foram reestruturantes na minha forma de perceber, avaliar e lidar com a própria vida.

A primeira aconteceu quando tivemos que enfrentar a morte prematura de meu irmão, aos 33 anos de idade, num acidente automobilístico que vitimou toda sua família (esposa e três filhos). Por seu temperamento e confiança em Deus, meu irmão era uma pessoa extremamente amada por nós. Perdê-lo, abriu um vazio emocional imenso em nossas vidas e, seguramente, se não fosse o Senhor ao nosso lado, teríamos sucumbido diante da dor e dos "porquês" que nos vêm a mente nestas horas, sem nenhuma explicação.

Depois sofri uma perda significativa quando, há dois meses do término do meu tempo a bordo do navio-missionário "Logos", sofremos um naufrágio. Em poucos minutos, perdemos tudo o que tínhamos. Parte da nossa história foi para o fundo do mar sem nenhuma possibilidade de recuperação. Esta perda foi imensamente dolorosa porque me fez questionar muitas crenças cristãs nas quais, até então, eu baseava minha fé. Por exemplo, tinha convicção de que por sermos o povo de Deus, fazendo a obra de Deus, seríamos sempre livrados ou poupados de qualquer situação ruim ou negativa. Tive que aprender que nem sempre isto ocorre porque, muitas vezes, os propósitos de Deus transcendem nossas situações imediatas.

Também sofri muito quando tive que retornar do campo missionário na Espanha como consequência de situações conflituosas que não foram devidamente trabalhadas. Voltei deixando algumas pendências que só foram resolvidas alguns anos depois. Eu amava aquele campo missionário e tinha investido nele todas as minhas perspectivas, sonhos e idealizações para o futuro. Em semanas, tive que reelaborar tudo isto. O sentimento de perda foi algo muito intenso que vivenciei durante vários meses.

Por estas e muitas outras experiências posso dizer que, o enfrentar das perdas em nossas vidas, dentre todas as demais experiências humanas é, seguramente, uma das mais difíceis de ser suportada e aceita.

Talvez porque, a maior verdade que constatamos diante desta realidade é que, quase sempre, não estamos preparados para perder. Salvo as exceções, uma vez que a vida não é feita de certezas absolutas, a maioria das pessoas, quando são surpreendidas por situações de perda, independentemente do nível em que esta se processa (perda de um emprego, término de um relacionamento, perda de um ente querido, etc.), lutam desesperadamente para negar a situação buscando meios de se auto proteger de todas as visíveis e invisíveis marcas que as perdas parecem produzir em nós.

Geralmente em momentos de perdas, somos questionados e questionamos muitas coisas, somos machucados e machucamos aos que nos amam, somos descentralizados e perdemos o centro de muitos valores, metas e objetivos em nossas próprias vidas.

Quase sempre, a idéia de perder algo vem carregada de sentimentos de dor, desconforto, insegurança e medo. Tememos a perda. Tememos ter que nos preparar para perder. Tememos o processo e as possíveis mudanças às quais esta perda poderá nos conduzir e, finalmente, tememos equacionar a perda à matemática do ganho.

Dificilmente, quando estamos enfrentando perdas, conseguimos perceber algum ganho. Perdas parecem assumir sempre características de ausência, de fracasso, de negação. Esta percepção resulta diretamente do fato de sermos constantemente, social e emocionalmente, moldados para perceber os ganhos como sinais de aprovação, valorização, sucesso. Experiências opostas que equivalem a perdas, parecem afirmar que não fomos suficientemente capazes de conquistar, conseguir, reter e manter os ganhos. Portanto, fracassamos!

Por estas razões é tão difícil, humanamente falando, aceitarmos e lidarmos com nossas experiências de perdas. Contudo, a vida, de forma ordinária e extraordinária, resulta de uma somatória de perdas e ganhos. E somente quando aprendemos a "saborear" as experiências da perda como um tempero de nossa existência é que, definitivamente, elas podem representar novas fontes de crescimento, mudanças, maturidade e graça, permitindo-nos, assim, usufruir em plenitude os dias de nossas vidas.

Angela M. Pierangeli

O DOLOROSO FARDO DA PERDA  IN :

FONTE: ..:: No Cenáculo ::..

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