04/08/2009

VERSÍCULOS BÍBLICOS INTERPRETADOS EQUIVOCADAMENTE

Por Valmir Nascimento Milomem

É muito comum em meio a preleções e ensinos bíblicos, ouvirmos oradores destilando versículos bíblicos sem, no entanto, saber o seu real significado. O pastor Ciro Sanches Zibordi escreveu um brilhante livro sobre o assunto “Erros que os pregadores devem evitar“, editado pela CPAD, trabalho este que indico a todos quantos queiram se livrar das exposições e interpretações equivocadas da Bíblia e dos jargões evangélicos infundados. Faça uma visita ao blog do Pr. Ciro: www.cirozibordi.blogspot.com

Nesta oportunidade listarei dois versos bíblicos que têm, não poucas vezes, recebido interpretações equivocadas:

  • Letra assassina
“… porque a letra mata e o espírito vivifica” II Cor. 3.6
Freqüentemente tal versículo é utilizado no sentido de se desvalorizar os estudos e o conhecimento, especialmente o secular. Segundo tal inferência, a letra em questão, diz respeito a letra do conhecimento.

Recentemente, inclusive, tomei ciência de uma “festividade” de novos convertidos em que o tema foi exatamente tal passagem bíblica, baseado nesse pensamento genuinamente equivocado.

Não é preciso muito conhecimento bíblico-teológico para se depreender do texto sob análise que Paulo está fazendo referência à letra da lei, e não ao conhecimento. Veja-se que o capítulo em que o versículo está inserido tem como tema principal a diferença entre o ministério do Antigo e do Novo Testamento, fato este que pode ser plenamente verificado nos versículos posteriores, onde Paulo escreve:

O ministério que trouxe a morte foi gravado com letras em pedras; mas este ministério veio com glória que os israelitas não podiam fixar os olhos na face de Moisés, por causa do resplendor de seu rosto, ainda que desvanecente” v. 7 – NVI

Ao comentar aludida passagem bíblica, a Bíblia de Estudo NVI, explica:
“Letra é o sinônimo de lei como padrão exterior, diante da qual todas as pessoas- por serem transgressoras – constam como culpadas e condenadas à morte. Por isso é apresentada como “o ministério que trouxe a morte” e o “o ministério que traz condenação” (v. 7,9). Por outro lado, o Espírito que dá vida é o Espírito do Deus vivo”, que, cumprindo a promessa da nova aliança, escreve a mesma lei no interior, ‘em tábuas de corações humanos”.

Ademais disso, a Bíblia se interpreta nela mesma. Nesse sentido, em nenhuma ocasião a Palavra de Deus desvaloriza o conhecimento, pelo contrário, ela incentiva todo cristão a buscá-lo.

“Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo”. II Pedro 3.18

Dá instrução ao sábio, e ele se fará mais sábio; ensina ao justo e ele crescerá em entendimento”. Provérbios 9.9

“Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual” Colossenses 1.9

Portanto, a letra do conhecimento não é “assassina” como pensam alguns, pelo contrário, “assassina” é a interpretações errônea.

Coisas que serão acrescentadas

“Mas, buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e ………… vos serão acrescentadas.” Mateus 6.33

Antes de demonstrar o erro que geralmente é ocasionado em referência ao versículo bíblico em Mateus 6.33, peço a você que complete o pontilhado acima com a palavra ou as palavras que estão ausentes. (sem consultar sua Bíblia, é claro!).

Pronto?!

Pois bem, quando faço esse pedido para meus alunos as respostas mais comuns são: Todas as coisas, todas as demais coisas. Qual foi a sua resposta?

Essa é uma típica passagem bíblica em que as palavras que a compõe não são devidamente observadas. No subconsciente da maioria das pessoas o versículo bíblico seria completado com “Todas as coisas ou todas as demais coisas”, resultado exatamente da quantidade de vezes que ouvimos tal expressão em nosso cultos ou ensinos. Porém, nenhuma dessas expressões apresentadas estão certas, pois, segundo Mt. 6.33 as palavras ausentes são: “todas estas coisas”. Se você acertou, meus parabéns!

Existe muita diferença no sentido do versículo caso os termos sejam alterados?

Sim, e muita diferença. Vejamos:

A partir de Mt. 6.25 Jesus começa a falar acerca dos cuidados e inquietações que afligiam os seus seguidores ( e todos nós cristãos, de uma forma geral). Ele diz:

“Não andeis cuidadosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber, nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o mantimento, e o corpo mais do que o vestuário?” Mt. 6.25

Cristo, portanto, estava fazendo menção às necessidades básicas de todo o ser humano: Comida, bebida e vestimenta.

Na seqüência, o Mestre demonstra aos seus ouvintes como Deus provê todas estas necessidades, dando exemplos da natureza como as aves do céu e os lírios do campo. Ainda, diz para não andarem preocupados ou inquietos, afinal, o Pai celestial bem sabe de todas as necessidades do homem (v.32). Exatamente nesse ponto é que Jesus pede para buscarmos primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas seriam acrescentadas.

Assim sendo, a expressão [estas coisas] está se referindo àquilo que Jesus havia dito inicialmente, ou seja, às necessidades básicas e fundamentais de todo ser humano (comida, bebida e vestimenta). Se utilizarmos os termos “Todas as coisas ou todas as demais coisas” estaremos extrapolando o que a Palavra de Deus diz, dando vazão a expectativas equivocadas. Infelizmente, valendo-se dessa interpretação desvirtuada é que alguns pregadores da prosperidade dizem que se buscarmos o reino de Deus e a sua justiça, todas as demais coisas nos serão dados, dando, inclusive, exemplo de casas, carros e empregos milionários.

Ora, Jesus foi enfático. Ele se ateve às necessidades básicas do homem. Ele não nos prometeu mais do que isso. Agora, se Deus (pode) nos abençoar além dessas necessidades, aí é outra história. Ele é poderoso. Ele é o Criador. Entanto, não está obrigado a nos servir como se fosse o mágico da lâmpada, que segundo o conto, concede desejos a todos quanto a encontrarem.

Para corroborar essa verdade bíblica, lanço mão das palavras de Paulo:

“O meu Deus, segundo as suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” Filipenses 4.19

Veja-se bem, Paulo também está falando sobre necessidades.

Na área jurídica, especificamente no Direito Civil, existe uma distinção entre benfeitorias necessárias, úteis e voluptuárias, que pode servir como parâmetro para nossa análise.

Benfeitorias são obras realizadas pelos homem com o propósito de conservar (necessária), melhorar (útil) ou embelezar (voluptuárias) a coisa principal.

Portanto, ações necessárias são aquelas empreendidas com o objetivo de não deixar que a coisa vem a deteriorar ou perecer. Em referência ao homem, Deus nos dá as condições necessárias para a nossa vivência, as quais representam-se pela comida, bebida e vestimenta.

Ações úteis são aquelas que ajudam ou facilitam o uso da coisa. Aplicando-se ao homem, um exemplo de utilidade seria o carro, que facilita sua locomoção e o “auxilia” nos trabalhos cotidianos. E as voluptuárias são ações para dar embelezamento na coisa principal, como exemplo, cite-se um relógio rolex ou uma gravata italiana caríssima.

FONTE: VERSÍCULOS BÍBLICOS INTERPRETADOS EQUIVOCADAMENTE « E Agora, Como Viveremos?

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