Há muitos anos um grande amigo me emprestou um livro que me abençoou muito e que continuo voltando para suas palavras de tempos em tempos em minha jornada pastoral, buscando servir a Deus e Sua Igreja. Trata-se de Comunidade: Lugar do Perdão e da Festa. Abaixo estão algumas linhas onde Jean Vanier fala sobre a busca da comunidade ideal, perfeita.
Não devemos ir em busca da comunidade ideal. Trata-se de amar aqueles que Deus pôs ao nosso lado, hoje. Eles são o sinal da presença de Deus entre nós.
Talvez preferíssemos pessoas diferentes, mais alegres e mais inteligentes. Mas são estas que Deus nos deu e que escolheu para nós. É com elas que devemos criar a unidade e viver a aliança. Escolhemos sempre nossos amigos, mas não escolhemos nossos irmãos e irmãs: eles nos são dados. Assim é na comunidade.
Fico cada vez mais impressionado ao ver pessoas insatisfeitas na comunidade. Quando vivem em comunidades pequenas, gostariam de comunidades grandes, nas quais se é mais ajudado, há mais atividades comunitárias, onde se celebram liturgias mais belas e mais bem preparadas. Quando vivem em comunidades grandes, sonham com as pequenas, que lhes parecem ideais. Os que têm muito trabalho sonham com longos momentos de oração; os que têm muito tempo para si mesmos, parece que se aborrecem. Então, procuram desesperadamente uma atividade que dê sentido à própria vida.
Não é verdade que todos nós sonhamos com essa comunidade ideal, perfeita, em que estaríamos plenamente em paz, em perfeita harmonia, tendo encontrado o equilíbrio entre exterioridade e interioridade, na qual tudo seria alegria?
É difícil fazer com que as pessoas compreendam que o ideal não existe, que o equilíbrio pessoal e essa harmonia sonhada só chegam depois de anos e anos de luta e sofrimento, e que, mesmo assim, são passageiros, são apenas momentos de graça e de paz.
Não percam tempo buscando a comunidade perfeita. Vivam plenamente na sua comunidade, hoje. Parem de ver os defeitos que ela tem; olhem antes para os seus próprios defeitos e saibam que vocês são perdoados e que podem, por sua vez, perdoar os outros e entrar, hoje, nesta conversão do amor.Será que não deveríamos pensar a ekklesia da mesma maneira que o texto acima? Não seria uma contradição buscar uma igreja perfeita quando estamos anunciando que a igreja é o lugar onde é proibido a entrada de pessoas perfeitas (usando as palavras do livro de John Burke)? Igreja são pessoas; se pessoas são imperfeitas, como podemos esperar que a igreja seja perfeita? Será que não estamos usando de desculpas para encobrir nosso ego e fugir da realidade que o problema verdadeiro pode estar dentro nós? Nós somos a comunidade, nós somos a igreja; será que os defeitos que enxergamos não são, na realidade, um reflexo de nós mesmos?
O fato é que precisamos desesperadamente aprender a amar…
Rev. Baggio
Notícias, inovações e recursos missionários - Um clipping de notícias
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