Somos seres finitos. Mas, finitos em quê? Será que a morte é o nosso único fim? Será que só percebemos a finitude quando um parente ou amigo próximo morre?
Não, é certo que a finitude nos ronda em qualquer ato que possamos realizar. Somos seres finitos a cada segundo em nossas vidas. Se pensarmos na finitude em um sentido amplo, ela significa toda nossa limitação e fragilidade. E em um sentido restrito ela seria pré – condição de nossa liberdade de escolha.
Cada escolha dá fim a outras tantas, e isto nos angustia. Cada projeto que faço põe fim a tantos outros, pois as possibilidades são infinitas. Isto é uma tremenda crueldade: a escolha é finita e as possibilidades de escolhas são infinitas. Ora, temos que há todo momento pensar se fizemos a melhor escolha em detrimento (fim) de tantas outras. Para cada escolha há infinitas outras que não escolhemos. Isto é muita responsabilidade! Melhor pensarmos na finitude só na hora da morte. E enquanto ela não chega, vamos deixando que o acaso ou o destino escolha por nós. Aí, quando menos agente espera ela (a morte) bate a porta. Nos desesperamos pelas escolhas que não fizemos, pelas que poderíamos ter feito, e por aquelas que fizemos. Um caos total, onde queremos ganhar o tempo perdido, aproveitar o que nos resta. Se é diante de nossa própria morte isto se dá em relação a nós mesmos, se diante da morte do outro isto se passa na relação que temos com ele.
A morte é um aviso de que há fim implícito em tudo que fazemos. E isto não deve ser entendido com uma visão pessimista, mas sim com uma visão otimizada de cada escolha que estaremos por fazer. A morte, segundo Heidegger, se repete em cada situação de escolha. Para ele, assumir a morte como possibilidade presente a cada instante, é o mais responsável passo na busca de uma existência autêntica e criativa. Mais do que finitos, somos livres para escolher, com toda angústia inerente a este processo. Quando escolhemos de forma consciente do que estamos perdendo e ganhando e para quê estamos escolhendo, somos sujeitos de nossa existência. E, então poderemos morrer e deixar morrer, dizendo que foram feitas as melhores escolhas até aquele momento.
HENRI NOUWEN
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