A miopia é um distúrbio que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Atualmente, ela é a forma mais comum de problema de visão no mundo, afetando aproximadamente 25% das pessoas. Em muitos casos, os fatores genéticos fazem o papel principal nesta condição, de forma que várias gerações da mesma família sofram do problema.
Creio que muitos dos estão lendo esse texto agora têm esse problema de visão. Eu mesmo sou míope. Uso óculos há quase nove anos. Todos os meus irmãos e minha mãe também têm que usar óculos (apesar de alguns deles resistirem ao uso das lentes). Meu grau de miopia não é tão exagerado, mas não consigo distinguir as coisas e ver de longe sem meus óculos.
Uma pessoa míope não tem dificuldades para enxergar objetos próximos com nitidez. O problema está naqueles estão distantes, os quais são vistos de forma embaçada. Para consertar o problema, existem alguns métodos eficazes, que vão desde o uso dos óculos - isto é, seja com simples lentes de contato ou com famoso "fundo de garrafa - até caríssimas cirurgias a laser.
Fazendo um contraste da miopia com a vida cristã, a miopia espiritual é um grave problema para a visão do crente. Ser míope na fé é, inclusive, algo que demonstra fragilidade e superficialidade de espírito.
A Bíblia mostra alguns exemplos de míopes espirituais. O caso clássico é o sobrinho de Abraão, Ló. Sua visão limitada se deslumbrou com a nitidez do "objeto próximo" que estava ao seu alcance. Gênesis 13.10 diz que "Ló levantou os olhos e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada (antes de haver o Senhor destruído Sodoma e Gomorra)". Logo, sua visão embaçada impediu que ele observasse que o lugar para onde iria estava povoado de homens maus e pecadores contra o Senhor.
Há ainda outros dois exemplos conhecidos de míopes espirituais. Esaú foi um deles. O filho mais velho de Jacó não avistou a bênção que lhe estava proposta e, enfocando apenas o "objeto próximo", abdicou da sua primogenitura para satisfazer suas necessidades alimentares (Gn 25.34). Já Geazi, o segundo caso, se desesperou porque tinha uma visão embaçada da proteção divina, mas, para isso, contou com a oração de Eliseu pedindo a Deus que providenciasse óculos espirituais a ele. "E o Senhor abriu os olhos do moço, e viu" (II Rs 6.17).
Em muitas ocasiões de nossa vida, somos identificados com esses três homens citados. Os principais pontos de ligação que temos com a miopia espiritual são:
Visão limitada
Os míopes só conseguem ver com nitidez aquilo que está próximo da sua visão. O míope espiritual também tem a mesma facilidade. Às vezes, temos um dia cheio de realizações e satisfações. Nosso coração pulsa alegria. Cremos que Deus está ao nosso lado porque tudo saiu conforme planejamos. No dia seguinte, se as coisas desandarem, os problemas surgirem ou se agravarem e a nossa visão já não está tão nítida, logo pensamos que Deus é o causador das dificuldades, e só conseguimos vê-Lo de forma obscura. Assim é a nossa visão limitada. Não conseguimos prosseguir para o alvo pensando apenas no que está próximo (Fl 3.14). Somos como Geazi, precisamos de uma intervenção divina para que nossos olhos sejam abertos.
Dependência dos óculos
Se você é míope e já teve o desprazer de perder seus óculos sabe o que é isso. Os míopes só tiram os óculos mesmo para tomar banho e ao dormir (alguns se esquecem até de tirá-los antes de se deitarem, de tão acostumados). Na vida espiritual, somos tentados a viver conforme as circunstâncias. Não conseguimos ver sem os óculos das evidências. Queremos provas que ratifiquem que estamos contemplando algo real. Assim como Tomé, só conseguimos ver se nossos óculos notarem os fatos. Se dependermos dessas lentes para ver e esperarmos apenas nas coisas dessa vida, tendemos a ser miseráveis, e, como Esaú, somos levados a agir segundo o momento vivido. O certo mesmo é não depender de fato, prova ou circunstância para ver o propósito de Deus para nossa vida (Mt 6.33; 17.8).
Indistinção de enxergar o que está longe
Olhos com miopia, por mais belos que sejam, carecem de procedimentos que facilitem a visão. Os míopes não discernem o que está distante da vista. No meu caso, sem os óculos, eu não consigo enxergar o que está escrito num papel cujas letras têm tamanho 12 e que está a 1 m dos meus olhos. Os míopes espirituais têm esse mesmo problema. Ló não conseguiu distinguir a campina do Jordão da terra de Canaã. Sua falta de percepção para saber que as belas paisagens do Jordão camuflavam a maldade dos homens de Sodoma e Gomorra fez da sua escolha um fracasso que culminou no seu êxodo forçado do local corrompido e no desvio da sua mulher.
Da mesma forma, o caminho estreito citado por Jesus não é bem vista por ser um lugar difícil e ardiloso (Mt 7.13,14). Mas se soubermos discernir que a porta larga, apesar de espaçosa, não nos leva a outro lugar se não ao inferno, saberemos que após uma porta estreita e um caminho apertado há a vida. Como cristãos, devemos olhar para Jesus, mesmo que, ao forçar nossas pestanas espirituais, não consigamos ver o que está no fim da estrada.
Concluo dizendo que...
Os israelitas correram um grande risco de sucumbir devido à miopia espiritual que eles tiveram 1) ante o Mar Vermelho: olharam para a dificuldade, e não para Deus; 2) ante Golias: olharam para o tamanho do gigante, e não para Deus; 3) ante a terra de Canaã: olharam para o poder do povo e para a fortificação da cidade, e não para Deus. Graças a Deus, houve um Moisés, um Davi e uma dupla Josué e Calebe para limpar a visão do povo!
A miopia espiritual é um mal que precisa de conserto. Nossa visão precisa de colírios divinos para enxergarmos melhor. Nos olhos precisam de lentes que foquem nos projetos de Deus. Devemos depender da graça de Deus para ver o que está longe com a mesma nitidez que vemos o que está perto. Míopes, "olhai para mim, e sereis salvos", (Is 45.22), diz o Senhor Deus.
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06/03/2010
Qual o seu grau de miopia espiritual?
A Pena de Morte
Entrevista Virtual* - Charles Hodge
BC - Em toda essa questão da legitimidade da pena de morte, não há uma violação do sexto mandamento, "não matarás"?
Hodge - Este mandamento, tal como o expõe nosso Senhor (Mt 5.21, 22), proíbe a malícia em todos os seus graus e em todas as suas manifestações. A Bíblia reconhece a distinção entre a ira e a malícia. A primeira é permissível em certas ocasiões; a segunda é por natureza, e portanto sempre, má. A primeira é uma emoção natural ou constitucional que emana da experiência ou percepção do mal, e inclui não só a desaprovação, mas também a indignação, e um anseio de, por algum modo, retificar ou castigar o mal infligido. A outra inclui o ódio e o desejo de infligir o mal para gratificar essa perversa paixão. Lemos que nosso Senhor se irou; nele, porém, não havia malícia nem ressentimento. Ele era o Cordeiro de Deus; quando o amaldiçoavam, ele não respondia com maldição; quando sofria, ele não ameaçava; ele orou por seus inimigos até mesmo na cruz.
"Visto que o sexto mandamento proíbe o homicídio malicioso, é evidente que na proibição não se inclui a aplicação da pena capital."
BC - Sim, mas como isso se relaciona à pena de morte? Por que ela poderia ser admitida apesar da proibição?
Hodge - Nos vários mandamentos do Decálogo, é selecionada a mais elevada manifestação de todo o mal para sua proibição, com a intenção de incluir as formas menores do próprio mal. Ao se proibir o homicídio, estão incluídos todos os graus e manifestações de sentimento malicioso. A Bíblia dá especial valor à vida do homem, em primeiro lugar porque ele foi criado à imagem de Deus. Ele não só é como Deus nos elementos essenciais de sua natureza, mas também é representante de Deus sobre a terra. Uma indignidade ou dano infligido a ele é um ato de irreverência para com Deus. E, segundo, todos os homens são irmãos. São de um só sangue; filhos de um só pai comum. Sobre esta base somos obrigados a amar e a respeitar
a todos os homens como homens; e a fazer tudo quanto pudermos não só para proteger-lhes a vida, mas também para promover seu bem-estar. Por isso matar é o maior dos crimes que um ser humano pode cometer contra seu próximo.BC - Mas se é assim, a pena de morte também tira a vida de um ser humano e, portanto, também é condenável.
Hodge - Visto que o sexto mandamento proíbe o homicídio malicioso, é evidente que na proibição não se inclui a aplicação da pena capital. Este castigo não é aplicado com o fim de gratificar o sentimento de vingança, mas para satisfazer a justiça e preservar a sociedade. Como estes são fins legítimos e da maior importância, segue-se que o castigo capital do homicídio é também legítimo.
"Esse castigo, no caso de homicídio, não é apenas legítimo, mas também obrigatório."
BC - Quer dizer que para o bem da sociedade é lícito aplicar a pena capital como castigo.
Hodge - Esse castigo, no caso de homicídio, não é apenas legítimo, mas também obrigatório. Isto está expressamente declarado na Bíblia. "Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua imagem" (Gn 9.6). É evidente que isso é de obrigação perpétua, porquanto foi ordenado a Noé, segunda cabeça da raça humana. Portanto, não foi designado para uma era ou nação particular. É o anúncio de um princípio geral na justiça; uma revelação da vontade de Deus. Além disso, a razão assinalada pela lei é uma razão permanente. O homem foi criado à imagem de Deus; e, portanto, quem derramar seu sangue, pelo homem será derramado o seu. Esta razão é tão válida em um tempo ou lugar quanto a qualquer outro tempo ou lugar.
BC - Sim, mas o texto que o senhor citou foi dito a Noé lá nas primeiras páginas de Gênesis. Que evidências há na Bíblia de que esse princípio deveria continuar válido?
Hodge - A ordem de que o homicida deve ser morto sem falta é encontrada repetidas vezes na lei de Moisés (Êx 21.12, 14; Lv 24.17; Nm 35.21; Dt 19.11, 13). Há claros reconhecimentos no Novo Testamento da contínua obrigação da lei divina de que o homicida deve ser castigado com a morte. Em Romanos 13.4 o Apóstolo diz sobre o magitrado que "não é sem motivo que ele traz a espada". A espada era levada como símbolo do poder do castigo capital. Inclusive por parte de escritores profanos, diz Meyer, o fato de que o magistrado "levava a espada" era emblema de poder sobre a vida e a morte. O mesmo Apóstolo diz (At 25.11): "Caso, pois, tenha eu praticado algum mal ou crime digno de morte", o que indica claramente que, a juízo dele, havia delitos para os quais era aprovada a pena de morte.
BC - E para nós, também deveria valer a mesma regra?
"Quem deve morrer? O inocente ou o assassino?"
Hodge - Além desses argumentos com base nas Escrituras, há outros que se originam da jus natural. É um ditame de nossa natureza moral que o crime deve ser castigado; que deve existir justa proporção entre o delito e a pena; e que a morte, a pena maior, é o castigo apropriado para o maior dos crimes. Que este é o parecer instintivo dos homens, demonstra-se pela dificuldade que às vezes se tem para refrear a multidão de tomar vingança com as próprias mãos em casos de homicídios cruéis. Tão forte é este sentimento que há a certeza de que se implantará uma espécie de justiça desenfreada para tomar o lugar de uma inoperância judicial. Esta justiça, ao ser destituída de lei e impulsiva, é muitas vezes dirigida e errônea, e, em uma sociedade estabelecida, é sempre criminosa. Estando na natureza dos homens que, se a pena de morte, como pena judicial legítima e regular, for abolida, ela será aplicada pelo vingador do sangue ou pelas assembléias tumultuosas do povo, a sociedade tem de escolher entre assegurar ao homicida justo julgamento por parte das autoridades constituídas, ou entregá-lo ao espírito cego por vingança.
BC - Isso não provocaria mais violência ainda?
Hodge - A experiência ensina que, onde a vida humana é desvalorizada, ela é insegura; que, onde o homicida escapa impunemente ou é castigado indevidamente, os homicídios são terrivelmente multiplicados. A questão prática, portanto, é: Quem deve morrer? O inocente ou o assassino?
* Entrevista Virtual é uma forma do site Bom Caminho de transformar bons textos de grandes autores em um formato de perguntas e respostas. As palavras em itálico são acrescentadas para "arredondar" o texto. O resto é extraído de forma literal do texto original.
Fonte: Adaptado de Teologia Sistemática - Charles Hodge - Editora Hagnos - p. 1290 a 1292.
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