Em entrevista ao jornal “L’Osservatore Romano”, o bispo Gianfranco Girotti, regente do Tribunal da Penitenciária Apostólica do Vaticano, sugeriu que em vez de apenas se adotar uma concepção individualista na noção de pecado, se adotasse uma concepção social -- uma vez que certos pecados agridem não apenas o pecador em si, mas a uma grande porção de pessoas (às vezes chegando à escala mundial).
“Você pode ofender a Deus”, diz o bispo, “não apenas roubando, tomando o nome do Senhor em vão ou cobiçando a mulher do próximo, mas também destruindo o ambiente, levando a cabo experiências científicas discutíveis”.
A Agência Católica de Notícias não deu muito valor à história e classificou a fala do bispo como sendo uma nova lista de sete pecados sociais. Imediatamente, e com o entusiasmo típico, a imprensa mundial sugeriu que os antigos sete pecados capitais haviam sido substituídos por esta nova lista.
Naturalmente, não se pode aderir à exagerada apropriação feita pela mídia, a partir de um argumento razoável. A Igreja Católica não mudou seu pensamento ou passou a defender novas formas de pecados capitais.
No entanto, se olharmos objetivamente a observação do bispo, veremos que, em algum ponto, o que ele diz faz sentido e merece uma séria consideração.
Tomemos, por exemplo, a poluição ambiental. O bispo apontou para isto, mas não há dúvida de que existe um mal moderno que tem trazido consequências destrutivas para o ambiente em todo o planeta.
Uma das descobertas do ser humano é que ele é responsável pelos recursos deste mundo criado por Deus. Somos responsáveis pelo bem-estar físico do planeta em que vivemos. Um dos primeiros capítulos de Gênesis diz que Deus colocou o homem no jardim para cultivá-lo e guardá-lo (Gn 2.15). As palavras do hebraico para cultivar e guardar também podem ser traduzidas como servir e preservar.
Mais tarde, o povo do Antigo Testamento cria que a terra pertencia primeiramente a Deus e o povo que vivia nela deveria ser tal como mordomos de confiança. “Ao Senhor Deus pertencem o mundo e tudo o que nele existe; a terra e todos os seres vivos que nela vivem são dele” (Sl 24.1).
Este conceito organizava a política e a estrutura social de Judá e de Israel. Havia leis que protegiam a terra do mau uso e da má mordomia e regras para quem ousasse tomar a terra que não era sua por direito -- mesmo no caso do próprio rei Davi.
Os escritores do Novo Testamento pensavam da mesma maneira, assumindo que a terra e tudo o que fora produzido nela eram dádivas de Deus à humanidade e o ser humano era responsável por mantê-la em ordem.
A mordomia da terra foi originada em tempos pré-cristãos e é válida para a igreja em todos os tempos. Costuma-se atribuir a Martinho Lutero a seguinte afirmação: “Deus [...] está presente em tudo, por toda a criação, em cada parte dela e em todos os lugares”. E João Calvino escreve mais objetivamente: “Deixe a noção de que eles são mordomos de Deus tomar conta de tudo o que eles possuem. Então não se conduzirão dissolutamente e, tampouco, corromperão as coisas que Deus requer que sejam preservadas”.
Como o conceito de mordomia é valioso hoje, quando nossa estrutura social é verdadeiramente global! De repente, poucas pessoas ainda precisam ser convencidas de que a devastação dos recursos e a falta de cuidado com a preservação estão realmente prejudicando o planeta Terra -- chegando até o ponto de não haver mais como corrigir o problema. O bispo Girotti tem razão -- o estrago feito às pessoas e comunidades ao redor do mundo é um pecado.
Não existem respostas simples. Arrependimento e confissão são o começo, mas deve haver a reparação. Então, talvez, o ressurgimento do conceito da mordomia deva nos levar de volta ao trilho certo. De fato, a Terra pertence a Deus e temos de servir e preservar este bem precioso para nossa própria sobrevivência.
• Bruce Tulloch (The War Cry, Inglaterra).
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