Capítulo 15: Esperança
Ovos são ovos, mas alguns apodrecem; da mesma forma esperanças são esperanças, mas muitas delas transformam-se em desilusões. As esperanças são como as mulheres, há um toque de anjo nelas, mas há duas espécies delas. Meu garoto Tom furou um monte de ovos de passarinho, enfiando-os em um fio; eu tenho feito a mesma coisa com as esperanças, eis algumas delas – boas, más e indiferentes.
A esperança do homem otimista aparece inesperadamente, como uma caixa de surpresas; ela funciona como um verão e não é guiada pela razão. Em qualquer momento que olha pela janela, ele vê tempos melhores chegando; apesar de quase tudo estar em seu modo de ver, e em nenhum outro lugar, ver pudim de farinha com passas na lua é um hábito bem mais feliz que resmungar de tudo como um sapo de duas pernas. Esse é o tipo de amigo para se ter por perto em uma noite negra como piche e em que chove muito, pois ele leva velas nos olhos e uma lareira no coração. Tome cuidado para não ser desencaminhado por ele e, assim, você pode manter sua companhia com segurança. O erro dele é contar com os ovos antes de ter a galinha e vender seus arenques antes que estejam na rede. Todos seus ovos de pardais estão reservados a se transformarem, pelo menos, em tordos, talvez em perdizes ou faisões. O verão chegou em sua plenitude, porque ele viu uma andorinha. Ele está certo de ficar rico com sua nova loja, pois cinco minutos antes de abrir a porta, dois vizinhos se aproximaram, um deles querendo um pão fiado, e o outro, trocar dinheiro. Ele está certo de que o fazendeiro está disposto a lhe dar suas encomendas, pois ele o viu lendo o nome da loja acima da porta enquanto passava em frente. Ele não acredita em erros entre xícaras e lábios, mas deduz certezas do talvez. Bem, é uma alma boa apesar de, às vezes, ser um pouco estúpido, há muito nele para ser louvado e gosto de pensar em um de seus curiosos ditos: "Nunca fale em morrer até estar morto porque aí não adianta mais, portanto deixe isso para lá." Como você vê, há outras pessoas curiosas no mundo, além do João Lavrador.Meu vizinho desajeitado está esperando que sua tia morra, mas a velha senhora tem tantas vidas como nove gatos. Minha opinião é que quando ela morrer, deixará o pouco de dinheiro que tem para um hospital de gatos ou para cães abandonados, em vez de deixá-lo para seu sobrinho Joãozinho. Pobre criatura, ele está terrivelmente desesperado e desconta tudo no temperamento irritante da pobre senhora. Contudo, ele espera e fica cada vez pior, pois enquanto a grama cresce, o cavalo morre de fome. Quem espera a morte de alguém é como se segurasse uma corda longa, quem corre atrás de heranças precisa ter sapatos de ferro. Quem espera os sapatos dos que morrem pode ficar por muito tempo descalço; quem espera pela vaca do tio, não pode se apressar para passar manteiga no pão. Quem vive de esperança tem uma dieta magra. Se o Joãozinho desajeitado não tivesse uma tia, ele teria arregaçado as mangas da camisa e trabalhado para si mesmo; mas disseram-lhe que nasceu em berço de ouro, e isso transformou-o em um inútil.
Se alguém quiser deixar uma herança para o João Lavrador, ele ficará muito agradecido, mas seria melhor que não contar a ele sobre isso, pois tem medo de deixar de arar um sulco tão bem feito; seria duas vezes melhor receber uma herança de surpresa. Na verdade, seria melhor deixar a herança para o Colégio do Pastor ou para o Orfanato Stockwell, pois nos dois casos seria muito bem usada. Agora, precisamos voltar ao nosso tema.
Eu gostaria que as pessoas pensassem menos na sorte inesperada e plantassem mais macieiras. Esperanças que crescem do lado de fora das sepulturas são erros graves; e quando elas enfraquecem a energia do homem, são como a corda da forca balançando em volta do pescoço dele.
Algumas pessoas nasceram no primeiro de abril e estão sempre esperando sem sentido ou razão. Seu barco chegará logo; elas encontrarão um pote de ouro ou ouvirão alguma coisa que lhes traga vantagem. Pobres tolos, eles têm cabeça de vento e sonham acordados. Eles mantêm a boca aberta um bom tempo antes que o ovo frito e o presunto cheguem até ela, e são realmente capazes de acreditar que, um dia, algum golpe de sorte ou algumas maçãs de ouro derrubadas pelo vento os tornarão independentes e os transformarão em cavalheiros. Eles esperam dirigir carruagens, e logo, logo estarão fechados em um lugar em que as carruagens não cabem. Você pode assobiar por um bom tempo antes que os pintassilgos saltem em seu polegar. De vez em quando, um homem em um milhão tropeça na fortuna, mas milhares se arruínam com expectativas inúteis. Espere obter metade do que você ganha, um quarto do que deve e nada do que emprestou, e você estará próximo da meta, mas esperar que uma fortuna caia da lua é ser muito tolo. Um homem deve esperar pelas promessas de bem do Antigo Testamento dentro dos limites da razão. A esperança repousa em uma âncora, mas a âncora deve ter algo em que se segurar e algo para segurar. Uma esperança sem motivo é um barco sem fundo, um cavalo sem cabeça, um ganso sem corpo, um sapato sem sola, uma faca sem lâmina. Quem a não ser o Simão Simplório começaria a construir uma casa pelo telhado? Precisa haver um alicerce. Esperança é esperança, mas é uma loucura total esperar por coisas impossíveis, ou esperar a colheita sem semear, ou pela felicidade sem fazer o bem. Essas esperanças não levam a nada; elas são como a lanterna feita na abóbora e levam o homem para o fosso. No asilo há um homem, o pobre Will, que sempre diz que possui uma grande fazenda, só que o proprietário legal o mantêm fora dela; seu nome é Jenyns ou Jennings, e conforme diz ele, alguém com esse nome deixou dinheiro suficiente para comprar o Banco da Inglaterra, e, um dia, Will vai ter sua parte nesse dinheiro. Contudo, nesse meio tempo, o pobre Will descobre que apenas a sopa da igreja é muito pouco para o estômago de um senhor tão importante, ele me prometeu mil ou dois mil do dinheiro excedente quando conseguisse sua fortuna, construirei um castelo no ar com isso e cavalgarei em um cabo de vassoura para chegar nele. Pobre infeliz, como muitos outros, ele tem moinhos de vento na cabeça, mas, se tiver de dar qualquer coisa, é bastante parcimonioso. Fiando-se nisso, semear no ar não é apenas muito lucrativo como é fácil, aquele espera obter mais do que consegue com o próprio ganho tem a ilusão de encontrar abricós em uma árvore de maçãs azedas. Quem casa com uma garota que se veste de modo relaxado e espera fazer dela uma boa esposa poderia, da mesma forma, comprar um ganso e esperar que ele se transformasse em uma vaca leiteira. O que leva seus filhos para o bar e confia que eles crescerão sóbrios, põe sua cafeteira no fogo e espera vê-la brilhar como estanho novo. Os homens não podem estar em seu juízo quando fazem cerveja com malte ruim e esperam ter cerveja de boa qualidade ou dão um mau exemplo e esperam criar uma família respeitável. Você pode esperar e esperar até seu coração ficar doente, mas, quando você mandar seu filho subir na chaminé, ele desce sujo apesar da sua esperança. Ensine uma criança a mentir e espere que ela cresça honesta; seria melhor pôr uma vespa em um barril de piche e esperar que ela fizesse mel para você. Quando será que as pessoas vão agir com sensatez com seus filhos? Nunca, se elas mesmas não forem sensatas.
Quanto ao próximo mundo, é uma grande pena que os homens não tenham um pouco mais de cuidado quando falam dele. Se um homem morrer bêbado, alguém dirá: "Espero que ele tenha ido para o céu". Tudo bem em desejar isso, mas esperar é uma outra coisa. Os homens viram o rosto para o inferno e esperam chegar ao céu, eles caminham dentro do lago e esperam ficar secos? Esperanças do paraíso são coisas solenes e deveriam ser experimentadas pela palavra de Deus. Um homem poderia da mesma forma esperar, conforme diz nosso Senhor, colher uvas de espinhos ou figos de cardos, assim como procurar por um futuro feliz no final de uma vida ruim. Só existe uma rocha sobre a qual se constroem as esperanças boas, e ela não é Pedro, como diz o papa; nem os sacramentos, como dizem os filhotes da besta da velha Roma; mas os méritos do Senhor Jesus. Toda esperança do homem está no "homem Jesus Cristo". Nós somos salvos se cremos nele , pois está escrito "que aquele que crê tem a vida eterna". Ele tem vida eterna agora, e ela é para toda a eternidade, de modo que não se deve temer perdê-la. Nisso se apóia João Lavrador, e ele não tem medo de ser confundido, pois isso é um sustentáculo e dá-lhe esperança segura e imutável que nem a vida nem a morte podem abalar. Portanto, por favor, lembrem-se de que a presunção é uma escada que quebra o pescoço de quem a sobe, se você ama sua alma não tente fazer isso.
_______
NOTA
Reproduzido pelo Projeto Spurgeon com permissão da Shedd Publicações
Sabedoria Bíblica; Conselhos simples para pessoas simples, de C.H. Spurgeon Copyright © Shedd Publicações 1a Edição - Dezembro de 2006 Tradução: Neusa Faraco Skliutas (Todos os direitos reservados por Shedd Publicações, São Paulo, Brasil)
PROIBIDO a REPRODUÇÃO DESSA POSTAGEM E DE SEU CONTEÚDO SEM CITAR ESSA LICENÇA E OS LINKS DA SHEDD PUBLICAÇÕES E DO PROJETO SPURGEON, NA ÍNTEGRA , AO FINAL DA REPRODUÇÃO
Notícias, inovações e recursos missionários - Um clipping de notícias
-
Tomando por base os textos publicados em Brigada.Org, um ministério de
informações missionárias sediado no Reino Unido, selecionamos e traduzimos
algu...
Há 4 dias
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A boca fala do que está cheio o coração.