Por que Deus mandou que Paulo sofresse tanto como protótipo da fronteira missionária? Ele é soberano. Como toda criança sabe, ele poderia atirar Satanás na cova hoje, se quisesse, e todo o terrorismo dele contra a Igreja estaria acabado. Mas Deus desejou que a missão da Igreja avançasse em meio à tempestade e ao sofrimento. Quais são suas razões? Mencionarei seis.
O SOFRIMENTO APROFUNDA A FÉ E A SANTIDADE
Hebreus 12 nos diz que Deus disciplina seus filhos por meio do sofrimento. Seu objetivo é uma fé mais profunda e uma santidade mais profunda. "Deus, porém, nos disciplina para aproveitamento, a fim de sermos participantes da sua santidade" (Hb 12.10). Jesus experimentou a mesma coisa. "Embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu" (Hb 5.8). Isso não significa que Jesus tivesse amadurecido da desobediência para a obediência; o mesmo escritor diz que ele nunca pecou (Hb 4.15). Suas palavras significam o processo pelo qual ele demonstrou uma obediência cada vez mais profunda no processo do sofrimento. Para nós não há apenas a necessidade de termos nossa obediência testada e sua profundidade comprovada, mas também purificada de todos os remanescentes de auto-suficiência e envolvimentos com o mundo.
Paulo descreve essa experiência em sua própria vida do seguinte modo:
Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, mas no Deus que ressuscita os mortos (2Co 1.8,9).
Paulo não atribuí seu sofrimento à mão de Satanás, mas diz que Deus o ordenou para o aumento de sua fé. Deus quebrou os suportes de vida no coração de Paulo, de modo que ele não tivesse outra escolha senão se apoiar em Deus e ter sua esperança na promessa da ressurreição. Esse é o primeiro propósito do sofrimento missionário: emancipar-nos do mundo e firmar nossa esperança plena e somente em Deus (ver Rm 5.3,4). Desde que a liberdade para amar flua desse tipo radical de esperança (Cl. 1.4,5), o sofrimento é um meio primário de edifícar a compaixão na vida dos servos de Deus.
Milhares de missionários através dos séculos têm descoberto que os sofrimentos da vida têm sido a escola de Cristo, onde as lições da fé são ensinadas, lições que não poderiam ser aprendidas em nenhum outro lugar. Por exemplo, John G. Paton, que nasceu em 1824 na Escócia, foi missionário nas Novas Hébridas (atual Vanuatu), nos Mares do Sul, de 1858 quase até a sua morte em 1907. Ele perdeu sua esposa quatro meses depois de ter desembarcado na Ilha de Tanna, com a idade de 34 anos. Duas semanas depois morreu seu filhinho, ainda bebê. Ele os enterrou sozinho, com suas próprias mãos. "Se não fosse por Jesus e pela comunhão que ele me concedeu ali, eu deveria ter enlouquecido e caído morto junto daquela sepultura solitária!"1 Ele permaneceu na ilha por quatro tormentosos anos de perigos. Finalmente houve um levante urdido contra ele, quando acreditou ser de bom aviso tentar fugir. Buscou ajuda da única pessoa em quem podia confiar na ilha, seu amigo Nowar. Sua fuga foi uma inesquecível descoberta da graça, que deixou uma marca espiritual por toda a sua vida. Para escapar, Nowar lhe disse que ele não podia permanecer na vila, e sim, que devia esconder-se numa árvore que seu filho lhe mostraria, e que lá permanecesse até que a Lua saísse.
Estando totalmente à mercê de amigos tão duvidosos e vacilantes, eu, embora perplexo, senti que era melhor obedecer. Subi na árvore e fui deixado lá sozinho na folhagem. As horas que passei ali estão vivas diante de mim, como se tudo tivesse acontecido ontem. Eu ouvia freqüentes disparos de mosquetes e gritos dos nativos. Contudo, eu me sentei ali entre os galhos, tão seguro como se estivesse nos braços de Jesus. Nunca, em todas as minhas angústias, o meu Senhor esteve mais perto de mim, e falou mais suavemente em minha alma, do que quando a luz do luar cintilou por entre as folhas da castanheira e a brisa da noite tocou minha fronte que tanto tremia, enquanto eu derramava meu coração para Jesus. Sozinho, contudo, não sozinho! Se for para glorificar o meu Deus, eu não me queixarei de passar muitas noites a sós nessa árvore, para sentir de novo a presença espiritual do meu Salvador e usufruir sua consoladora comunhão. Se fosse abandonado à sua própria alma, sozinho, totalmente só, no meio da noite, entre arbustos, no abraço da própria morte, teria você um Amigo que não lhe falharia então?
fonte: O Cristão Hedonista: Sofrimento - Fé e Santidade - John Piper
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