07/04/2010

Muitos profetas, uma Mensagem – M. Lloyd-Jones

 

O último dos profetas foi João Batista. O que nos foi dito a respeito dele foi o seguinte: "E, no ano quinze do império de Tibério César... veio no deserto a palavra de Deus a João, filho de Zacarias" (Lucas 3:1-2). Ali estava ele, vivendo uma vida austera, ascética, vestido de pelo de camelo e um cinto de couro, comendo nada mais que gafanhotos e mel silvestre, um homem meditando nas coisas de Deus. Desde o ventre materno já havia sido posto à parte para este trabalho, e estava procurando a face de Deus, porém de repente a Palavra de Deus veio a ele e começou a falar.

Aqui, então, está a reivindicação do profeta e essa é o motivo pelo qual ele pede que escutemos o que ele tem a dizer. Foi assim que Isaías confrontou seus contemporâneos. Esse foi o motivo pelo qual ele deu um passo a frente e disse: "Escutem isto!" E eu também não tenho autoridade alguma como pregador à parte disso. Que Deus não permita que coisa alguma, com respeito a meu método ou a minha pregação ou a minha mensagem, dê a qualquer pessoa a oportunidade de dizer: "Esse homem está simplesmente expondo suas próprias idéias". Não, não sou nada mais que um porta-voz. Estou simplesmente aqui para expor a Bíblia e deixar que ela fale. Por quê? Porque ela é a voz de Deus; é a Palavra de Deus; é a visão, a revelação de Deus aos Seus servos. Aqui está, de uma vez por todas, a mensagem necessária para o mundo de hoje tanto quanto era necessária para os contemporâneos do profeta Isaías.

"Mas," alguém diz, "está tudo muito bem. Essa é uma grande reivindicação a fazer e, naturalmente, é o tipo de reivindicação que todos os ditadores fizeram. Eles dizem: "Ouçam-me. Eu, e eu somente, sei a verdade!" Poderia ser substanciada esta reivindicação dos profetas? Poderíamos provar a reivindicação de Isaías de que se trata de uma visão? Pode ser demonstrado? Baseado em que você pode asseverar ser esta uma mensagem de Deus?"

Ora, o próprio caráter da mensagem é, em si mesmo, quase que suficiente para o fazer. Há uma sublimidade nela que não encontraremos em nenhum outro lugar. Aconselho que vocês leiam o livro de Isaías. Leiam-no, olhem seu estilo e a beleza de sua linguagem, porém, mais que isso, notem o caráter exaltado do pensamento e das figuras que ele apresenta sobre Deus e Sua santidade e majestade. Não há nada mais elevado que o livro de Isaías, e, certamente, do que a Bíblia como um todo, seu estilo, seu assunto, os pensamentos que coloca diante de nós e a maneira como estes são tratados.

Se não tivéssemos outra razão pela qual afirmar que a Bíblia é a Palavra de Deus, isso já seria o suficiente. Certa mente há outros grandes livros - os trabalhos de Shakespeare, por exemplo. Todavia, coloquem-nos ao lado da Bíblia, e mesmo que a linguagem e figuras de Shakespeare sejam maravilhosas, e mesmo que sua intensidade dramática seja por vezes quase que esmagadora, suas peças não podem, nem por um momento, ser comparadas com a sublimidade dos conceitos bíblicos e com a maneira pela qual a Bíblia renova o ânimo de uma pessoa e transmite uma percepção de Deus.

Há ainda outro argumento poderoso para escutarmos o que a Bíblia nos tem a dizer. Embora os profetas tenham escrito, como eles mesmos nos informam, em tempos diferentes, às vezes separados por períodos longos, eles todos dizem a mesma coisa. Isso é realmente espantoso. Eles eram homens muito diferentes. Isaías era um homem muito hábil, um homem da corte, um amigo de reis. A tradição judaica nos diz que ele veio da nobreza. Jeremias, por outro lado, era de família sacerdotal. É difícil imaginar dois homens mais diferentes. Amos, por sua vez, nada mais era que um boiadeiro e um cultivador de sicômoros. Mesmo assim, todos eles pregam a mesma mensagem. Por quê? Porque todos eles receberam sua mensagem da mesma fonte; em todos os casos, foi uma revelação. Não é a capacidade de Isaías, nem sua poesia brilhante, que dão às suas palavras poder e importância. Não, é a revelação de Deus. Isaías falou e escreveu pelo poder do Espírito.

Deus pode usar qualquer um. Ele não depende de homens, e Ele usa esses instrumentos diferentes e faz com que cada um deles escreva a mesma coisa. Esse é o motivo pelo qual estou enfatizando que na Bíblia, na sua totalidade, há verdadeiramente apenas uma mensagem: a situação de homens e mulheres em sua relação com Deus. E, há somente uma resposta aos problemas do mundo, e esta é dada aqui, desde Gênesis até Apocalipse. Estilos diferentes, formas diferentes, aspectos diferentes, alusões contemporâneas, não fazem a menor diferença. Esta linha grandiosa que atravessa a Bíblia toda, a mensagem única, está em todos os livros da Bíblia. 

FONTE:  Martyn Lloyd-Jones: Muitos profetas, uma Mensagem - Lloyd-Jones

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