A igreja cristã sempre despertou sentimentos negativos nas pessoas. Desde o seu surgimento, no livro de Atos dos Apóstolos, tem sempre alguém se levanta contra ela. No episódio da conversão de Paulo vemos que aqueles que perseguem a igreja perseguem o próprio Jesus (At 9.4). O próprio Paulo lembra isso ao Coríntios em 1 Co 12:27. Os livros de história da Igreja mostram claramente que perseguições aos que servem a Cristo de verdade sempre existiram e infelizmente sempre vão existir. Aliás, 2 Timóteo 3:12 declara: “todos quantos querem viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”. Ser perseguido faz parte de ser cristão.
Mas essa perseguição tem várias maneiras de acontecer. Quem está familiarizado com os ministérios que trabalham com a chamada “igreja perseguida”, como Portas Abertashttp://www.portasabertas.org.br/ ou A voz do mártireshttp://www.vozdosmartires.com.br/ conhece o assunto mais de perto. Em grande parte do mundo nos dias de hoje a perseguição aos cristãos é algo real e cotidiano. Seja por motivos étnicos, políticos, teológicos ou simplesmente ódio ao nome de Cristo, pessoas são presas e mortas diariamente por causa da sua fé em Jesus. Por que isso ocorre? Porque o mundo não pode suportar a mensagem do evangelho.
Para a maioria das pessoas no Brasil, no entanto, essa questão é pouco relevante ou mesmo irrelevante. Na minha experiência dentro da igreja evangélica brasileira a maioria das pessoas acha que essas coisas não existem mais, que são experiências do passado. Muitos ainda criticam quando se fala sobre esses irmãos que sofrem por Jesus, alegando que lhes falta fé. Já ouvi alguns absurdos de pessoas que não tem noção do que realmente acontece no mundo. Parte desse desconhecimento e das críticas infundadas é por causa da teologia que parece predominar nos dias de hoje.
Com as mentiras sobre prosperidade e bênçãos constantes para todo aquele que seguir a Jesus se espalhando cada vez mais na TV e nos púlpitos, não é difícil entender porque falar de mártires é algo raro ou estranho para nós. Não é segredo que a Brasil vive um período de falta de exemplos, ausência de um herói nacional ou alguém que inspire sentimentos mais nobres no povo em geral. Isso já foi inclusive matéria de alguns jornais de revistas nos últimos anos. Seja no esporte ou na política, a impressão vigente é que não se fazem mais heróis como antigamente.
Isso também se reflete na igreja, ainda mais em uma cultura acostuma a procurar messias e esperar soluções imediatas de alguém de fora para os problemas que enfrentamos. A dura verdade é que a perseguição por causa de Cristo continua existindo e é crescente em alguns lugares do mundo. Inclusive no Brasil. No século 20, por exemplo foi registrado provavelmente o maior número de martírios da história. Esse é o argumento do livro By Their Blood: Christian Martyrs of the Twentieth Century de James C. Hefley e Marti Hefley(http://www.amazon.com/Their-Blood-Christian-Martyrs-Twentieth/dp/0801043956). Segundo esses autores dessa obra de 672 páginas a perseguição não está diminuindo, mas tende a aumentar. Usando noticias de jornais, levantamentos históricos e relatórios de agencias especializadas eles desenham um quadro em nada animador do presente e do futuro daqueles que decidiram seguir a Cristo de verdade.
Mas o mais impressionante disso é saber que essa perseguição pode ser revelada de muitas formas. Percebo que em muitos países vem surgindo há algum tempo um sentimento diferente. Basta ler o que se escreve sobre cristianismo hoje em dia, as constantes lutas declaradas entre setores da igreja que aceitam e os que rejeitam por exemplo, a homossexualidade como normal ou natural. Grandes contendas em denominações históricas vem acontecendo e tendem a continuar acontecendo. No Brasil, em especial nos blogs, podemos perceber um outro aspecto dessa divisão interna do cristianismo. Graças aos excessos, heresias e simples bobagens que são ditos em nome de Jesus, hoje em dia é fácil criticar a igreja, o corpo de Cristo. E assim as pessoas acabem confundindo o que significa realmente ser cristão e quem realmente se preocupa com a mensagem da salvação. E pior, muitas vezes as criticas surgem dentre os próprios cristãos pelo simples motivo de não se pensar da mesma maneira. Para alguns “cristãos” hoje em dia tudo aquilo que leva o nome de evangélico merece desprezo, todos os pastores são lançados na vala comum dos pilantras, aproveitadores e vigaristas e todo local que usa o nome de igreja deveria ser fechado. Alegam que está tudo errado e que deveríamos ir para outros locais louvar a Deus e acabar com a evangelização.
Embora haja muitos argumentos sólidos e motivos reais de preocupação pelo que uma minoria tem feito, essa perseguição ideológica não se sustenta. Qualquer pessoa com um mínimo de conhecimento da realidade da vida que os cristãos de países como China, Coréia do Norte e Sudão deveria sentir-se mal pelo que é dito em terras brasileiras por esses “cristãos”. Enquanto lá e em muitos outros países anseia-se pela liberdade de culto, aqui essa minoria reclama da existência das igrejas. Enquanto lá se deseja ardentemente ter acesso a literatura evangélica e material para a edificação da fé, aqui se reclama do excesso de material e se despreza tudo o que pode parecer “lavagem cerebral”. Enquanto lá seguir a Cristo ou anunciar sua vinda pode custar a vida, aqui falar sobre isso é fanatismo ou ignorância.
Não estou exagerando, tenho vivido isso. Por exemplo, dias desses fui abertamente criticado por uma pessoa de minha própria denominação porque contei que estava pregando o evangelho num local de minha cidade parecido com a antiga FEBEM, que visa a recuperação de menores infratores. Essa pessoa iniciou um discurso sobre liberdade de culto e separação entre Igreja e Estado, mas no fim apenas disse que não gostava da idéia de ver o evangelho ser “imposto”. Considerando que ela nunca esteve na prisão nem conhece a realidade dos menores que atendo posso dar um desconto. Eu sei e muitos deles admitem que precisam muito do perdão e da graça de Deus, que seus crimes e vícios tem um preço alto aos olhos da sociedade e que tudo o que mais desejam é recomeçarem suas vidas, literalmente um novo nascimento. E quem conhece a Bíblia sabe que somente o evangelho de Jesus pode oferecer isso a eles. Acabo concluindo que muitas vezes o mundo está mais preparado para ouvir o evangelho do que a igreja está pronta para anunciá-lo.
A questão toda é que a mensagem que chega na mídia quase sempre envolve um outro evangelho. Um evangelho que despreza os princípios mais básicos do cristianismo e associa igreja, pastores e evangélicos a trapaças, intolerância, desonestidade, ganância e manipulação. Fazer isso é pisotear no sangue dos mártires, pessoas em todo o mundo que ao longo da historia derramaram seu sangue por causa da mensagem de Cristo.
Enquanto em muitos países fé não pode ser dissociada da vida, aqui muitos insistem para não se misturar o “sagrado” e o “profano”. E infelizmente o sentimento crescente é o de cristãos que se voltam contra cristãos, é de um outro evangelho sendo pregado no lugar do evangelho de Cristo, é de ver aquilo que a Bíblia ensino ser substituído por experiências e opiniões pessoais. Não me iludo a própria Bíblia disse em 2 Timóteo 4:3-5 “Haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas.Tu, porém, sê sóbrio em todas as coisas, suporta as aflições, faze o trabalho de um evangelista, cumpre cabalmente o teu ministério.
Sim, o sangue dos mártires está sendo desprezado e pisoteado toda vez que o evangelho é usado para beneficiar alguém, para enriquecer algum homem ou igreja, para se anunciar algo além da salvação em Cristo. Mas o mesmo ocorre toda vez que as mesmas pessoas que deveriam estar preocupadas com isso preocupam-se apenas em criticar a liberdade que temos e aqueles que anunciam as boas novas de salvação.
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