Os quase 73 anos e meio da vida de Susana Annesley Wesley não podem ser contados no pequeno espaço do presente artigo. Portanto vamos limitar-nos ao período entre Maio de 1738 e Julho de 1742, os primeiros anos do Metodismo no sentido mais próprio do termo. Neste curto tempo, Susana tornou-se numa metodista atuante e figura influente nesse movimento liderado pelos seus filhos John e Charles. Destacaremos cinco momentos ocorridos nos anos finais dessa mulher extraordinária.
O primeiro desses momentos ocorreu pouco depois daquela data tão crucial para o Metodismo, a saber, 24 de Maio de 1738. Tão marcante fora a experiência do seu filho John naquele dia que ele chegou a declarar nem ter sido cristão antes daquela data. Por causa da importante parte dos morávios (especialmente Peter Bohler) na experiência vivida na noite daquele dia, na Rua de Aldersgate, John resolveu visitar a sede desse grupo em Herrnhut. Mas ele fez questão de partilhar o que viveu com sua mãe antes de partir para a Alemanha.
Tudo indica que ele preparou a narrativa da sua conversão – na realidade, uma pequena autobiografia espiritual que ele incluiria no seu Diário Público – exatamente para explicar a sua mãe mais plenamente o sentido do evento. John levou-lhe o relato. Apesar de Susana não ter vivido, até àquele momento, uma experiência semelhante, ela recebeu o relato com aprovação.
O segundo momento é aquele em que Susana teve uma experiência marcante de fé pessoal, diferente em detalhes daquelas dos seus filhos John e Charless, mas com sentido semelhante. Como boa e convicta anglicana, ela viveu por longos anos uma vida marcada pela leitura das Escrituras, oração e meditação profundas e disciplinadas, participação ativa nos cultos. Ela nem sonhava com uma experiência em que receberia de Deus a certeza do perdão e da salvação. Mas, para surpresa dela, numa data que parece nunca ter revelado, Susana teve uma experiência de fé viva e pessoal, ao receber a Santa Ceia das mãos do seu genro Wesley Hall. Ela descreveu a experiência em termos que lembram aquela dos discípulos de Emaús, quando Cristo se revelou “no partir do pão”.
É interessante termos conhecimento de que John Wesley considerava a Santa Ceia como uma “ordenança conversora”, um verdadeiro meio usado por Deus para conduzir até nós a sua graça salvadora. Não tenho a certeza que ele adotou essa postura por causa da experiência de sua mãe, ou se a experiência dela confirmava a opinião que já existia. Mas podemos ficar certos de que Susana não apenas morou na sede do Metodismo, em Londres, ao lado do seu filho, desde fins de 1739. Ela também se tornou membro dos metodistas, tendo uma experiência espiritual tão válida como a dos seus filhos.
O terceiro momento que queremos destacar é a participação dela na adoção pelos metodistas da pregação leiga, fenômeno quase desconhecido entre os anglicanos do tempo. (E temos de lembrar que Wesley, embora chefe do movimento metodista, permaneceu clérigo da Igreja de Inglaterra até ao fim da sua longa vida). No início de Março (1739), John Wesley, muito hesitante, seguiu o exemplo de George Whitefield e começou a pregar ao ar livre, o que resultou em muitas conversões em Bristol, Kingswood e Londres.
Mas a expansão geográfica era mínima, porque havia apenas dois pregadores, os próprios irmãos Wesley. Isso só mudaria quando John Wesley levasse para Londres o jovem convertido Thomas Maxfield para ajudar na obra. Maxfield empolgou-se no trabalho e chegou a pregar, coisa que o clérigo John Wesley não admitia. Informado da irregularidade, Wesley voltou a Londres às pressas para proibir a inovação. Susana, porém, já havia assistido à pregação do jovem e reconhecera nela a mão de Deus. Foi ela que convenceu Wesley a ouvir a pregação antes de impedi-la. Dito e feito! Depois de ouvir a pregação de Maxfield, Wesley concluiu: “É de Deus!” Foi o começo da prática da pregação leiga, o principal elemento na expansão da obra metodista daquela época.
O quarto momento é a publicação anónima de um trabalho teológico com o título “Alguns Reparos sobre uma Carta do Rev. Whitefield ao Rev. Wesley”. Na carta examinada, Whitefield havia atacado com veemência o sermão de John Wesley sobre a Livre Graça. Na obra, Susana defende a postura teológica do seu filho John e argumenta fortemente contra a doutrina calvinista da predestinação, mostrando um respeitável conhecimento da literatura relevante da época. Frank Baker, historiador metodista, num artigo sobre o referido panfleto, chamou Susana Wesley de “Apologista do Metodismo”. De fato, uma leitura cuidadosa da publicação revela Susana como uma excelente teóloga e polemista, faceta da vida dela pouco conhecida e apreciada.
O quinto e último momento é muito solene, a saber, a morte de Susana Wesley e o seu sepultamento, respectivamente em 30 de Julho e 1 de Agosto de 1742. Susana Wesley não apenas morreu firme na fé como também deu testemunho de uma fé triunfante.
Nos últimos momentos da sua vida, o seu filho John e a maioria das suas filhas estavam com ela. Pouco antes de falecer, ela pediu: “Filhos, assim que eu me libertar deste corpo, cantem um salmo de louvor a Deus”. Eles atenderam ao último pedido da sua mãe. Dois dias depois, Susana foi sepultada num antigo e famoso cemitério puritano, o mesmo onde descansam os restos mortais de famosos puritanos como John Bunyan e Isac Watts. O seu filho John dirigiu o serviço fúnebre. Ele registrou no seu Diário Público que estava presente uma multidão numerosa demais para contar.
Anos mais tarde, Wesley construiria, no outro lado da rua, a sua nova sede em Londres, a Capela da City Road, popularmente conhecida como a Capela Wesley. Assim, na sua morte e enterro, a metodista Susana tornou-se parte daquela “linha de esplendor sem fim”, daqueles que, mesmo “depois de mortos ainda falam” (Heb. 11: 4 ).
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