Recentemente li o seguinte artigo pelo Rev. Gerson Correia de Lacerda, publicado em O Estandarte, revista oficial da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Foi no Editorial do número 118 da revista. Fiquei muito impressionado porque o artigo identifica com precisão um dos mais importantes requisitos do trabalho missionário, facilmente neglenciado. Veja a seguir:
No dia 12 de agosto, comemoramos o 148º aniversário da chegada do Rev. Ashbel Green Simonton ao Brasil. Ele foi o primeiro missionário presbiteriano enviado pela Igreja dos Estados Unidos ao nosso país.
Era bastante jovem. Tinha nascido no dia 20/1/1833. Estava, pois, com apenas 26 anos. Não sabia falar português. Desembarcou no Rio de Janeiro, onde começou a trabalhar pela semeadura do evangelho em nossa terra.
O Brasil era considerada uma região de risco e de muitas dificuldades para a proclamação do evangelho. A febre amarela ceifava vidas em grande quantidade. Além disso, a Constituição Brasileira daquela época era muito clara. Estabelecia que o Brasil era um país católico apostólico romano. Oficialmente, não era permitida a pregação a qualquer igreja reformada.
Nada disso, porém, impediu o Rev. Simonton de vir e de exercer seu ministério em terras brasileiras. Na verdade, ele não se limitou a isso. Estimulou seu cunhado, que também era pastor, a fazer o mesmo. Foi assim que o Rev. Alexander Latimer Blackford deixou os Estados Unidos para vir iniciar o trabalho presbiteriano em São Paulo, dando origem à comunidade que é a mãe de nossa denominação.
Simonton realizou um trabalho notável, pela graça de Deus, em poucos anos de atuação em terras brasileiras. Organizou a primeira igreja presbiteriana brasileira, no Rio de Janeiro, em 12/1/1862. Foi o responsável pelo primeiro periódico protestante, Imprensa Evangélica, em 5/11/1864, do qual o nosso querido O Estandarte é o legítimo sucessor. Com outros missionários, organizou também o primeiro presbitério, denominado do Rio de Janeiro, com as igrejas do Rio, São Paulo e Brotas, em 16/12/1865.
Sua vida não foi isenta de sofrimentos. Casado com Helen Murdoch, Simonton viu-a falecer nove dias após o nascimento de sua filha, com apenas 30 anos, em decorrência de complicações do parto.
Finalmente, ele mesmo foi chamado à presença do Senhor, antes de completar 35 anos. Tendo viajado a São Paulo, para visitar a filha que estava sendo criada por sua irmã Elizabeth, esposa do Rev. Blackford, seu estado de saúde, que já não era bom, agravou-se. Faleceu no dia 9/12/1867, sendo sepultado no Cemitério dos Protestantes, em São Paulo, SP.
Simonton escreveu um Diário. A última anotação data de 31/12/1866, cerca de um ano antes de seu falecimento. Ela termina com as seguintes palavras: Quem me dera um batismo de fogo que consumisse minhas escórias; quem me dera um coração totalmente de Cristo.
Isso significa que, apesar da grande e importante obra que desenvolveu, ele não se sentia satisfeito consigo mesmo. Apesar de ter deixado sua terra e seus familiares, para viver como missionário em constante risco numa terra estranha, ele não se considerava uma pessoa notável. Apesar de ter consagrado a sua vida à obra da proclamação do evangelho, ele ainda pensava que era pouco e que precisava se dedicar mais ao Senhor Jesus.
A vida de Simonton foi, pois, marcada por uma profunda insatisfação consigo mesmo e com seu trabalho. Era essa insatisfação que fazia com que desejasse fazer mais e melhor, consagrando seu coração totalmente a Cristo.
Será que não é essa insatisfação que está nos faltando? Não parece que estamos acomodados e satisfeitos, após 148 anos da chegada de Simonton ao Brasil?
POR TIM CARRIKER
FONTE: Fé e Missão » Insatisfação
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